No intelecto, uma escritora… Na alma, uma historiadora…

Tolo é aquele que ousa, mesmo por um instante, pensar que o único historiador válido, é o que possui em sua formação acadêmica, um bacharelado em História.

Pensando desta maneira, poderíamos também supor, e erroneamente, que os curandeiros das diversas tribos de “índios” existentes pelo mundo, não tem valor ou serventia, pois afinal, não possuem diploma de medicina, estando assim, inaptos para cuidar de alguém doente ou ferido…

Pura bobagem! Muitos nativos teriam morrido no decorrer da história, se não fosse à intervenção destes personagens, fossem eles pajés, xamãs ou outras tantas designações existentes. E falando em cultura indígena, aproveito para destacar aqui, e antes de tudo, algumas semelhanças que possui a escritora (na qual teço esse breve prefácio) com suas raízes indígenas. Semelhanças essas, como por exemplo, a simplicidade, a espontaneidade, o desapego material, a alegria e principalmente, a arte, expressada em suas mais variadas formas, quando se trata desta escritora sensível e talentosa.

Historiadora na alma, eu repito, pois não possui o “pedaço de papel”, que muitos pregam na parede, chamado de Diploma de História. Não, ela não cursou essa faculdade. Porém, do que a conheço e acompanho nestes últimos anos, posso afirmar, categoricamente, que ela detém os mesmos, amor, respeito e cuidado com suas fontes e pesquisas históricas, que qualquer bom Historiador, formado e habilitado teria, mesmo que ela, não tenha se debruçado por anos sobre os vários teóricos da pesquisa em História e dessa forma, felizmente, não fique venerando-os em seus textos, ficando assim, livre de um “emaranhado de citações”, que só servem na maioria das vezes, para comprovar algo que já sabemos com exatidão.

Tem em alta conta e até em maior quantidade com relação a muitos historiadores que conheço e já li, uma preocupação essencial, e eu diria mais ainda, primordial: – O cuidado com o leitor. Essa escritora, criativa, dinâmica e incansável, não produz apenas para si, ou seja, para alimentar o próprio ego… Pelo contrário! Escreve para as pessoas, e não somente para aquelas digamos… mais intelectuais, e sim para todos os tipos, classes e cores que existem por aí, espalhados por este mundo tão cultural e diverso.

Apaixonada por suas origens, e sabedora da importância que estas tiveram para a formação de sua personalidade, nos traz à tona neste livro a história de seus pais, Joaz e Jeanete, figuras importantíssimas no percurso histórico e social da Parnaíba do Século XX. Um casal que, segundo ela, viveu uma rica história de amor, que não pode de forma alguma, ser tragada pelo buraco frio e negro do esquecimento… Uma trajetória, não apenas de uma família, mas do retrato, ou melhor, dos retratos de uma Parnaíba do século XX, e toda a bagagem cultural que esta época nos arremete. Poderia citar aqui diversas contribuições que esta pesquisa trará para o conhecimento sobre o passado desta cidade e seus moradores… Porém não estragarei aqui, as surpresas reservadas pela autora, aos seus fiéis e estimados leitores… Apenas citarei uma grande importância, na qual me é mais próxima: O despertar dos estudantes para a leitura de obras parnaibanas!

Eu, como professor dos ensinos, fundamental e médio, acompanho a evolução de diversos adolescentes, nas escolas e séries que leciono, e sinto que muitos deles, não se interessam tanto pelos livros lançados e existentes em suas respectivas bibliotecas, devido a dois fatores: Temas distantes de seu mundo social e linguagem muito técnica… O que felizmente não é o caso desta obra.

Tenho a grata satisfação de lecionar, desde 2008,  na Unidade Escolar Jeanete Souza, escola estadual localizada no próspero bairro Joaz Souza em Parnaíba, e verifiquei que muitos alunos possuem a curiosidade de saber sobre quem foram estas pessoas, Joaz e Jeanete… O livro estaria desta forma, além de trazendo este conhecimento à tona, incentivando o aluno a ler sobre, não apenas sua escola ou bairro, mas sobre sua cidade, que o levaria depois a querer se aprofundar mais, despertando o interesse por conhecer a geografia e a história de seu estado, país, continente, etc…

E a autora desta brilhante e cativante pesquisa, tem a noção exata desta importância, ao ponto de que, ela lembra, busca, seleciona, analisa, escreve, reescreve e põe em prática o desejo de tornar eternas, tanto a história da Parnaíba, que muitos têm no coração e que gostariam que fosse lembrada, como também as memórias de seus heróis, que para ela, foram aqueles que a geraram, a criaram e lhe deram o suporte necessário para enfrentar o difícil caminho das escolhas, dos erros e dos acertos da vida.

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Caminho esse que ela soube trilhar, desviando dos buracos existentes, até caindo ou tropeçando em alguns deles, porém sabendo levantar e se recompor, tomando decisões não apenas pela mente, mas também pelo coração… Esta pessoa delicada e sensível é, antes de qualquer adjetivo, uma romântica.  Uma mulher sempre guiada pelos seus sonhos, que desde muito jovem, nunca se acomodou perante as situações predeterminadas, nunca se deixando aprisionar por modelos impostos e aparentemente inflexíveis. Nascida num período ainda machista e repressor, no qual as mulheres só poderiam fazer uma coisa: casar, para procriar e em seguida cuidar do lar e dos filhos. Ela resolveu em certo momento, que não aceitaria essa condição, e correu atrás de seus anseios e planos, uma pessoa corajosa e que jamais teve receio de errar, pois sabia com exatidão, e desde o principio, que o caminho dos aprendizados e acertos, é repleto de dificuldades e erros. Atirou-se ela, nas mãos do destino, que acabou a recompensando, de incontáveis jeitos… Seja através de suas conquistas profissionais, ou também de sua linda família, composta por seus irmãos, seu marido, seus filhos e seus netos, também no reconhecimento de seu talento através do ingresso na Academia Parnaibana de Letras, ou até pela devoção, pelo carinho e pela amizade que este humilde escritor que aqui vos fala neste momento, devota à tão preciosa, humana, escritora e historiadora, conhecida pelo nome de Yeda de Moraes Souza Machado.

                                                     Claucio Ciarlini (2010)

* Prefácio meu para “Joaz e Jeanete”, livro da amiga Yeda. Obra que tive o prazer de editar e mergulhar numa linda história de amor e família.

Um comentário sobre “No intelecto, uma escritora… Na alma, uma historiadora…

  1. Tive o prazer de conhecer Claucio qdo da realização de meu sonho em publicar meu livro : “ Joaz e Jeanete Uma história de vida e de amor numa perspectiva de família”
    Propositalmente, escolhi Claucio ,pois representava a nova geração e o estilo da biografia tb era já um desafio saindo do tipo costumeiro a um diferente ,para atrair um público jovial.
    Claucio e eu durante o trabalho de edição,nos entendemos muito bem e passei a admirar suas grandes qualidades e convidei-o a ser tb o apresentador da obra. Foi um sucesso a festa do lançamento com grande público a nos prestigiar.
    Meu sonho foi realizado e passei a sonhar vendo Claucio participando da APAL .E,não demorou muito e,hoje, ele tem assento a uma das cadeiras juntamente ,com todos nós escritores numa grande integração de gerações como hoje é o perfil de nossa academia, nova e viva!!!
    Obrigada Claucio!
    Quero lhe ver sempre subindo os degraus que vc faz jus!!!

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