Mês: outubro 2020
DIA NACIONAL DO LIVRO
DIA NACIONAL DO LIVRO
Wilton Porto
As mãos que não tocam livros
não importando o ano;
que não brilham os olhos numa Biblioteca;
que não tem tarde de leitura na escola;
que na sala de aula não discute poesia,
não houve palestra com o literato reconhecido;
que não lê jornal nem banheiro;
Que abre a internet para engolir abreviaturas de mensagens sem mensagem…
Não sabem que tem o Dia Nacional do Livro;
Nunca ouviram falar do Dia do Escritor;
Não podem afirmar se há Dia do Poeta e da Poesia;
A nossa mente valoriza 100 por cento do nosso poder de aprendizagem,
Entanto, é desvalorizada pela capa da escuridão, que se nos impõem
Ministérios e Secretarias de Culturas e Educação.
Nunca tive uma biblioteca.
Porém, não vivi entre Professores, – convivi com Mestres!
FOTOCÓPIAS
FOTOCÓPIAS
Wilton Porto
Em Carlo Acutis,
Beato da juventude
e da internet,
“nascemos originais
e morremos fotocópias”.
Somos barros duros – expostos ao Sol do meio-dia.
Folhas de outono,
joelhos que não se dobram,
Templos de porta fechada,
cristãos que não intuem
e se não intuem,
não ouvem a voz do Paraíso,
não se apercebem da presença de Cristo,
não tem ânsia pela Comunhão,
é fogo que queima,
é água que não mata a sede.
Calo Acutis,
o Beato do Santo Terço cotidiano,
o Santo da Comunhão diária,
o bem-aventurado das causas sociais,
O jovem de 15 anos de idade que disse:
“A tristeza é o olhar voltado para si; a felicidade, o olhar voltado para Jesus”.
O umbigo em evidência,
a indiferença diante da sarjeta,
as mãos que escondem as panelas,
a boca que não busca a Água Viva,
possui dentes escurecidos
e esperando a morte chegar.
A originalidade:
o esplêndido raiar diário,
é o nosso ser,
na integralidade das virtudes celestes.
Como Calo Acutis,
que na horrenda dor da leucemia,
oferecia-se pelos doentes e prcadores;
Sorria o riso da semente que vingava no roçal de Maria. vencedor,
deixou tantas indeléveis marcas,
que entre tantas
embelezo o meu olhar sobre ele com mais um dos seus brincos:
“A nossa meta deve ser o infinito, não o finito. O infinito é a nossa pátria. Desde sempre o Céu nos espera.”
RENÚNCIA
RENÚNCIA
Para Ana Carla França
Wilton Porto
Eu não tive o prazer adocicado de ouvir canções de ninar. Nem de me embevecer com o olhar sublime
do meu pai. Não possuí o colo e os braços mornos daquele que deveria contar-me contos de fada. Tampou-
co, o seu beijo cálido de amor indelével.
Cresci sob os auspícios de desejos não realizados. De breves comentários sobre minha verdadeira história
e, no fundo de uma rede, chorei sem conhecer os motivos.
Não sei dizer se sou alegre ou triste. Se encontrei o meu caminho, se um caminho realmente existe.
Como andarilho, não possuo pousada certa. Os braços que me acolhem, neste momento são a minha morada.
sonho que eles me prendam, me alegrem, torne-me mais meiga do que hoje sou.
Tem dias que me encontro e o sorriso brota dos meus lábios. Noutros, sou gaivota buscando um voo alto.
E nesses voos, vejo a Terra como um mar de amargura e o meu peito em chama de amor, chora a solidão
que não entendo, por isso, não posso explicar.
Tenho consciência de que sou amada que há cobertor para os meus gestos frios, palavras de conforto para
os calundus. Às vezes, sou ranzinza, porque o meu destino lembra-me grades de ferro cru. E o amor que deve-
ria dar-me equilíbrio, subiu a Colina de São Jorge, ou Castelo, em Portugal.
Topei muita gente com mãos caridosas e ternura nas palmas da mão. Muitas vezes, olhei-me no espelho e
vi-me como luz que poderia irradiar beleza. Mas não nego, que entre abraços de ternura e sôfrego ideal de
sentir-me estrela de quinta grandeza, senti-me caindo do Pico da Neblina e estatelar-me no asfalto quente
da desilusão.
Neste instante, encontro braços que se levantam e com dedos macios, direcionam-me para um céu de
estrelas e uma Lua Cheia. Um coração que desenfreadamente bate, querendo conduzir-me a um lar, onde
fervilham a a doçura e a paz duradouras. Minha alma inquieta-se. As lágrimas cintilam em emoções não antes
sentidas. Todo o meu ser desaba em querer aquietar-se. Os que me são anjos, dizem que amanhã pode ser muito tarde. Quedo-me silente. Pensativa. Compreendo que o meu destino, eu mesma o traço. Que só eu posso deci-
dir sobre a minha felicidade. Olho os olhos que pousam sobre os meus. Vejo o céu brilhando. Sinto vontade
de pular em seu regaço. Dizê-lo: “Venha! Torne-me mais adulta! Quero viver de sua luz, fazer você sentir
o reflexo do que tenho de melhor em mim. O mundo foi-me cruel. Deixou-me inúmeras lacunas. Sofro
querendo paz física, mental, emocional e espiritual. Venha! Aquiete-me nos seus braços! Pois agora entendo:
a felicidade está dentro de mim. Contudo, preciso de você, que na etérea confiança de aceitar-me como sou,
mostra-me que no seu ser está o agasalho para as minhas dúvidas, sede de amar e se amada, o fulcro do
encontrar-me comigo mesma.
Hoje, você faz de 19 anos de idade. Já sabe das cabeçadas que deu. O quanto sofreu e fez muitos sofrerem.
viveu verdades e mentiras. E tem consciência plena: se deseja ser feliz, tem que fazer por onde, desempenhar
a sua parte, compreender que a vida não nos felicita sem aceitarmos que na comunhão está implícito a
renúncia.
Não existe vida a dois, familiar sem confiança, sem atitudes coerentes, respeito em duas vias. Certa vez,
ouvi, que os egoístas morrem sós. Ainda é tempo. Que cada um de nós, abracemos o poder da Luz. Reveja-
mos nossas ações e os braços que hoje querem agasalhar-nos! Tenho certeza: dar-nos-á a grandeza da
oportunidade que nós estamos desperdiçando.
Apresentação de Diário Incontínuo

DIÁRIO
[Apresentação de Diário Incontínuo]
Elmar Carvalho
22/10/2020
Tendo tomado a decisão de publicar meu Diário Incontínuo, ao menos como “volume” virtual ou e-book, dediquei os últimos dias a lhe fazer rápida revisão, pelo corretor ou editor do notebook, e algumas modificações formais, sobretudo criação de novos parágrafos, para tornar sua leitura menos cansativa e mais atraente ao meu possível e futuro leitor.
É possível que lhe faça a edição impressa. Por isso estou adotando as providências para a sua formatação e programação visual, bem como confecção de sua capa. Não terá memória fotográfica, pois será um volume um tanto encorpado, já que abarca cinco anos (2010 – 2014), no qual trato dos mais variados assuntos, sobretudo literários, artísticos, históricos e culturais.
Também lhe fiz a apresentação, uma espécie de breve ensaio sobre memórias e diários, que abaixo transponho para este outro Diário (em tempos de pandemia), que lhe guarda alguma semelhança:
APRESENTAÇÃO DE DIÁRIO INCONTÍNUO
Em 22 de janeiro de 2010 minha filha Elmara Cristina criou meu blog http://poetaelmar.blogspot.com, e nesse mesmo dia nele eu publicava as primeiras matérias. Com a sua criação, me senti estimulado a continuar escrevendo o meu Diário Incontínuo, porque tinha a perspectiva de publicação virtual imediata.
Assim, no dia seguinte, postei o primeiro registro desta obra diarística, datado do dia 17, em que me referia a um velho boêmio da vizinhança, dono de um boteco, que veio a falecer poucos anos depois.
No início, escrevia dois ou mais textos por semana, mas na sequência diminuí para um, excepcionalmente dois. Às vezes, alguns desses registros tinham mais de um tema, que eu separava por asteriscos. Também no princípio fiz essas anotações em um só bloco, isto é, sem dividi-las em parágrafos.
Há momentos de desânimo, de falta de estímulo e, talvez, de assunto e da chamada inspiração, em que não se sabe ao certo se a obra valeria a pena. Sobre esses momentos de marasmo e calmaria, vejamos o que disse Sully Prudhomme, vencedor do Prêmio Nobel de 1901, em seu Diário Íntimo: “Há dias que não cuido de meu diário. Falta-me energia ou, melhor, não acho que o resultado valha dispêndio de energia.”
Mais adiante, resolvi fazer a divisão em parágrafos, para torná-las uma leitura menos cansativa e mais atraente ao leitor. Já então eu havia lido várias obras memorialísticas e o Diário Completo de Josué Montello, em dois volumosos tomos, de mil e tantas páginas cada um. Obra primorosa, feita por um estilista à Machado de Assis, que tinha o que contar e sabia contar, ainda mais por ser um grande romancista. Resolvi adotá-la como paradigma, embora não estando eu à altura, como é óbvio, do notável escritor.
Vi outros Diários, ao menos em simples folhear, mas não me foram inspiradores. Uns eram refertos, quase sempre, de elucubrações filosóficas, digressões abstratas, quase apenas tentativas de trazerem para a escrita pensamentos de alta abstração ou sobre sentimentos, que a meu ver interessariam a pouquíssimos leitores. Outros, continham notas muito superficiais, beirando a banalidade, o trivial.
Recentemente, dei uma boa olhada, quando este livro já estava concluído há alguns anos, em O Diário de Florença, do poeta Rainer Maria Rilke. Contudo, apesar da beleza de seu estilo, percebi que ele se detinha muito em comentários sobre obras de arte, de maneira muito profunda e por assim dizer de forma um tanto abstrata, numa análise que me pareceu um tanto impressionista, se é que não estou incorrendo em alguma heresia. Seja como for, não me foi útil, tanto porque o meu Diário já se encontrava encerrado, como também porque não se coadunava com o que eu projetara.
No início de minha juventude eu havia lido Memórias, de Humberto de Campos, que considero uma das melhores obras em seu gênero, tanto pelo estilo do autor, como pelos seus relatos e pela coragem que ele teve de narrar certos fatos, que outra pessoa, mais tímida ou mais cheia de pudor, jamais o faria. Também havia lido alguns dos livros memorialísticos de Pedro Nava, e sobretudo havia lido com verdadeiro encantamento Confesso que vivi, de Pablo Neruda, que por vezes toma o formato de uma verdadeira prosa poética, mormente nos derramamentos e arroubos líricos do autor.
O escritor e historiador Fonseca Neto, meu amigo desde o final da década de 1970 e meu confrade na Academia Piauiense de Letras, em 15/10/2011, conforme o autógrafo, me presenteou com os dois volumes do Diário Secreto de Humberto de Campos, que li com sofreguidão e vívido interesse. Consta que ele recomendara que esse livro só fosse publicado alguns anos após sua morte.
O certo é que ele foi publicado de forma sequenciada pela revista O Cruzeiro, em 1950. O autor falecera em 5 de dezembro de 1934, aos 48 anos. Leio na orelha do volume I, editado pelo Instituto Geia em 2011, o seguinte: “Aqui será bastante referir que tal intenção afastava-se do espalhafato e do escândalo que o Diário provocou, quando começou a ser publicado, em partes semanais, na revista O Cruzeiro, em 1950”, portanto há mais de 15 anos após sua morte.
É que muitos acharam que o autor fora indiscreto e mesmo impiedoso ao relatar certos fatos, e que por isso mesmo fora ingrato com pessoas que o ajudaram, e de quem ele se dizia amigo. De qualquer forma, em seu Diário Secreto, Humberto narra fatos interessantes e mesmo escabrosos, acontecidos com parentes e com pessoas de sua amizade. Alguns eu considero verdadeiros contos da vida real, permeados, algumas vezes, por belas descrições e por digressões outras, em que tenta perscrutar intimidades e motivações.
Ao longo de quase toda a minha vida de literato, alimentei o desejo de escrever uma obra memorialística, mas nunca executei esse desiderato, embora muito tenha meditado sobre isso, e, de certa forma, me tenha preparado para essa empreitada, ao ler várias obras autobiográficas e de memórias, muito além das que citei acima.
Um diário, a rigor e em tese, pelo que sugere a sua própria classificação, deveria se voltar mais para o presente, ao passo que as confissões, as memórias e as autobiografias se voltariam mais para a narrativa de fatos pretéritos.
Mas, lendo os diários mais notáveis, verifiquei que esse gênero literário, conforme a habilidade e o talento do autor, bem se presta, ao ensejo de uma recordação, de um sonho, de uma conversa, de um acontecimento, de uma solenidade cultural e outras, bem se presta, repito, a evocar fatos de nossa própria vida, da vida de outras pessoas, de episódios pitorescos, singulares, jocosos, anedóticos, bem como a relatar uma conversa, um fato histórico, a comentar uma obra de arte, um livro, etc.
Dessa forma, ao longo de cinco anos (2010/2014), transpus para estas páginas muito da vida cultural, artística, literária e social do Piauí, motivado, como disse acima, por diferentes fatores. Narrei eventos artísticos e culturais, mormente os literários, comentei alguns livros lançados nesse período, me referi a personalidades literárias e históricas, algumas ainda vivas, outras pertencentes a um passado mais remoto. Sem dúvida, alguns desses registros são quase resenhas de obras literárias e breves perfis biográficos, embora recheados de outros ingredientes e condimentos.
O escritor, crítico literário e professor Cunha e Silva Filho, com a sua reconhecida argúcia e faro quase detetivesco, ainda bem no início da publicação sequenciada e internética do livro, percebeu e aplaudiu essa diversidade de interesses, pois postou o seguinte comentário no dia 13/02/2010:
“Por isso, gostei do seu comentário, revelador de um amplo interesse pelas artes em geral, e, no caso específico, pela escultura e suas implicações com movimentos de vanguardas que deixaram marcas indeléveis nas múltiplas formas de criação artística. Sei também quanto aprecia a pintura, um Dalí, por exemplo. Não é verdade, amigo? Explore bem esse lado de crítica das artes, lhe cabe bem. Boa surpresa do seu intelecto.”
Devo esclarecer que, em face da possibilidade de publicação por um desses programas governamentais, não pude me deter numa outra revisão mais rigorosa, e nem tive tempo de contratar um revisor profissional, que corrigisse os erros gramaticais, que certamente terei deixado escapar em revisões anteriores. Peço que o leitor me perdoe esses quase inevitáveis senões.
Quis que este Diário tivesse algum valor literário, mas não serei cabotino a ponto de afirmar que o consegui; apenas posso dizer que muito me esforcei para alcançar esse objetivo. Assim, procurei dar uma certa dignidade ao meu estilo, à minha linguagem, e procurei me afastar, o quanto pude, de trivialidades, de banalidades, conquanto tenha procurado registrar alguns fatos anedóticos, engraçados, como disse.
A propósito de estilo, disse Susan Sontag em seus famosos Diários (1947 – 1963): “Na verdade, o estilo é que é importante. O estilo seleciona o enredo.” Não sei se a estilística poderia chegar a tanto. Mas, com certeza, é o estilo que lhe dá mais elegância, que torna o entrecho mais atraente e prazeroso.
Como os assuntos são bastante diversificados, e cada texto forma uma unidade própria, que pode ser lida de forma independente e aleatória ou salteada, se eu fizesse uma divisão temática, essas crônicas poderiam formar vários livros, conforme a sua organização e projeto editorial. Mas, aqui, vão publicadas em volume único, e seguindo a ordem cronológica original, porque assim as concebi e projetei.
Por outro lado, talvez fosse interessante esse livro tivesse um índice onomástico, pois são várias centenas as pessoas nele citadas, mas pela urgência referida no parágrafo anterior, e pelo trabalho que isso demandaria, tal não foi possível nesta edição. Contudo, ele também será publicado como e-book, e isso, de certo modo, dispensa esse tipo de índice, pois facilmente o leitor localiza em seu dispositivo de leitura a pessoa que deseja pesquisar.
Em resumo, embora mantendo, assim espero, o formato de um diário, na realidade o que fiz mesmo foi uma sequência de crônicas, durante esses cinco anos, de diferentes tamanho e conteúdo, e se referindo aos tempos atuais e a tempos remotos, idos e vividos.
Algumas poderiam ser consideradas memorialísticas, confessionais, narrativas, contos, “causos”, críticas, breves ensaios, comentários, depoimentos, sonhos, devaneios ou simples relatos de fatos recentes ou antigos, alguns históricos.
Contudo, nenhuma poderia ser rotulada de ficção.
MOÇOILA
MOIÇOLA
MOIÇOLA
De Wilton Porto p/Eliana Porto (esposa)
Num balde carcomido pelo tempo,
Encostado da casa, num canto,
Joguei os sacrifícios, o pranto,
E o que havia da vida em contratempo.
Enterrado está casório primeiro.
Cupido rodeia, me olha, namora.
A vida que é vida me enlaça agora.
Pressinto a flecha na mão do arqueiro.
Moiçola que olha embebida em desejo,
Arranca-me suspiros de noite e de dia.
Breve – eu sei – o abraço, o beijo,
A voz soando-me tal qual melodia.
Meu coração saltitando, o cônscio ensejo:
De ser o seu fulcro, o seu Sol, sua poesia.
Wilton Porto
DORAVANTE
DORAVANTE
Wilton Porto
Há, em mim, um braço amigo, amável, acolhedor.
um espaço onde a ternura se faz abrigo e todo dia revela alegria e luz.
Aqui, quem se aquieta, vive feliz, não conhece tristeza e nem dor.
É o mundo da paz, onde só o celestial reluz.
O amargo dente do desprezo e da insensatez não se afigura.
Fagulhas de solidão, medo, incompreensão não povoam.
Os morcegos, os presságios, as desilusões – a noite escura…
Para um lago cristalino, onde tudo se purifica, essas adversidades se escoam.
Venha, ria o riso doce dos consagrados!
Os meus mornos braços – abertos – formam o Paraíso em eterna espera.
Não se sinta mais um bichinho entre armas – acuado!
Doravante, nada de espectro da sua vida! Pode dar adeus às quimeras!
SABEDORIA DA CORUJA

MARIA DILMA PONTE DE BRTO
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS=APAL CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA
Era uma vez uma linda floresta onde havia riachos e bichinhos de todas as espécies. Ela era mais verde do que todas as outras do universo. As águas dos riachos limpas, transparentes e gostosas. Os bichinhos lindos, unidos e amigos.
Uma vez por semestre eles organizavam uma linda festa. Começavam a fazer os docinhos, pães de queijo, balas, bolos tudo muito cedo para não faltar nada. Mesmo assim no dia, nada dava certo. Os docinhos sumiam, os pães de queijo apareciam ruídos, o restante da comida com um cheiro ruim, o ambiente com folhas no chão, sujo e desarrumado.
Estava ficando perto do final do semestre e consequentemente do dia da festa dos bichinhos. Resolveram criar uma equipe para organizar os trabalhos. Desta vez tudo deveria ser perfeito. Primeiro a equipe parou para pensar onde estava o erro do último acontecimento. Por mais que raciocinassem não encontravam falhas. Até que a velha Coruja, sábia e ponderada deu uma sugestão. Ao invés de todo mundo trabalhar no mutirão como nos outros anos, seria bom dividir o trabalho por equipe dando para cada uma responsabilidade.
A primeira equipe seria formada pelas formiguinhas que ficariam responsáveis pelos docinhos. Explicou a quantidade que deveria ser feito e elas deveriam prestar conta no grande dia.
Caberia aos ratinhos organizar a parte dos salgados, inclusive dos pães de queijo. Fizeram lá as contas e eles se comprometeram de fazer o trabalho bem feito.
As baratas deveriam cuidar da limpeza do ambiente. Deixando tudo limpo e cheiroso. O ambiente teria que estar condizente com a beleza da festa.
Aos camaleões, as lagartas e as iguanas coube incumbência da ornamentação. Nenhuma folha poderia sujar o chão e muito menos aparecer ruída.
Todos ficaram com uma obrigação. Os sapos e as cigarras escolheriam as melhores músicas a serem apresentadas no dia. Para tanto deveriam ensaiar muito para não ter falhas.
Os vagalumes zelariam pela iluminação e assim cada equipe ficou com uma responsabilidade.
No dia seguinte o Macaco João procurou a Dona Coruja para dizer que esta festa não iria dá certo, porque a formiga comeria os docinhos, o rato os pães de queijo, as lagartas e as iguanas iriam roer todas as folhas e sujar o ambiente, etc., etc. Ela escutou tudo e disse: vamos deixar como está e aguardar o resultado.
Chegou o dia da festa. Foi um sucesso. Comida farta, tudo limpo, iluminado, cheiroso, música animada, ambiente festivo e alegre.
MORAL DA HISTÓRIA. Dê um voto de confiança mesmo aqueles que você supõe não merecer. Todo mundo faz jus a uma oportunidade para se superar. A confiança é um ponto de partida para uma festa de sucesso.
17.10.2020
Inspirado em Filmes: Nasce uma Estrela

Imperfeitos
Enterradas nestas paredes mui retocadas
Estão as nossas histórias, o que vivemos
As lembranças, das mais doces às trágicas
No que esta canção em volume extremo
Tende a revelar, mas apenas eu presencio
Em notas muito mais que melancólicas
É quando fecho os olhos, pois dói demais
E eu não seria capaz, nem por um minuto
De me reconstruir, quando da realidade
E a crescente vontade, de tudo implodir
Em milhares de cacos entregues ao chão
Mas é nessa hora, embora bem tardia
Que lembro da tua voz, a me chamar
Clamando pelo meu imperfeito sorriso
Justamente tudo, que por agora preciso
Para em frente seguir, não lhe decepcionar
Transformando toda dor em poesia, e por que não?
Claucio Ciarlini (2019)
Inspirado em Filmes: Alfie

Vivendo apenas do Eu
Em meio à fome de viver
E tudo mais que envolva
Os limites a ultrapassar
Na busca do fútil prazer
Sem nem se importar
Com a resposta da vida
Vivendo apenas do Eu
Fingindo demência,
Na tentativa estúpida
Dos erros ocultar…
Esperando paciência
A todos, que pelo caminho,
Acabou por magoar
Vivendo apenas do Eu
Cheirando o perfume na blusa
Que não esconde,
Por mais que se tome a tentar
O odor repugnante,
De quem, os outros, usa
Na busca dos desejos saciar
Vivendo apenas do Eu
Sentindo o frio que é a solidão
Depois de finalmente perceber
Que todo aquele castelo ,
Erguido com tanta vaidade
Era, na verdade, algo se perder
Como ocorre, com toda boa ilusão.
Claucio Ciarlini (2018)