Em defesa do Almanaque da Parnaíba!

A noite de 02 de maio de 2024 ficará marcada na história por conta do lançamento da 75° edição do Almanaque da Parnaíba, referente ao ano de 2023, celebrando os 100 anos do primeiro Almanaque, os 40 anos da Academia Parnaibana de Letras e os 30 anos em que a APAL está a frente do periódico.

Dentre os membros da APAL que se fizeram presentes na mesa de honra, estava Claucio Ciarlini (membro da cadeira de número 23) que proferiu um discurso marcante sobre a história do Almanaque da Parnaíba, com enfoque nos que foram produzidos pela APAL nos últimos 30 anos. Segue abaixo e na integra:

“Boa noite a todos…

Cumprimento a todos os confrades e autoridades presentes nesta mesa de honra, assim como o público presente!

Gostaria de iniciar minha breve e humilde fala, através de duas perguntas:

  • Parnaíba é a “terra do já teve”?
  • Ou se trata de uma cidade, como muitas neste país (e até no mundo), onde alguns aspectos e locais não mais existem, porém existem outros, igualmente importantes?

Acredito que os amigos, confrades e esta plateia, deveras informada e acolhedora, irá concordar, que a segunda questão é a correta.  

Parnaíba deixou de ter inúmeros espaços, tradições e grupos, porém, hoje possui novas opções, como por exemplo, os inúmeros cursos de ensino superior, fazendo com que os “filhos da cidade” não sejam obrigados a mudar para a capital ou até mesmo para outros estados na busca de prosseguir em suas formações. No que lhes deixo mais uma provocação: 

  • Parnaíba, por ter mudado em vários aspectos, ainda deveria ser chamada de Parnaíba?

Deixo esta pergunta para que vocês possam ir refletindo, enquanto começo a falar do meu objetivo principal.

No ano de 2021, participei de uma palestra online, onde o tema era a História do Almanaque da Parnaíba, proferida por um professor de história, que me reservo aqui, por motivos éticos, a não mencionar o nome, além do fato de se tratar de um excelente educador e um grande ser humano. Porém, no decorrer de sua fala, que se iniciou com a origem do Almanaque, pelas mãos de Benedicto dos Santos Lima, passando pela organização de Ranulpho Torres Raposo e alcançando os anos 80, com Manoel Domingos Neto… Notei, para a minha surpresa, que o referido professor não mencionou os almanaques lançados nos idos de 1994 a 2020, editados pela Academia Parnaibana de Letras. Livros muito bem capitaneados por nomes como Lauro Correia (de 1994 a 1999); Iweltiman Mendes (edição de 2004); Pádua Santos (de 2006 a 2017); e José Luiz de Carvalho (de 2018 até aquele instante). Obras estas, que tiveram, dentre seus organizadores ou como parte do conselho editorial, nomes como os de: Alcenor Candeira Filho, Danilo Melo Souza, Israel Nunes Correia, Fernando Basto Ferraz, Pádua Santos, Maria Dilma Ponte de Brito, Maria do Amparo Coelho, Antonio Gallas Pimentel, Wilton Porto, Diego Mendes Sousa, além deste ser que vos profere estas palavras. 

Daí, quando do encerramento da fala do professor e abertura para comentários e perguntas, aproveitei para falar, de forma muito rápida e resumida, deste período que ficou de fora. Até porque, achei que o professor não havia falado por conta do tempo avançado ou até mesmo esquecimento diante de tanta história, em detalhes e aprofundada, pois assim foi a sua fala, rica em detalhes, no que condiz ao período de 1923 a1985. E para a minha surpresa, até mesmo perplexidade, o professor respondeu que, propositalmente, havia deixado de fora os 11 almanaques lançados nas últimas décadas, por considerar que houve certa descaracterização, se comparado aos almanaques que os antecederam, ou seja, os que vieram antes dos cuidados da APAL.

Diante disso, e de fôlego recuperado, utilizei-me de uma fala do próprio professor durante a palestra, quando ele mencionou a expressão de “terra do já teve”, termo esse que ele criticou, afirmando que Parnaíba perdeu em alguns aspectos, mas ganhou em outros.

Fiz então a pergunta a ele, a mesma que fiz a todos há alguns minutos, se Parnaíba deveria mudar de nome… Ao mesmo tempo que logo respondi: Claro que não! E continuei, afirmando que o mesmo podemos dizer do Almanaque da Parnaíba, que é sim, continua a ser, embora com algumas mudanças e adaptações, o Almanaque da Parnaíba!

Tudo na vida evolui. O ser humano também. Tenho a convicção de que não sou mais a mesma pessoa que iniciou no mundo da escrita há 30 anos. Embora eu tenha mantido uma base de caráter e de valores, em diversos pontos eu mudei, evoluí. O meu nome, então deve ser, por isso, alterado? Eu devo ser desconsiderado ou desrespeitado?

Podem até não gostar da pessoa que me tornei… Assim como não aceitarem a Parnaíba atual, todas as mudanças que houveram, pode-se até não aprovar ou não curtir o que o Almanaque se tornou… Mas não é por isso que se deixa de ser o que é! Não é por isso que deixo de de ser o Claucio; não é por essa razão que teremos que mudar o nome de Parnaíba e nem tão pouco dizer que o Almanaque só será considerado até a década de 80.

Em conversa com o amigo e confrade Elmar Carvalho sobre esta questão e ocorrido, Elmar comentou:

“Como visto, a partir de 1994, edição nº 61, o Almanaque da Parnaíba, na qualidade de sua revista, passou a ser editado pela Academia Parnaibana de Letras. O número anterior data de 1985, quando o periódico completara 62 anos de sua existência. Com exceção das charadas, dos quadros estatísticos e das propagandas comerciais, praticamente sua nova linha editorial manteve, em sua essência, o projeto anterior, senão vejamos: continuou a publicar textos literários, tais como poemas, contos, crônicas, ensaios e artigos, além de textos de caráter historiográfico ou sobre cultura e arte. Muitos desses trabalhos são de alta qualidade e diria imprescindíveis para quem queira analisar a produção literária parnaibana de 1994 a esta parte. Vários dos colaboradores dessa época, escreveram em números anteriores do Almanaque. Cabe ainda salientar que nos primeiros números editados pela APAL ainda foram publicados dados estatísticos. Contudo, sendo essa publicação voltada preferencialmente para a produção dos seus membros, esse viés, por não ter interesse literário, não foi mantido por muito tempo. Com relação às charadas, nos dias apressados e cibernéticos de hoje, já praticamente não há quem as faça, e, tampouco, quem as leia; não vai nisso nenhuma crítica, mas uma simples constatação. Entre os colaboradores desse notável periódico piauiense, ao longo dessas três décadas, além dos acadêmicos, podemos citar: Paulo Nunes, Renato Castelo Branco, Benjamim Santos, José Camilo da Silveira Filho, Orfila Lima dos Santos, Vítor Athayde Couto, João Evangelista Mendes da Rocha, João Maria Madeira Basto, Marc Jacob, Jorge Carvalho, Norma Couto, Sólima Genuína dos Santos, Flamarion Mesquita, Cláudio de Albuquerque Bastos, James Kelso Clark Nunes, Antero Cardoso Filho, Magalhães da Costa etc. A edição nº 67, de 2004, foi comemorativa dos 80 anos do Almanaque; trazia em sua capa as imagens das capas de números antigos e estampou em suas páginas as propagandas históricas e interessantes de velhas edições. Durante várias edições, graças ao esforço de Alcenor Candeira Filho, a nossa revista publicou uma coluna das “parnárias”, com textos de poetas falecidos e vivos.  E a capa desta edição de 2023 (nº 75), por sinal muito esmerada (com “efeitos visuais” modernos), utiliza em sua montagem a capa da edição inaugural do Almanaque da Parnaíba. Comemora o Centenário do Almanaque, em plena circulação, e os 40 anos da Academia Parnaibana de Letras, sua editora há 3 décadas“.

Enfim, Academia Parnaibana de Letras, que é um forte exemplo de coisas importantes que, hoje, Parnaíba tem, vem desempenhando um excelente trabalho, no que condiz à manutenção do Almanaque. Digo porque, desde o primeiro número que a APAL assumiu, ou seja, o 61º, de 1994, quando eu ainda era um estudante da sétima série do ensino fundamental, mas já apreciador da literatura, até chegar nas cinco últimas edições lançadas, onde acompanhei de perto a produção, sendo um dos organizadores das quatro mais recentes. Posso atestar o zelo para com que estas páginas são construídas. O esmero que todos os presidentes tiveram, a citar o mais recente, José Luiz de Carvalho, um batalhador da literatura e da cultura em Parnaíba; assim como os meus confrades e parceiros de organização nestes últimos: Antônio Gallas Pimentel, Diego Mendes Sousa, Maria Dilma Ponte de Brito e Wilton Porto. Assim como não poderia deixar de destacar a pessoa que é responsável por este periódico continuar vivo, o nosso Mecenas, o amigo e confrade Valdeci Cavalcante. Além de todos os acadêmicos e escritores convidados ou que participaram dos concursos literários realizados, com seus inspirados textos, ao longo desses 30 anos! Sim, três décadas! Muito provavelmente, se não fosse a APAL, o Almanaque até estaria completando 100 anos, mas apenas de aniversário de sua primeira edição, em se tratando de publicações frequentes, só teria pouco mais de 60 anos…

Então pergunto: 

  • Como alguém pode ignorar todo esse rico trabalho desenvolvido ao longo de três décadas?

É o último questionamento que vos deixo, ao mesmo tempo que afirmo, que certamente o tempo, este grande sábio, cuidará de fazer justiça e eternizar essas memórias!

Muito Obrigado!”

Poemas para o Delta do Parnaíba, por Claucio Ciarlini

Delta do Parnaíba I

Encantador
Mais que belo
Inigualável
Inspirador

Junção
De rio e mar
Exuberante
Pra contemplar

Rota
Emoção
Cenário
Percepção

Foz
De diversos braços
Encontro de águas
Voz

Ambiente
Protegido
Diversidade
Evidente

Mangues
Lagoas
Praias
Dunas

Fauna
Flora
Homem
Explora

Atentos
Devemos
Incessante
Fiscalizar

Delta do Parnaíba II

Das surpresas
A se deparar
Existem tantas
Vou te contar

Ilha Grande no Piauí
Barcos atracados
Porto dos Tatus
Ambientes invejados

Ventos fortes
Espelhos d’água
Mangues, dunas, lagoas,
Animais silvestres

Labirinto
De ilhas
Manguezal
Aningas

Homem-lama
Nativo
Atrativo
De muitas lendas

Dos catadores
Sobreviventes
Dos mosquitos
Mui selvagens

Lindas paragens
Destino às Dunas
Um andar na areia
Um cair no rio e mar

Dificilmente não irá
Causar-te emoção
No mínimo renderá
Uma boa recordação

O Homem-Lama

Na luta pelo pão
O homem-lama
Encara cada dia
Com disposição

Afunda os braços
Procura o sustento
Forte, veloz, atento
Artista a batalhar

Nem sempre sorrindo
Provoca espanto
Medo, admiração

Geralmente camuflado
Unido ao ecossistema
Camaleão mergulhado
Nas lamas e folhas

Por vezes perfurado
Pelas patas afiadas
Insetos sedentos
Climas traiçoeiros
Dias amaldiçoados

Virou grande atração
Do passeio do Delta
Por meio dos flashes
Ganhou imortalização

Um nobre trabalhador
Como tantos no Brasil
Que merece a atenção
Além de aplausos mil

Navegador

No século XVI se iniciou
Descoberta do Delta
Nicolau de Rezende navegou
Litoral nordestino passava

Acidente sofreu
Embarcação e ouro
Nas águas afundou
Perdido seu tesouro

Por diversos anos ainda ficou
Mas o ouro… Este jamais achou
Outros navegadores se aventuraram
Pelas águas do Parnaíba registraram

Forte com o tempo
A pecuária se tornou
O comércio de gado
Chegou e prosperou

Com estados vizinhos
O rio e o mar, charqueou
Transporte das mercadorias
Que a história perpetuou

Tremembé

Peixe Racional
Guerreiro Valente
Ancestral da gente
Herança espiritual

Divisão Comunal
Tradição potente
Bravo resiliente
Contra todo o mal

Ser transcendental
Povoa nossa mente
História torna presente
Sua cultura fenomenal

Claucio Ciarlini (2023)

VALDIONOR DE ALBUQUERQUE BARROS – Condolências –

Aos familiares, colegas professores e amigos do nobre professor Valdionor de Albuquerque Barros, falecido ontem dia 18, apresentamos os nossos sentimentos de pesar, ao tempo em que rogamos ao Criador que o receba em seu Reino de Glória e dê resignação a seus amigos e familiares para suportar este momento de tristeza.

Parnaíba, 19 de outubro de 2023

José Luiz de Carvalho

Presidente

Antonio Gallas Pimentel

Secretário Geral

FALECIMENTO DE BOB – O Palhaço

Ao tomar conhecimento do falecimento do sr. Valdemar Costa, conhecido como “Palhaço Bob,” ocorrido na manhã desta quinta-feira, 12 de outubro, a Academia Parnaibana de Letras – APAL manifesta sentimentos de pesar pelo falecimento do referido senhor.

Natural da Paraíba, Bob escolheu Parnaíba para ser sua morada até o dia de ser chamado para a morada eterna. Durante sua permanência em solo parnaibano animou crianças, participou de eventos e desenvolveu um trabalho de grande importância pela educação, pela cultura e pelo entretenimento das crianças.

Ao Bob, só nos resta elevar nossas preces e pedir ao Criador que o receba na morada dos justos.

Parnaíba, 12 de outubro de 2023.

José Luiz de Carvalho

Presidente

Antonio Gallas Pimentel

Secretário Geral

NOTA DE PESAR

Aos amigos e familiares do confrade José Wilton de Magalhães Porto, a Academia Parnaibana de Letras manifesta condolências pelo falecimento de seu irmão Agamenon, ocorrido em 19 de agosto passado, e da sua genitora Sebastiana de Oliveira Porto, ocorrido ontem, dia 29 de setembro, na cidade de São João do Piauí, no sul do estado.

A senhora Sebastiana faleceu com 99 anos de idade, e, segundo depoimento de Wilton Porto, ela foi “pai e mãe para mim.”

DESCANSE EM PAZ dona Sebastiana!

Parnaíba, 30 de setembro de 2023.

José Luiz de Carvalho

Presidente

Antonio Gallas Pimentel

Secretário Geral

JOÃO BATISTA DE OLIVEIRA NASCIMENTO – Nota de Falecimento

É com pesar que a Academia Parnaibana de Letras – APAL comunica a seus membros o falecimento do sr. João Batista de Oliveira Nascimento – Batistinha, esposo da confreira Maria do Rosário Pessoa do nascimento a quem enviamos nossos sentimentos de pesar, extensivos a todos os membros da família.

Batistinha, como era chamado por seus amigos foi um craque do futebol parnaibano, tendo atuado nas seguintes agremiações esportivas:  Associação do Paysandu Sport Club, Sport Club Fluminense e Parnahyba Sport Club (Parnaíba-PI).

Além de atleta, Batistinha também escreveu livros, dentre os quais, “Parnaíba – Terra do Futebol”.

O corpo está sendo transladado de Fortaleza, local do óbito e o sepultamento será amanhã, segunda-feira, dia 11, aqui em Parnaíba.

Parnaíba, 10 de setembro de 2023.

José Luiz de Carvalho

Presidente

Antonio Gallas Pimentel

Secretário Geral

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Penitenciária Mista de Parnaíba recebe doação de livros da Academia Parnaibana de Letras

A doação vai permitir ampliar o acervo da biblioteca da unidade e oportunizar o conhecimento de áreas profissionais

A Penitenciária Mista de Parnaíba recebeu doação de livros da Academia Parnaibana de Letras. A parceria, também inclui a seccional Ordem dos Advogados do Brasil – OAB de Parnaíba e o Sesc/Senac.

De acordo com o presidente da Academia, José Luiz Carvalho, o intuito da parceria é ressocializar, levar ao interno enquanto estiver na Penitenciária a qualificação com livros para cursos técnicos, “entregamos livros de literatura, mas a maioria são livros de cursos na área de hotelaria, montagem e manutenção de computadores, porteiro, básico de inglês, etc. Ele pode ingressar nas empresas ou pode também trabalhar por conta própria”, destaca o Presidente.

A doação vai permitir ampliar o acervo da biblioteca da unidade e oportunizar o conhecimento de áreas profissionais. “Vamos elaborar junto à equipe de serviço social, baseado nos livros que recebemos, criar turmas e aperfeiçoar setores como a cozinha e padaria, e também levar conhecimentos a internas e internos interessados em aprender”, afirma o Gerente da Unidade, Fernando Caldas.

“A OAB de Parnaíba fica muito feliz de contribuir com a Penitenciária, é a segunda vez que viemos trazer livros para que os internos tenham oportunidade de estudar”, destaca o Presidente da seccional OAB, Rômulo Santos.

Fonte: Governo do Estado do Piauí – Secretaria de Justiça

A BARBA DO CAPUCHINHO

Crônica de Pádua Santos*

“Volta com um baú carregado com peças d’ouro, que lhe

rouba um administrador, antigo frade capuchinho”.

(Eça de Queirós – A Ilustre Casa de Ramires)

Sobre o coronel Petro Madiche de Medeiros – respeitado comerciante, grande empreendedor no ramo varejista, atividade que exercia concomitantemente com a pecuária desenvolvida em mais de uma fazenda de sua propriedade – conta-se o seguinte fato tido como pitoresco para não se dizer deprimente.

Foi aquele inteligente cidadão, durante toda sua longa vida de trabalho e de boa prosa, a despeito do forte ranço do período colonial brasileiro embutido em sua patente comprada, um casto aparente. Sim, apenas aparente. Na verdade, o que se sabe através de relatos de alguns poucos que, vivendo muito, puderam privar de alguma de suas muitas aventuras amorosas, é que ele foi, a vida toda, um daqueles que sempre comungou com o ensinamento freudiano de que em tudo predomina o instinto sexual.

Conta-se mesmo que ele, de tanto admirar e de tanto ler as descobertas, as teorias e os conselhos de Freud, mantinha na parede, ao lado de sua mesa de trabalho, em uma moldura, a seguinte máxima da lavra do famoso neurologista austríaco: A velhice chega para todos. Não me rebelo contra a ordem universal. Afinal, já vivi muitos anos. Sempre tive o suficiente para comer. Desfrutei de muitas coisas: da camaradagem de minha mulher, de meus filhos, do pôr do sol…

Todavia, quando para ele avizinhou-se o último pôr do sol; quando as suas pernas perderam as forças para conduzir o seu cansado corpo ao interior do confortável veículo que sempre lhe transportava de casa ao seu escritório localizado no centro histórico da cidade, e vice-versa; quando a grande maioria dos seus amigos deixou de buscar os seus sábios conselhos de viúvo experiente; ele sentiu, atormentado, que o seu viço desaparecia para sempre, tal e qual desapareceu o lucro que um dia teve com a cera da carnaúba. Daí para frente foi somente ficar em casa, deitado e calado, remoendo o passado, esperando a hora da partida.

Nada mais conversava; nada mais queria porque nada mais lhe agradava. Apenas um pedido, um último e talvez irreverente, porém indispensável  pedido: queria uma fêmea. Pediu aos filhos em um dia em que todos velavam ao lado do seu leito: queria uma mulher, fosse quem fosse. Que lhe trouxessem uma mulher!

                       – Ainda sou homem!

Dizia com ênfase, batendo no amolecido, mas ainda largo peito brasileiro.

                       – Estou com esta idade, mas não me troco por certos jovens de hoje. Fui criado bebendo leite mugido com mel de abelha!… E sempre concluía afirmando com toda a força que ainda saía do seu velho pulmão nonagenário:

                       – Ainda sou macho!…

No mesmo dia os filhos se reuniram em assembleia domiciliar, debateram muito e concluíram afinal que quem consegue viver quase um século tem o sagrado direito de pelo menos mais um minuto de felicidade e de orgia, e decidiram por unanimidade: no início da noite seguinte, sem muito esforço e com módico pagamento, trariam uma puta capaz de satisfazer o último desejo daquele ente moribundo que demonstrou bastante ansiedade ao ser comunicado da decisão.

A contratação da vadia não seria difícil porque entre a casa do ancião e o cabaré mais famoso da cidade havia apenas duas ruas, sem movimento e praticamente escuras à boca da noite.

Mas ocorreu que uma de suas noras, pensando e agindo de outro modo e sem saber da determinação dos filhos, marcou para a mesma noite a vinda de um frade capuchinho que em nome dos sete sacramentos da Igreja Católica traria, ao enfermo e em nome de Deus, a sagrada extrema-unção.

Como os padres são sempre apressados quando se encontram no exercício de missões desta natureza, chegou o capuchinho antes da meliante contratada e foi logo entrando no quarto que teve a sua porta fechada pela nora religiosa.

Ali dentro, sentado em uma cadeira ao lado da cama, o religioso melava os dedos em óleo enquanto debulhava uma triste e comovente oração. O velho coronel, não tendo mais forças para bem distinguir as pessoas, não percebia que aquele piedoso presbítero, com aquela reza, roubava-lhe o seu tesouro – sua última tentação perniciosa que ainda latejava em sua mente – Mas permitia, calado e esperançoso. Cícero já explicou isto: Não há ancião que esqueça onde escondeu seu tesouro. De modo que consentia, embora bastante resignado e apressado, triste resmungo de baixo tom, porque podia se manter acreditado piamente naquilo que sua imaginação permitia acreditar, e assim, passando a trêmula mão na macia e espessa barba daquele ministro de Cristo, dizia quase sem voz:

                        – Ótimo, meu bem. Você é uma beleza! Já veio pronta…

*Antonio de Pádua Ribeiro dos Santos, poeta, escritor, cronista, contista, ocupa da cadeira de nº 01.

Sobre a obra Mescla, de Sousa Filho e Ma Socorro

Prefácio da obra Mescla:

Mesclando versos, sonhos e inspirações.

            Quando uma obra nasce, inúmeras consequências e inspirações, esta traz. Se for literária, ainda mais. E quando se trata de uma coletânea… Multiplique.

            O Piauí em Letras, série de coletâneas lançadas desde 2018 de forma anual (e atualmente na produção do sexto volume) é um grande exemplo de como esse tipo de publicação proporciona inúmeros bons frutos que ultrapassam até mesmo a questão do conhecimento e da experiência… Geram até mesmo o inicio de grandes amizades e parcerias.

            Foi o que ocorreu com os poetas Sousa Filho e Maria Socorro. Ambos ingressaram na coletânea no quinto número, lançado no ano passado em Floriano, cidade em que puderam se conhecer pessoalmente, sendo ela residente em Marcolândia e ele em Parnaíba. Distância de 700 quilômetros. Porém, nas últimas décadas, com o advento da internet, principalmente de meios de se comunicar (redes sociais e aplicativos), os limites deixaram de existir e projetos como esse que você, caro leitor, está visualizando, se tornaram mais fáceis de acontecer. Contudo, preciso dizer que a minha fala sobre facilidade, não diminui de forma nenhuma a façanha destes dois heróis da escrita e da vida, que sozinhos são enormes talentos, agora nessa parceria… Tornaram-se perfeitos.

            Mescla é uma simbiose poética das mais belas que já vi. Seja em versos românticos, reflexões sobre o mundo ou criticas sociais. Os poemas de Sousa inspirando Maria. A produção dele, servindo de estimulo e criatividade para ela. E o melhor, não se tratando de uma cópia. Apenas o título e breves textos sendo os mesmos, claro, de forma proposital. Porém Socorro utilizando, a cada texto da própria criatividade. Ou seja, o tema é o mesmo, a essência também, todavia o mais importante, que é a alma e o coração de cada uma das construções é obra dela, que ao lado das igualmente preciosas linhas nascidas de Sousa Filho, resultam num livro pra lá de emocionante, além de inovador.

            Dito tudo isto, é o momento de encerrar esta minha participação, no que agradeço muito o convite dos amigos Sousa e Maria e desejo uma excelente leitura, esperando que Mescla possa inspirar a muitos, da mesma forma como me inspirou, me deixando ainda mais orgulhoso destes meus amigos da literatura que tanto admiro e que torço pelo sucesso de suas respectivas carreiras, pois merecem, não só pelo talento, mas pela humanidade inerente a cada um.

Claucio Ciarlini

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Sobre a obra Sentimentos Poéticos, de Roger Marques

Por um mundo poético

            Há quem duvide do Poder da Poesia. De que ela possa vir a curar; de que ela consiga promover mudanças; de que ela nos conduza há tempos e lugares; de que ela nos aproxime de Deus. Há quem duvide, mas Roger Marques não.

            O poeta que já contemplou por inúmeras vezes o que de pior o ser humano pode ofertar, mas ainda assim não se deixou ser seduzido pela comodidade de se tornar uma pessoa sem sentimentos e que pelo contrário, ao invés de desligá-los como fazem muitos depois das inevitáveis decepções, optou por se abrir ainda mais, mergulhando em preciosa subjetividade e transformando as perdas e os obstáculos numa espécie de trampolim através da escrita, um dos seus grandes dons, que é ao mesmo tempo combustível e alento, faz nascer em parceria com a incrível arte de Alan dos Santos Oliveira, essa emocionada obra chega aos nossos olhos como fértil jardim em meio a um ambiente áspero demais.

            Numa era marcada pelo forte individualismo de tantos, brigas e desrespeito por razões cada vez mais banais, pela ausência da fé (ou pior, pela radicalização dela), esse livro surge como uma esperança, quase que sussurrando ao nosso ouvido, de que apesar de todo caos, é possível que haja harmonia e até mesmo sentido, em continuar acreditando no poder que tem a palavra AMOR.

            Amor que é capaz de vencer o tempo! Que tem a força de promover a união que nos cura até mesmo das mais graves feridas, as da alma como as do coração, que nos faz conversar com Deus… E por que não?

            Roger não só acredita nesses amplos poderes inerentes ao amor, como também nos prova através dessas linhas mais que inspiradas, ora refletindo sobre a Literatura, ora debruçando-se sobre a cidade, os locais de memória; falando de amor, de vida, e enquanto nos conduz entre lembranças doces e outras nem tanto, conseguindo suavizar, acalentando nossos sentimentos, através da demonstração dos seus, nos fazendo enxergar beleza até mesmo na morte, enquanto nos inspira a sonhar com um mundo de mais amizade e compreensão e onde a plena felicidade não seja apenas utopia impressa em envolventes páginas e, sim, realidade pertencente a um planeta que possamos quem sabe um dia, chamarmos de poético.

Claucio Ciarlini

Quem se interessar pela obra, é só entrar em contato com o autor, através do contato: (88) 98116-1356