

Aquela estátua sempre me chamou a atenção. Desde quando eu era apenas poucos passos em pequeninas pernas… Ficava a observar aquele busto, de um senhor…

Teria sido herói? Indagava- me! Até quando com passos mais largos já me locomovia, correndo ao redor da praça e sobre os olhares vigilantes de minha mãe, acompanhada de minha avó (também mãe), que não tiravam o olho de mim, eu não conseguia parar de contemplar aquela imagem, ladeada por Carnaúbas, numa praça que era, por bem dizer, um dos meus parques de diversão, a subir e descer tantas e tantas vezes na rampa, com minhas pernas já bem maiores e depois utilizando – me delas para pedalar por toda a extensão deste, que me habituei a chamar, assim como os demais parnaibanos, de Centro Cívico! E de voltas e voltas, entre contemplações, me gerava uma pergunta, ou melhor, muitas perguntas… Quem seria esse personagem? Qual seria sua história? Um presidente? Um juiz? E dessa forma começava a nascer, sem nem ao menos perceber, um Historiador em mim.
Em paralelo, já em casa, era comum uma vez a cada ano, e por mais vezes até, a visita de outro senhor, que não ostentava toda aquela barba do primeiro da estátua, mas muito educado gentil e proseador, um amigo da família, carinhosamente chamado de Cepinho. Lembro muito de minha avó dizer: “é admirável! Homem de família tão nobre, um dos donos da Ilha do Cajú, e ainda assim, tão simples e humano. E através deste e outros bons exemplos de casa, eu fui formando meu caráter, no que mais tarde me formaria em História e é quando pude perceber, que aquele senhor lá na fria, porém imponente estátua (ou busto), ou seja, James Frederick Clark, tinha uma forte ligação com o outro senhor, simpático e amigo Septimus de Mendonça Clark. O primeiro, grande patriarca da Casa Inglesa e da Cera de Carnaúba, o segundo, um de seus netos que o sucederam nos negócios. E dentre toda a história, muito bem levantada pela pesquisa mais que minuciosa e grande historiador e amigo José Bruno, eis que humildemente buscarei resumir, a meu modo, alguns dos principais aspectos:
De Keswick, Inglaterra para Parnaíba, Brasil.
O que deveria estar passando pela mente do jovem James, órfão, a bordo de um navio, a percorrer o oceano rumo a um país desconhecido, com a missão de ser aprendiz, escrevendo em seu diário… Atracando, tempos depois no Porto de Amarração, no que, rio acima, alcançou Parnaíba, de onde começou na função de Caixeiro e através de muita dedicação, e vários cargos, chegar a sócio, e, no fim, único dono da Casa Inglesa?
Será que possuía mesmo a mais leve noção de que se tornaria um dos homens mais conhecidos em Parnaíba, ou melhor, no Piauí e regiões próximas?
Porém essa história não se resume apenas a trabalho e a figura de um só personagem… É construída por laços afetivos e familiares… Pois James Clark casa com Anna Castello Branco, e da união, surgem seis filhos, Frederico, Antônio, Septmus, Oscar, Maria e Flora. Frutos de um amor, que mais tarde legaram netos, bisnetos, tataranetos, e tendo um, recentemente, nascido no país de origem de James.
Sem contar, que a biografia de James Frederick Clark e seus descendentes, é muito mais que uma história de família, se traduz com a história de Parnaíba, não apenas no patrimônio deixado e hoje devidamente tombado, mas também a nível econômico, principalmente no que condiz a Cera de Carnaúba, além de outros produtos e parcerias; a nível social, na coparticipação da família quando da fundação do Rotary Internacional; a nível cultural, com destaque a área do esporte, trazendo a primeira bola de futebol, fundando o primeiro time e logo após o primeiro estádio; e até mesmo a nível ambiental, com a aquisição e preservação da Ilha do Caju.
Fatos muito bem divididos e analisados nesta obra, que a cada página que meus olhos foram acompanhando, mas eu fui sendo conduzido, para Parnaíba dos séculos 19 e 20, e alcançando a década de 80, a de 90, e dos tempos de agora, de volta ao Centro Cívico, a contemplar a estátua, que sempre despertará minha atenção, porém agora conhecendo muito bem os feitos deste senhor, que pode não ter sido herói ou político, mas que fez muito por sua cidade adotiva e para muito além dela.
Claucio Ciarlini (2018)