
Prefácio de Entre a literatura e o cinema
O que veio antes… a literatura ou o cinema? Em termos históricos, a primeira opção prevalecerá. E se o foco não for a humanidade e sua evolução, mas o conjunto de aprendizados e percepções de cada indivíduo? Afinal, ninguém vem ao mundo sabendo ler… Agora, escutar ou assistir, emocionar-se ou sorrir, geram assim as primeiras sensações e reflexões, formas de enxergar e pensar o mundo… O cinema, a partir de uma tela de TV, celular ou computador, se oferece a cada dia, e desde os primeiros anos de vida, aos olhos atentos de quem ainda nem adentrou uma sala de aula (ou ainda pouco o fez), mas que certamente, através da sétima arte, já começou a formar as imagens que mais tarde virão a se transformar em história, guardada na mente ou até mesmo, um dia, eternizada numa publicação.
Através desse pensamento, é possível perceber que o cinema pode muito bem ser tão importante ou impactante quanto uma obra literária, porque, se temos inúmeros roteiros para filmes que foram adaptados a partir de livros para lá de inesquecíveis, ao mesmo tempo, os responsáveis por escrever romances, novelas, contos e tantos outros gêneros tiveram (e não são raros os casos) como primeira inspiração essas produções audiovisuais que muito inundaram seus conscientes e inconscientes enquanto comiam pipoca na frente de uma telona ou telinha.
Diante do que vos apresentei nos primeiros parágrafos, aproveito para lançar outra questão: uma obra literária adaptada ao cinema sempre será inferior ao texto original? Pergunto, mas quem irá responder, tanto essa, como inúmeras outras (com forte análise e embasamento) é o professor Ajosé Fontinelle. Utilizando-se de rica pesquisa sobre a novela Ulisses entre o amor e a morte, de O. G. Rego de Carvalho, Ajosé Fontinelle nos mostra, através dos mais variados planos e referências, que é possível e necessária (eu diria: urgente) uma adaptação das memórias felizes e amargas de Ulisses para o cinema, devido ao fato de a obra apresentar uma estrutura que favorece tal fim.
Em meio à defesa de sua dissertação, com enfoque na convergência de sistemas semióticos, Ajosé Fontinelle ultrapassa (para nosso deleite) as observações obrigatórias sobre a obra de O. G. Rego de Carvalho, com suas simbologias e sentimentos, enquanto vislumbra uma futura transposição fílmica de seus personagens e movimentos. O professor e literato nos oferece uma incursão à história do cinema, desde as suas primeiras e mudas décadas, como também uma aula sobre as etapas de produção, desde o roteiro, passando por noções de direção, câmera e edição, dentre inúmeros outros aspectos que revelam o grande amor e conhecimento que o Mestre em Letras, pela Universidade Estadual do Piauí, tem para com o universo dos filmes, mas sem, em nenhum momento, privilegiar qualquer que seja a manifestação artística. Para Ajosé Fontinele, a literatura e o cinema estão no mesmo patamar.
Esta pesquisa, além de servir para identificar e interpretar os elementos que remetem à obra a uma narrativa cinematográfica, numa possível correspondência intersemiótica, considerando-a consequentemente, um sistema semiótico sincrético, demonstra o tamanho da inspiração e da motivação existentes em Ajosé Fontinelle, no que diz respeito à relação entre literatura e o cinema. Trata-se de um pesquisador incansável, com uma sensibilidade aguçada e destinada a nos estimular, no tocante a conhecer esse infinito universo de produções impressas e audiovisuais em que tudo pode acontecer, onde um personagem pode mostrar as suas alegrias e as suas dores, transmitindo-nos enorme aprendizado, enquanto lemos ou assistimos, inspirando-nos, graças as suas ações e momentos plantados na memória, mais uma vez.
Escritor, professor, editor, jornalista cultural, cineasta e membro da APAL
A obra de Ajosé Fontinelle encontra-se disponível a partir deste link: https://www.americanas.com.br/produto/5695688162?pfm_carac=o-g-rego-de-carvalho-entre-a-literatura&pfm_index=1&pfm_page=search&pfm_pos=grid&pfm_type=search_page&offerId=62ff0c9fadbc5f39b9fb8770