Memória Almanaque, por Jailson Júnior (Edição 63, de 1996).

ALMANAQUE N° 63 – 1996

Na edição 63 do Almanaque da Parnaíba, a qualidade e a riqueza de conteúdo se mantiveram como os objetos de desejo da equipe do Conselho Editorial, que foi a mesma das duas edições anteriores. O anuário da cidade de Parnaíba continuou contando com o apoio da Prefeitura e da Universidade Federal do Piauí (UFPI), contando com as fotos antigas do acervo particular da Fundação Raul Bacelar e as mais atuais do acervo do acadêmico Danilo Melo Souza. A capa privilegiou o emblemático Cajueiro Humberto de Campos, amigo de infância do inesquecível filho de Miritiba, que viveu em Parnaíba, e na capa de trás, a histórica Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba, ambos completando naquele ano um centenário de existência.

A obra já se inicia com a crônica “Um amigo de infância”, capítulo do livro Memórias, de Humberto de Campos, que imortalizou o “cajueiro mais famoso da literatura brasileira”. Plantado no ano de 1896, a árvore gozava de seus frondosos 100 anos em 1996, e foi para sempre guardada na memória do terceiro ocupante da cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras. Em seguida, Assis Brasil relata em seu conto “A Receita” a saga da jovem Maria do Socorro, costureira que buscava comprar em alguma das diversas farmácias de seu bairro vários remédios que lera em um romance com a “esperança” de fazer um veneno para encurtar sua pobre vida já minada pela avançada tuberculose. No artigo “Missão cumprida”, o então prefeito José Hamilton Furtado Castelo Branco faz várias observações sobre a cidade e as conquistas provenientes de seu mandato, que se encerrou ao fim daquele corrente ano.

Em “A paisagem física e espiritual da Parnaíba – página de saudade”, o metafísico Pádua Ramos contribui para a edição com o texto proferido no lançamento do livro Estórias de uma Cidade Muito Amada, do saudoso médico e escritor Carlos Araken, ocorrido em agosto de 1995 na sede do Náutico Atlético Clube, em Fortaleza. No texto “Cuba resistirá?”, o professor Manoel Domingos Neto faz uma análise apurada da ilha localizada na América Central, que depois da Revolução de 1959, adotou/adota o sistema socialista de mercado como predominante até hoje. Domingos Neto analisa os prós, os contras, as sucessivas crises, a forte oposição norte-americana, o apoio recebido da URSS até sua dissolução em 1991 e parâmetros para o futuro do país. O professor e jornalista Renato Araribóia Bacelar faz alusão ao já mencionado centenário do célebre Hospital Santa Casa de Parnaíba, registrado em 26 de abril de 1996, como consta em sua fachada. Fazendo um breve histórico sobre os anos de existência do prédio, Bacelar também menciona a escritora parnaibana e professora Maria da Penha Fonte e Silva e suas referências ao lugar, citando também diversas pessoas que ao longo da história, ajudaram a construir o legado da instituição.

Em “Mesmo vivendo…” o saudoso jornalista Batista Leão reflete sobre a vida, seus desdobramentos, dilemas e problemas, e em como podemos refletir sobre ela e suas particularidades, citando o poema de sua autoria Saudade e Amor. Na galeria de imagens intitulada “Memórias Fotográficas”, temos oito imagens referentes a prédios ainda existentes no cenário histórico de Parnaíba como o prédio da Santa Casa de Misericórdia, do Cine Teatro Éden, da União Caixeiral e da firma Morais e Cia, e os prédios da Administração Parnaibana e do Banco do Brasil, ambos já demolidos, atualmente com novas edificações em seu lugar.

Seguindo a senda literária, o próximo texto é o discurso de recepção proferido quando o poeta Alcenor Candeira assumiu a cadeira de n° 06 da APAL pelo escritor M. Paulo Nunes. A saudosa acadêmica Edmeé Rego Pires de Castro segue com um minucioso texto sobre o Delta do Parnaíba, desde sua definição, passeando por detalhes geográficos indo até o processo de ocupação da região pelo movimento pecuarista que desbravou o atual território do Piauí, trazendo também croquis da região do Delta produzidos no início do século XX, concluindo com o movimento Ecoturista no qual a região está até hoje se especializando.

João Evangelista Mendes da Rocha relembra em um texto memorialístico o Dr. Luiz Correia, homem culto e profícuo de seu tempo, poeta, magistrado, orador e político, nascido em Amarração, cidade que hoje leva seu nome, amigo de casa, íntimo de seu pai e que o auxiliou a viver na capital cearense dos anos 1930. Em “Ações ambientais em Parnaíba”, o professor e acadêmico Francisco Filho relata o trabalho feito pela então gestão municipal, criadora da Secretaria de Turismo e Meio Ambiente, que geriu a cidade entre 1993 e 1996, sendo o autor do texto o primeiro a ocupar o Departamento de Meio Ambiente, trazendo de forma detalhada o que ocorreram de atividades em cada um dos anos de mandato (1993, 1994, 1995 e 1996).

O Dr. Cândido Athayde, em “Parnaíba merece”, traz a importância da preservação da história e da memória de Parnaíba com a criação da Secretaria de Cultura, trazendo também breve histórico da ocupação e das influências europeias nos costumes, na língua, na história e na arquitetura da cidade. Dona Lígia Ferraz representa o universo feminino ao escrever um texto homenageando as mulheres pelo Dia Internacional da Mulher, citando prodigiosas mulheres da época como Carlota Freitas de Queiroz e Hortênsia Mendes. Na galeria “Poesia parnaibana”, poemas de cânones de nossa literatura local são lembrados: Ode, de Ovídio Saraiva, Ausência Eterna, de Luiza Amélia de Queirós Brandão, Anátema, de Jonas da Silva, Meus Oitentões, de Alarico da Cunha, Nortadas, de R. Petit, Olho D’água da Ilha, de Thomaz Catunda, O Flamboyant, de Oliveira Neto, Em Memória de Clarice Lispector, de Paulo Veras, e Caminheiro, de Renato Castelo Branco.

Lauro Correia contribuiu para o Almanaque de 1996 com o seu discurso “União desmembramento do estado do Piauí”, proferido em Simpósio na presença de autoridades, juízes e desembargadores naquele ano. No texto, Correia faz um apanhado histórico de todos os projetos que o Brasil já teve para compor a divisão de sua extensa composição geográfica, afunilando para os projetos que o Piauí também já teve para tal intento. Em “Um novo corifeu das letras”, Cláudio de Albuquerque Bastos faz alusão a algumas obras historiográficas da Literatura Piauiense, como Literatura Piauiense – Escorço Histórico (1937) de João Pinheiro, Visão Histórica da Literatura Piauiense, de Herculano Moraes (1976, 1982 e 1991), dando específico destaque ao Dicionário Biográfico – Escritores Piauienses de Todos os Tempos (1993) do escritor Adrião Neto.

O poeta Alcenor Candeira traz em sua produção aspectos sobre a fundação da literatura parnaibana, citando como marco inicial o livro Poemas, de Ovídio Saraiva, lançado no longínquo ano de 1808, trazendo pensamentos e divergências existentes sobre os reais marcos iniciais da literatura parnaibana e também da brasileira. Vitor de Athayde Couto traz em seguida três capítulos de seu livro Ushtar, intitulados “Kaeri-mona”, “Amecari” e “Lud”. Em “Uma cidade com história para contar”, o então secretário de cultura Danilo de Melo Souza faz um passeio sobre as origens do que é hoje a cidade de Parnaíba. Complementa ainda a série Benjamim Santos com a crônica “Os Banhistas” e em “Um pé de valsa chamado João”, o saudoso médico Carlos Araken homenageia uma das grandes figuras de Parnaíba, o médico Dr. João Tavares da Silva Filho.

Em “Ensaio fotográfico”, vários pontos da cidade são mostrados, sendo eles a Praça da Graça, a Av. Presidente Vargas, a Praça Santo Antônio, a Capitania dos Portos, o cais da Marinha do Brasil, o Balão da Guarita e a Av. Pinheiro Machado.

Em “A Morte”, o advogado Paulo de Tarso traceja de forma real, mas ao mesmo tempo poética o mal irremediável que a todos os vivos acomete. Em “Saudação ao professor emérito Lauro Correia”, novamente o poeta Alcenor Candeira utiliza sua cunhagem particular de palavras para homenagear o atual decano da Academia Parnaibana de Letras, quando convidado pelo então reitor da UFPI, Charles Camilo da Silveira, para o proferir no evento que o contemplou com o título de professor emérito daquela instituição. Pádua Santos, em seu conto “Hipócrates, hipócrita”, conta a história de um jovem acometido por uma doença até então misteriosa e desconhecida, que morre antes do Carnaval. O saudoso poeta Jorge Carvalho completa com seu poema crítico Escravos de “Job”.

O poeta Elmar Carvalho, em seu artigo “Mestre Ageu – mago ou demiurgo?”, homenageia o funcionário público da extinta SUCAM e premiado escultor Ageu Alves de Melo. Paulo Vinícius Madeira Basto em “A Música em Parnaíba” faz um trajeto pelos eventos musicais na cidade de 1958 até aquela data, destacando momentos de grandes intérpretes da música brasileira até a criação e disseminação de bandas locais, tendo ele mesmo participado como baterista em um dos grupos da época, denominado Os Bárbaros.

Em “Palavras que eu já deveria ter dito a meu pai”, Wilton Porto homenageia seu genitor pelo aniversário de 70 anos de idade em uma crônica, citando a própria experiência em ser pai, compreendida, segundo ele, somente quando se passa a ser um.

Na série “Parnárias”, oito poemas homenageiam a Princesa do Igaraçu, sendo os textos Progressos, de Lívio Castelo Branco, Faróis, de Jonas da Silva, Parnaíba, de Francisco Ayres, Rio Igaraçu, de V. de Araujo, Um Rio, de Zezo Carvalho, Soneto Fluvial, de Alcenor Candeira Filho, Mar(ulho) no Tabocal, de Elmar Carvalho, e O Éden, do já citado poeta Jorge Carvalho.

Israel Correia traça os planos da “Gestão estratégica da UFPI”, título de seu texto, apoiado em robusta literatura teórica e Filosofia. Fernando Ferraz, em “Tabuleiros litorâneos de Parnaíba”, detalha o ousado projeto de instalação da indústria de fomento que veio com o objetivo de alavancar a produção de alimentos na região. Rubem Freitas usa de seu humor apurado para descrever, em um misto de ficção e realidade, a sua Tutóia da infância e da sua juventude, em crônica intitulada “Tá doida, tá doida, tá doida…”.

Em mais um texto alusivo aos 100 anos da Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba, o acadêmico Renato Neves Marques retoma de forma fiel desde o início de onde se tem documentado o movimento de busca por serviços de saúde na então vila e depois cidade de Parnaíba, até a criação da Santa Casa, mais uma entre tantas em nosso país, construída para atender as necessidades da população de nossa região, citando colaboradores, doadores, mesas administrativas, médicos que atenderam no prédio, entre outros personagens muito importantes na construção dessa instituição importantíssima na história de Parnaíba e do Piauí, pesquisa feita de forma bastante detalhada, analítica, ancorada em robusta bibliografia disponível.

Em “Conselheiro Saraiva, baiano e piauiense”, Orfila Lima dos Santos homenageia aquele que em 1850 se tornou o Presidente da Província do Piauí, durante o período do Segundo Reinado (1840-1889), detalhando em seu artigo vida e obra desse “ilustre brasileiro”, que, após seu mandato, findado em 1852, exerceu vários cargos de nível político pelo Brasil, mas que durante seus dois anos de gestão intermediou os trâmites para a transferência da capital da província para o município de Poti, às margens do rio de mesmo nome, atual cidade de Teresina. Em seguida, a jornalista Sólima Genuína dos Santos faz uma imagética sobre a importância da alegria na crônica “A apologia do riso”.

Em “Diagnóstico de saúde de Parnaíba”, o médico Valdir Edson Soares faz uma análise numérica detalhada de Parnaíba daquela época, com dados do total da população, suas caraterísticas, mortalidade infantil e adulta, quantidade de pessoas a aspectos básicos de saneamento básico, além de dados de infecções de animais em relação a doenças endêmicas e unidades de saúde básicas e hospitais disponíveis até então.

Logo após, há um histórico da Unimed em Parnaíba, com a equipe de direção fundadora da filial na cidade, além de considerações a respeito do compromisso da empresa com o povo parnaibano. Segue-se com o histórico do Serviço Social do Comércio (SESC), com sua origem no Brasil, iniciado em 1945 e oficializado em 1946 pelo decreto-lei n° 9.853, além de sua vinda para o Piauí, no ano de 1948, com a instalação de uma Delegacia em Teresina, vindo a implantar sua primeira Administração Regional no estado em 1954, em Parnaíba. Logo após, segue breve histórico de fundação e atividades da Cooperativa Agropecuária do Baixo Parnaíba Ltda. (Cooperativa Delta).

Seguindo o Almanaque, das páginas 253 a 256 têm-se o quadro social da APAL daquele ano, que ainda contava com 35 assentos, detalhando seus patronos e ocupantes, e finalizando a obra, como de praxe, com o “Anuário parnaibano de 1995”, de autoria e organização do saudoso acadêmico, político e professor Iweltman Mendes, trazendo a ficha técnica da cidade durante o ano anterior.

Jailson Júnior

  • Texto publicado originalmente na edição 156 de O Piaguí, em maio de 2021.