CRÔNICA QUE O TEMPO NÃO APAGA

TURMA FERA
Wilton Porto

Do passado, lembranças tantas, estudantes: vigor e sapiência, atrozes ações – bem que poderíamos nos envergonhar agora!

O Colégio “Pedra de Amolar”, São João do Piauí, símbolo de educação do estado. O espírito rebelde anunciava a vivacidade, a coragem de dizer, a luz que em cada um brilhava, geração de inconformados, que diante das injustiças gritava e gritava, se incomodasse um, todos eram incomodados.

A quarta série era o inferno do colégio.Olhos de brilho intenso, humor que se alastrava, inteligência arrebitada, canção bem cantada, atores que com papel definidos, apresentação que todo dia, a toda hora, mas a lição sempre pronta: só a juventude vivendo o seu tempo,estudante que presenciavam o agora.

A cadeira da diretora era de prego sempre à vista, ela não parava um só instante sentada. Se uma muriçoca zoasse no ouvido dela, como um tirano, desenfreado, deixava veneno que vinha das ventas, escorrer em nossa classe, impunha castigo que não merecíamos, tudo de tudo “foi a quarta série – essa apendicite endiabrada!”

O capim brilhava na mesa dela. Era um molho bem escolhido, bem preparado: laços coloridos, verdinho verdinho apetitoso para qualquer animal estava.

Fulana chegou espumando, língua, como navalha, mão: bandeira ao vento, que sem parar tremulava. Batia tão forte na mesa, que a cidade toda escutava. Os olhos eram chama acesa labareda que não se apagava.

Toda a classe, sem sequer um pestanejo, fora condenada. Dez dias de suspensão eram pouco para uma turma que nascera mal fadada. Satã a tinha escolhido, pois os piores numa mesma classe.

Fim de ano: muitos, em falta, seriam prejudicados. A repetição de ano era certa, não se tinha dúvida. Ninguém sabia de quem fora a façanha, que a todos agradara. Um por todos, todos por um, ninguém reclamava. Isto mais furor na diretora, que a esta altura era “a burra, que de capim tanto gostava”.

“M” se levantou: altiva, poderosa. Voz mansa, sem rodeios, soltou a bomba, que até hoje soa em nossos ouvidos: “Fui eu, dona “X”, quem lhe deu capim! O fiz por mim e só por mim. Não aceito nenhuma defesa: meus amigos, deixem-me só nesta: se só o fiz, sozinha o castigo, eu mereço!”

Esta e tantas e tantas… E tantas e tantas nos alforjes a carregar. Coube a mim, o poeta da classe: algum dia lembrar, relembrar, a Turma Fera Turma 70 que igual não se ouvirá falar!

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