RENÚNCIA

RENÚNCIA
Para Ana Carla França
Wilton Porto

Eu não tive o prazer adocicado de ouvir canções de ninar. Nem de me embevecer com o olhar sublime
do meu pai. Não possuí o colo e os braços mornos daquele que deveria contar-me contos de fada. Tampou-
co, o seu beijo cálido de amor indelével.
Cresci sob os auspícios de desejos não realizados. De breves comentários sobre minha verdadeira história
e, no fundo de uma rede, chorei sem conhecer os motivos.
Não sei dizer se sou alegre ou triste. Se encontrei o meu caminho, se um caminho realmente existe.
Como andarilho, não possuo pousada certa. Os braços que me acolhem, neste momento são a minha morada.
sonho que eles me prendam, me alegrem, torne-me mais meiga do que hoje sou.
Tem dias que me encontro e o sorriso brota dos meus lábios. Noutros, sou gaivota buscando um voo alto.
E nesses voos, vejo a Terra como um mar de amargura e o meu peito em chama de amor, chora a solidão
que não entendo, por isso, não posso explicar.
Tenho consciência de que sou amada que há cobertor para os meus gestos frios, palavras de conforto para
os calundus. Às vezes, sou ranzinza, porque o meu destino lembra-me grades de ferro cru. E o amor que deve-
ria dar-me equilíbrio, subiu a Colina de São Jorge, ou Castelo, em Portugal.
Topei muita gente com mãos caridosas e ternura nas palmas da mão. Muitas vezes, olhei-me no espelho e
vi-me como luz que poderia irradiar beleza. Mas não nego, que entre abraços de ternura e sôfrego ideal de
sentir-me estrela de quinta grandeza, senti-me caindo do Pico da Neblina e estatelar-me no asfalto quente
da desilusão.
Neste instante, encontro braços que se levantam e com dedos macios, direcionam-me para um céu de
estrelas e uma Lua Cheia. Um coração que desenfreadamente bate, querendo conduzir-me a um lar, onde
fervilham a a doçura e a paz duradouras. Minha alma inquieta-se. As lágrimas cintilam em emoções não antes
sentidas. Todo o meu ser desaba em querer aquietar-se. Os que me são anjos, dizem que amanhã pode ser muito tarde. Quedo-me silente. Pensativa. Compreendo que o meu destino, eu mesma o traço. Que só eu posso deci-
dir sobre a minha felicidade. Olho os olhos que pousam sobre os meus. Vejo o céu brilhando. Sinto vontade
de pular em seu regaço. Dizê-lo: “Venha! Torne-me mais adulta! Quero viver de sua luz, fazer você sentir
o reflexo do que tenho de melhor em mim. O mundo foi-me cruel. Deixou-me inúmeras lacunas. Sofro
querendo paz física, mental, emocional e espiritual. Venha! Aquiete-me nos seus braços! Pois agora entendo:
a felicidade está dentro de mim. Contudo, preciso de você, que na etérea confiança de aceitar-me como sou,
mostra-me que no seu ser está o agasalho para as minhas dúvidas, sede de amar e se amada, o fulcro do
encontrar-me comigo mesma.
Hoje, você faz de 19 anos de idade. Já sabe das cabeçadas que deu. O quanto sofreu e fez muitos sofrerem.
viveu verdades e mentiras. E tem consciência plena: se deseja ser feliz, tem que fazer por onde, desempenhar
a sua parte, compreender que a vida não nos felicita sem aceitarmos que na comunhão está implícito a
renúncia.
Não existe vida a dois, familiar sem confiança, sem atitudes coerentes, respeito em duas vias. Certa vez,
ouvi, que os egoístas morrem sós. Ainda é tempo. Que cada um de nós, abracemos o poder da Luz. Reveja-
mos nossas ações e os braços que hoje querem agasalhar-nos! Tenho certeza: dar-nos-á a grandeza da
oportunidade que nós estamos desperdiçando.

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