Os Grãos de Zilmar
A Praia, mesmo enquanto mera ponte para o passado é o cenário central desta obra, reveladora de contos excepcionais, que de forma cômica e emocional, analisa o ser humano em suas mais variadas facetas, através de uma envolvente amostra de episódios, aventuras e micos do cotidiano, além de outros aprendizados, que acabam por se instalar em nossas memórias e nos ajudam a constituir quem ou o que, com o tempo, nos tornamos. Zilmar Junior, com Grãos de Areia, não apenas nos conduz a prazerosas narrativas, consegue bem mais! Através de sua escrita criativa e afiada, nos captura e nos lança de retorno às nossas próprias lembranças. Praianas ou não. E foi justamente imerso nestas lembranças, ao mesmo tempo em que degustava essa excelente obra, que surgiu esta pequena homenagem que deixo para a obra e o autor:
Eita, Grãos de Areia que me fez viajar!
Para aqueles tempos,
Que quase tudo na vida era se aventurar,
Sem, muitas vezes, nem mesmo olhar
Quanto se tinha no bolso (até pra não desistir)…
Sem planos a maquinar,
Quando assim eu tentava,
Geralmente acabava,
Em companhia do eterno: Rir para não chorar…
Grãos de Areia me trouxe o cheiro do mar,
Mas não de um dia qualquer, e sim daqueles,
Que a memória costuma botar,
Até o mais gélido dos cabras, a lacrimar…
Como também sorrir!
De tantas caras e almas, imprestáveis ou não,
De dias impagáveis em glória
Ou na já costumeira desilusão…
Grãos de Areia me implantou de volta nos ouvidos:
O Asa, o Chiclete, a Eva, até, olhe só, o Tchan!
E tantas ordinárias, sufocos, micos e aprendizados!
Lá, nos oitenta ou noventa, debaixo de sol ou toró!
De sanduba e coca!
Sem esquecer, é claro, do pacote de biscoito!
Fosse de Buzú ou Carona!
Sempre havia um jeito de chegar!
Assim como o amigo Zilmar,
Que também deu o seu jeito,
Desta literatura encantar,
Pois quando de um rápido olhar,
Ela pode até parecer um livro…
Mas na verdade é a porra de um Delorean!
Claucio Ciarlini (2018)
*Matéria publicada em O Piaguí 137, de março de 2019.