MARIA DILMA PONTE DE BRITO ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS CADEIRA 28 PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO 1 º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA
A vida é simples assim. Acordar, comer, trabalhar, divertir, dormir, e amanhã, tudo sempre igual. E a gente nasce, cresce, desenvolve-se e parte definitivamente, deixando saudades.
Em regra, as coisas acontecem nesse ritmo. Para sair da rotina os homens inventam, fazem atalhos ou prolongam o caminho. Desentendem-se, criam sentimentos dentro de si. Eu penso que Deus só criou o amor, a alegria, a amizade, o bom humor. O resto é coisa do ser humano. Ele inventa e não quer arcar com as consequências.
As cidades estão poluídas sem espaço para construção, sem estacionamento para carros. Por que o homem precisa de mais de um transporte? Por que ele quer uma casa na fazenda, outra cidade, outra na praia? Só temos dois pés. Mas temos uma coleção de sapatos. O homem nasce nu e vai adquirindo tantas roupas que um armário não basta e nossa bagagem vai aumentando. Ficamos pesados.
O certo era viajar com uma mala, mas levamos também uma sacola e voltamos com mais outra e mais outra. Ninguém fica satisfeito com o pão nosso de cada dia. A geladeira está cheia e o freezer também.
Essa vontade de mais e mais nunca se sacia. Cada dia adquirimos novos bens, as asas vão ficando incapaz de alçar voos. Sem voar não se pode ver a beleza do mundo, subir a montanha e olhar do alto, admirar o universo. Pesados, presos ao solo, bate o estresse, fica-se amargo e aquilo que era simples, complica-se. O que era doce perde o mel.
O que você não deixa ir, você carrega. Ponha na balança e veja o peso do rancor, da vingança, da vaidade, do desamor. O que você carrega te faz afundar se for pesado. Difícil é a conscientização de soltar, perdoar, de livrar-se.
O importante é descomplicar, deixar seguir, rir quando é para chorar, contar até três antes de se irritar, ficar leve ao máximo que puder, conviver com quem tem bom humor e tocar a vida. Simples assim.
Neste últimos dias, recolhido por causa da quarentena, aproveitei para escrever um longo prefácio para o livro Acordo de Oeiras e outras garatujas, de Carlos Rubem. Não preciso dar maiores explicações porque nele tudo está devidamente explicado. Assim, sem delongas e sem nenhuma excrecência, segue abaixo o meu texto, que passa a integrar o vertente Diário destes tempos de pandemia e pandemônio:
As escaramuças e garatujas de Carlos Rubem
1
Conheci Carlos Rubem em agosto de 1989, em Oeiras, quando, na qualidade de presidente da União Brasileira de Escritores do Piauí – UBE-PI, promovi o III Encontro de Escritores do Piauí. A esse evento compareceram importantes literatos piauienses, entre os quais, salvo eventual falha de minha memória, Francisco Hardi Filho, Francisco Miguel de Moura, Rubervam Du Nascimento, Júlio Caribé, Adrião Neto, José Pereira Bezerra, Ivanildo de Deus, etc.
Como um dos pontos altos do Encontro, haveria uma palestra sobre a imprensa oeirense, a ser proferida pelo médico e escritor Expedito Rêgo. Posso testemunhar que foi uma bela conferência, feita por escrito, com muitas informações e dados históricos precisos. Era um texto profundo, sem dúvida elaborado através de muito trabalho de pesquisa, e que daria um belo opúsculo, que elucidaria muitos fatos obscuros da história da imprensa no Piauí.
Não sei que fim levou essas laudas escritas e lidas por Expedito Rêgo, romancista, poeta e cronista, que um pouco depois viria a integrar, como membro efetivo, a Academia Piauiense de Letras. Sei que Carlos Rubem, já então Promotor de Justiça, o cercou de muitos cuidados, e mesmo respeitosa reverência. O Promotor de Justiça, como no decorrer destas linhas se verá, com o passar do tempo, se tornou também um grande promotor de eventos culturais, de livros e de memoráveis e importantes campanhas em defesa do patrimônio histórico e artístico, não só de Oeiras, mas de outras paragens piauienses.
Posteriormente, vim a saber que Carlos era seu afilhado, através de sacramento católico, embora o padrinho se declarasse agnóstico. Anos mais tarde, em conversa, senti que ele não tinha Fé, mas parecia buscá-la, quase com sofreguidão. Tive conhecimento que, por ocasião de sua doença e morte, ele se reencontrou com Deus, do qual, na verdade, nunca esteve afastado, pois era um homem digno e bom.
Numa das manhãs do Encontro de Escritores, o Carlos Rubem nos levou em comitiva para visitarmos o grande compositor, músico e escritor Possidônio Queiroz, uma de suas mais entusiasmadas admiração. Foi engraçada essa visita, porque, quando o mestre da oratória e de maviosas valsas, veio para a sala, trazia o seu aparelho auditivo numa das mãos, e foi logo nos esclarecendo que sem ele nada ouvia. Por isso mesmo, não foi interrompido em sua longa e erudita conversa, na verdade um monólogo. E isso terminou sendo algo positivo, porque saímos mais enriquecidos com a sua atraente e cultural prática, como se dizia outrora.
Peço licença ao autor, para abrir um pequeno parêntese, e transcrever um pequeno trecho de crônica de minha autoria, em memória e como uma homenagem ao grande Possidônio Queiroz:
“Vi o Bruxo Velho de Oeiras, como o cognominou Carlos Rubem, em bela e brincalhona alusão ao epíteto de Machado de Assis, o Bruxo do Cosme Velho, pela derradeira vez, no Cine-Teatro Oeiras, quando do lançamento de seu cd Valsas Piauienses, em que se apresentou a Orquestra de Câmara de Teresina, sob a regência do maestro Emmanuel Maciel. O mestre Possidônio, surdo, colocava a cabeça dentro das cavidades das caixas amplificadoras, na ânsia inglória de escutar as sublimidades que ele próprio criara. Lembrou-me Beethoven, sem poder ouvir a música extraordinária que produzira e nem os aplausos delirantes que o seu gênio divino arrancava.
Lembrou-me, também, os versos de Drummond: ‘Era meu avô já surdo, / querendo escutar as aves / pintadas no céu da igreja’. E a música do sacerdotal Possidônio era como uma catedral soberba, que tudo envolvia, em que éramos os crentes e o culto era o êxtase dessa música celeste.”
Ao longo de minha vida, participei de diversas solenidades culturais em Oeiras, a convite de entidades culturais ou de amigos, entre os quais cito Carlos Rubem, Antônio Reinaldo Soares Filho e Ferrer Freitas. Por solicitação deste último, escrevi um trabalho de crítica literária sobre a mais recente obra de Expedito Rêgo, o romance Vidas em contraste.
Um pouco depois, em nome do Instituto Histórico de Oeiras, o nosso bravo Carlos Rubem, um verdadeiro Dom Quixote da cultura oeirense, divulgou, organizou e promoveu o seu lançamento em Oeiras, cuja solenidade aconteceu na noite do dia 31 de outubro de 1992, no espaço cultural do Café Oeiras, perto do velho e bonito coreto do Passeio Leônidas Mello. Por causa do meu texto, creio, publicado no jornal O Dia, fui convidado para ser o seu apresentador.
Quando o evento terminou, ficamos conversando alguns amigos, entre os quais, se não me falha a memória, o autor do livro, Ferrer Freitas, Carlos Rubem e o professor Balduíno Barbosa de Deus, ex-secretário de Educação do Estado do Piauí, oeirense e muito amigo de Expedito, que fora meu professor no curso de Direito (UFPI). Das tantas para as tantas, para minha surpresa, o velho mestre disse que eu fora um de seus melhores alunos.
Foi uma cortesia e generosidade sua, porque eu trabalhava, já era pai de dois filhos e confesso que pouco estudava, a não ser às vésperas da prova. Incontinenti respondi: – É bondade do professor Balduíno; ele é que foi um dos melhores professores que já tive. Não bastasse essa cortês troca de confetes, mais adiante, após eu haver dito que queria assistir à sua apresentação do livro em Teresina, o saudoso mestre, invocando Camões e apontando para mim, exclamou: – Cesse tudo que a antiga musa canta, que outro valor mais alto se levanta.
Não me dei por achado, e de bate-pronto, apontando direto para o seu coração, retruquei: – Levanta-se, mas apenas para aplaudir o Mestre! Balduíno sorriu, balançando a cabeça, como se dissesse que eu não tinha mesmo jeito. Em seguida, caminhou em direção à Praça das Vitórias e sumiu na noite oeirense, para nunca mais revê-lo. Poucos dias depois soube de sua morte, vítima de fatal acidente automobilístico.
2
No começo de minha carreira, quando fui juiz substituto na longínqua Comarca de Socorro do Piauí, durante três meses, no começo de 1998, passava por Oeiras no começo de uma semana e no final da seguinte, quando retornava a Teresina, onde minha família residia. Algumas vezes, no centro histórico da velha capital, encontrava o Carlos Rubem. Entretínhamos breve conversa, a reforçar nossa amizade, e eu prosseguia em minha demorada e um tanto penosa viagem, em meu pequeno e valente Fiat Palio verde.
Foi exatamente nesse tempo em que exerci a magistratura na pequenina, quase insulada e bucólica urbe, que quiseram borrar o antigo calçamento oeirense com o breu feioso de asfalto. Carlos se insurgiu contra isso e desenvolveu uma forte campanha contra essa indesejável agressão contra o patrimônio de sua terra natal. O calçamento do centro de Oeiras fora feito com uma técnica antiga, com a utilização de pedaços de laje, e não com blocos de pedra, como nos dias de hoje. Portanto, era algo que já se encontrava agregado à paisagem arquitetônicas dos vetustos solares e sobrados. Pediu-me publicasse uma matéria contra essa verdadeira barbárie e quase vandalismo praticado pelo Poder Público, que exatamente deveria zelar pela conservação e restauração do velho calçamento. Escrevi uma crônica, em que pretendi imprimir um toque de arte e emoção. Espero ter alcançado o meu objetivo.
Em outra ocasião, creio que no início dos anos 1990, quando o antigo sobrado, que fora outrora Casa de Câmara e Cadeia, começava a se transformar numa quase ruína, o intrépido defensor do patrimônio oeirense, mais uma vez, me pediu escrevesse algo a respeito. Esse sobrado, como seu nome indica, fora nos tempos provinciais a sede da Câmara, vale dizer do governo local, e sede da cadeia pública; mais adiante, quando Oeiras não era mais a capital do Piauí, foi adquirido pelo coronel João Batista Ferraz, que o modificou e lhe fez adaptações, como nos informa o primoroso livro Passeio a Oeiras, de Dagoberto Carvalho Jr. Tive a honra de ser o prefaciador de sua esmerada 6ª edição, cuja capa ostenta o velho e belo solar assobradado.
Mais uma vez atendi ao pedido do nobre paladino das coisas de Oeiras, e fiz uma crônica em que dizia que se providências urgentes não fossem tomadas, o antigo sobrado, que já servira ao Poder Público, em que pontificaram os vereadores do velho Senado da Câmara, que já fora casa residencial, e que por isso ficara com o nome de Sobrado dos Ferraz, em homenagem ao velho coronel, que o comprara, que já abrigara escola e que, por último, se tornara a sede do Círculo Operário, fatalmente se transformaria em escombros.
Acrescentei que suas vigas já ameaçavam despencar, que suas paredes já se encontravam gretadas, cheias de fissuras, que o velho solar se encontrava acometido pelos achaques das intempéries e do tempo. O certo é que essa campanha do Carlos Rubem foi empreendida também por outros intelectuais, com reivindicações e sugestões em textos literários, entre os quais o amigo e confrade do Instituto Histórico de Oeiras e da Academia Piauiense de Letras Dagoberto Carvalho Jr., e se tornou vitoriosa com a restauração do velho e histórico sobrado, que se transformou na bela sede da Prefeitura de Oeiras.
Uma das mais importantes lutas encampadas pelo autor foi a sua campanha em prol da conservação e restauração do prédio da Fábrica de Laticínios de Campos, hoje Campinas do Piauí. Por décadas, desde que assumiu a Promotoria de Justiça da Comarca de Campinas do Piauí, que ele vem clamando, quase como um novo profeta a clamar no deserto das incompreensões e do descaso, e mesmo do menosprezo e do sarcasmo, para que essa antiga, imponente e bela construção não venha a cair, posto que já está quase em ruínas. Graças ao seu esforço alguns remendos e escoras foram feitos, de forma precária e provisória.
Sobre esse sonho do engenheiro Sampaio, hoje de fogo morto e quase apenas a sombra ou o escombro do que foi outrora, em minha crônica Expedição ao Sertão Colonial, publicada na internet e na Revista da Academia Piauiense de Letras (2019), tive o ensejo de dizer:
“De mulheres idosas, nas quais ainda remanesce um pouco da antiga e gloriosa beleza, dizem os ironistas e sarcastas, entre os quais não me incluo, que são uma bela ruína. Mas a fábrica de laticínios do engenheiro Sampaio, bastante deteriorada, é mesmo uma bela e imponente ruína, a um passo de se tornar escombros, quase uma imensa tapera, no meio de construções novas e de uma quadra esportiva, que lhe encobre a fachada, ainda majestosa apesar da incúria do poder público.”
O sonho de Antônio José de Sampaio foi um sonho malogrado, porque, a meu ver, ele cometeu graves erros de perspectivas financeiras, econômicas e, sobretudo, de logística, conforme explicitei no mesmo texto:
“Levar esses pesados equipamentos e peças, no final do século XIX, de Floriano até Campos (hoje Campinas do Piauí) foi um trabalho hercúleo e uma verdadeira epopeia, como bem disseram os escritores Luís Mendes Ribeiro Gonçalves e Reginaldo Miranda, ambos da Academia Piauiense de Letras. Sem dúvida, os entraves burocráticos, as dificuldades financeiras enfrentadas pelo engenheiro Sampaio, e a condução das partes desmontadas da fábrica, em longo trecho de precárias estradas carroçáveis, enfrentando atoleiros de lama e areais, atravessando rios e riachos, dariam um belo filme épico. Para que fossem vencidos esses atoleiros usavam peles bovinas, sobre as quais passavam as ringidoras rodas de madeira. Em alguns trechos teve de abrir estradas, quebrar morros e construir pontes e pontilhões. Dezenas de bois morreram, extenuados, nessa penosa jornada.
(…)
Mas, além de todos esses percalços econômicos, financeiros, de transporte, de pessoal, e burocráticos, que tiveram de ser enfrentados, como dito acima, a meu ver o maior problema foi o da logística. Ora, havia a imensidão de terra e o gado pé-duro, adaptado à criação extensiva. Mas para o leiteiro talvez houvesse a necessidade de ração, medicamentos e outros insumos, que teriam de vir de muito longe. Teria que haver consumidores para os produtos da fábrica, que não estavam na região, que então era deserta ou de desprezível densidade demográfica, como ainda hoje o é.”
A voz de Carlos Rubem continua a reboar, clamando pela restauração do prédio da velha fábrica, cuja chaminé, que já não fumega há várias décadas, está em quase completa ruína, mas agora parece ter encontrado ressonância nos ouvidos de Valdeci Cavalcante, que promete fazer a sua restauração, desde que seja feito um simples contrato de cessão de direito real de uso em favor da Fecomércio do Estado do Piauí.
Dando por finda esta parte de meu prefácio, devo dizer que o cavaleiro andante destas garatujas e prosopopeia ainda se envolveu em várias outras escaramuças e guerrilhas culturais, de que não irei falar, entre as quais uma que tinha como meta fazer a imagem original da Senhora da Vitória, que se encontrava em poder de um cidadão, voltar a ser entronizada na Catedral oeirense de sua invocação, de onde nunca jamais deveria ter sido retirada. A luta sacra, com a ajuda de vários combatentes, foi vitoriosa, e hoje a escultura sagrada se encontra em seu altar (no Museu de Arte Sacra de Oeiras).
3
Ao longo dessas décadas de amizade, pude acompanhar o devotamento de Carlos Rubem às coisas de Oeiras, fossem elas do patrimônio material ou imaterial. Assim, a música, a pintura, o artesanato, o esporte, os costumes, a arquitetura, os velhos logradouros, becos, ruas e vielas tortuosas estiveram no centro de sua preocupação e defesa intransigente.
Quando em 1990 o grande poeta Nogueira Tapety completou o centenário de seu nascimento, Carlos, com seu esforço pessoal, deu ampla divulgação a essa importante efeméride literária. Conseguiu a publicação do livro Arte e Tormento e de um lindo e grande cartaz em que se encontrava estampado o sublime soneto Senhora da Bondade, que sei de cor, e que sempre me emociona e enternece. Me solicitou escrevesse um trabalho de crítica literária sobre a poesia desse notável bardo piauiense. Tive o prazer de lhe atender ao pedido, embora não me considere propriamente um crítico. Esse pequeno ensaio foi publicado em jornal de Teresina e na Revista do Instituto Histórico de Oeiras – IHO, de que me tornei mais tarde sócio correspondente, bem como do qual recebi a Medalha do Mérito Visconde da Parnaíba, outorgada pelo presidente Dagoberto e recebida no início da gestão de Antônio Reinaldo.
O cartaz com o poema Senhora da Bondade foi afixado em várias repartições públicas e casas bancárias e comerciais da cidade de Oeiras. Isso gerou um fato anedótico, porém verídico, que não resisto à tentação indiscreta de contar. Um casal, que residia há muitos anos distante de Oeiras, estava passando uns dias na velha capital.
Num de seus vários passeios, adentrou uma farmácia, onde estava afixado em lugar bem visível e de fácil leitura o cartaz. A mulher, tomada de forte e perceptível emoção, o leu atentamente. Ao final, com a voz embargada e cheia de indignação, vociferou: – Mentiroso, marido mentiroso, você sempre me disse que esse poema era de sua autoria, e que você o havia feito em minha homenagem!… Agora, vejo que é do poeta Nogueira Tapety. O homem, trêmulo, amarelou, e sentindo, talvez, forte vergonha e remorso, tratou de deixar o recinto em passos apressados e sorrateiros.
Posteriormente, graças em grande parte a seu esforço, foi criada a Fundação Nogueira Tapety, que promove eventos, conserva a sede da antiga Fazenda Canela, onde nasceu, morou (em temporadas) e morreu o poeta, e que manteve um importante site cultural por muitos anos. Em 2013, essa Fundação promoveu o lançamento da belíssima 2ª Edição do livro Sonetos & Retalhos de Gerson Campos, cuja solenidade ocorreu no dia 13.09.2013, na época em que eu era o titular do Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Oeiras.
Gerson, além de poeta, ator, radialista, repentista e performático, cometeu ainda a peripécia de ser um grande goleiro do Oeirense, a perpetrar defesas estilizadas e, às vezes, espetaculosas e espetaculares, à moda dos goleiros Higuita e Morcego. Ao lembrar o nome de Gerson como guarda-meta, não poderia cometer a irreverência de esquecer os nomes dos inesquecíveis goleiros Castanhola e Oscar Barros.
Em data que não sei precisar, mas igual ou anterior a 1994, compus o meu poema Noturno de Oeiras. Sei que foi nessa época, porque na primeira edição de Rosa dos Ventos Gerais se encontra o poema Noturno do Cemitério Velho de Oeiras, com a data de 13/14-10-1994, portanto há quase 26 anos. Não sei quem (não sei se Ferrer Freitas, ou eu próprio a pedido dele) encaminhou o poema Noturno de Oeiras ao oeirense Talver de Carvalho Mendes, advogado residente em Goiânia – GO.
O Dr. Talver, em agradecimento, me fez uma linda carta, em que falava, mostrando as diferenças, dos sons celestiais de bandolins e violinos. E me dizia haver sentido falta, no poema, dos bandolins de Oeiras, que tão maviosamente entoam as lindas valsas de Possidônio Queiroz. No ensejo dessa simpática instigação e cobrança escrevi o poema Noturno do Cemitério Velho de Oeiras, no qual em tons melancólicos e fantasmagóricos embuti os sons angélicos de inefáveis bandolins.
Entrei nessa digressão para dizer que desde que escrevi Noturno de Oeiras, que para honra minha caiu no gosto dos oeirenses, o Carlos Rubem se tornou um grande divulgador desse poema, nas mais diferentes ocasiões. Tratou de conseguir com o artista plástico Francisco Leandro umas belas ilustrações para ele, o que me facilitou conseguir a sua publicação em formato de álbum.
Depois, com a participação do ator Bonifácio, possibilitou que ele fosse encenado em diferentes oportunidades e locais, inclusive entre as naves severas da velha catedral de N. S. da Vitória. Graças a sua influência, a TV Cidade Verde fez um videoclipe dele, que se encontra postado no You Tube. Foi recitado por Gutemberg Rocha na 1ª Live Lítero-Musical Oeirense, da qual ele foi o apresentador, na qualidade de presidente da Fundação Nogueira Tapety.
Numa noite inesquecível, eu, o Carlos Rubem, o ator Bonifácio e uma outra pessoa, cujo nome não recordo, estivemos no alto do Morro da Cruz, de onde se vê todos os cantos e recantos de Oeiras. Então, eu sonhei que no alto daquele morro poderiam ser afixadas placas com poemas que exaltassem Oeiras, suas belezas naturais e arquitetônicas. Não sonhei só, porque o nosso autor passou a defender a realização desse sonho. Outro dia ele me disse que esse desejo continua vivo, e que ainda pode ser concretizado. Que os anjos cantores e poetas digam amém.
4
Já era o momento de pararmos de descrever e narrar as proezas e escaramuças do autor, senão seria um nunca acabar, pois são quase infindas, e dissertarmos agora sobre as suas belas “garatujas”, sobre a forma e conteúdo destas crônicas, escritas ao longo de algumas décadas e ao sabor de muitos acontecimentos e ensejos.
Sem preciosismos desnecessários, sua linguagem é escorreita, contudo sem excesso de zelo gramatical. Nada é redundante, pois o autor busca dizer apenas o essencial. Portanto, sua linguagem é exata, comedida, geralmente vazada em períodos curtos. Busca o autor a objetividade, a clareza e a síntese, como recomendam os melhores manuais de redação, mas sem deixar de lado a criatividade, eventuais chistes e as vivacidades da boa prosa.
Quando esposa alguma tese ou a defesa de alguma causa, sabe expor bem suas ideias, com a lógica e a razão, e, sobretudo, com forte capacidade argumentativa, talvez aperfeiçoada em sua função de Membro do Ministério Público. Entretanto, seus assuntos são sempre propícios a uma boa argumentação, porque sempre defendeu, enquanto intelectual e cidadão, as boas causas, as causas justas e de interesse da sociedade, e que, por isso mesmo, favorecem a fundamentação.
Em muitas de suas crônicas trata de assuntos importantes da administração pública e da história de Oeiras, tendo como protagonistas ilustres figuras das letras e da política piauienses. Sem dúvida o seu foco não é propriamente a pesquisa histórica, posto que não se arvora de historiador, mas a simples e necessária divulgação de fatos e episódios importantes ou interessantes e curiosos.
Em outras, como deixei implícito ou disse às claras, discorre sobre os logradouros, prédios e ruas de Oeiras, seja para divulgá-los, enaltecê-los ou defendê-los da incúria de certos administradores públicos ou da maldade gratuita ou inconsciente dos vândalos. Seja como for, a preservação e conservação do patrimônio natural e arquitetônico oeirense é uma constante preocupação em sua vida de cidadão proativo e cultural.
Todavia, as crônicas não discorrem apenas sobre as notáveis personalidades da história ou da arte oeirenses, mas também sobre pessoas humildes, simples, e que foram (e são) importantes na paisagem humana da velha urbe; várias ainda estão vivas na lembrança de muitos, como Tiborão, João Rapadura, Dorete, Juarez Hilarião Cunha, vulgo Bamba… Dessa forma, tem procurado preservar a biografia dessas pessoas, não só através de suas crônicas, mas de fotografias e pequenos vídeos, que difunde através das redes sociais, de sites e do You Tube.
Portanto, nelas estão presentes os músicos, os loucos, os ébrios engraçados e espirituosos, os artesãos, os poetas populares, os comediantes do cotidiano e do improviso, mas tudo sem maldade e sem menoscabo, tudo revestido de uma legítima compreensão humana, de quem verdadeiramente sabe interagir com eles. Num desses vídeos ele gravou a arte quase perdida de uma mulher idosa a confeccionar belas e trabalhosas flores de papel. Essas criaturas do povo, de muitas das quais o livro estampa as caricaturas, se sentem honradas, dignificadas e valorizadas com essas referências e citações.
Compreendi que Carlos Rubem, de forma sincera, genuína, gosta de conversar com essas pessoas humildes, quando um dia me levou a conhecer o Hermínio, em sua quinta, em cujo quintal ele tinha um verdadeiro museu de carcaças de carros velhos, e em cuja casa ele tinha quase um viveiro de esvoaçantes morcegos, como se fossem suas “aves” de estimação. Dessa inesperada e inusitada visita, registrei o seguinte:
“(…) Fiz novo périplo turístico, ciceroneado por Carlos Rubem, em que tirei muitas fotografias desses inesquecíveis logradouros, e conheci as excentricidades mansas do Hermínio, que na busca utópica e inglória de montar uma pretensa oficina, construiu um verdadeiro museu a céu aberto de velhos carros, de automóveis que marcaram época, com suas carcaças enfiadas na areia, às vezes expostas ao sol inclemente do semiárido, às vezes protegidas pelas frondosas árvores da quinta, que me fizeram retornar no tempo, como se eu tivesse entrado no túnel do tempo de antiga ficção científica, ou atravessado um “buraco de minhoca”, como se fala, de forma algo bem-humorada, com pitadas de ironia, nas especulações quânticas da mais avançada física teórica.”
Muitos dos textos do livro são narrativas, quase contos, em que o autor relata casos curiosos, interessantes, jocosos, alguns anedotas verídicas, acontecidos com pessoas da cidade ou do município. Em vários ele é protagonista, ou simples observador ou narrador. Alguns aconteceram com pessoas de sua própria família. Sempre narram fatos interessantes, inusitados ou hilários. Entretanto, muitos têm por tema costumes antigos da cidade, como os cortejos fúnebres, as rodas de conversa, as serenatas, etc. Falou também de futebol, festas e lazer.
Portanto, seu livro é uma importante fonte de pesquisa, para os historiadores em geral, sobretudo os que buscam informações da história recente, e da história social da velha metrópole.
Por tudo o que disse e pelo que a necessidade de síntese me impediu de dizer, considero Carlos Rubem um cavaleiro andante da cultura oeirense, um paladino das boas causas, em defesa do rico patrimônio natural, artístico e arquitetônico da velha Mocha, um guardião sempre vigilante da arte e da literatura de nossa invicta Oeiras de ontem, de hoje e de sempre.
Aquela estátua sempre me chamou a atenção. Desde quando eu era apenas poucos passos em pequeninas pernas… Ficava a observar aquele busto, de um senhor…
Teria sido herói? Indagava- me! Até quando com passos mais largos já me locomovia, correndo ao redor da praça e sobre os olhares vigilantes de minha mãe, acompanhada de minha avó (também mãe), que não tiravam o olho de mim, eu não conseguia parar de contemplar aquela imagem, ladeada por Carnaúbas, numa praça que era, por bem dizer, um dos meus parques de diversão, a subir e descer tantas e tantas vezes na rampa, com minhas pernas já bem maiores e depois utilizando – me delas para pedalar por toda a extensão deste, que me habituei a chamar, assim como os demais parnaibanos, de Centro Cívico! E de voltas e voltas, entre contemplações, me gerava uma pergunta, ou melhor, muitas perguntas… Quem seria esse personagem? Qual seria sua história? Um presidente? Um juiz? E dessa forma começava a nascer, sem nem ao menos perceber, um Historiador em mim.
Em paralelo, já em casa, era comum uma vez a cada ano, e por mais vezes até, a visita de outro senhor, que não ostentava toda aquela barba do primeiro da estátua, mas muito educado gentil e proseador, um amigo da família, carinhosamente chamado de Cepinho. Lembro muito de minha avó dizer: “é admirável! Homem de família tão nobre, um dos donos da Ilha do Cajú, e ainda assim, tão simples e humano. E através deste e outros bons exemplos de casa, eu fui formando meu caráter, no que mais tarde me formaria em História e é quando pude perceber, que aquele senhor lá na fria, porém imponente estátua (ou busto), ou seja, James Frederick Clark, tinha uma forte ligação com o outro senhor, simpático e amigo Septimus de Mendonça Clark. O primeiro, grande patriarca da Casa Inglesa e da Cera de Carnaúba, o segundo, um de seus netos que o sucederam nos negócios. E dentre toda a história, muito bem levantada pela pesquisa mais que minuciosa e grande historiador e amigo José Bruno, eis que humildemente buscarei resumir, a meu modo, alguns dos principais aspectos:
De Keswick, Inglaterra para Parnaíba, Brasil.
O que deveria estar passando pela mente do jovem James, órfão, a bordo de um navio, a percorrer o oceano rumo a um país desconhecido, com a missão de ser aprendiz, escrevendo em seu diário… Atracando, tempos depois no Porto de Amarração, no que, rio acima, alcançou Parnaíba, de onde começou na função de Caixeiro e através de muita dedicação, e vários cargos, chegar a sócio, e, no fim, único dono da Casa Inglesa?
Será que possuía mesmo a mais leve noção de que se tornaria um dos homens mais conhecidos em Parnaíba, ou melhor, no Piauí e regiões próximas?
Porém essa história não se resume apenas a trabalho e a figura de um só personagem… É construída por laços afetivos e familiares… Pois James Clark casa com Anna Castello Branco, e da união, surgem seis filhos, Frederico, Antônio, Septmus, Oscar, Maria e Flora. Frutos de um amor, que mais tarde legaram netos, bisnetos, tataranetos, e tendo um, recentemente, nascido no país de origem de James.
Sem contar, que a biografia de James Frederick Clark e seus descendentes, é muito mais que uma história de família, se traduz com a história de Parnaíba, não apenas no patrimônio deixado e hoje devidamente tombado, mas também a nível econômico, principalmente no que condiz a Cera de Carnaúba, além de outros produtos e parcerias; a nível social, na coparticipação da família quando da fundação do Rotary Internacional; a nível cultural, com destaque a área do esporte, trazendo a primeira bola de futebol, fundando o primeiro time e logo após o primeiro estádio; e até mesmo a nível ambiental, com a aquisição e preservação da Ilha do Caju.
Fatos muito bem divididos e analisados nesta obra, que a cada página que meus olhos foram acompanhando, mas eu fui sendo conduzido, para Parnaíba dos séculos 19 e 20, e alcançando a década de 80, a de 90, e dos tempos de agora, de volta ao Centro Cívico, a contemplar a estátua, que sempre despertará minha atenção, porém agora conhecendo muito bem os feitos deste senhor, que pode não ter sido herói ou político, mas que fez muito por sua cidade adotiva e para muito além dela.
A Praia, mesmo enquanto mera ponte para o passado é o cenário central desta obra, reveladora de contos excepcionais, que de forma cômica e emocional, analisa o ser humano em suas mais variadas facetas, através de uma envolvente amostra de episódios, aventuras e micos do cotidiano, além de outros aprendizados, que acabam por se instalar em nossas memórias e nos ajudam a constituir quem ou o que, com o tempo, nos tornamos. Zilmar Junior, com Grãos de Areia, não apenas nos conduz a prazerosas narrativas, consegue bem mais! Através de sua escrita criativa e afiada, nos captura e nos lança de retorno às nossas próprias lembranças. Praianas ou não. E foi justamente imerso nestas lembranças, ao mesmo tempo em que degustava essa excelente obra, que surgiu esta pequena homenagem que deixo para a obra e o autor:
Eita, Grãos de Areia que me fez viajar! Para aqueles tempos, Que quase tudo na vida era se aventurar, Sem, muitas vezes, nem mesmo olhar Quanto se tinha no bolso (até pra não desistir)… Sem planos a maquinar, Quando assim eu tentava, Geralmente acabava, Em companhia do eterno: Rir para não chorar…
Grãos de Areia me trouxe o cheiro do mar, Mas não de um dia qualquer, e sim daqueles, Que a memória costuma botar, Até o mais gélido dos cabras, a lacrimar… Como também sorrir! De tantas caras e almas, imprestáveis ou não, De dias impagáveis em glória Ou na já costumeira desilusão…
Grãos de Areia me implantou de volta nos ouvidos: O Asa, o Chiclete, a Eva, até, olhe só, o Tchan! E tantas ordinárias, sufocos, micos e aprendizados! Lá, nos oitenta ou noventa, debaixo de sol ou toró! De sanduba e coca! Sem esquecer, é claro, do pacote de biscoito! Fosse de Buzú ou Carona! Sempre havia um jeito de chegar! Assim como o amigo Zilmar, Que também deu o seu jeito, Desta literatura encantar, Pois quando de um rápido olhar, Ela pode até parecer um livro… Mas na verdade é a porra de um Delorean!
Claucio Ciarlini (2018)
*Matéria publicada em O Piaguí 137, de março de 2019.
O universo dos causos e lendas sempre me fascinou bastante! As obras de Fontes Ibiapina, que na infância descobri fuçando na pequena biblioteca de meus avós maternos, somadas aos clássicos de terror que assisti diretamente dos VHS gravados por meus tios quando da estadia de férias na casa dos meus avós paternos em Fortaleza foram minhas principais bases quando se trata deste mundo fantástico nascido da tradição oral e, na sua maior parte, situado no Sertão e regiões inóspitas, muitas vezes selvagens, como bem exemplificou a recente série global Onde nascem os fortes, embora cada vez mais invadindo também o espaço urbano. Mas é nas fazendas e nos limites delas que brotam esses contos brilhantemente escritos por um escritor que muito Parnaíba já tem ouvido falar, mas que o futuro certamente trará um reconhecimento ainda maior. Este chavalense, também parnaibano, poeta, cronista, contista e futuro advogado, que já havia lançado o magnífico Pescador, participado de importantes coletâneas, mas que, confesso, foi com esse último que conseguiu me atingir de forma mais profunda, pois além de toda a sensibilização e reflexão que sua primeira criação me provocara, esta foi além! Conduzindo-me para as décadas de 80 e 90, para a fazenda de meu avô paterno no Ceará, bem próxima a pequena cidade de Morrinhos. O cheiro do interior, uma combinação dos aromas produzidos pela flora e pela fauna! A Casa da Farinha, que tanto nos abria o apetite! O casebre abandonado, que a cada dia tentávamos nos aproximar, mas sem sucesso… As trilhas (mata adentro) que guardavam surpresas, geralmente reptilianas! O riacho que banhávamos, enquanto nossas tias lavavam as roupas! A carroça que nos transportava quando a distância era maior que nosso fôlego desacostumado infantil poderia suportar…
Os chapéus de palha, produzidos por várias senhoras (e às vezes até mesmo senhores) todos de frente para a única televisão a quilômetros de distância… O touro Metal, que, bobos, ficávamos a ver… As grandes pedras, que nos serviam de esconderijo… As redes de tucum ou de nylon, onde nos refastelávamos depois de um almoço farto! Sem esquecer a madrugada, entre o canto dos sapos, dos outros bichos e principalmente o do medo, com as fortes batidas do coração, quando da lembrança do temido Gato Maracajá, que nunca nem chegamos a ver, mas que nos tirava o sono, junto a correntes que escutávamos… vultos que surgiam…
Enfim, uma miríade de aventuras, que, obviamente, fazem parte das minhas lembranças, pois jamais estragaria as surpresas pertencentes a obra em questão, que para mim foi muito mais do que um livro… Significou uma viagem no tempo! Assim como Marcello Silva é muito mais do que um escritor… ele é o Homo Cactus!
Claucio Ciarlini (2018)
*Matéria publicada em O Piaguí 130, de agosto de 2018.
Após alguns dias de recolhimento, por causa da covid-19, que após vários meses ainda não tem um tratamento absolutamente eficaz e muito menos vacina, resolvi ir ao centro da cidade e ao Riverside resolver algumas pendências, inclusive saque de dinheiro.
Antes, passei na sede da Academia Piauiense de Letras, para receber minha carteira de identidade acadêmica e o livro Dirceu Arcoverde: esperança interrompida, da autoria do presidente Zózimo Tavares, que ainda não pôde exercer plenamente o seu cargo, em virtude da quarentena que a pandemia nos impôs, logo no início de seu mandato, que ele vem cumprindo bem e com zelo, apesar dessa restrição.
A carteira é muito bonita, e nela consta a informação de que a minha cadeira é a de número 10, e o nome de seu patrono, o poeta Licurgo José Henrique de Paiva, também jornalista, que levou vida um tanto atribulada, por causa das vicissitudes da política da época e de sua dipsomania, palavra que empreguei por discrição e para obrigar o leitor a ir a um dicionário, ou melhor, como mais acontece nos dias de hoje, a um site de pesquisa, quase sempre o Google.
Aproveito para informar que meus antecessores foram todos poetas: Celso Pinheiro, o maior poeta simbolista do Piauí, um dos maiores do Brasil, Antônio Monteiro de Sampaio, sacerdote católico e meu professor no curso de Administração de Empresas (UFPI) e Hindemburgo Dobal Teixeira, ou simplesmente H. Dobal.
Suas sínteses biográficas estão nos mares internéticos e em nossos principais dicionários biográficos, bem como em nossas antologias, inclusive na Antologia da Academia Piauiense de Letras, cuja segunda edição, revista e ampliada, foi publicada em 2018 pela APL, na gestão de Nelson Nery Costa, que a prefaciou e manteve o meu prefácio da edição anterior, quando eu ainda não pertencia ao sodalício.
Estavam na Academia os servidores Zilmar e Cremísia. Como eu visse a Revista da APL, edição 77, referente ao ano de 2019, e o livro Bertolínia: história, meio e homens, da lavra do ex-presidente Reginaldo Miranda, que se esmerou ao contar os principais feitos e fatos de sua terra natal, bem como a saga e realizações de seus conterrâneos, solicitei um exemplar de cada uma dessas obras.
Reginaldo já pode ser considerado um dos melhores historiadores do Piauí, não apenas na parte referente à história de nossos índios, como também pelas primorosas e alentadas biografias de nossas mais importantes figuras históricas, inclusive do período colonial, em que traz novas e substanciosas informações. E, sem dúvida, com obras notáveis sobre antigas estirpes piauienses, tornou-se um de nossos principais genealogistas.
Zózimo Tavares, após ter escrito e publicado a mais importante biografia de Alberto Silva, agora editou o livro sobre Dirceu Arcoverde, em bela impressão e com vasta memória fotográfica. Relata a curta mais gloriosa trajetória política de um dos mais importantes homens públicos de nosso estado. De certa forma, Dirceu foi ofuscado pela importância que teve e que foi dada ao primeiro governo de Alberto Silva, pelas suas grandes obras estruturantes.
Contudo, Dirceu Mendes Arcoverde, sem ser propriamente uma vocação para a política, sem ser considerado um líder carismático, sem rasgos de retumbantes e demagógicas oratórias políticas, polido, mas um tanto tímido, médico e professor universitário respeitado, foi, sem a menor dúvida, um dos melhores governadores do Piauí, pela sua probidade, por suas inúmeras realizações nos campos da Educação, da Saúde e de obras estruturantes, inclusive rodovias, saneamento, eletrificação, habitação, esporte, lazer, etc.
E o livro de Zózimo Tavares lhe traça o perfil biográfico, lhe delineia a curta, mas notável carreira política, enumerando os principais fatos e atos de sua brilhante trajetória. Como diz o autor no título, Dirceu Arcoverde foi, de fato, um esperança interrompida, porquanto, após o seu governo, faleceu logo nos primeiros dias de seu mandato de senador, quando muito ainda poderia realizar, por ser um político honesto, avesso a falsas promessas e demagogias, pela sua seriedade e dinamismo.
Quanto à Revista, importa dizer, em síntese, que ela contém discursos de recepção e de posse dos acadêmicos Felipe Mendes, José Itamar Abreu Costa, Plínio da Silva Macêdo e Valdeci Cavalcante, além de enfeixar discursos, prefácios e apresentações de vários livros editados na profícua gestão de Nelson Nery Costa, entre cujas matérias algumas de minha autoria.
Da Academia saí para cumprir outros deveres e missões, e principalmente encadernar o livro Mergulho nas lembranças da minha “parnaibinha” – anos 40/60, da autoria de Raimundo Nonato Caldas – CAVOUR, verdadeiro álbum, pelo seu formato e pelas inúmeras fotografias, que tenho lido, relido e folheado várias vezes.
Não bastassem essas andanças e missões culturais, perto da meia-noite desse agitado dia de ontem, recebi uma mensagem de WhatsApp do amigo Carlos Henriques Araújo, escritor, memorialista e cronista, me enviando uma espécie de decálogo, que um amigo lhe encaminhara, no qual estabelecera suas metas e filosofia de vida, relativas a mudança de hábitos, de atitudes, desapegos, com o propósito de se tornar uma pessoa melhor, tudo isso ensejado por esses tempos de pandemia.
Respondi que eu, embora sem as haver fixado por escrito, procurava seguir as metas de seu amigo, com mais ou menos sucesso, mas sempre me esforçando também para me tornar um ser humano melhor. Acabei digitando e lhe enviando em adendo as seguintes reflexões, quando já passavam 13 minutos da meia-noite, que talvez sirvam como um “documento” destes reclusos tempos de pandemia:
“Cristo nos alertou para não julgarmos nosso próximo. Isso é um exercício difícil, porque quase todo tempo estamos julgando. Acho que ele falou isso para ficarmos mais leves. Quando não nos preocupamos em julgar, parece que nos sentimos mais tranquilos, mais em paz conosco.
Penso que o julgamento a que se referiu Jesus é com relação ao que vai no mais íntimo de nosso semelhante, às suas razões mais íntimas, que não temos como perscrutar, e é por isso mesmo que não devemos ficar julgando. Mas, como disse, é algo difícil, porque estamos sempre analisando, interpretando, tirando conclusões, em suma, julgando.
Agora, não julgar, não significa ser ingênuo, tolo, idiota. Talvez signifique que somos todos inocentes até prova em contrário; significa lhe dar o benefício da dúvida. São apenas reflexões simples, feitas ao sabor da digitação, sem maiores aprofundamentos. Boa noite.”
MARIA DILMA PONTE DE BRITO ACADEMIA PARNIAIBANA DE LETRAS APAL CADEIRA 28 PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO 1 º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA
Gostaria de ter a voz suave e mansa de Gabriel Chalita, escritor, palestrante que encanta com sua fala agradável, parecendo música nos ouvidos de quem o escuta. Ele não tem pressa para se expressar, diz tudo com muita convicção, conseguindo acalmar corações, acariciar com palavras e convencer que a vida, para ser bela, depende de cada um.
Se eu tivesse a sabedoria de Mário Sérgio Cortella estaria muito feliz. Ele é um excelente educador, filósofo, estudioso do cotidiano, escreve com inteligência acerca dos acontecimentos do dia a dia, aconselha, faz reflexões, abre mentes, repassa conhecimentos.
O bom humor de Luis Fernando Veríssimo eu gostaria de ter. Ele está sempre fazendo da vida cotidiana, uma anedota. Nos faz rir daquilo que é para chorar. Se eu tivesse parte de sua veia humorística, levaria muitos sorrisos àqueles que estão precisando encarar a vida menos a sério e relaxar.
Tenho escutando algumas lives da Professora Lúcia Helena Galvão e gosto como ela toca a alma com palavras. Profunda às vezes, realista também. Suas reflexões somam, mudam pensamentos, conduzem a uma postura diferente, mostrando formas de viver com mais sabedoria.
A competência e a liderança de Nelson Mandela são qualidades importantes. Ele tinha muita serenidade, paciência, simplicidade, um homem de grande valor. Seu exemplo de vida é o suficiente para saber porque eu queria ser como ele.
Madre Teresa de Calcutá, hoje Santa, foi um modelo para o mundo. Seu espírito caridoso, desprendido, revolucionou e foi impactante. Tenho me esforçando para seguir seus ensinamentos de bondade, caridade e doação.
Carlos Drummond de Andrade, quisera eu ter a sua inspiração para fazer versos com tanta simplicidade e magia. Seu ritmo despojado, sem obedecer com exatidão a metrificação, toca o âmago das pessoas que se deslumbram com sua poesia.
Quem não se encanta com os escritos de Rubem Alves? O teólogo escrevia textos com leveza. Como psicanalista parecia atingir o eu de cada um. Partiu deixando 146 obras encantadoras, entre elas “Ostra feliz não faz pérolas”. Como gostaria de ter o dom desse grande professor e poeta.
A voz de Gal Costa é completa, parece embalar quem está a lhe escutar. Envolve casais apaixonados e transmite paz a todos. Dela eu queria a voz que canta e encanta. O corpo e a alma dançam embaladas ao ouvir suas músicas.
De Chico Buarque de Holanda eu queria ter a capacidade de compor com inteligência, fazendo metáforas com muita sabedoria. Suas composições deslumbram, reclamam, protestam, enaltecem, elogiam e falam de amor.
A ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS – APAL pesarosamente cumpre o dever de comunicar o falecimento da Sra. Isabel de Melo Sousa, ocorrido ontem, 24/09/2020 às 18:50 ha, no Hospital da Unimed Primavera em Teresina-PI.
A senhora Isabel, que completaria 94 anos em novembro próximo, é mãe do acadêmico Danilo de Melo Sousa, membro desta Academia, cadeira de nº 22. O corpo está sendo trasladado para Parnaíba – PI, onde será velado na funerária PAX UNIÃO, na avenida Alvaro Mendes.
Ao confrade Danilo de Melo e aos demais membros da família de dona Isabel, os mais profundos votos de pesar em nome de todos que compõem este sodalício.
MARIA DILMA PONTE DE BRITO ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS APAL CADEIRA 28 PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO 1 º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA
Todos os dias muitos e muitos corações deixam de bater. Para cada família, um pesadelo, uma saudade. Não há uma dor maior do que a despedida de uma pessoa querida. Todo o adeus machuca, mas é muito difícil aquele que é para sempre.
Uns partem muito cedo. Outros tem uma vida prolongada. Uns se preparam para a partida, adoecendo, piorando até chegar sua hora. Outros a morte leva sem aviso, chega sorrateiramente provocando uma surpresa principalmente para a família que fica abalada.
Não há uma despedida sem lágrimas e sem dor. E sempre vem as indagações porque ele se foi? Tão cedo, não poderia ser depois? Por mais que a idade seja avançada não existe a aceitação nesse momento único.
Sabemos que a vida de fato começa do outro lado. Estamos na terra de passagem. Mesmo assim não contemos as lágrimas, não nos acostumamos com essa partida sem volta. Esse no entanto, deveria ser um momento de festa porque quem vai, está nascendo para a verdadeira vida, a vida eterna.
Por que choramos? Pela dor da saudade. Não nos conformamos no primeiro momento em não poder mais ver aquela criatura, dialogar com ela, abraçá-la. Se soubéssemos o dia da partida, quantos coisas seriam ditas, quantos carinhos seria trocados antes desse momento.
É normal que se entre no casulo em uma ocasião tão difícil, o tempo vai amenizando a dor, vai sarando a ferida, vai confortando nossos corações até que chega o dia de sair para a vida igual uma borboleta colorida batendo asas porque a vida continua.
A pessoa que nos ama, lá do outro lado quer nossa felicidade, deseja o nosso bem e quer nos ver sorrindo. Assim, temos que nos esforçar para essa dor virar saudades para que as boas lembranças supere o sofrimento.
Tem uma frase pronta que diz: “Aqueles que amamos nunca morrem apenas partem antes de nós”. Tudo é mistério, mas o consolo muitas vezes é a certeza desse reencontro.
Como não sabemos quando será a nossa vez de perder uma pessoa querida, vamos procurar viver intensamente, abrindo nossos corações para as coisas boas, elogiando sempre, perdoando, abraçando, dizendo eu te amo, sendo o mais presente possível na vida das pessoas que queremos bem.
A vida com seu início e fim é um mistério. Deus tem Seus planos para nós. Estamos em Suas mãos, acreditando, tendo mesmo a certeza de que Ele reserva algo melhor para nós na outra dimensão.
Termino de assistir o “Homem do futuro”! Lançamento brasileiro, que devido a ausência de um cinema atualizado em minha cidade, tive que baixar da internet e assistir com uma frase enorme na frente: PROPRIEDADE DA PHE! Mas assisti, mesmo assim, e mesmo não sendo o melhor filme nacional de ficção de “todos los tiempos”, não me arrependi.
Caminho em direção ao quarto. Vejo e recolho a edição 120 do homem aranha da Panini, exemplar que havia acabado de ler no mesmo dia. Guardo-a no armário e me deito, logo adormecendo.
Ao abrir os olhos, me vejo, não mais em meu apartamento e deitado ao lado de minha esposa, mas sim no meu quarto, o antigo, numa casa que não é mais minha, e sim do homem que comprou de minha mãe, anos atrás. O rock troa bastante alto para meus atuais tímpanos. Assusto-me, principalmente quando escuto, vindo do meu velho banheiro, um cantarolar em meio ao barulho do chuveiro, que logo reconheço: É minha própria voz! Logo percebo, que me encontro no passado (mas como?), se nem entrei num Delorean ou máquina esquisita qualquer… Enquanto reflito sobre os porquês e comos desta surreal e súbita viagem no tempo, passeio pelo meu antigo quarto, repleto de pôsteres de rock, de Iron Maiden a Guns n´ Roses, e caminhando em direção à clássica escrivaninha (que hoje não mais existe), ouço um mexer de registro, que cancela a água do chuveiro. Por uns segundos, fico a esperar a saída de mim mesmo, mais jovem, sem saber o que dizer… Porém um novo abrir de torneira me cede tempo para explorar mais a minhas velhas e raras coisas… Abro a gaveta da escrivaninha. Dou logo de cara com a edição 120 do homem aranha da Editora Abril. A partir de agora já sei exatamente quando estou: 1993! Julho para ser exato, pois sempre guardei minhas edições, deixando a última comprada por cima das demais! O cara que está lá, tomando banho tem 12 anos e está de férias escolares, bem no meio da sexta série!
Folheio a edição 120… Fim da saga do Lápide, com desenhos de Sal Buscema. O desenho do Sal já tinha caído um pouco de qualidade em relação a outros anos, mas nessa época eu não estava nem aí. Lembro que adorava aquele desenho, como também vibrei bastante com esta “odisseia” que durou algumas edições, envolvendo Joe Robertson, Puma, Irmãos Lobo, Camaleão, Jameson, Gloria Grant, Rei do Crime e próprio Lápide. Fui até a página 62, e pude rever uma cena que me marcou por anos: – Joe Robertson, enfrentando o seu medo e finalmente enfrentando Lápide que, assustado (perplexo) e ferido, vai embora, desistindo de perseguir Joe, um cara normal, sem poderes. Lembro então que isto fez toda uma diferença para mim nos anos que seguiram, pois nesta edição, pude perceber que não era preciso ter poderes para enfrentar os desafios, principalmente os valentões da escola, que sempre apareciam para me amedrontar. Bastava apenas coragem.
De tão distraído, não notei que o meu eu do passado já havia desligado a torneira e estava a destrancar a porta do banheiro. Não houve tempo de me esconder, e agora me encontro, frente a frente, comigo. O meu eu jovem grita e fecha os olhos, de tamanho susto. Ninguém no restante da casa ouve o grito, pois a música se faz estridente. Espero alguns segundos, e lembrando-me de Wagner Moura, digo pro meu eu jovem se acalmar e confiar em mim (ué, deu certo no filme, porque não daria comigo?):
– Calma, confie em mim, eu sou você, do futuro, você é esperto, já assistiu inúmeras vezes de volta para o futuro e em algum lugar do passado…
Vou falando, e ele (ou eu) vai relaxando… E depois de um tempo já estamos a conversar, sobre quadrinhos e cinema, no que eu falava de como ambos decaíram, e que a Marvel é agora da Disney, que não é mais a Abril que distribui as revistas, mas sim a Panini, etc, etc, etc.. Ele tenta saber coisas mais pessoais, como namoradas e outras coisas, mas mantenho-me apenas a falar sobre os quadrinhos e o cinema, por receio de que o passado se altere e eu acabe não conhecendo minha esposa e minhas filhas. Falo então da coincidência, de nós estarmos justamente com a edição 120, como última edição lançada, e ele, entusiasmado, me joga:
– Talvez não seja coincidência, talvez haja um motivo ligado a estas edições 120!
Será?
Nesse instante, alguém bate na porta do quarto. É a minha vomãe (minha avó, como sempre a chamei, pois ela me criou e que faleceu em 2006).
Tento disfarçar minha emoção, enquanto que o meu eu mais jovem tenta me esconder. Escondido por trás da porta do banheiro, fico a escutar ela conversando, com ele. Chamando para o almoço. As lágrimas caem. Ele avisa que a ela que já vai e tranca a porta, voltando a conversar comigo. Ele nota os meus olhos vermelhos. Finjo que foi apenas poeira.
Voltamos então a falar da edição 120. Noto nele uma empolgação e uma euforia, que hoje não mais existe em mim. Frases como:
– Vou comprar homem aranha pra sempre! As histórias são muito legais, etc, etc, etc… Digo pra ele que já me decidi por parar de vez o homem aranha, logo depois de One moment in time, ou seja, na edição 122, pois além de histórias fracas, haverão desenhos ridículos, no que sou questionado:
– Como você sabe que os desenhos vão estar ruins?
Eu falo da internet, dos Scans e do 4shared, dos fóruns de quadrinhos… Ele ri, e zomba de mim. Pensa que estou brincando, e que não vou parar coisa nenhuma. Eu faço então uma cara séria e ele percebe que estou falando a verdade. Ele me pergunta o porquê de eu ter ficado tão ranzinza… Chego a ousar responder, mas acabo me atendo a dizer que foi por causa dos desenhos e histórias ruins. Minha avó chama novamente e ele vai, mas pede que eu espere quieto no quarto, antes, ele liga o mega drive, diminui o volume da TV e me passa o controle. Novamente, e depois de muitos anos, estou jogando Sonic! Minha vista logo cansa, não aguenta mais horas e horas de vídeo- game.. Deito-me na cama, pequena, não é minha atual cama de casal. Os olhos pesam e adormeço…
Acordo no meu apartamento. Alívio e tristeza me acompanham.
Vou até a sala, falo com minha esposa e filhas. Dou um beijo em cada uma. Dirijo-me até meu armário de formatinhos. Abro e pego a coleção do aranha. Puxo a edição 120 e depois resgato, já no “armário das novas”, a edição da Panini 120. Por um minuto fico a contemplar… Estas duas edições, que só possuem em comum, o fato de ser do homem aranha e terem a mesma numeração: 120!
Lembro do passado, reflito sobre o presente e fico a pensar, se isto que aconteceu comigo, foi realmente um sonho ou algo mais… Se serei o cara cético de hoje, parando na 122 ou se serei aquele cara, de tantos anos atrás, sonhador, e seguirei em frente, na esperança de que as coisas com o teioso melhorem.
É quando abro novamente a 120 da abril, na página 64, e leio o que Joe Robertson responde, quando perguntado se ele estava ferido:
– Não… Estou bem! Pra falar a verdade, nunca me senti melhor na minha vida!