
MARIA DILMA PONTE DE BRITO
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS APAL CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1 º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA
Após contraírem matrimonio os jovens nubentes foram residir numa casinha nova com poucos móveis e sem nenhum treco. Uma casa enxuta, podemos assim dizer. Foi muito prazeroso plantar as sementes e ver as árvores crescerem. Foram quatorze anos, tempo para colher os frutos. O quintal que era beijado pelo sol agora estava sombreado pelas árvores frutíferas.
Com o passar do tempo a casa ficou apertada e sem espaço. Cheia de móveis. Nas paredes quadros e fotos se espalhavam em toda sua extensão. E os pertences foram se aglomerando por quase uma década e meia. Cada objeto tinha sua história e o seu valor. Tentaram diminuir toda aquela parafernália várias vezes por ocasião de faxina. Jogavam uma porção de coisas no lixo e depois retornavam uma a uma. Não tinha jeito. A casa estava cada vez mais minúscula. Apertada mesmo.
E assim, o casal construiu uma casa grande, ampla, onde teriam melhor qualidade de vida. Combinaram que nada levariam da casa velha. Começariam do zero como no início do casamento. Era a hora de desapegar.
A nova casa ficou pronta. Hora da mudança. Deixar para traz tantas coisas, muitas histórias, belas recordações não era fácil. Mas a vida é feita de ciclos. É preciso saber quando uma etapa acaba e permitir que ela se encerre. Assim foram se desfazendo daquilo que era menos importante. Aquela cômoda linda do quarto presentearam a um velho amigo. Ele queria muito. Ficou feliz com o presente, e saber que ela estava em boas mãos confortava o casal. Venderam algumas coisas. Na medida das negociações o sentimento de saudade amenizava com a alegria das pessoas que se mostravam contentes com a aquisição. Pensando assim ficou mais fácil a separação.
E chegaram na casa nova mais leves. O mais importante levaram, a amizade dos antigos vizinhos, por exemplo. Isso permaneceria para sempre.
Essa mudança foi uma lição de vida inestimável para eles. Desapegar de bens materiais muitas vezes é necessário. Adquirir novamente outros é possível a qualquer hora e em qualquer tempo. É preciso criar espaço, desafogar. Além do que, nada que deixaram para trás lhes fez falta, e foram valiosos para aqueles que adquiriram.
Essencial mesmo é guardar sentimentos, carinho e afeto das pessoas. Isso é de fato o que devemos conservar nas nossas vidas.
Praticar o desapego não significa abrir mão de tudo o que é importante para nós, mas sim de se libertar do excesso que nos prende. É permitir que uma nova etapa inicie em nossa vida. O fundamental é o que levamos na alma e no coração. O resto é bagagem que pesa. Precisamos de leveza.
Se dependesse de mim somente, nossa casa teria só o essencialmente tolerável. Uma época a casa estava intransitável e resolvemos jogar as talhas no lixo. Não demos sossego aos garis durante uma semana inteira. Atualmente temos umas gavetas que estou pensando em jogar fora com todo o que tem dentro. Dizem que meu “padim Ciço” recomendava guardar as talhas durante sete anos, se não encontradas utilidade nesse espaço de tempo que jogasse fora. Verdade, ou não, é um bom conselho, mas o pior lixo é o que guardamos no coração… Aplausos! Como sempre, uma boas leitura.
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Obrigado Moza pela leitura e comentário. Sua apreciação é muito importante.
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Muito interessante o texto e nos oferece uma lição de vida pregada pela Biblia quando nos diz para que guardar tantos tesouros na terra se aqui somos passageiros e a nossa morada eterna é o ceu ? Parabens pelas colocacoes bem acertadas , como sempre.
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Sua apreciação é muito importante. Obrigada.
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Texto belíssimo e reflexivo.
Com certeza a vida é feita de ciclos, devemos viver cada um deles.
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