CORAGEM

MARIA DILMA PONTE DE BRITO
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS APAL CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1 º OCUPANTE HUMBERTO TELES DE SOUSA

          Homem de coragem é o que não falta nesse mundo. Pelo menos é o que diz a maioria deles. Todo pescador é ousado e valente. Enfrenta tempestade, tubarões e ainda visões do além. O sexo masculino é adestrado para ser destemido e está pronto para enfrentar qualquer situação, até no braço se for preciso.

          Se bem pensarmos a mulher também sempre demonstrou bravura em toda a história da humanidade, embora esse título seja taxado mais para os homens.  Basta lembrar de Anita Garibaldi (1821-1849) que participou de movimentos políticos, Jona D´Arc (1412-1431), foi uma guerreira francesa, liderando tropas na Guerra dos Cem anos, conflito entre a França e a Inglaterra, Maria Quitéria (1729-1853) combatente baiana da guerra da independência do Brasil.

          A coragem além da valentia é também firmeza, energia para enfrentar desafios, sabedoria para lidar com dificuldades, é manter-se honesto diante das tentações, é sair do comodismo, da zona de conforto para fazer o bem, enfrentar o mal, ser solidário e agir de forma cristã.

          O enfrentamento de nós mesmos, procurando melhorar as nossas imperfeições são exemplo de coragem. É difícil reconhecer os nossos erros, mas quando isso acontece é um exemplo de superação e de destemor.

          Feliz do criatura que tem a humildade de pedir perdão, de reconhecer seus erros, de libertar-se da vaidade, do egoísmo. Nada disso precisa de força, de fúria e nem de vigor, mas sim de coragem, na expressão da palavras, ou seja, precisa-se sim, de brio e de grandeza de espírito. Como dizia Napoleão Bonaparte, a bravura provem do sangue, a coragem do pensamento,

          Para Nelson Mandela, a coragem não é ausência de medo, mas o triunfo sobre ela. Assim, o homem tem que ter coragem para ser diferente, se opondo a unanimidade quando preciso for, e dispondo-se a sonhar aquele sonho que parece impossível.

E há quem diga ainda, “que é preciso mais coragem para vencer a si mesmo do que para vencer os outros”.

DESAPEGO…

MARIA DILMA PONTE DE BRITO
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS APAL CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1 º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA

Após contraírem matrimonio os jovens nubentes foram residir numa casinha nova com poucos móveis e sem nenhum treco. Uma casa enxuta, podemos assim dizer. Foi muito prazeroso plantar as sementes e ver as árvores crescerem. Foram quatorze anos, tempo para colher os frutos. O quintal que era beijado pelo sol agora estava sombreado pelas árvores frutíferas.

          Com o passar do tempo a casa ficou apertada e sem espaço. Cheia de móveis. Nas paredes quadros e fotos se espalhavam em toda sua extensão. E os pertences foram se aglomerando por quase uma década e meia. Cada objeto tinha sua história e o seu valor. Tentaram diminuir toda aquela parafernália várias vezes por ocasião de faxina. Jogavam uma porção de coisas no lixo e depois retornavam uma a uma. Não tinha jeito. A casa estava cada vez mais minúscula. Apertada mesmo.

          E assim, o casal construiu uma casa grande, ampla, onde teriam melhor qualidade de vida. Combinaram que nada levariam da casa velha. Começariam do zero como no início do casamento. Era a hora de desapegar.

          A nova casa ficou pronta. Hora da mudança. Deixar para traz tantas coisas, muitas histórias, belas recordações não era fácil. Mas a vida é feita de ciclos. É preciso saber quando uma etapa acaba e permitir que ela se encerre. Assim foram se desfazendo daquilo que era menos importante. Aquela cômoda linda do quarto presentearam a um velho amigo. Ele queria muito. Ficou feliz com o presente, e saber que ela estava em boas mãos confortava o casal. Venderam algumas coisas. Na medida das negociações o sentimento de saudade amenizava com a alegria das pessoas que se mostravam contentes com a aquisição. Pensando assim ficou mais fácil a separação.

          E chegaram na casa nova mais leves. O mais importante levaram, a amizade dos antigos vizinhos, por exemplo. Isso permaneceria para sempre.

          Essa mudança foi uma lição de vida inestimável para eles. Desapegar de bens materiais muitas vezes é necessário. Adquirir novamente outros é possível a qualquer hora e em qualquer tempo. É preciso criar espaço, desafogar. Além do que, nada que deixaram para trás lhes fez falta, e foram valiosos para aqueles que adquiriram.

          Essencial mesmo é guardar sentimentos, carinho e afeto das pessoas. Isso é de fato o que devemos conservar nas nossas vidas.

        Praticar o desapego não significa abrir mão de tudo o que é importante para nós, mas sim de se libertar do excesso que nos prende. É permitir que uma nova etapa inicie em nossa vida. O fundamental é o que levamos na alma e no coração. O resto é bagagem que pesa. Precisamos de leveza.