COISAS DE CRIANÇA

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Foto com o escritor Assis Brasil – APAL

MARIA DILMA PONTE DE BRITO
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS APAL – CADEIRA 28
PATRONO: LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1 º OCUPANTE: HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA

          Estou diante do computador com a cabeça fervilhando, cheia de ideais e as mãos prontas para dedilhar o teclado tornando concreto o pensamento que vai fluindo na cabeça.

          O que mesmo quero escrever? Mil pensamentos vem em minha mente, inclusive as brincadeiras que crianças fazem e dizem na sua ingenuidade. Lembro o meu primeiro dia de escola quando me deixaram em um salão com muitas outras meninas e algumas professoras. Uma delas aproximando de mim perguntou?

        – Você é minha?

       Não entendi que ela queria saber se eu seria aluna dela. E respondi:

       –  Não, sou da mamãe.

        A escola era o Colégio Nossa Senhora das Graças e a professora era Joana Eneida Nóbrega Duarte que não está mais entre nós. Esse episódio era contado sempre por ela, minha primeira professora, conforme diz seu filho Gilberto Duarte, historiador e também professor renomado.

          Fiquei recordando as minhas meninices e veio na lembrança dos meus cinco anos quando um senhor que morava nas proximidades de minha casa gostava de brincar comigo chamando-me de minha noiva. Ao vê-lo de longe, me escondia para fugir dessa brincadeira que me incomodava. Para me vingar ficava escondida por detrás da janela esperando ele chegar mais perto e dizia com intenção de lhe amedrontar: eu sou a alma do “puquitório” (sic). Não sabia chamar purgatório. Todos riam da minha papelada. Essa pessoa era Senhor Ulisses Miranda que foi represente do MEC aqui em Parnaíba e vendia cadernos, lápis, caneta a preço mais em conta do que no comércio formal.

          Outra proeza interessante que aprontei nessa fase, aos seis anos, foi tentar acabar o namoro de um rapaz que morava nas proximidades de minha casa. Eu queria que ele ficasse com a ex-namorada, pessoa que muito admirava. Para tanto punha todos os defeitos na atual apelidando de palito vestido por ser muito magra e fiquei feliz quando pus término nesse namorico. O rapaz era Mário Meireles do Jornal do Norte e a moça que eu torcia era a Carmem com quem ele contraiu matrimônio e formou uma linda família.

          Contam que eu era muito decidida deste criança e que só fazia o que eu queria. Minha casa tinha um quintal grande de areia e meu pai não gostava que eu fosse brincar lá por causa da poeira. Assim mesmo eu ia desobedecendo a ordem. Por isso mesmo ficava sempre de castigo em uma cadeirinha de balanço. Você está de castigo, dizia ele. Quero ver você se levantar dessa cadeira.  E na minha ingenuidade eu levantada. Ficava em pé. Ele dizia: senta. Eu sentava. E repetia. Você está de castigo. Quero ver você se levantar daí. Eu me levantava. Não era por teimosia. No meu entendimento ele queria ver eu me levantar e eu obedecia. Apenas ele não elaborava a ordem corretamente para uma criança inocente.  Se ele dissesse: não se levante dessa cadeira. Você está de castigo. Só saia daí quando eu mandar. Com certeza eu respeitaria o seu desejo.

          Criança sofre. Não explicam para ela que o nome é purgatório, que não se deve apelidar as pessoas e não entendem que as ordens devem ser esclarecidas e detalhadas para que ela entenda.

              E outra proeza minha aos sete anos foi escrever a poesia “Viva o Brasil”. Até eu mesma pus em dúvida se tinha mesmo essa idade ao produzir tais versos. Comprovação feita quando encontrei um papel com minha letrinha infantil ensaiando o referido escrito e datado de 1960.

27.07.2020

A legenda de um homem de bem

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DIÁRIO

[A legenda de um homem de bem]

Elmar Carvalho

27/07/2020

            Desde o início da semana passada que venho às voltas com um prefácio para o livro “Reminiscências de Minha Vida”, que são as memórias de José Ataide Torres Costa Filho, do qual tenho a honra de ser amigo e irmão maçônico há várias décadas. Estreitei amizade com o seu irmão Carlos Cardoso e com vários outros seus parentes, entre os quais citarei apenas o saudoso Otaviano, a Cristina do Vale e Silva, o craque futebolístico Augusto César e o escritor Francisco da Silva Cardoso. Dessa forma tomei a deliberação de tornar o referido texto preambular parte integrante deste Diário. Assim, sem necessidade de delongas, ei-lo abaixo:

A LEGENDA DE UM HOMEM DE BEM

Elmar Carvalho

            Conheci José Ataide Torres Costa Filho, ou mais simplesmente Zé Ataide, em 1972, quando eu tinha 16 anos de idade, e ele um pouco mais. Eu era colega de aula e amigo do seu primo e vizinho Otaviano Furtado do Vale. Através deste fiz amizade com o seu irmão Carlos Cardoso. Nessa época passei a conhecer a professora Cristina do Vale e Silva, irmã do Tavico  (acima citado com seu nome completo), e o seu falecido marido Tarcísio, um bom e cordato gigante. A Cristina tinha uma boa biblioteca, com clássicos da literatura brasileira e universal, e me emprestava famosos romances, que eu logo lia e devolvia, em busca de outros. Também, claro, conheci os pais do Zé Ataide e seus irmãos Antônio Francisco e Isabel.

Com o Otaviano, saudoso amigo, eu e o Carlos praticávamos futebol, tomávamos as libações nos finais de semana, e íamos às festas e tertúlias, no Campo Maior Clube, no Grêmio Recreativo e em casas particulares, como era de praxe na época.

O Otaviano, que era uma espécie de líbero e faz tudo, poderia atuar em sete ou mais posições, e chegou a ser goleiro (reserva) do Comercial, em que jogava o seu irmão Augusto César, um dos melhores craques do futebol campomaiorense, em seu estilo altivo e elegante, de quem disse no meu livro O Pé e a Bola: “quarto zagueiro, bom no domínio, boa visão, inteligente (…)”.

Circulávamos nas praças, sobretudo na Bona Primo e, às vezes, fazíamos pequenas jornadas em nossas velhas bicicletas. Mas um ou dois anos depois as famílias do Zé Ataide e do Otaviano foram morar em Fortaleza e Teresina, respectivamente, e em junho de 1975 a minha se transferiu para Parnaíba, de modo que demoramos a nos rever.

O tempo andou, virou e mexeu. Assumi, em setembro de 1975, meu emprego na ECT (Empresa de Correios e Telégrafos), me formei em Administração de Empresas (UFPI – Campus Ministro Reis Velloso – Parnaíba) e passei em concurso do DASP para fiscal da extinta SUNAB, de cujo cargo tomei posse no dia 10 de agosto de 1982, em Teresina, sede da Delegacia Regional.

Ainda em agosto ou setembro, no hotel da senhora Maru, no início da Frei Serafim, perto da igreja de São Benedito e do Convento São Francisco de Assis, recebi a visita do amigo Carlos Cardoso, que me convidou para morar numa república, da qual ele fazia parte, instalada numa casa da Avenida Jockey Club, que anos depois se transformou no Colégio Madre Savina. Foi um tempo muito bom e feliz, mas que não comporta maiores detalhes neste espaço. Meses depois o Carlos deixou o convívio republicano, por causa de seu casamento, mas continuamos a nos rever e a nos telefonar com certa frequência.

Um belo dia, no escritório de contabilidade do Carlos, o Zé Ataide, em presença de outro maçom, já falecido, me convidou a ingressar nos augustos mistérios da Maçonaria. Sem dúvida, curioso como sou, devo ter feito várias perguntas, sobretudo sobre meus deveres e responsabilidades. O certo é que passei pela “investigação” de praxe, visita de comitiva a minha mulher, e meses depois era iniciado em belo ritual maçônico. Portanto, considero que adentrei na Sublime Ordem, atendendo convite de dois irmãos sanguíneos, ambos meus amigos e velhos conhecidos.

A família do Zé Ataide e do Carlos, que já conhecia desde minha adolescência, como disse, era bem constituída e tinha fortes princípios religiosos e morais. O velho José Athayde também era maçom. Ele e sua esposa dona Maria da Conceição (ou Maria Cardoso, como era mais conhecida em Campo Maior) trabalhavam, ele em seu escritório de contabilidade e ela em sua casa, e acostumaram os filhos ao labor e ao senso do dever desde meninos, tendo Zé Ataide, em sua meninice, prestado pequenos serviços a uma das lojas maçônicas de Campo Maior.

De forma que os quatro filhos eram diferenciados, mais sisudos e responsáveis que o comum dos adolescentes e jovens. Logo podíamos perceber que jamais haviam sido “moleques” de rua, a fazerem peraltices, conquanto vez que outra não tenham fugido à regra das brincadeiras próprias da idade, como o autor confessa em seu livro. Mas o fato é que foram induzidos pelos pais a bem cumprirem os seus deveres escolares e laborais, desde bem jovens.

Na parte denominada Prelúdio o autor conta passagens interessantes e pitorescas da vida de seus pais, de modo a lhes traçar uma espécie de perfil biográfico, moral e de experiência de vida, quase um retrato da personalidade paterna e materna, pelo qual podemos perceber os pais amorosos, dedicados e responsáveis que eles foram.

Conta a experiência profissional de seu pai, como gerente de empresa privada, como servidor público e como proprietário de importante escritório contábil. Nesta última atividade, transmitiu seus conhecimentos aos filhos e a José Antônio da Costa Filho, seu amigo e funcionário do Banco do Brasil, que mais tarde lhe ajudou no processo de mudança para Fortaleza, onde já residia. José Antônio, pelo que pude depreender da leitura destas Reminiscências era um legítimo empreendedor, dotado de notável dinamismo, tanto que fundou a SECREL, pioneira na capital Alencarina da contabilidade informatizada.

Em 1981 essa empresa contábil se estabeleceu em Teresina, com o concurso primordial dos servidores Vicente Miranda, Carlos Cardoso e Manoel Teófilo Maia, tornando-se a pioneira em serviço contábil informatizado no Piauí. Anos depois, Vicente Miranda fundou a sua própria empresa de informática jurídica (STS – Informática Ltda.), que presta serviços de assessoria e consultoria ao serviço público, sobretudo municipal, bem como se tornou notável historiador e genealogista do Piauí e do Ceará, mormente da região da Ibiapaba e adjacências. Carlos Cardoso instituiu e ainda hoje mantém o seu próprio escritório de contabilidade, que presta serviços a várias e importantes empresas teresinenses. Manoel Teófilo se tornou proeminente professor da Universidade Federal do Piauí e do Instituto Federal do Piauí (antiga Escola Técnica Federal).

Fala também dos irmãos, dos colegas de aula e de brincadeiras, dos velhos professores, dos filhos, dos filhos e irmãos do coração, dos colegas do serviço público e dos amigos que amealhou ao longo da vida, claro que em breves palavras.

Veio a descobrir que a vida não é feita somente de luzes e cores, de festas e de flores, quando foi testemunha ocular, ainda na infância, da morte de dona Domingas Puba, uma vizinha, cujo desfecho ele narra de forma pungente, quase dramática, nestas suas confissões.

Para ser sintético e não fazer um spoiler, importa dizer que o autor relata fatos e episódios interessantes, singulares ou jocosos de sua infância, como eventuais travessuras, suas e de familiares, as brincadeiras da época, em que não havia brinquedos ou jogos eletrônicos, e a sua trajetória de vida, com vitórias, conquistas e eventuais frustrações. Contudo, farei referência, de forma concisa a alguns desses fatos e “causos”, para atrair a curiosidade do leitor, como se fora um aperitivo, e assim fazê-lo ler o livro na íntegra, em todos os seus pormenores.

Nas suas memórias vislumbramos as sonhadas e gostosas férias de julho, passadas na fazenda Palestina, situada na beira do Parnaíba, no lado maranhense, a seis léguas da cidade de Timon, onde aconteceram dois episódios engraçados, em que foram protagonistas sua prima Dulce e seu irmão Carlos.

Basta que se veja o índice e se leiam alguns desses fatos e “causos”, para que tenhamos uma ideia dos costumes de uma cidade interiorana como Campo Maior, nos anos 60 e 70, quando o extrativismo econômico já se encontrava no final de sua amarga derrocada, quando os velhos e pitorescos cabarés, como o Isabelão (ou Zabelona) e os da Rua Santa Antônio, outrora bela e poeticamente denominados “Zona Planetária”, já marchavam para o seu melancólico crepúsculo.

Anfion percorre os sulcos

dos discos das vitrolas e as

emoções são alinhadas pedra a pedra.

Apolo é qualquer moço feio

que nos vitrais Narciso se julga.

De repente, Átropos corta o fio da vida

que era tecido pelas Parcas lentamente

pelos golpes de facas, adagas ou estiletes

nas mãos de um velho Pã embriagado.

(…)

Através de suas páginas recordamos os encantados circos de nossa infância, por natureza nômades, e a maioria mambembe, com seus malabaristas e trapezistas e os engraçados palhaços, de espalhafatosos adereços e roupas. Faz referência à antiga “procissão na carreira”, hoje extinta, que percorria várias ruas no entorno da Matriz, por ocasião da abertura das festividades. Lembramos os festejos de Santo Antônio, com suas barracas de palha de carnaúba, a bandinha do Antônio Músico, os leilões gritados por Bilé Carvalho, os foguetes e rojões, e as deslumbrantes estrelas da pirotécnica.

As novenas do padroeiro são realizadas na imponente catedral, construída por iniciativa do pároco Pe. Mateus Cortez Rufino, no lugar da vetusta igreja colonial, demolida em 1944, cuja origem remonta ao mestre de campo Bernardo de Carvalho, fundador de várias cidades e igrejas no Piauí e no Maranhão, que construiu a primeira igreja de Santo Antônio do Surubim em 1711, a pedido de seu parente, o Pe. Tomé de Carvalho, vigário da Freguesia de Nossa Senhora da Vitória, que então se estendia de Oeiras a Campo Maior.

Perlongando as páginas de seu livro, notamos que o autor, ao contar a sua história ou o romance de sua vida, colheu o ensejo para relatar um pouco da rica e antiga história de Campo Maior, bem como para falar, em momentos apropriados, da antiga arquitetura de sua terra natal, dando ao leitor uma ideia de alguns dos seus principais edifícios públicos, de suas praças, logradouros e dos vetustos sobrados e casarões solarengos. Assim, discorreu sobre o histórico de algumas dessas construções ou sobre as pessoas que lhe deram o nome, entre as quais podemos citar o Estádio Deusdete Melo, o Patronato, o Grupo Escolar Briolanja Oliveira, as praças Bona Primo e Rui Barbosa, o Cine Nazaré, etc. Sobre este último tive ocasião de dizer:

“O Cine Nazaré, pertencente ao Sr. Zacarias Gondim Lins, ficava ao lado da matriz, hoje Catedral de Santo Antônio do Surubim, entre as praças Bona Primo e Rui Barbosa. Fui a algumas sessões levado por meu pai (que também me levou a partidas de futebol e a espetáculos circenses), quando ainda menino, e sozinho em minha adolescência.

Havia um grande anteparo com espelho, que separava o hall de entrada da sala de exibição propriamente dita. As cadeiras eram de madeira, e a parte para sentar era móvel, de forma que poderia ficar na vertical, quando desocupada. Parecia nele ter cadeira cativa a negra Dodó, esguia e um tanto espigada, descendente de escravos, trazida de Colinas (MA), segundo consta, pelo padre Benedito Portela; morava ela na Praça Bona Prima ou em seu entorno.

Como um Cérbero do bem, guardava-lhe a porta de entrada o senhor Estácio, pai do historiador padre Cláudio Melo. Só que, enquanto Cérbero era guardião de Hades, deus do reino das sombras subterrâneas, o velho Estácio vigiava a portaria de um paraíso, um Éden cinematográfico; ao passo que o monstruoso cão infernal fazia festas aos que entravam e impedia ferozmente a saída, o segundo exigia o bilhete de entrada e franqueava, com a maior prodigalidade, a saída.”

Deu um bom destaque ao nosso belo e pequenino Açude Grande, que deslumbra os turistas e todos os campomaiorenses, sobretudo os nostálgicos, que residem em plagas distantes. Eu, que em sua orla joguei futebol e em suas águas plúmbeas tomei banho, em minha adolescência, já tive o ensejo de o cantar em verso e prosa, pelo que peço licença para fazer duas breves transcrições de minha autoria:

Açude Grande

apenas no nome, mas pequeno

na paisagem ampla dos descampados.

Tuas águas cinzentas

azularam-se em minha saudade.

Tuas águas barrentas

são tingidas de azul pelo

azul do céu que se espelha

em tuas águas de chumbo.

“O açude era o meu imenso mar-oceano.

O mar mesmo eu só conhecia na prosa poética de Iracema, a linda índia de Alencar, de longos e escorridos cabelos negros, mais negros que a asa da graúna: “verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba”…

As carnaúbas, com sua beleza esbelta, com suas palmas farfalhando ao vento, com seus quebros e requebros de moça faceira e dengosa, ornavam a orla sinuosa do açude.

O movimento do mar eu só conhecia através da tela panorâmica e technicolor do velho Cine Nazaré, do senhor Zacarias, em filmes de pirata, com sua perna de pau, caolho, braço de gancho, a carregar no ombro o indefectível papagaio, tal como no rótulo do Ron Montilla, ou em filmes épicos de heróis ou deuses da velha Grécia, com suas ilhas paradisíacas.”

Já me alongando além do que deveria, partirei agora para um conciso arremate.

Além de suas memórias, de uma árvore genealógica, da memória fotográfica e do Diário, feito por sua mãe, sobre o seu primeiro ano de vida, o autor ainda dá uma significativa contribuição à historiografia genealógica do Piauí, ao se reportar às estirpes Costa, a que pertence, e Veloso, de que faz parte Vânia, sua esposa.

Retornando ao Piauí, já formado em engenharia agronômica, nos idos de janeiro de 1978, Zé Ataide foi trabalhar na CIDAPI – Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Piauí, empresa de economia mista, na qual exerceu cargo de chefia de departamento, até a sua extinção, quando foi trabalhar na Secretaria de Agricultura, em que se aposentou, sem nunca receber qualquer tipo de punição, de modo que pode ser considerado um legítimo ficha limpa.

Porém, como se tudo isso não fora o bastante, em 2011, já aposentado, ainda cometeu a proeza de ingressar no curso de Ciências Contábeis, concluindo-o em fevereiro de 2015. Na sua turma era chamado carinhosamente pelos seus jovens colegas de Véi, que certamente lhe admiravam a garra e a força de vontade, que lhes serviam de estímulo e exemplo.

Ingressou na maçonaria, em oficina obreira vinculada à Grande Loja do Piauí. Em virtude de fatos e atos administrativos dos quais discordava, que no livro ele relata em detalhes, desligou-se da Potência a que pertencia,  e foi admitido no Grande Oriente do Brasil/Piauí. Juntamente com alguns companheiros, entre os quais eu, fundou a Augusta e Respeitável Loja Hiram Abib, que funciona no prédio da Caridade II, loja mãe da maçonaria piauiense. Sentou no trono de Salomão (exerceu o cargo de Venerável) e hoje preside a Assembleia Legislativa Maçônica. Em resumo, é um maçom paradigmático, que se iniciou nos augustos mistérios não para ser servido, antes para servir e prestar bons serviços à sublime Ordem.

Flertou, paquerou, namorou, mas cedo se fixou em Vânia, com quem construiu uma bem estruturada família, como a que seus pais haviam constituído décadas atrás. O casal teve os filhos Olívia, médica, Larissa e Liana, advogadas, e o caçula José Athayde Neto, formado em Ciência da Computação.

Portanto, como engenheiro agrônomo plantou várias árvores, que deram inúmeros frutos; como pai de família, teve bons filhos, que também tiveram seus filhos. E agora escreveu este livro, que é, como eu disse, a história ou o romance de sua vida. Assim, cumpriu o que o adágio recomenda: plantou uma árvore, teve filhos e escreveu um livro.

Uma vida sem drama e sem tragédia, principalmente grega, mas uma bela vida, de um homem digno, de um homem bom, de um homem que se consagrou ao bem.

Batendo, por três vezes, o martelo, posso dizer que Zé Ataide amou e buscou o belo, o bom e o bem.

O belo ele encontrou na beleza de sua família, o bom ele sempre o teve na bondade de seu coração, e o bem lhe foi inerente, através do bem que espargiu em sua vida digna e honrada.

ESTÓRIAS DA ILHA REBELDE

A NOVA E ENCANTADORA GARÇONETE
Da minha amiga e conterrânea Lígia Bessa, residente em Fortaleza-CE e casada com o Afrânio, funcionário aposentado do Banco do Brasil, recebo via whatsapp uma postagem  com o título de ENTREVISTA MUSICAL que começa da seguinte forma:
1-     QUANDO VOCÊ NASCEU ?
Eu nasci há dez mil anos atrás. E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais. ( Outra vez )
2-     ONDE VOCÊ MORA ?
Moro num país tropical, abençoado por Deus,e bonito por natureza… Que beleza !…
Essa postagem me fez lembrar de um fato que aconteceu comigo quando residia em São Luis, capital do Maranhão  que possui também toponímios de “Ilha Rebelde” “Ilha do Amor” “Cidade dos Azulejos” etc..
Assim motivei-me a escrever  ESTÓRIAS DA ILHA REBELDE, sendo esta a primeira,  que recebe o título de
A NOVA E ENCANTADORA GARÇONETE
Garçonete · vinho · bandeja · sorridente · preto · e · branco ...
Imagem meramente ilustrativa
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Costumeiramente, às sexta-feiras, após o expediente da repartição na qual trabalhava,  dirigia-me ao Bar e Lanchonete Aconchego, localizado na Rua do Passeio ao lado do cinema que levava o mesmo nome da rua – Cine passeio, para saborear o que já era tradicional na casa – açaí com farinha de puba e camarão torrado.
Nessa época eu era funcionário público do estado do Maranhão, lotado na Secretaria de Interior e Justiça, em emprego que me fora arranjado pelo sr. Cícero de Neiva Moreira, influente político da época e um dos primeiros Conselheiros  do Tribunal de Contas do Maranhão  instalado em 1947 pelo então interventor Saturnino Bello.
Cícero Neiva e meu pai Moysés Pimentel eram compadres. Ele, então Ministro do Tribunal de Contas do Estado e Secretário do Interior e Justiça nos governos José Sarney e Pedro Neiva de Santana, arranjou-me o emprego no cargo de Auxiliar de Administração com um salário até certo ponto alto comparando com o trabalho por mim executado.
A Secretaria ficava na Rua Grande (Rua Osvaldo Cruz) ao lado da Mercearia Neves, a menos de 500 metros para a Rua do passeio, desta forma que, na sextas-feiras ao término do expediente ao dirigia-me ao Aconchego saborear a especialidade da casa – açaí (jussara) com farinha de puba e camarão torrado . Às vezes acompanhavam-me também o Benito Neiva jornalista e funcionário da repartiçao, filho do Ministro e irmão do então deputado Wilson Neiva, o Zacarias, “bom de cana” assim como eu,  e irmão do professor  Inácio Castro, conceituado professor  da  Escola Técnica Federal do Maranhão, o “seu”  Caiçara, motorista da repartição e mais algum que não lembro agora.
Quando o Benito nos acompanhava eu acahava bom,  tendo em vista que ele pagava toda a despesa.
O Bar a Restaurante Aconchego, de aconchegante não tinha nada. Era um corredor grande, de aproximadamente 10 ou 15 metros de comprimento por 3 ou 4metros  de largura e no final do corredor um banheiro não muto bem cuidado como é a maioria dos banheiros de certos bares e em seguida,  a Caixa Registradora numa espécie de meia  parede que servia como  balcão onde ficava seu Miguel,  um português gordo e bigodudo que tinha também uma venda de caldo de cana num box do abrigo da Praça João Lisboa.  A cozinha ficava logo atrás do local onde seu Miguel se postava.
As mesas eram dispostas encostadas às paredes de um lado e do outro de modo que apenas três pessoas tinham acesso sentadas à mesa. Ao centro  uma passarela para o trãnsito dentro do estabelecimento. Os dois ventiladores de teto existentes, não eram suficientes para dirimir o calor existente no local, mas este logo logo era esquecido depois de alguns goles da Cerma* bem gelada, outra especialidade da casa – cerveja super gelada.
Diziam os antigos que quem tomava açaí não podia beber cerveja. Mito! Apenas mito! Açaí e cerveja casam muito bem, pelo menos para mim, nunca fez mal.
Naquela sexta-feira fui sozinho ao Aconchego. Sentei-me na primeira mesa à esquerda após a porta de entrada. Tenho por hábito sempre sentar-me na mesma mesa de quando visitei um bar, lanchonete,  ou restaurante pela primeira vez, se esta não estiver ocupada, naturalmente.
Ao observar o movimento do bar percebi que a Judite, a garçonete que  sempre nos atendia não se encontrava no recinto, mas sim outra, por sinal muito faceira e sorridente.
Judite era uma preta carrancuda, não sorria pra ninguém embora atendesse a todos com distinção, pois no fundo era uma alma boa. 
Quedei então a imaginar o que poderia ter acontecido a Judite. Será que seu Miguel despachou a menina porque ela tratou mal algum freguês? Será que adoeceu?  Já estava acostumada com ela apesar de que o charme e a elegância da nova garçonete estivesse mexendo com meus miolos, isto é, estava me atraindo.
Absorto em meus pensamentos fui surpreendido quando a nova e encantadora garçonete, com um sorriso de fazer inveja a Monalisa ou a Afodite,  e com uma elegância ímpar aproximou-se da minha mesa e  sem pronunciar qualquer palavra entregou-me um pedaço de papel acompanhado de  um lápis com a indicação de que eu escrevesse alí o meu pedido.
A nova garçonete foi o alvo de todos   os olhares masculinos nesse dia! Quando transitava no atendimento às mesas,  parecia bailar segurando a bandeja com a mão esquerda, e a direita com o dorso na cintura,   sem perder o charme e o equilíbrio. Ao voltar à minha mesa para pegar o pedido não resisti e perguntei o seu nome e de onde ela era. Foi então que ela estendendo a mão direita como quem queria alisar meu rosto e com um vozeirão mais pra Caruzo do que pra Gal cantou parodiando a música do marinheiro só ou marinheiro sou:
Eu não sou daqui
Não sou não senhor
Eu sou da Bahía
E o meu nome é amor.. (bis)
Ô marinheiro marinheiro…
A nova e encantadora garçonete não passava de um travesti, ou seja,  um qualira ou coalira como se chama em São Luis.
*CERMA – Cerveja fabricada no Maranhão pela Cervejaria Maranhense S/A

Cronologia Poética (2016): Elas são…

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O meu orgulho, a minha alegria, a minha inspiração;
A minha herança, o meu legado; o meu triunfo;
O meu mestrado, o meu doutorado e o pós também;
Pulitzer, Grammy, Oscar… Nobel! E por que não?
As minhas medalhas de bronze, de prata e de ouro;
O meu desejo de um mundo melhor, mais pacífico;
Os frutos mais lindos do meu amor por Ana Roberta:

– Carolina e Ingrid (e a Shakira também).

Claucio Ciarlini (2016)

  • 2016 inicia debaixo da poeira e dos escombros do ano anterior. Porém, com o passar dos meses, as coisas foram melhorando. Iniciei uma série de textos poéticos inspirados em filmes; o jornal Piaguí alcançou a marca de 100 edições mensais e ininterruptas; o projeto de Cinema da escola retornou (embora de forma limitada); continuei a obter o reconhecimento de meu trabalho por parte dos alunos (através do carinho e dos convites para ser homenageado, paraninfo ou nome da turma); em julho retornei à parte editorial e administrativa do Piaguí (mas desta fez de forma solitária em termos de edição); além da família, todos com saúde e amor.