O ELEITOR NA PANDEMIA

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MARIA DILMA PONTE DE BRITO
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS – APAL CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO 
1 º OCUPANTE LÍVIO LOPES MACHADO CASTELO BRANCO

        Até a data das eleições de 2020 mudou por conta da pandemia, o COVID 19. Inicialmente seria 04 de outubro e o segundo turno no dia 25 de outubro. O Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitucional alterando as datas para 15 de novembro e o segundo turno ficou para 29 de novembro. Os candidatos deverão registrar suas candidaturas até 26 de setembro.

          Nesse contexto de mudança a forma de votar também muda. O Presidente do Tribunal Superior Eleitoral – TSE, o Ministro Luís Roberto Barroso está elaborando uma cartilha para garantir a proteção contra o coronavírus, isto é, medida cautelar durante as eleições, como uso de máscara para mesários, eleitores e distanciamento social. Quanto ao uso do álcool em gel deverá ser usado só após a votação, na saída da cabine, porque o álcool danifica o aparelho de votação, “a urna”.

       A propaganda de candidatos a cargos eletivos será permitida a partir de 16 de agosto de 2020. Me pergunto: os comícios serão permitidos? Mesmo que sejam, acredito que muitos não terão a coragem de enfrentar as aglomerações. Por isso mesmo os candidatos provavelmente utilizarão outros recursos para fazer a propaganda eleitoral. como carro de som, as mensagens eletrônicas, e-mail, WhatsApp etc, em conformidade com a Lei Eleitoral.

          Se tudo está mudando, será que o perfil do eleitor também mudou? O voto consciente estará presente na eleição de 2020? O candidato ético, competente e com uma boa proposta de trabalho terá vez nessas eleições?

          O João é o tipo de eleitor que sempre trocou seu voto por benefícios ou transações ilegais. E muitos eleitores como o João existem por ai, transformando seu voto em mercadoria. Encontrei-me com um deles e acreditando que estamos em um momento novo com muitas mudanças indaguei: nessa eleição o voto não é mais vendido, ninguém compra voto de ninguém, não é? Até porque hoje os contatos pessoais são poucos e dificulta ficar pedindo favores, brindes, bens matérias e outras vantagens. Tive como resposta: que nada, agora mesmo foi que melhorou com as redes sociais. Acordamos tudo pela internet e o valor dos benefícios são depositados na conta.    

          E eu fiquei a imaginar: esse pessoal tem conta? A resposta me veio logo à mente, geralmente hoje todo mundo é correntista de um banco e para receber o auxílio emergencial dado pelo governo é preciso ter uma e quem não tinha teve que providenciar.

        Lamentavelmente a situação não mudou. 

       Em uma democracia a maior transformação é realizada por meio de voto consciente, assim diz Marcelo Figueiredo.

 

 

 

 

 

 

 

 

JOSEPH, ENTRE A MORTE E A LIBERDADE

Por Altevir Esteves (escritor, maratonista, cadeira 14 da Academia Parnaibana de Letras )
altevir
Há algumas décadas eu ouvi a história de um homem norte americano que teria sido condenado no tribunal à pena de prisão perpétua. Neste momento não encontro referência à tal registro mesmo pesquisando por várias formas na internet. Assim, citarei o caso como exemplo hipotético e o chamarei de Joseph.
Com pouco ou quase nenhum estudo, o até então réu ouviu de pé e de olhos bem abertos a sentença prolatada pelo juiz daquela corte. Ao findar suas palavras o magistrado perguntou ao recém condenado se teria alguma pergunta a fazer ou dúvida a ser esclarecida. Joseph pensou um pouco, fechou e abriu os olhos novamente.
– Doutor, são quantos anos a tal prisão perpétua?
O Juiz, atônito, ficou alguns segundos calado, olhando o rapaz com semblante fechado, esperando resposta. Diante do silêncio da autoridade, replicou:
– Quando posso sair da prisão? – disparou.
Deixo com o leitor a faculdade de usar a imaginação para colocar as possíveis palavras a serem usadas pelo juiz.
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No Brasil não existe prisão perpétua em seu ordenamento jurídico. Mesmo que seja condenado a centenas de anos por crimes diversos, o sentenciado “só” cumprirá 30 anos aprisionado. Assim não temos ninguém para testemunhar experiência de prisão vitalícia. Por outro lado, três dezenas de anos preso, não importa com que idade a pessoa inicie o cumprimento de tal pena, é uma eternidade, a perda da juventude, da maturidade e até da velhice.
O que se passa na cabeça de um condenado nessas condições é algo que somente ele pode narrar, por mais que soltemos nossa imaginação. E é com o livre pensar que nos remetemos ao dia 20 de março de 2020, data em que o governador do estado do Piauí decretou o isolamento social e o fechamento do comércio por 15 dias. Sim, somente uma quinzena. A medida foi se renovando até os dias de hoje, quando, por outro decreto promete iniciar o relaxamento das atuais condições e aponta o distante dia 18 de setembro para o restabelecimento total das atividades. Se a Covid-19 deixar, claro.
Mas o que tem a ver a vida de uma pessoa para quem lhe foi reservada a prisão até a morte com aquele que se vê no direito e na obrigação de viver isolado por dias indeterminados? Para este ainda a incerteza, dada a ameaça da descontinuidade a cada 15 dias; para o primeiro,  o sonho de que algum recurso que porventura ainda transite pelos escalões superiores da justiça ponha termo sua sentença, que, à medida que o tempo caminha, vai ficando cada vez mais fantasiosa.
O perigo está por perto. Se na penitenciária a vida corre por um fio nas batalhas entre grupos violentos próprios das prisões, situação nas quais é quase impossível de se manter na neutralidade; em casa, é o medo de algo invisível, intocável e traiçoeiro que pode estar do outro lada da porta. Depois de alguns dias. Se necessário sair, vê-se que tudo é suspeito de estar contaminado. As paredes do corredor e do elevador podem estar impregnadas com camadas espessas de vírus malditos; o botão, a maçaneta, a chaves, a torneira, os vidros, o chão, todos estão revestidos da morte, embaladas por cores enganadoras, reluzentes, pestilentas, brilhos do mal.
No final do corredor vem alguém. Surge a pessoa de máscara, seja esta preta, branca, colorida, ela esconde o semblante da doença malvada; os olhos ávidos se fixam uns nos outros em meio a desconfiança total e recíproca, querendo penetrar, transmitir entre retinas a vida infame. E pelo corredor estreito duas pessoas se cruzam quase de costas uma para a outra, como numa coreografia bem ensaiada, cada uma se virando autômato, sem descuidar que nem os panos da roupa se toquem.
Da janela se vê o sol que esquenta e ilumina; à noite as luzes da cidade. De longe, cada lâmpada da iluminação púbica parece um piscar frenético, às vezes ritmadas. No chão, as mangueiras com suas copas redondas, movem-se lentamente. Sob suas folhas a escuridão e a incerteza, se escondem vírus ou os milhares de andorinhas que durante o dia revoaram pelos tetos, encantando em pandemônio. Os colégios pertos estão mudos; crianças não há, carros as trazendo ou levando-as, tampouco.
Aqui está o sofá; ali a cozinha; acolá o quarto de dormir. O corredor estreito, a mesa, o quadro na parede, os troféus e as medalhas. A TV gigante não mais emite luz, não se quer vê-la. O teto é baixo, as cores são as mesmas. A vida parece ter cessado.
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Os dias passam. Uma noite, uma manhã, uma tarde, mais uma noite, outra manhã, outra tarde e logo anoitece. Mais 15 dias e outros quinze, e o bimestre,  o trimestre, o semestre… o ano? Talvez. Em qual corte dorme o processo que pode lhe tirar da prisão o Joseph e tantos outros presos, mesmo sem sentença? O laboratório de vacina, a fábrica de remédio, a UTI, o respirador, o analgésico? E qual o grupo é mais forte, a quem se aliar? O da medicina científica, da empresarial ou aquele das vozes dos postos de comando? Qual ala vencerá o próximo combate da rebelião desencadeada?
Joseph precisa ouvir a voz de comando do seu interior, e esta deve  falar mais alto. O corredor é longo, sinuoso e a espera é indefinida, mas não deve ser tormentosa. Não precisa fazer escolhas se tudo o que ocorre lá fora vai dar medo e fazer mortes. Melhor resignar-se em si, o interior pode e deve ser forte, não importa o estrondo da bomba, o rebuliço, as buzinas das ambulâncias, dos carros de bombeiros, da polícia. Os estilhaços vão chegar. E quando chegar o melhor é se esconder no próprio íntimo, fechar os olhos e viver.
Joseph continua dormindo e acordando, mas de pé, as vistas na janela do além, os olhos fechados no mundo criado no seu íntimo, entre a morte e a liberdade, no espaço secreto onde mora a santidade do seu Eu.

Cronologia Poética (2015): Guerra Psicológica

Sem título

As máscaras pelo chão
Enquanto a luta acontece
E pessoas seguem a sofrer com isso

Do topo da mais alta torre da estupidez
Uma garota de sorriso macabro anuncia o fim
Do que nos acostumamos a chamar de esperança

Ela grita de maneira irônica e sádica
Algo sobre melhores e piores
Sem ao menos perceber que a cada insulto
Pouco a pouco
Um pouco mais de humanidade ela perde

Os gritos ecoam por um universo sem fim
Atingindo as mais distantes galáxias virtuais
Provocando medo, um medo capaz de torturar
Até aqueles que pensavam não mais sentir dor

Provocando guerra (psicológica)

Os inocentes, a vagar, atônitos e perdidos
Entre verdades e mentiras, socos e pontapés
Sem saber quem é o que, e o que é que há
Permanecem à espera, de algo que lhes traga alivio

Luz, saber, compreensão…

E sinto não ser eu, e nem alguém, de que lado for
A solucionar as tuas mais que angustiantes questões
É o instinto que vai te dizer, com paciência, no que acreditar.

Claucio Ciarlini (2015)

  • O meu vigésimo ano poético (2015) se constituiu num dos mais desafiadores, ao menos em termos psicológicos. O que fez gerar o poema “Guerra Psicológica”. Problemas nos locais de trabalho, como mudanças, que levaram, dentre outras consequenciais, à paralisação (naquele período) do Projeto Cinema e História e também dores de cabeça em outra esfera, por conta de acontecimentos envolvendo questões de honra e vingança, que atrapalharam toda uma evolução e conquistas, além da destruição de amizades. E em âmbito nacional, atitudes antidemocráticas arquitetadas e iniciadas em anos anteriores, começavam a gerar podres frutos, dos quais iríamos colher nos anos seguintes.