MARIA DILMA PONTE DE BRITO
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS – CADEIRA 28
PATRONO – LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1 º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA
DO LIVRO “O QUINTO” – INÉDITO
Senti vontade de escrever uma carta como nos velhos tempos. Foi difícil encontrar uma papel fininho para facilitar colocar no envelope e pagar menos na postagem. A caneta utilizada foi a BIC, idêntica a usada nos tempos de escola e que produzi com ela muitas e muitas outras cartas. Sempre gostei de escrever. Fiz uma pausa para verificar a idade da caneta BIC e o Google me informou que ela data de 1950, lançada na França por Marcel Bich.
Voltando à carta. Por que escrever uma carta se temos e-mail, whatsApp, fecebook, instagram? Talvez para matar a saudade dos velhos tempos, ou mesmo para exercitar a mente, a coordenação motora e aguçar o poder de concentração me desplugando do mundo.
Para quem escrever uma carta? Sem dúvida para alguém muito especial que mereça o tempo que se gasta debruçado no papel para largar pensamentos, ideias e emoções.
O que escrever em uma carta? Na verdade não sei mesmo o que quero escrever. Olhando pela janela vejo um jardim florindo, vejo pássaros cantando, o vento balançando as folhagens, o céu azul estampado de nuvens que bailam pra lá e pra cá e vou descrevendo esse quadro com letras, lembrando o tempo de escola quando a professora colocava no quadro uma gravura para que fizéssemos uma redação.
Finda a carta sem destinatário e nem assinei embaixo, mas dobrei, pus no envelope branco. Não encontrei aqueles com bordas coloridas verde e amarelo. Também não tinha selo em casa e nem a goma arábica para colar o envelope. Assim, ela não foi lacrada e nem para o correio porque não tinha também o endereço do destinatário. E agora? O que fazer com ela? Guardei entre livros. Escondidinha está.
Valeu a pena escrevê-la. Dizem os sábios que a carta é uma produção artesanal e também uma espécie de detox tecnológico. Eu digo mais, é algo valioso por ser uma produção humana, escrita a punho, uma demonstração de afeto que deixa no papel as marcas de uma caligrafia, o perfume das mãos de quem a escreveu, é registro, é documento quando assinado e tem lacre, carimbo para simbolizar o sigilo e a segurança.
Algumas cartas são históricas como a de Pero Vaz de Caminha que é um documento registrando as suas impressões sobre a terra descoberta, o Brasil. Também são famosas as cartas de amor de Almeida Garrett para Rosa Barreira, de Napoleão Bonaparte para Josefina e de Fernando Pessoa para Ofélia Queiroz.
A carta que acabo de redigir é simples e sem resposta, mas é uma obra escrita para a posteridade. Um belo dia será encontrada solta entre os livros largados na estante.
Cabe aqui lembrar Heitor Villa-Lobos quando diz: “Considero minhas obras como cartas que escrevi à posteridade, sem esperar resposta”.
Excelente e me fez recordar as tantas vezes que escrevi cartas as filhas da minha vizinha , pois esta não sabia ler nem escrever e eu o fazia para si.Valeu Dilma!!! Obrigada por lembrar- me o quanto é bom escrever.Dizer ainda que igualmente a voce tenho certeza escrevi diarios.Bjo grande.Sua admiradora.
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Francisca, suas palavras motivam a pequena escritora que espera crescer rssr
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Francisca gostei de seu comentário. E de sua boa ação também lendo as cartas para que não era alfabetizado. Parabéns.
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Excelente carta e inspiração. Lembrei direitinho das redacoes que fazia na escola me preparando para fazer o “exame de admissão” e das cartas que escrevi na adolescência. Foi muito legal a viagem.
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Amigo Fares viajamos aos velhos tempos com esse texto. Obrigada pelo comentário.
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E ainda havia a emoção da expectativa, condimentada com certa ansiedade e frenesi, na espera da resposta, que demoraria alguns dias, pela própria logística do sistema. Havia até manuais de cartas burocráticas, comerciais e amorosas.
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Verdade confrade Elmar. Cartas tem o seu valor e muitas emoções.
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Cartas tem o seu valor, como a escritora definiu tão bem “ uma produção humana, escrita a punho, uma demonstração de afeto que deixa no papel as marcas de uma caligrafia, o perfume das mãos de quem a escreveu, é registro, é documento quando assinado e tem lacre, carimbo para simbolizar o sigilo e a segurança.“
E ao ler a carta há uma mistura de tantos sentimentos, realmente valores imensuráveis.
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Isso mesmo Flávia. A carta tem o seu valor.
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