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Pádua Marques – escritor, contista e romancista – cadeira 24 da APAL |
Dia: 24 de julho de 2020
Cronologia Poética (2013): Maldita
Insônia é a vilã intragável que me consome agora
Não me deixa quieto (talvez o correto)
Com um sorriso desgraçado de ironia, na boca
E eu me perdendo no desprezo deste dia
Perdendo o sono, a paciência, a beleza
Insônia que me traz, e traz: angústia que nem sempre é bom
Mas o que fazer? Não há, não há
Se na noite ela me provoca feito Diabo a Jesus
Que cruz, meu Deus, que cruz!
E eu tão pouco sou Deus pra lidar, para domar a fera
Insônia para poucos, que coléricos, gritam feito insanos
Sufocados à espera do agrado do danado (Morfeu)
Penitência maldita no pingar lento dos olhos cansados
Desgraça calada, que cutuca e desnorteia
Num turbilhão de mensagens bizarras e complexas
Insônia é a droga que ninguém deseja
Mas que todos procuram remédio, solução
A droga pra droga (que droga!)
Agoniação indigesta e praticamente imbatível
Como os sonhos ainda não conquistados, que me esperam
No amanhã, que só chegará se eu dormir.
Claucio Ciarlini (2013)
- Chego a 2013! E diferente da temática e do bom humor relativos ao poema “Maldita”, os problemas com que me deparei não foram ligados à insônia e foram nada agradáveis. Aliás, poucas vezes me desentendi com Morfeu. Porém desde a infância eu vinha lutando contra um inimigo interno do qual desconhecia o nome (por ser de difícil o diagnostico) e só viria a ser revelado no ano seguinte: Síndrome de Tourette. Tiques, TOC e alto déficit de atenção, que em cruel combinação, definiram o meu comportamento por bastante tempo, ora em fases mais graves, outras nem tanto, levando a uma grande timidez, dificuldade de aprendizagem e de relacionamento com as pessoas. Obviamente que tudo isso acabou por me influenciar em termos de escrita, e em razão disto optei por compartilhar. Com o passar do tempo fui aprendendo a conviver e a superar, contudo neste ano de 2013 a Tourette “gritou mais alto”, dificultando até mesmo o meu trabalho como professor, embora, no fim, eu tenha conseguido contornar.
A CARTA NÃO FOI
MARIA DILMA PONTE DE BRITO
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS – CADEIRA 28
PATRONO – LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1 º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA
DO LIVRO “O QUINTO” – INÉDITO
Senti vontade de escrever uma carta como nos velhos tempos. Foi difícil encontrar uma papel fininho para facilitar colocar no envelope e pagar menos na postagem. A caneta utilizada foi a BIC, idêntica a usada nos tempos de escola e que produzi com ela muitas e muitas outras cartas. Sempre gostei de escrever. Fiz uma pausa para verificar a idade da caneta BIC e o Google me informou que ela data de 1950, lançada na França por Marcel Bich.
Voltando à carta. Por que escrever uma carta se temos e-mail, whatsApp, fecebook, instagram? Talvez para matar a saudade dos velhos tempos, ou mesmo para exercitar a mente, a coordenação motora e aguçar o poder de concentração me desplugando do mundo.
Para quem escrever uma carta? Sem dúvida para alguém muito especial que mereça o tempo que se gasta debruçado no papel para largar pensamentos, ideias e emoções.
O que escrever em uma carta? Na verdade não sei mesmo o que quero escrever. Olhando pela janela vejo um jardim florindo, vejo pássaros cantando, o vento balançando as folhagens, o céu azul estampado de nuvens que bailam pra lá e pra cá e vou descrevendo esse quadro com letras, lembrando o tempo de escola quando a professora colocava no quadro uma gravura para que fizéssemos uma redação.
Finda a carta sem destinatário e nem assinei embaixo, mas dobrei, pus no envelope branco. Não encontrei aqueles com bordas coloridas verde e amarelo. Também não tinha selo em casa e nem a goma arábica para colar o envelope. Assim, ela não foi lacrada e nem para o correio porque não tinha também o endereço do destinatário. E agora? O que fazer com ela? Guardei entre livros. Escondidinha está.
Valeu a pena escrevê-la. Dizem os sábios que a carta é uma produção artesanal e também uma espécie de detox tecnológico. Eu digo mais, é algo valioso por ser uma produção humana, escrita a punho, uma demonstração de afeto que deixa no papel as marcas de uma caligrafia, o perfume das mãos de quem a escreveu, é registro, é documento quando assinado e tem lacre, carimbo para simbolizar o sigilo e a segurança.
Algumas cartas são históricas como a de Pero Vaz de Caminha que é um documento registrando as suas impressões sobre a terra descoberta, o Brasil. Também são famosas as cartas de amor de Almeida Garrett para Rosa Barreira, de Napoleão Bonaparte para Josefina e de Fernando Pessoa para Ofélia Queiroz.
A carta que acabo de redigir é simples e sem resposta, mas é uma obra escrita para a posteridade. Um belo dia será encontrada solta entre os livros largados na estante.
Cabe aqui lembrar Heitor Villa-Lobos quando diz: “Considero minhas obras como cartas que escrevi à posteridade, sem esperar resposta”.