TEMPO ROUBADO

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MARIA DILMA PONTE DE BRITO 
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS – CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1 ° OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA
DO LIVRO “O QUINTO” INÉDITO

        O dia tem vinte e quatro horas para todos. Uns sabem aproveitá-lo mais que os outros. Mas, mesmo assim é comum escutar dos filhos que os pais não tem tempo para eles. Os amigos pouco se encontram porque os afazeres não permitem. Muitos negócios são feitos na hora do almoço onde cada minuto vale ouro. E assim, vai-se perdendo a oportunidade de ver uma criança crescer, de uma planta brotar, de ver a lua nascer e o sol se pôr.

          Mas eu me dei ao luxo de me presentear com um momento desses. Esqueci os compromissos, os afazeres e me dei um instante para apreciar a vida. Era um dia lindo. Eu gosto de sol e ele estava esperto. O vento suavizava a temperatura e balançava as folhas das árvores que iam e vinham num compasso. Imaginei que estava assistindo  a um festival de balé. Esse espetáculo era aplaudido com confetes – as folhas caindo das árvores. Na plateia um único assistente, eu. As formiguinhas seguiam em procissão, tal qual os homens, não podiam parar de trabalhar. O beija flor precisava garantir o seu alimento e continuava sugando o néctar, sua fonte de energia. Eu me deliciava com todas essas observações quando fui interrompido por um humano e julguei que acabaria ali o meu prazer.

          Antes que ele dissesse algo eu me adiantei dizendo “Sawabona”, cumprimento africano que significa eu te vejo, eu te respeito, eu te valorizo. Quantas vezes falamos com uma pessoa e não enxergamos esse indivíduo? É preciso ver além das vestes, dos adornos e sentir o seu eu, o SER e não o TER. Quando estamos leves e de bem com a vida, penetramos na aura das pessoas e criamos laços, empatia, cumplicidade vendo além do material. Muitas saudações de nosso dia-a-dia são automáticas, nem mesmo quando dizemos EU TE AMO vibramos com o seu sentido.

          Mas eu estava de bem com a vida e me congratulei com o humano usando a expressão: Sawabona. Para surpresa minha tive a resposta: Shikoba, que significa eu existo para você.  E contrariamente do que imaginei não interrompi ali minhas observações. Ele sentou do meu lado e continuamos nos deleitando com a natureza e todo belo que nos cercava.

          O tempo foi roubado mas o lucro foi inestimável.

Cronologia Poética (2011): Saudade

Todos os dias
Eu espero o teu olhar
De carinho aconchegante
Mesmo que, no último instante

Eu vibraria!
Viveria a cantar e a dançar
Se pelo menos uma palavra
Uma oração, eu pudesse ouvir

Da tua voz, que sempre me acalmou
Trouxe paz, afeto
Não esse silêncio, que ora sinto
Há cinco anos de eterna saudade

E que saudade!
Que me esmaga agora
Com o peso da ausência
e da distância

Quem dera eu fosse um senhor do tempo
Que ao emitir alguma dor
Ou até mesmo um simples lamento
Pudesse transformar o ontem no hoje

Mas sou apenas humano
Que sente e que aprende
Nessa vida de lembranças
Amargamente inevitáveis

Claucio Ciarlini (2011)

  • 2011 foi marcado pelos cinco anos do falecimento de minha Vomãe, além dos meus 30 de idade. Fatos que fizeram com que eu mergulhasse em profunda nostalgia, no que resultou no poema Saudade, além de outras produções neste e no ano seguinte, como foi o caso, a citar, da série O Progresso que Desumaniza. Mas foi também o período em que dei inicio, e com a ajuda de alunos e professores amigos, ao Projeto Cinema e História. Produção de filmes amadores na escola Cândido Oliveira visando a integração e motivação entre turmas. Trabalhar com Cinema sempre foi um sonho e o projeto acabou por ser uma oportunidade preciosa, pois além de poder ajudar na Educação, ainda pude exercitar a minha escrita e criatividade na criação de roteiros para os filmes.