ESTANTE DE LIVROS

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MARIA DILMA PONTE DE BRITO
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS- APAL -CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA
INÉDITO – DO LIVRO QUINTO 

       Em certa época estante de livros era um móvel quase obrigatório nas residências das famílias. Dependendo da cultura e do poder aquisitivo elas eram mais chiques e sofisticadas. Lembro que na casa de meus pais ela era simples, parecida com um pequeno armário com vidraça. Na frente de minha residência morava um advogado que eu apreciava suas coleções com brochuras coloridas, livros bem encadernados com belas capas e, além de obras de Direito, tinha também enciclopédias e romances.

        Muito admirava as coleções da Biblioteca Municipal e do Colégio Nossa Senhora das Graças, onde estudei  dos seis aos dezoito anos. Metros e metros de compêndios para todo gosto.

      Hoje, com a biblioteca virtual, esse cenário foi mitigado até porque as casas são tão minúsculas que não dispõem de uma parede ou de um local para guardar esses alfarrábios. A tendência para um futuro próximo é que todas as publicações existentes sejam disponibilizadas de forma virtual. E também que as novas publicações sejam digitalizadas.

  O meu acervo com livros didáticos, romances e algumas coleções, embora defasadas, estão no meu escritório. Sempre estão querendo me convencer que devo me desfazer dessa parafernália como eles dizem, porque agora tudo é digital.

     No entanto, um amigo, o escritor Fernando Vasconcelos, fez uma observação que achei interessante. Nesse novo normal, as lives estão em alta, as aulas estão sendo ofertadas de forma remota, as entrevistas, programas de televisão e jornais são apresentadas das residências e o cenário, o pano de fundo, tem sido sempre uma estante de livros. Será que ainda tem muitas pessoas lendo os livros tradicionais? E mais uma dúvida. As pessoas estão lendo mesmo tanto assim ou aqueles livros são apenas um cenário?

    A valorização das estantes de livros me chamou atenção e me fez recordar os velhos tempos, além de dar a impressão que tem muito mais pessoas investindo em livros físicos do que se imaginava.

   Na verdade, a biblioteca tem uma história que evoluiu acompanhando as mudanças do mundo.  Do modelo tradicional chegou ao modelo eletrônico. O importante é ler, independente de ser em livro físico ou digital.

“Onde se semeia leitura, as ideias florescem”.
(Autor desconhecido)

 

 

 

 

 

Elegia prosaica com pitadas crocantes de Bandeira

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DIÁRIO

[Elegia prosaica com pitadas crocantes de Bandeira]

Elmar Carvalho

18/07/2020

            Nesta semana, talvez por influência do “clima” da quarentena covidiana, estive apático, sem ânimo, indisposto, com forte tendência a ficar quieto; sem ânimo e sem motivação sequer para ler, quanto mais para escrever.

            Parece que esse estado espiritual me afetou até fisicamente, porque me senti como se estivesse doente, com certo mal-estar em minha saúde. Isso me provocou uma espécie de cansaço, uma moleza no corpo, uma lassidão geral, que me empurrava para a inércia. Como no primeiro verso   de Desalento, belo e melancólico poema de Manuel Bandeira, parecia se abater sobre mim “Uma pesada, rude canseira”. Até me parecia que a sua merencória estrela me sussurrava “que assim fazia / Para dar uma esperança / Mais triste ao fim do meu dia.”

            Não era bem uma tristeza e muito menos a famigerada e terrível depressão, mas, como disse, uma apatia, uma indiferença, uma vontade de nada fazer, de não agir. Talvez fosse a busca de uma espécie de nirvana sem tristeza e sem alegria, do não ser, do nada desejar, e por isso mesmo me quedava no tédio dos saciados. Acaso tudo poderia ser resumido numa simples expressão: falta de vontade.

Uma pequena e fugaz dose de tristeza pode ser benéfica, por vários motivos, que não desejo aqui enumerar, mas apenas dizer que ela nos enriquece espiritualmente, porque serve para que compreendamos a tristeza de nosso próximo e para que valorizemos as nossas conquistas e os nossos momentos de mais genuína alegria.

O sublime poeta Manuel Bandeira, que chegou a se classificar, talvez por simples modéstia ou apenas por blague, como poeta menor, em sua tristeza de tísico e solitário, que conseguiu driblar a morte, naquele tempo em que a tuberculose ainda não tinha tratamento muito eficaz, dizia que “Só a dor enobrece e é grande e é pura”, e nos exortava: “Aprende a amá-la que a amarás um dia.” E ele percebia tristeza até nas “Sempre tristíssimas (…) cantigas de carnaval”, tão cheias de paixão e traição, encontros e desencontros e de amores não correspondidos.

Mas no sábado, dia 18, quando iniciei este registro um tanto elegíaco, comecei a recuperar a minha energia vital. Aliás, o carregador dessa energia é invisível, e não tem plugues, nem tomadas, como os de nossos aparelhos eletrônicos.

Sacudi para longe de mim essa lenta lesma gosmenta, que se me grudava como um velocino venenoso, que me deixava nessa letargia, nessa sonolência doentia, que não era sono, e vigília não era.

Bandeira, no poema “Não sei dançar”, afiançou que “Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria”. Eu, admirador de sua alta poesia, lhe seguindo o exemplo e o conselho, tomei um grande gole de alegria, e mandei o desalento “da mais profunda melancolia” da Orquídea Negra de Zé Ramalho para os quintos do inferno, ou, se o leitor preferir, para o bilinguinguim do inferno de nosso estimado Carlos Said.

E até poderia tocar, como em Pneumotórax, um tango argentino.

Cronologia Poética (2009): A herança

tortura3Do sangue que espirra
Entre medos e punições
Carrega a herança
Imposta e exigida

Marcada por gerações
De supremacia e julgamentos
Nas crenças dizimadas
Em prol dos interesses

Do descobridor, de quem não precisava ser descoberto
Do torturador, de quem jamais merecia ser torturado

Formando assim, a colônia:
Da indiferença
Do malgrado
Da intolerância

Trazendo até hoje, os sentimentos:
De calafrios
De açoites
De desvios

Na busca santa, da salvação:
Da impura alma
Do vil corpo
Da inconsciência

Salvação essa que nunca virá
E dessa forma nos fizeram
Deste jeito que somos: dóceis
Tornando o lamento: ilusão
E nunca uma transformação.

Claucio Ciarlini (2009)

* O ano de 2009 consiste numa continuidade dos trabalhos jornalísticos e como professor, iniciados, respectivamente, em 2007 e 2008. A escrita cada vez mais dirigida aos artigos, crônicas e contos para o Piaguí, a destacar uma série de que tenho bastante orgulho e idealizada ainda no principio do jornal: Parnaíba por quem também faz por Parnaíba! No trabalho como educador (e cada dia mais encantado) eu seguia, vez por outra, a produzir um poema sobre alguma temática, como é o caso de “A herança”, que nasceu dos estudos sobre a imposição católica no Brasil Colônia. Porém esse ano trouxe algo a mais: o lançamento de meu terceiro livro: Inevitável. A obra poética, além de conter escritos produzidos nos últimos 4 anos, ainda trouxe alguns poemas de minhas duas primeiras obras, pois como estas estavam esgotadas e não haviam sido lançadas em Parnaíba, considerei deveras pertinente. O lançamento se deu um ocasião do I Salão do Livro de Parnaíba.

CONVIVÊNCIA

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MARIA DILMA PONTE DE BRITO
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS – APAL- CADEIRA 28
PATRONO – LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1º OCUPANTE – HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA
INÉDITO – O QUINTO

          Tenho um amigo muito jovem, divertido e engraçado mas acho esquisito o jeito de sua postura. Anda curvado, assim corcunda mesmo. Antes que lhe indicasse uma academia ele mesmo me disse que frequentava uma.

        Um dia desses ele me convidou para ir na sua residência. Conversa vai conversa vem, cafezinho com cuscuz e aí ele me leva no seu pomar para me mostrar suas árvores frutíferas. Interessante que entre as plantas percebi dois jabutis. Na verdade pensava que era cágado, mas ele me deu uma aula da diferença entre um e outro. O cágado tem casco achatado e suas patas parecem nadadeiras o que lhe facilita sua movimentação no meio aquático. O jabuti por sua vez tem casco alto e pesado com dedos e unhas em formato cilíndrico. Achei suas patas parecidas com as de um elefante, só que pequenas, proporcional ao tamanho dele. O amigo ainda explicou que o jabuti é exclusivamente terrestre e o cágado transita entre a água doce a terra. Na saída do pomar olhava para o jabuti e para ele que ia na minha frente. Poxa! Como eles se pareciam. A cacunda dele era igualzinha ao do seu bicho de estimação.   

      No dia seguinte o meu happy hour foi na casa de Glorinha, uma amiga de colégio. Pense numa casa alegre! Muitas flores no jardim cada uma de uma cor, perfumadas, lindas, pareciam que estavam sorrindo. Olhei para as flores, olhei para a minha amiga e não vi diferença. Ambas belas, felizes e delicadas.    

    Depois dessas duas visitas fiquei a pensar: Será que o ambiente em que vivemos tem influência sobre nós? Minha reflexão me levou a uma pesquisa e descobri que você é a média de cinco pessoas com quem convive. E eu acrescentei mais, não só as pessoas, o ambiente, as coisas que nos cercam influenciam por demais na nossa forma de ser, de agir e de pensar. Cheguei a essa conclusão. 

    Aprofundado a minha curiosidade descobri ainda que segunda a ciência pessoas que convivem durante muito tempo juntas tende a ser parecidos. Copiamos inconscientemente as expressões faciais e o comportamento. Encontrei como exemplo John Lenon e Yoko e filhos adotivos que acabam ficando parecidos como os pais que os adoram. Faz sentido mesmo.

    Moral da história. Se a coisa funciona assim vamos nos acompanhar de coisas boas, alegres e positivas. Os amigos, os animais, as plantas, o estilo da casa que moramos, tudo tem grande influência na nossa forma de ser. Devemos escolher bem as nossas companhias e refletir nas nossas escolhas.    

“Você fica muito parecido com as pessoas e as coisas que você convive, portanto, busque estar ao lado das melhores, as quais te proporcione um bom estilo de vida e que lhe inspirem a voar cada vez mais alto, como uma águia”.
(autor desconhecido)