Cronologia Poética (2003): Hiroshima e Nagasaki

Uma bela manhã
Que o sol irradia
Irradia também uma luz estranha…

Sentia o cheiro da flor
Que naquele momento desabrochava
Desabrochava também algo mais…
Um instante
Um momento
Milhões de vozes estão deitadas agora
Sob o véu da fumaça
Silêncio…
Não ouço uma voz
Estranho, agora mesmo
Eu ouvia
Medo, agora mesmo
Eu não sentia
Desespero, não sinto mais
A respiração…
Tudo escuro…
Sinto o chão, não consigo falar
Me pergunto o que aconteceu…
Eu não sinto mais nada…

Ao abrir a janela
Vejo o céu, vermelho,
E o chão, cinza,
Vejo corpos espalhados
Por todos os cantos
E o sorriso desmanchado
Onde apenas a poeira predomina
Os olhos  fechados
Quando a dor nem mais é sentida
A expressão do rosto…
Deus tenha piedade!

E vejo o céu agora caindo da janela
E em direção ao chão…
Tenho um segundo para pensar
E acho que nem pensei…

Acho que sonhei
Aquele horror que nunca tinha visto
Aqueles corpos ali, espalhados
O medo em meus olhos!

Mas algo está mudando,
Pois não posso acordar
Algo não está certo,
Não posso abrir meus olhos
Vultos por entre as sombras
Não sei mais o que fazer
Desesperado, quero uma explicação
E numa  fração de segundos
Percebo: Sou mais um!

Claucio Ciarlini (2003)

 

* Em meados de 2003, restando um ano para a conclusão do curso de História, produzi este poema durante a aula sobre o tema. Já tinha esse hábito e o professor Antônio Carlos até estranhava quando eu não produzia, no que me falou certa vez: “Minha aula não lhe inspirou hoje?”. Porém este ano foi marcado por muito mais do que esse escrito. Além de lançar o costumeiro encadernado (e desta vez, foram dois: Por entre os olhos e Pandora), ainda encontrei tempo, e em meio aos estágios e monografia, para realizar (com a ajuda de amigos) um concurso de poesias que era aberto não só para o Centro de Ciências Humanas, mas para todos os cursos da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. No dia da premiação, tive também a ideia de realizar um sarau de surpresa no momento da entrega dos prêmios para os 10 primeiros lugares. A partir daí começava a nascer o desejo de um dia poder revelar de forma mais ampla os jovens talentos da escrita.