Ivermectina e a covid-19

300px-mad_scientist

DIÁRIO

[Ivermectina e a covid-19]

Elmar Carvalho

09/07/2020

Minha mulher soube que uns seus parentes teriam tomado um medicamento como uma prevenção para minorar os efeitos de uma eventual contaminação pelo novo coronavírus. O remédio não era cloroquina e nem hidroxicloroquina.

Estes dois eu não tomaria, porque as informações mais consistentes dizem que eles não têm nenhum efeito no combate à covid-19 e teriam efeitos colaterais graves, inclusive podendo causar arritmia cardíaca. Considerando a equação custos versus benefícios, não os tomaria, porque os custos seriam altos e o benefício igual a zero.

O medicamento que os parentes da Fátima tomaram se chama ivermectina, na versão genérica e na modalidade comprimido. Conversei com um médico, meu parente e amigo, que aprovou o seu uso, inclusive levando em conta que ele não tem efeito colateral.

Soube que esse medicamento foi usado em larga escala em alguns países africanos, contra algumas doenças como verminose e elefantíase; e que, por causa disso, a covid-19 não se alastrou nesses países, como muitos entendidos temiam. Não posso garantir ao leitor que não possa haver eventual “fake news”.

Outro dia, ao transcrever uma informação, devidamente entre aspas (“ ”), um leitor anônimo, em comentário na publicação virtual, postou uns irônicos ou mesmo sarcásticos kkkkk. Para que isso não ocorra novamente, repito, confiram o que eu disse acima, para que tenham certeza de que eu não esteja involuntariamente divulgando uma informação inverídica. Em todo caso só o tomem após consulta médica.

Consta na bula que ivermectina “é indicada para o tratamento de várias condições causadas por vermes ou parasitas”. Acrescenta que estudos demonstram que a ivermectina funciona no tratamento das seguintes infecções (cujos parasitas foram nomeados na bula): estrongiloidíase, oncocercose, filariose (elefantíase), ascaridíase (lombriga), escabiose (sarna) e pediculose (piolho).

Os antigos, quando nos perguntavam se estávamos “bons e gordos”, em seus cumprimentos, é porque assim desejavam estivéssemos. Contudo, nos dias atuais, em que o padrão de beleza é uma magreza quase anoréxica, isso seria uma blasfêmia e heresia. Portanto, já não faz sentido o ditado que diz que “o que não mata, engorda”. Não sei se o nosso remédio engorda, mas sei que não mata, já que não tem efeitos colaterais. Engordar ou não engordar, não é esta a questão.

A questão é: tomar ou não tomar a ivermectina? Tomei-a. Tomei-a  pelos seguintes motivos, considerando os custos/benefícios: o custo é zero, já que não há que se falar em efeitos colaterais, porquanto inexistentes. Os benefícios para mim são inúmeros, uma vez que não tomo medicamento contra vermes e parasitas há muito tempo.

E, considerando-se verdadeiras as evidências observadas e constatadas, é um tratamento eficaz na prevenção contra o novo coronavírus ou a famigerada covid-19, que nos tornou reclusos, mesmo em plena liberdade.

Que a pandemia sirva ao menos para isto: tornar os humanos efetivamente humanos e melhores, e que passemos a seguir a regra de ouro pregada por Jesus Cristo: “Todas as coisas, portanto, que quereis que os homens vos façam, vós também tendes de fazer do mesmo modo a eles.” — Mateus 7:12.

UM TREM PARA VER MORENINHA

Por Pádua Marques (*)
 
 

Naquela hora da manhã o largo da estação da Estrada de Ferro Central do Piauí, no Macacal, já não cabia uma cabeça de prego que fosse, tanta era a quantidade de gente pronta a embarcar nos vagões pra ir até o Campo de Aviação do Catanduvas, lá em cima, ver de perto o avião que o Aero Clube de Parnaíba havia ganhado e que iria fazer seu primeiro voo. Era gente que não acabava mais, feito Domingos Clarindo, vendedor de pirulitos de açúcar queimado.
Domingos Clarindo aproveitou também pra trazer naquele passeio os cinco meninos menores, Domingos Filho, Raimundo, Genésia, Pedro e Socorro, tirando eles de dentro daquela casa pequena nos Campos e pra mostrar o movimento dos aviões. A toda hora corria um boato entre aquela multidão sobre a hora da partida do trem e enquanto isso, era chegando mais gente, chegando mais gente. Gente vinda de Ilha Grande, Buriti dos Lopes, Piracuruca, Bom Princípio, Cocal, Amarração, tudo enfim e quanto era canto.
Vendedores de laranjas, café, bolo de tora e de goma, bananas, refrescos, roletes de cana, bolos de milho, toda sorte de coisa pra comer e beber naquele dia de sol quente e limpo na Parnaíba de 1942, três anos depois de ter rebentado uma guerra na Europa e que começava a causar dor de cabeça nos homens da Casa Inglesa, Marc Jacob e do Moraes, essa gente que havia formado fortuna com a cera de carnaúba. Já não havia muito movimento no porto Salgado e o porto de Tutoia causava era pena.
Mães e pais com seus filhos vestidos com as roupas de domingo, aquelas roupas de ir à missa, estavam esperando o trem dar sinal de que iria sair. Alberto de Moraes Correia estava rindo à toa com o feito. Tudo aquilo era o resultado de uma campanha imensa da Rádio Educadora, de Edison Cunha, Elias Magalhães, Benedito Jonas Correia e Fonseca Mendes. Haviam conseguido com a Companha Nacional de Aviação Civil, três aviões, o Moreninha, Alfredo Gomes e Rangel Pestana..
Alberto de Moraes Correia, um dos diretores do Aero Clube de Parnaíba, estava cheio de rapapés pra Souto Maior, um dos maiores pilotos brasileiros da época e que trazia o Moreninha, o primeiro dos três aviões. Mas era muita gente indo e vindo procurando uma brecha nos vagões, rezando. Vicente e a mulher, dona Ana, vieram da arenosa Guarita prontos pra embarcar rumo do Campo de Aviação do Catanduvas.
Deixaram os meninos menores com a avó dona Inácia, mas levaram o maior, Vicentinho, de uns oito anos e que já não dava trabalho em meio de gente. Vicente, assim como tantos outros homens de sua idade, que pouco sabia assinar o nome, ia tomar pé de algum serviço. Via longe aquele negócio de avião e estrada de ferro. Vai que mais lá pra frente precisasse de gente pra trabalhar limpando avião, varrer e juntar o cisco nas oficinas, essas coisas? O filho até ali não tinha feito vergonha ao casal. Olhava tudo e a todos admirado, mas encabulado.
Na hora do embarque no vagão, Vicente, a mulher, o menino e os outros foram empurrados pra dentro feito gado indo pra o matadouro naquele atropelo de dar medo. O menino quis, mas engoliu o choro com medo de levar um puxão de orelhas da mãe. Aguentou firme os coques que levou na cabeça, de uns moleques de ponta de rua, dois vendedores de tapioca, mas ficou ali com os olhos fitos em tudo. Empurrões, gritos, insultos, nome feio, mas em pouco tempo e todo mundo acomodado, o apito da máquina dava sinal de que eles estavam indo no rumo do Campo de Aviação do Catanduvas. 
 
Depois veio a mata rala do Macacal e aquela gente olhando pra esquerda e depois pra direita, boca aberta com as carnaubeiras dentro dos alagados, algum passarinho voando assustado e deixando o ninho nalgum galho de pé de sabiá por causa do barulho e da fumaça do trem. De repente vem de cima sentido de que mais gente já estava lá ou que caminhando preferiu ir a pé. Um casal aqui, dois ou três colegas mais na frente, seis rapazes ou mais caminhando rente aos trilhos, cantando e contando lorota pra matar o tempo.
E aquele terror de sol não tirou aquela gente de dentro de pouco tempo estar descendo com a mesma violência com que havia subido em Parnaíba, agora na frente do campo, aquele lugar distante, sem um pé de pau pra se ficar embaixo e apenas as grandes oficinas onde estava o Moreninha, o prefeito Mirócles Veras, o pessoal do Aero Clube, soldados e a banda de música. Dali mais um pouco Souto Maior faria a exibição com o Moreninha e o povo iria bater palmas, dar gritos, chorar. Coisa de fazer até menino se mijar de medo.
Souto Maior estava ali pra impressionar o povo junto com aqueles maiorais da Parnaíba e não causou vergonha. Com o macacão de piloto e depois de levar o Moreninha pra pista e tendo todo o tempo Alberto de Moraes Correia e outros rapazes ricos do lado. Veio de lá um sujeito e deu um movimento numa das hélices e quase que no mesmo momento, questão de segundos, ela se pôs a girar fazendo muito barulho. O Moreninha corre um pouco na pista de piçarra se sustentou no ar e ganhou altura, pouco mais de trezentos metros. Depois daquilo tudo, daquele dia de admiração com tudo que havia visto, agora era voltar pra casa e contar pra quem não viu.
(*)Pádua Marques escritor contista e jornalista. Membro da Academia Parnaibana de Letras.
 

Cronologia Poética (1998): A fortaleza

Imagem

Uma fortaleza de espinhos
Se faz em mim
(Sinto-me assim)
Proteção em termos de razão,
Não sei o porquê…
Nas dores da ilusão
Começo a me revestir
De uma forma estranha
(Difícil pensar)
Como uma teia
Cobrindo corpo e coração
A tristeza escondida por não decidir
O que será melhor pra mim,
Me faz chorar…
A alegria
(Euforia passageira)
Me deixa confuso
Perdido nas ideias erradas do destino
Você, que me carrega,
Às vezes me arrastando
Às vezes me consolando
Me entregue de volta à lucidez,
Se é que algum dia já tive…

 

A ambiguidade se faz nessa fortaleza, que me cobre, mas que não me protege,
Bela fortaleza, bela (Proteção e entrega): Indecisão!

Claucio Ciarlini (1998)

  • No ano de 1998, meu terceiro de escrita, estava residindo em Fortaleza, Ceará, cursando o terceiro ano do Ensino Médio. Embora ainda não me considerasse um escritor de fato (o que passaria a ocorrer apenas no ano seguinte), a minha escrita já fluía com mais intensidade, ainda mais por ter sido este, um período que considero como uma espécie de exílio, tanto pelo fato de estar em outra cidade e longe dos amigos, como por ter vindo de um ano anterior extremamente complicado em termos pessoais. 1998 ainda seria marcado, em termos literários, pelo primeiro e único concurso de poesias que participei. Foi um concurso de poesia, desenho e redação da escola, envolvendo todos os anexos. Os três primeiros lugares apareceriam num livro. Não obtive êxito. O que me fez desanimar por uns dias, mas logo me serviu de incentivo a continuar a escrever, mas sem mais depender de qualquer edital.