Cronologia Poética (2020): Olhos

Quando abro os meus olhos74469341_3103083193040413_1568915161970900992_n
Teu rosto dormindo, em paz
É que me traz, forte alegria
Que faz com que o meu dia,
Seja ele qual for, tenha alguma graça

Quando vejo os teus olhos
Teu cabelo cobrindo, me traz
Para bem perto do teu cheiro
Daí já me entrego, por inteiro
E não há nada mais que me satisfaça

A tua boca me leva a querer te abraçar
Teu beijo me deixa a querer te provocar
A tua língua… Essa faz eu me entregar
Por longas horas e dias, meses e anos…
Que eu sei, passarão num piscar de olhos
Tamanho é o prazer que me proporcionas.

Claucio Ciarlini (2020)

 

  • O ano de 2020 * começou com a minha posse na Academia Parnaibana de Letras e a promessa de um ano bem produtivo em termos de escola, faculdade, projetos de cinema e de livros, jornal e site. Porém o coronavírus, pandemia surgida na China ainda no ano anterior, alcançou a Europa, a África e as Américas, provocando o isolamento social, o que levou a paralisação, dentre inúmeras coisas, do jornal O Piaguí, que há mais de 12 anos vinha sendo lançado de forma mensal e ininterrupta. O trabalho como professor sofreu adaptação para aulas online e os projetos foram paralisados, com exceção da organização do livro Poemas entre Gerações, que seguiu, assim como as demais coletâneas, via grupo WhatsApp. E para suprir um pouco a falta do impresso, tive a ideia de lançar a revista digital O Piaguí: Edição em Quarentena, que contou com a participação de 40 escritores. No campo da família, eu e minha esposa completamos 20 anos que nos conhecemos, ao mesmo tempo que abrimos a contagem regressiva para: duas décadas de união e os 15 anos de nossas: Carol e Ingrid.
  • (*)Nota: Escrevi esse resumo na data de 31 de julho, portanto ainda restando cinco meses para o fim de um ano que se mostrou bem imprevisível e assustador. Porém, fazendo uma projeção até o termino deste, e caso a vacina não chegue a todos até novembro, é que lançaremos Poemas entre Gerações de forma virtual e que tenhamos ainda duas edições da revista em quarentena, nos meses de setembro e dezembro.

A PORTA

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 Escritor Moacyr Scliar – Academia Brasileira de Letras

MARIA DILMA PONTE DE BRITO
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS – CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA
DO LIVRO “O QUINTO” INÉDITO

          Porta aberta. Joguei a chave fora. Quero o sol adentrado para clarear inclusive as mentes. A brisa não precisa pedir licença para refrescar o ambiente. E entra os amigos, a paz, alegria, os inimigos, a tristeza e as oportunidades também. 

        Fechei a porta. Dei uma volta, duas, e guardei a chave. Bate na porta quem quiser entrar. Entra quem eu concordar. Alguns preferem não incomodar, oportunidades e outras chances podem se desperdiçar.

        E se a porta ficar entreaberta? Entrarão pelas brechas, raios de sol, respingos da chuva, rajada de vento. Nada por inteiro, meio sol, meia chuva e meio vento.

        Fiquei a meditar. E a porta do coração? Disseram-me que ela não tem chave por fora. Só abre por dentro. Segue a explicação: Cada pessoa só deixa amolecer seu coração se tiver vontade no seu interior. 

        Porta aberta, porta fechada ou entreaberta. Porta de madeira, de alumínio ou de vidro. Portas seguras ou frágeis. Porta com chave ou sem chave. Porta larga ou estreita.

        Somente uma porta tem chave e está sempre aberta. E tem Ele, o porteiro, São Pedro na entrada para nos recepcionar. Chegar lá tem dia, tem hora, o caminho é estreito e as pessoas são filtradas pela sua história, pelos seus atos. Quanto mais você constrói, quanto mais você ama, quanto mais você perdoa, aumenta  a probabilidade de transpor esse espaço. Tem o passaporte assegurado para essa passagem quem respeita as diferenças, evita julgamento, cultiva uma vida espiritual.

        “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita” (Lc 13.24)

         “Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela” (Mt 7.13-14)

Cronologia Poética (2019): Eu vivo numa ditadura

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Eu vivo numa ditadura!
Mas não é a mira de um fuzil,
Que procura me silenciar…
É a intolerância de uns mil,
Constantemente a me perturbar!

Eu vivo numa ditadura!
Não daquelas oficiais,
De prisões, censura e atos institucionais…
Mas de golpes contra a nossa já frágil democracia
Disfarçados de boas intenções, numa eterna hipocrisia!

Eu vivo numa ditadura!
Mas não daquelas que torturam com crueldade
Que despacham para o exílio, todo aquele que questionar…
É daquelas que fingem ser a favor da liberdade,
Enquanto acabam lentamente com o direito de protestar!

Eu vivo numa ditadura!
E a prova cabal é este simplório poema,
Que em outros tempos, não causaria qualquer problema…
Mas que certamente será motivo de contestação
Quando não muito, de olhos insensíveis que o ignorarão.

Claucio Ciarlini (2019)

* 2019 desperta da mesma maneira que 2018 fechou os olhos: um país radicalmente dividido e a liberdade de expressão intensamente atacada, embora diferentemente da época ditatorial militar, a patrulha e ataques emergindo de conhecidos e amigos em redes sociais.  Porém foi um ano em que minha carreira literária, assim como o meu trabalho no âmbito cultural  foram amplamente reconhecidos. Tive a honra de receber a Medalha e o Diploma de Mérito Municipal; também ganhei bela homenagem do valioso grupo piauiense Geleia Total; fui convidado para palestrar no 7° Salão do Livro de Parnaíba sobre a nova safra de escritores da cidades; o Sesc Caixeiral também me fez o convite para palestrar sobre a obra dos escritores Millôr Fernandes e Paulo Leminsky; e em dezembro tive a emoção de ser eleito para a Academia Parnaibana de Letras, na cadeira número 23. O vigésimo quarto ano poético também contou com o lançamento de meu quarto livro “Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba”, lançado no evento Corredor Literário; assim como o nascimento de “Contos entre Gerações”, coletânea de minha idealização e que contou com a participação de 30 contistas.

DO AVESSO

 

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Zuenir Ventura – Academia Brasileira de Letras

MARIA DILMA PONTE DE BRITO
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS – CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1 º OCUPANTE HUMBERTO TELES DE MACHADO DE SOUSA
LIVRO “O QUINTO” INÉDITO         

       O vestido era lindo exibido no cabide a espera de sua dona.  Todo o cuidado era pouco para não amarrotar. Estava bem passado e cheiroso. A cor era bela, os cortes eram perfeitos. Os adornos combinando com o conjunto. Quem vestiria esse modelito? Quem? Alguém tão bela como a veste. Elegante, cabelos escovados, pele de seda, sorriso perfeito. Um combinava com o outro.

          O avesso. O problema era o reverso. O vestido por dentro estava cheio de fiapos, não tinha arremate, tecido sobrando para todo lado, ninguém fez os devidos recortes das sobras, as costuras não estavam alinhadas, pontos soltos. Um horror!

          A dona do vestido por dentro também não era bela. Faltava amor, alegria, paz, afeto, empatia e caráter. Ambos combinavam, o vestido e a dona, eram somente aparências. E quantas vezes as aparências nos enganam.

          É preciso valorizar a essência. O que os olhos veem é apenas uma capa. Por detrás dela muitas coisas precisam ser vistas, Não basta olhar é preciso ver com profundidade.

          Comumente julgamos as pessoas pelas roupas que vestem, pelos lugares que frequentam, suas companhias, profissão que abraça. Se tem tatuagem ou se tem algum vício. Esquecendo que cada pessoa é única, com sua personalidade, com seu jeito de ser. Para compreender bem o outro é necessário romper a barreira da aparência e ir além do que se vê por fora.

          Quem é belo de fato, é por dentro. Na verdade quem é bonito por dentro nem é preciso ser por fora porque o seu brilho interior transcende do íntimo, do eu, dando uma aura reluzente, resplandecendo. E o todo fica belo.

          É preciso desvendar o véu, descobrir o que está por trás. Nem tudo que parece é. Descobrir o que não está à mostra, o que está no anverso não é tão simples assim.

          No mundo em que se valoriza tanto a aparência compra-se gato por lebre. Adquire-se um produto pensando que é uma coisa que não é, ou seja somos ludibriado a todo instante.

          O vestido pode ser belo no cabide a dona dele pode ter feito todas as plásticas possíveis para melhorar a apresentação mas o que está por dentro é o que de fato importa. A propósito, li não sei onde, dito por não sei quem, uma frase que cabe aqui, encerrando o meu pensamento.

          “Quem vive de aparências sempre vai depender da visão dos outros, sem ter a capacidade de construir a própria essência”.     

       

 

ROCHA FURTADO E OS PADRES UCHOA E CIRILO

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ROCHA FURTADO E OS PADRES UCHOA E CIRILO

Elmar Carvalho

Lendo a excelente entrevista do ex-governador Rocha Furtado, concedida ao historiador Manuel Domingos Neto, contida no seu livro “O que os netos dos vaqueiros me contaram – o domínio oligárquico no Vale do Parnaíba”, admirei-me da severidade com que o entrevistado se referiu ao monsenhor Lindolfo Uchoa (Pedro II, 1884 – Teresina, 1966), que sempre foi considerado um dos grandes beneméritos da Educação no Piauí.

Foi vigário de Barras nos períodos de 1925 a 1941 e 1942 a 1957. Nessa cidade, em 1954, com a ajuda de irmãs da Ordem Mercedária do Brasil, fundou a Escola São Pedro Nolasco e o Patronato Monsenhor Bozon, assim como em Floriano fundou e dirigiu o Colégio “24 de Fevereiro”.

Vejamos o que sobre ele diz o historiador Wilson Carvalho Gonçalves: “Nele sobressaía também o educador, e nesta qualidade criou e dirigiu, por dez anos, o Colégio “24 de Fevereiro” – famoso em Floriano, e que preparou para a vida a juventude do tempo, dando-lhe estrutura moral, religiosa e intelectual. Gratíssima à notável obra, a Princesa do Sul nunca pode esquecer o gesto de benemerência de Monsenhor Uchoa – e lhe reverencia a memória com o nome aureolado em rua, em estádio, em grêmio escolar, em biblioteca, em estabelecimento de ensino, zelando a majestade de um patrimônio inesgotável de exemplos dignificantes”.

Cotejemos agora o que diz Rocha Furtado, referindo-se ao monsenhor e a seu educandário de Floriano:

“Aquele colégio era mais um campo de concentração do que um colégio. Nunca passei tanta fome e nunca pensei que um jovem adolescente pudesse ter tanta resistência para passar um ano comendo tão miseravelmente. Forçados pela fome, arrancávamos raízes de umbu e comíamos. O padre Lindolfo Uchoa, muito injustamente, é considerado um grande educador no Piauí. Ele não tinha a mínima noção do que fosse educador! (…) Várias vezes deixei de comer porque vinha bicho no prato e quem ia ser garçom tinha o direito de comer da comida do padre. Ele tinha uma mesa separada e comia as melhores iguarias. Os que iam servir-lhe tinham esse direito”.

Na entrevista, Rocha Furtado conta que todo mês eram abertas inscrições para quem quisesse disputar o cobiçado lugar de garçom da mesa do padre Uchoa, mas que ele e seu irmão Antônio sempre se recusaram a participar dessa disputa, que consideravam coisa de escravo. No depoimento, afirma que no ano em que foi interno desse colégio, em Floriano, só comeu bem no dia 7 de setembro de 1922, quando foi convidado a almoçar na casa do doutor Fernando Marques, uma vez que, “durante o resto do ano, passamos fome, vendo nos servir paneladas podres e as coisas mais abjetas”.

Entretanto, perguntado sobre se aproveitara alguma coisa no colégio do padre Uchoa, respondeu que os professores eram bons; que não tinha a menor ressalva quanto a isso; que ele e seus colegas aprenderam bastante e que foi um tempo muito útil para todos.

Faz elogios rasgados ao padre Cirilo Chaves, em cujo colégio estudou no ano seguinte (1923), dizendo que este era o tipo do educador, “um homem profundamente humano, democrata, agradável, honesto e sóbrio”. De quebra, ainda acrescentou que a comida do padre Cirilo, então suspenso da ordem, era bem superior à fornecida por Uchoa, e que Cirilo comia da mesma comida que era dada aos discípulos, “numa atitude democrática, de educador”.

Consultei o professor Roberto Freitas, nascido em 1929, e que estudou em Floriano, a respeito da comida do internato de monsenhor Uchoa, mas ele disse nada ter ouvido falar sobre o assunto, nem de bem nem de mal; aduziu apenas que o vigário foi uma figura ilustre da história da cidade, e que o colégio era respeitado e reconhecido como de boa qualidade, embora de disciplina rigorosa, como era comum na época.

Encerro acrescentando que a História do Piauí tem sido severa com Rocha Furtado, que foi tão implacável com o velho educador. Seu governo é sempre considerado como de poucas realizações, e como um período conturbado e intranquilo, com funcionários públicos aterrorizados com o fantasma de demissões e remoções.

Alega-se, em sua defesa, que ele não tinha maioria na Assembleia Legislativa, e que a oposição lhe criava dificuldades, mormente não aprovando seus projetos. Deixo a palavra final aos doutos e historiadores do Piauí.

8 de maio de 2010

Cronologia Poética (2018): Desumanos Tempos

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Quando não mais restar amor nenhum
E o mundo de ódio for estabelecido,
Os anos de escuridão nos farão relembrar
Do tempo em que os valores humanos
Ainda possuíam certa relevância.

Quando não mais restar amor nenhum
E o cristianismo radical for a lei,
Os castigos aos diferentes farão lamentar
Toda uma massa que hoje jaz moribunda
Por promessas nascidas da ignorância

Quando não mais restar amor nenhum
E o vil metal for definitivamente adorado
O brilho intenso e cruel, nos fará enxergar
Os milhares de escravos acorrentados
Presos pelo vicio, destinados à subserviência

Quando não mais restar amor nenhum
E a escolha das formas de se apaixonar for restrita
As perseguições aos hereges farão sangrar
Até mesmo aquele que hoje com os olhos condena
Pois também verá dos seus, a queimar por desobediência

Quando não mais restar amor nenhum
E o ensino novamente nos tornar zumbis,
O angustiante som da palmatória fará clamar
Por dias em que o dialogo seja de novo uma opção
Prevalecendo o lúdico e o afeto, ao invés da violência

Quando não mais restar amor nenhum
Que Deus então nos perdoe,
Pelo esquecimento de tudo que um dia ele pregou.

Claucio Ciarlini (2018)

* Posso dizer que 2018 não foi um ano fácil em termos de saúde. Tanto porque ainda o iniciei buscando equilibrar a Diabetes recém adquirida (através de glicemia dando mais de quase 600 mg/dL quando o normal é de 70 e 99 mg/dL), como pela consequência do tratamento que fez com que outros problemas se agravassem, levando à necessidade de cirurgia e alguns meses preso a uma cama, à base de remédios contra a dor. Todavia, apesar de ter me afastado de diversos trabalhos, o que eu pude produzir em meio à lenta recuperação e com a ajuda de Fábio Bezerra e outros amigos escritores, eu fiz. O Piaguí, por exemplo, não sofreu atraso. A segunda edição de Versania, que com o auxilio precioso dos poetas da obra na parte de revisão, também foi lançada. Além destas realizações em meio à turbulência, recebi uma homenagem do Sesc através de evento da Plataforma Escrever sem Fronteiras e com mediação do amigo e escritor Carvalho Filho, onde foi analisada a minha carreira literária. No cenário nacional/ virtual, pude perceber a vitória de um discurso movido a ódio e de uma valorização exacerbada da Economia em detrimento do ser humano, o que fez com que surgisse o poema Desumanos Tempos.

MISSIVA

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Foto com o acadêmico Ignácio de Loyola Brandão
Academia Brasileira de Letras

MARIA DILMA PONTE DE BRITO
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS APAL – CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1 º  OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA

Parnaíba, 28 de julho de 2020

D.Christina,

                  Espero que você esteja bem ao lado do Professor Alexandre e de toda sua família. Graças a Deus os meus estamos gozando saúde e muita paz. Continuamos confinados por causa do COVID-19, mas ainda bem que contamos com a tecnologia nos permitindo a aproximação por meio de e-mail, celular e whatsApp.

                  Postei no grupo das bancárias aquele texto que falei intitulado “Carta que não foi”. Fez tanto sucesso que elas resolveram escrever umas para as outras. Foi muito interessante. Por isso mesmo me veio a ideia de enviar essa missiva até para recordarmos alguns momentos importantes que passamos juntas.

                Recordo o tempo que você foi minha professora no Colégio Nossa Senhora das Graças, sempre pontual, responsável e de uma elegância ímpar. Depois que me dediquei à profissão de mestra tentei imitá-la em todos os itens.

               Fiquei a imaginar que seguimos em estradas paralelas, lado a lado, porque depois do nosso convívio na sala de aula você foi minha Vice-Reitora na Universidade Estadual – UESPI, sempre me deixando ensinamentos. Uma Administradora que ouvia seus subordinados e delegava muito bem a responsabilidade.

          Continuamos a nossa trajetória na Academia Parnaibana de Letras- APAL, dividindo o mesmo espaço desse sodalício que hoje está completando 37 anos de fundação. Fui recebida com um belíssimo discurso de recepção proferida pela acadêmica Maria Christina de Moraes Souza Oliveira por ocasião de minha posse.

          Indiquei seu nome para fazer parte do Clube das Ladies. Clube de entretenimento das senhoras da sociedade parnaibana que funciona todas as quartas- feiras. Seu nome foi aceito e dessa vez fui eu que a recepcionei no seu primeiro dia de frequência.

          Nossos laços de amizade se estreitam cada dia mais, dada a nossa aproximação física constante. E passei a observar que a idade entre nós não parece mais tão distante. Somos amigas como se tivesses nascido numa mesma época. Apesar do respeito e admiração que sinto por você trocamos ideias e as vezes até divergimos em alguns pontos, discutimos, mas nada que macule o afeto que construímos.

          E por falar em afeto para meu contentamento você passou a me considerar filha do coração. E como fico feliz quando recebo os cartãozinho por ocasião de meu aniversário, de natal, dizendo no final: “para minha filha do coração”. Como uma boa mãe você sempre me levou para o bom caminho, ou seja, para a Casa de Deus me convidando para missas e confissões.

          Antes de concluir esse momento tão agradável, merece ainda recordar um viagem que fizemos a Teresina e no retorno, no dia 25 de maio de 2009, ficamos impossibilitadas de chegar a Parnaíba por causa do rompimento da Barragem de Algodões. Chegando na cidade de Buriti dos Lopes não tivemos como prosseguir. Vivemos um momento de “terror”, podemos dizer assim. Sem energia, no meio de multidão desesperada, celular sem sinal, mas tudo acabou com um final feliz.

          Acho que essa cartinha já se alongou por demais. Bem que teria ainda muito o que dizer de nossa linda amizade. Não faltarão oportunidades, tenho certeza. Vou ficando por aqui deixando para minha mãe do coração um grande abraço.

                                                            Maria Dilma Ponte de Brito

ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS – 37 ANOS

 

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Por Antonio Gallas cadeira nº 35 

Neste 28 de julho a Academia Parnaibana de Letras completa 37 anos de sua fundação.

Seria uma data a ser celebrada com encontro religioso, lançamento de livros, coquetel,  e tudo mais no se refere às celebrações de aniversário. Entretanto, por conta do momento atual, essas atividades não poderão ser feitas com a presença de convidados especiais como em anos anteriores, todavia o encontro religioso poderá ser feito por cada um de nós, membros do sodalício, numa corrente de orações pedindo ao Pai Criador que  nos proteja  contra esse famigerado coronavírus e que essa pandemia acabe o mais breve possível para que a atividade humana  volte a fluir de forma normal, ou mesmo como já está sendo almejada, dentro de um novo normal.  Quanto ao coquetel,poderemos, em nossas residencias, abrir uma garrafa de refrigerante ou de cerveja, talvez um taça de vinho e degustar com uma fatia de bolo, cuscus,tapioca  (que no Maranhão se chama beiju),  ou até mesmo salgadinho adquirido pelo delivery.

Conheçamos então um pouco da história dessa que é uma das mais importantes instituições culturais do Piauí, localizada em Parnaíba –  a ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS denominada de Casa de João Cândido.

   ORIGEM

Por iniciativa do parnaibano José Pinheiro de Carvalho, o “Moço do Piauí”, que reuniu intelectuais da cidade, em sua residência na BR 343 – Baixa da Carnaúba (onde anos depois funcionou a Academia de Polícia) foi fundada em 28 de julho de 2016 a Academia Parnaibana de Letras – APAL.

Dentre os intelectuais fundadores presentes  à essa reunião, encontravam-se  o professor e advogado Alcenor Candeira Filho, os juízes  João Nonon de Moura  Fontes Ibiapina (escritor romancista),  José de Anchieta Mendes de Oliveira ( professor universitário, jornalista, cronista, poeta e musico) , o jornalista Raimundo Fonseca Mendes (cronista e poeta) e a professora Maria da Penha Fonte e Silva (historiadora e cronista).

OBJETIVOS 

 A instituição tem entre seus objetivos o estudo e a cultura da língua portuguesa, o desenvolvimento literário, científico, filosófico e artístico de Parnaíba, a formação de acervos bibliográficos, além da preservação de peças históricas como o Memorial Humberto de Campos, aberto à visitação pública, a Biblioteca Renato Castelo Branco disponível para consulta pública a estudantes e pesquisadores, bem como apoios necessários à Biblioteca Municipal de Parnaíba. Tem ainda a responsabilidade de publicar anualmente a Revista da Academia com artigos,poesias, discursos de posse dos acadêmicos, informações sobre seus membros e patronos, além de notícias e informações da cidade.

A partir de 1994  ficou responsável por manter a tradição de editar anuamente o Almanaque da Parnaíba, um anuário criado  em 1923 por Benedicto dos Santos Lima, patrono da Cadeira nº 03 ocupada por José de Anchieta Mendes de Oliveira. O Almanaque da Parnaíba é editado como  revista da instituição.

LEMA

  “Ad immortalitatem , expressão latina que significa Rumo à Imortalidade,  é o lema da APAL com base no lema da  Academia Francesa que deu origem às demais academias de diversas partes do mundo. O cargo de “imortal” é vitalício, o que é expresso pela expressão acima citada e a sucessão dá-se apenas pela morte do ocupante da cadeira.

BRASÃO

BRAZÃO

Idealizado pelo então presidente Lauro Andrade Correia, o brasão da Academia é um hexágono tendo ao centro um desenho do Monumento da Independência com inscrições nas laterais centro Independência – História – Cultura e a data 19 de outubro 1822 (refere-se à data adesão do estado do Piauí à independência do Brasil). Na parte externa a inscrição ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS – 29 de julho 1983 (referindo-se à data da fundação da Academia.

 O Monumento da Independência está localixado na Praça da Graça em frente a lateral do prédio da Cãmara municipal – edifício Elias Ximenes do Prado qual já foi sede do Poder Público Municipal.

INSTALAÇÃO E DIRETORIA

Apesar de haver sido fundada em 28 de julho de l983, a instalação da Academia com novos membros, e a posse da sua primeira diretoria deu-se apenas no dia 19 de Outubro como parte das comemorações do Dia do Piauí.

O primeiro presidente foi o escritor João Nonon de Moura Fontes Ibiapina e o secretário geral, o seu idealizador José Pinheiro de Carvalho.

A APAL não tem vice-presidente e cabe ao secretário geral substituir o presidente na ausência deste.

ATUAL DIRETORIA

A atual diretoria da Academia Parnaibana de Letras para o biênio 2019/2021 está assim constituída:

Presidente: José Luiz de Carvalho

Secrtetário Geral: Antonio Gallas Pimentel

Primeira Secretária: Maria Christina de Moraes Souza Oliveira

Segunda Secretária: Maria do Rosário Pessoa Nascimento

Tesoureiro: José Wilton de Magalhães Porto

Segunda Tesoureira: Lígia Gonçalves de Carvalho Ferraz

Diritor de Biblioteca: Antonio de Pádua Marques Silva

MEMBROS

O sodalício possui 40 cadeiras,  cada cadeira com seu respectivo patrono e membro ocupante chamado de acadêmico. No momento todas estão preenchidas, entretanto, por motivo da pandemia e por qualquer outro motivo 03 ainda faltam tomar posse, o que poderá ser, de forma virtual como foi a última eleição realizada em 11/06/2020, ficando a posse física solene, coquetel e tudo mais, para quando, já disse antes, voltarmos ao novo normal.

NOTA DO REDATOR

A Academia Parnaibana de Letras – Casa de João Cândido, localizada à Rua Alcenor Candeira nº 680 – Centro, no momento, por conta da pandemia, encontra-se com  suas atividades físicas (visitação ao Memorial Humberto de Campos, pesquisas na Biblioteca Renato Castelo Branco)paralisadas, porém tão logo a situação se normalize serão disponiobilizadas novamente à visitação publica.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cronologia Poética (2017): Cego, surdo e mudo!

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É preciso ter sensibilidade na hora de educar
Mais até do que vontade (que já é importante)

Um professor que não tenha sensibilidade
É um professor cego, que não costuma enxergar
Nada mais do que aquilo que alimente o próprio ego

Este tipo de professor também não escuta
Privilegiando apenas o verbo que saia
Da sua língua (por vezes bifurcada)

E mesmo tendo essa enorme língua, mudo será
Pois atenção, a grande maioria não prestará
Entrando por um ouvido e saindo pelo outro

Esse “professor” dificilmente irá educar
Pois não tem amor pelo que faz e para quem
Não fazendo a diferença para quase ninguém

Estará bem longe de ser um mestre eficiente
Na verdade, bem verdade, ele é o deficiente.

Claucio Ciarlini (2017)

  • 2017 foi marcado: pelos 10 anos do jornal O Piaguí (que ganhou prêmio especial na Semana da Imprensa de Parnaíba daquele ano); pela criação do site O Piaguí Virtual (que mais tarde se converteria em O Piaguí Online); pelo nascimento da coletânea poética Versania, idealizada e organizada por mim (revelando 22 poetas da nova geração e que representou muito dentro do meu crescimento como escritor); por intenso trabalho no Projeto Cinema e História (tanto na produção do filme, como em visitas à turmas de escolas e faculdades para apresentar o projeto); e pela labuta de sempre como professor e orientador de monografias (sem oportunidade de descanso). Enfim, foi um ano de intensa produção e de grandes e maravilhosas realizações, mas que acabou me custando um pouco da saúde, no que cheguei ao fim deste recebendo o diagnóstico de Diabetes, o que resultaria em outros problemas no ano seguinte.

COISAS DE CRIANÇA

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Foto com o escritor Assis Brasil – APAL

MARIA DILMA PONTE DE BRITO
ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS APAL – CADEIRA 28
PATRONO: LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1 º OCUPANTE: HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA

          Estou diante do computador com a cabeça fervilhando, cheia de ideais e as mãos prontas para dedilhar o teclado tornando concreto o pensamento que vai fluindo na cabeça.

          O que mesmo quero escrever? Mil pensamentos vem em minha mente, inclusive as brincadeiras que crianças fazem e dizem na sua ingenuidade. Lembro o meu primeiro dia de escola quando me deixaram em um salão com muitas outras meninas e algumas professoras. Uma delas aproximando de mim perguntou?

        – Você é minha?

       Não entendi que ela queria saber se eu seria aluna dela. E respondi:

       –  Não, sou da mamãe.

        A escola era o Colégio Nossa Senhora das Graças e a professora era Joana Eneida Nóbrega Duarte que não está mais entre nós. Esse episódio era contado sempre por ela, minha primeira professora, conforme diz seu filho Gilberto Duarte, historiador e também professor renomado.

          Fiquei recordando as minhas meninices e veio na lembrança dos meus cinco anos quando um senhor que morava nas proximidades de minha casa gostava de brincar comigo chamando-me de minha noiva. Ao vê-lo de longe, me escondia para fugir dessa brincadeira que me incomodava. Para me vingar ficava escondida por detrás da janela esperando ele chegar mais perto e dizia com intenção de lhe amedrontar: eu sou a alma do “puquitório” (sic). Não sabia chamar purgatório. Todos riam da minha papelada. Essa pessoa era Senhor Ulisses Miranda que foi represente do MEC aqui em Parnaíba e vendia cadernos, lápis, caneta a preço mais em conta do que no comércio formal.

          Outra proeza interessante que aprontei nessa fase, aos seis anos, foi tentar acabar o namoro de um rapaz que morava nas proximidades de minha casa. Eu queria que ele ficasse com a ex-namorada, pessoa que muito admirava. Para tanto punha todos os defeitos na atual apelidando de palito vestido por ser muito magra e fiquei feliz quando pus término nesse namorico. O rapaz era Mário Meireles do Jornal do Norte e a moça que eu torcia era a Carmem com quem ele contraiu matrimônio e formou uma linda família.

          Contam que eu era muito decidida deste criança e que só fazia o que eu queria. Minha casa tinha um quintal grande de areia e meu pai não gostava que eu fosse brincar lá por causa da poeira. Assim mesmo eu ia desobedecendo a ordem. Por isso mesmo ficava sempre de castigo em uma cadeirinha de balanço. Você está de castigo, dizia ele. Quero ver você se levantar dessa cadeira.  E na minha ingenuidade eu levantada. Ficava em pé. Ele dizia: senta. Eu sentava. E repetia. Você está de castigo. Quero ver você se levantar daí. Eu me levantava. Não era por teimosia. No meu entendimento ele queria ver eu me levantar e eu obedecia. Apenas ele não elaborava a ordem corretamente para uma criança inocente.  Se ele dissesse: não se levante dessa cadeira. Você está de castigo. Só saia daí quando eu mandar. Com certeza eu respeitaria o seu desejo.

          Criança sofre. Não explicam para ela que o nome é purgatório, que não se deve apelidar as pessoas e não entendem que as ordens devem ser esclarecidas e detalhadas para que ela entenda.

              E outra proeza minha aos sete anos foi escrever a poesia “Viva o Brasil”. Até eu mesma pus em dúvida se tinha mesmo essa idade ao produzir tais versos. Comprovação feita quando encontrei um papel com minha letrinha infantil ensaiando o referido escrito e datado de 1960.

27.07.2020