1986, Usina Nuclear de Chernobyl, Ucrânia (URSS). (E ao som de Wanted Dead or Alive)
Acenda
Este maldito cigarro, no exato momento em que a minha vida já se foi.
Assista
Os milésimos de segundo que ainda me restam de pensamento devidamente hostil.
Observe
Como me sinto um idiota, por não ter calculado e nem tão pouco previsto esta derrota.
Tantas palavras sem sentido, tantos atos inúteis, nessa disputa que parece não ter mais fim, nesse jogo político disfarçado de boas intenções…
Líderes malditos, que vivem a estapear uns aos outros, enquanto nós, dóceis, obedecemos. Serviçais, de cabeças baixas, no intuito de nos mantermos “iguais”, numa política de merda, que abraçamos ou fomos obrigados a obedecer…
Tanto discurso e tanto falatório, e agora, meu mundo prestes a explodir. O pensamento nos familiares, que nunca mais tocarei, enquanto fecho os olhos e o meu ódio cresce ainda mais do que a tua percepção pode alcançar…
Meio que cambaleante, me dirijo à tua presença com o olhar disposto a desenterrar até os teus mais obscuros segredos.
Observe
No meu rosto, carrego um mórbido sorriso capaz de assustar.
Assista
O tamanho da minha dor nesta trágica hora em que estou prestes a morrer.
Acenda
Não seja tímido, acenda logo a porra deste cigarro e acabe de uma vez por todas com isto!
Claucio Ciarlini (2013)
Academia Parnaibana de Letras 