Weliton Carvalho: o martelo e o cinzelo automático

 

DIÁRIO

[Weliton Carvalho: o martelo e o cinzel]

Elmar Carvalho

10/06/2020

            Certa feita, após uma solenidade da Academia Piauiense de Letras, entrei numa animada, quase acirrada discussão literária, em que exercitei o meu senso de humor, naquela manhã em que estava me achando; me achando criativo, bem-entendido. Notei que um circunstante me observava com atenção, entre admirado e levemente divertido; ao menos foi o que me pareceu, pela sua expressão facial. Depois, o acompanhei a um outro recinto e nos apresentamos.

            Tratava-se do Dr. Weliton Carvalho, juiz de Direito na Comarca de Timon, natural de Bacabal (MA), mas também pertencente a estirpes piauienses, sobretudo de Floriano. Fiquei sabendo que gostava de literatura e era poeta. Ele passou a frequentar nossos eventos culturais, principalmente palestras, seminários e lançamentos de livros, com admirável assiduidade. Aos poucos fomos construindo uma amizade, para a qual contribuiu a sua lhaneza, simpatia e humildade, e principalmente a sua cultura literária.

            Logo no início percebi que ele estava longe de ser do tipo desses poetas diletantes e ingênuos, que acham que o simples fato de serem bacharéis em Direito lhes dão o direito a ter uma “carta de poeta”, como se dizia outrora. Nas diversas palestras que tivemos notei que ele conhecia os grandes poetas maranhenses, piauienses e brasileiros, sobre os quais emitia comentários apropriados e argutos, de quem assimilou crítica e teoria literária. Ele me parece conhecer tanto a boa crítica impressionista, como a nova crítica, a que analisa sobretudo os aspectos intrínsecos da peça literária em debate.

            Quando iniciou o processo de edição do seu livro Ócios do Ofício me pediu para fazer a sua apresentação na solenidade de lançamento, que seria no auditório de nossa APL. Trocamos algumas ideias a respeito, e ele com antecedência me deu uma “boneca” da obra, que estava sendo impressa em outro estado.

Tentarei transpor para este Diário o que disse na ocasião, de improviso, seguindo o esquema de que fiz uso. Chamou-me a atenção o título, pois o poeta se encontra em plena atividade na judicatura, e certamente assoberbado de trabalho como hoje é de praxe. O ócio deve ser as suas escassas horas de folga, que ele dedica a ler, e a escrever os seus belos poemas.

Portanto, trata-se de otium cum dignitate, quando ele se propõe a enfrentar a página em branco, quando tenta conciliar a inspiração e a transpiração, ou seja, o trabalho e o labor mental de quem estudou e meditou, mas que também possui como aliados o talento e a inteligência. Sobre isso José Ewerton Neto, em seu abalizado prefácio, teceu a seguinte consideração, que espanca qualquer dúvida: “Esse compartilhamento, fruto dos ócios do ofício que o fizeram postar-se diante de uma página em branco para sentir-se e fazê-la sentir, se faz presente de uma forma ou de outra em quase todos os seus poemas.”

Não se trata apenas da página em branco, que deve ser enfrentada, contudo jamais afrontada, ou da busca de assuntos, de temas, mas também de dizer o já dito e redito em nova linguagem e imagem, em novo e inventivo formato. Contrapondo-se ao conhecido pessimismo de Eclesiastes – “O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol (1:9)” – busca se reinventar e inventar novas fórmulas, como está posto no início do poema “Página a um poema”:

A página em branco suplica um poema,

a manhã é banal e os tempos sombrios.

Em verdade, de tudo se faz um poema:

esses retratos, metáforas de túmulos na estante,

                                    esses móveis de família,

                                             melancólicos.

Ao lançar mão da inventividade e de outros recursos e de novas fôrmas e formas de se expressar, o poeta tenta fugir das banalidades, das repetições e monotonias de que nos fala o pregador de Eclesiastes, e por isso procura se renovar e inovar na construção de seus versos. Contudo, é um poeta sóbrio, distanciado dos exageros e torrencialidades de certos poetas menores, que procuram nos impressionar com os seus barulhos e estridências. Eu poderia demonstrar o que afirmo transcrevendo diversas passagens ilustrativas, mas prefiro deixar que o leitor o faça.

Os assuntos dos poemas são os mais diversos possíveis, e vão desde o lirismo, ao que há de mais moderno da intertextualidade e da metalinguagem, além dos poemas sociais ou de denúncia, sem jamais tender para o meramente panfletário, em sua procura de dizer o indizível, o inefável, de tudo dizer na medida do possível e do impossível. Sem dúvida, além de outras temáticas, o livro agasalha versos epigramáticos, satíricos e eróticos, todos em sábia dosagem, voltagem e medida.

Ao longo do livro vai homenageando os seus escritores e poetas prediletos, e através dessas predileções vai revelando os métodos e segredos que utiliza na construção de seus poemas, como a exiguidade e a exatidão de Graciliano Ramos: “A frase curta, / exata e plural: / toda singular. // Nada falta / nem sobra / seco exato.” Sem transbordamento, sem excesso e sem falta, como em João Cabral, engenheiro da poesia, ou como Joaquim Cardozo, engenheiro dos cálculos estruturais e das estruturas poéticas.

Homenageia também seus compositores favoritos, entre os quais Mozart e Bach. A esses dois, no meu gosto pessoal, eu acrescentaria, Beethoven, a catedral suprema e soberba da harmonia musical, Chopin e Tchaikovsky. Sobre Mozart e Beethoven se diz que a música de um seria uma composição do homem para Deus, e a do outro, seria a de Deus para o homem. Para mim são ambas músicas celestiais, divinas, e eu já não recordo e já não quero recordar qual das referências se referia a um, e qual ao outro, tal a grandeza de cada um em meu conceito.

            No seu livro me deparei com a bela “orelha” da lavra de José Ribamar Neres, professor de literatura e membro da Academia Maranhense de Letras, da qual pinço estas elucidativas palavras: “A poesia desse talentoso escritor é forte, vibrante, segura e, sem dúvida, pode ser colocada entre as grandes obras das letras brasileiras contemporâneas.” Sem dúvida essas palavras são a expressão da verdade, e eu as assinaria sem vacilos e titubeios.

            Tive ocasião de contar um fato interessante ao nosso poeta, que faço questão de aqui relatar, em síntese e entre parênteses. Mais de vinte anos atrás, em encontro fortuito, o saudoso cordelista e editor Pedro Costa me informou que o professor José Ribamar Neres havia escrito um excelente trabalho sobre meu livro Rosa dos Ventos Gerais, 1ª edição, por sinal uma singela e acanhada edição. O ensaio fora publicado na revista De Repente, que Pedro editava com a cara e a coragem e minguado recurso financeiro. Era uma crítica muito bem feita, conquanto sintética, em que Neres comentava e analisava os principais aspectos de meus poemas. Meses depois ele me contou, por e-mail, que por acaso encontrou meu humilde e pequeno livro no meio de vários outros, em certa livraria ou sebo; que começou a folheá-lo lentamente, creio que pulando páginas, e ele, nas suas palavras, pôde perceber a qualidade dos poemas. E foi assim, sem premeditação, antes por acaso, que ele escreveu o ensaio, que muito me honra, e foi enfeixado na edição seguinte. Mas fechemos o parêntese e este parágrafo com este ponto final.

            Em nossas conversas observei que Weliton Carvalho não alimenta preconceitos e nem maniqueísmos literários, e valoriza, assim como eu, certos autores que foram vítimas de rotulações inapropriadas e de ideias preconcebidas, que um crítico ou desafeto diz, e os repetidores espalham e consolidam. Assim, nós reconhecemos que o poeta José Sarney tem sido uma das vítimas desse desdém, por vezes gratuito, tanto que ele colocou como epígrafe de um de seus poemas o seguinte trecho de Homilia: “Tenho um encontro com Deus: – José! / onde estão tuas mãos que / eu enchi de estrelas? / – Estão aqui, neste balde, / de juçaras e sofrimentos.”

            Arrematando minhas palavras, noto que seus poemas são concisos, porque ele os quis esbeltos, elegantes, sem superfluidades e sem os excessos de gordurinhas; são poucos, porque a quantidade nunca o atraiu, mas, sim, a alta qualidade que lhes conseguiu injetar; são exatos, porquanto, seguindo as lições dos mestres da poesia e da engenharia, ele os calculou e projetou para que não houvesse exagero ostensivo de formas e de argamassa.

            No título deste registro, em lugar de toga e espada, símbolos da magistratura, preferi colocar o martelo e o cinzel, porque são símbolos da Justiça, da escultura e da poesia, ao menos na profissão de fé bilaquiana, em que o poeta em perfeito lavor vai tecendo os seus versos.

            O escultor a retirar do bloco concreto de mármore ou do tronco de madeira a escultura, e o poeta Weliton Carvalho a retirar do bloco imaterial de palavras, “em estado de dicionário”, as palavras com que irá urdir o seu poema.

De educadora a administradora: uma trajetória de fé e resiliência!

E se durante toda a vida, você tivesse passado por enormes dificuldades, muitas vezes até contemplando o abismo, tendo que se reerguer das maiores perdas, armadilhas e traições, porém, mesmo assim, demonstrando, ao fim de cada ciclo de dor, que a sua fé em Deus se tornou ainda maior?

Há cerca de oito anos, eu tive a honra de conhecer alguém assim, que já vivenciou os piores cenários, desde a infância, e, ainda assim, não permitiu que o seu coração congelasse e nem tão pouco que os seus sonhos fossem reduzidos a pó.

Estou falando de Rosilda Sales Dias, nascida em Parnaíba, na data de 24 de dezembro de 1961 e que possui uma história de vida, das mais desafiadoras. Filha de pais separados, logo ao nascer, tendo sido criada por seus avós até os sete anos, mas que em razão de um lamentável ocorrido, sua vida foi novamente alterada, e para pior: Aos sete anos, meu avô morreu, e fui morar com uns tios meus em Teresina, onde sofri bastante. Para completar, quando eu estava lá, com doze anos, recebi a notícia da morte do meu pai, o que fez com que minha situação piorasse mais, pois além das minhas perdas ainda muito nova, minha tia havia dispensado todos os empregados da casa e me colocado para trabalhar no lugar deles.  Para você ter uma ideia, eu com dez anos, não poderia estudar à noite, mesmo assim ela me colocou para estudar nesse turno! Só quando o pessoal descobriu, é que fizeram com que ela me colocasse para estudar durante o dia.

Porém dias mais felizes estariam por vir, principalmente quando do regresso à Parnaíba: Fiquei em Teresina até os 14 anos, depois voltei e vim morar com minha mãe, pois ela tinha conseguido comprar uma casa no Bairro Santa Luzia, e certo dia, quando tinha meus 14 pra 15 anos, fui no comércio perto de casa comprar uns picolés pros meus irmãos e lá estava o Nery: foi paixão à primeira vista!  Todavia, não foi tão fácil, como relata Rosilda:  Na época tinha um fazendeiro que tinha pedido minha mão em casamento, e minha mãe tinha aceito sem que eu nem soubesse e daí ela se zangou bastante comigo, até me bateu muito e quando Nery descobriu, pediu para que eu fugisse com ele. Eu brinquei, falando que fugir não, mas para casar eu aceitaria! Para que? No outro dia ele já estava com meus documentos atrás do fórum, queria casar logo padre e civil. Só que como eu era de menor, minha mãe tinha que assinar. Ela não queria, mas meu irmão, sem eu saber (vim saber há pouco tempo numa reunião de família), tomou a frente e disse para o Nery que eu iria casar, mas que ele tinha de deixar eu estudar até concluir o ensino superior, pois como sempre ele dizia, a pessoa só se torna alguém na vida, se tiver um curso superior, e ele está certo! Sou muito agradecida ao meu irmão, assim como aos demais irmãos.

Rosilda me relata que muitos pensavam que o casamento nunca duraria… Profecia que não se concretizou, pois no último 24 de setembro, eles comemoraram 38 anos de casamento! No que ela declara: Nery, melhor pai do mundo, melhor marido do mundo, é tudo pra mim! Sempre tivemos uma vivência maravilhosa e pacífica!

 Depois do casamento, Rosilda concluiu os estudos básicos e ingressou na faculdade. Em meio a esse percurso, com 16 anos, engravidou de Adriano, sete anos depois veio Hielly, e oito meses após nasceu Diony.

O primeiro curso que passou, de Administração na UFPI, iniciado em 1999, acabou não concluindo, tendo cursado apenas dois anos, mas revela que pôde aprender bastante: as lições aprendidas me servem até hoje. Fez curso técnico de enfermagem, no que trabalhou por um período de quase três anos no hospital Nossa Senhora de Fátima. Em seguida foi fazer Pedagogia, ao mesmo tempo em que chegou a trabalhar também no escritório do Doutor Antonio Tomás durante alguns anos.  Nesse período da faculdade, surgiram também outros trabalhos, como descreve: eu consegui algumas portarias, através da ajuda do meu irmão, na época do Paulo Eudes, também com o professor Iweltiman, que foi meu professor na faculdade, e comecei a trabalhar na Educação, fazer pedagogia e comecei a ser diretora, no que Rosilda compartilha: A primeira vez que fui diretora numa escola, foi na Mário Reis. No primeiro dia, fiz uma reunião na sala de aula com todos, e não cheguei impondo, mas querendo que todos trabalhassem juntos e compartilhassem suas ideias.

Rosilda passou também a ministrar aulas: comecei também a dar aula na Educação de Jovens e Adultos, foi aí que eu me apaixonei de vez pela Educação, ao ensinar para aqueles senhores e senhoras, bem de idade mesmo, de 50, 60, 70… Daí quando eu me formei, recebi um convite para dar aula no ensino superior pela primeira vez, foi em São João do Piauí, através da professora Josimeire, que era dona de duas faculdades. Quando eu cheguei lá, estava abrindo curso de pedagogia, era tanta gente que foi preciso transferir a aula para um auditório! Eu saí de lá no dia seguinte sem voz!  Para você ter uma ideia, antes de iniciar, eu fui ao banheiro e fiz uma oração pedindo a Deus que me concedesse força! A disciplina foi Educação de Jovens e Adultos! E Graças a Deus, os alunos depois assinaram um papel, pedindo para que eu fosse novamente com outra disciplina, e a partir daí fui trabalhar também em outras faculdades e cidades. Cheguei a ministrar aulas todos os finais de semana, foi onde fui juntando um dinheiro pra comprar meu carro… Foi um momento muito corrido e muitas vezes tive de passar dias longe de casa, mas também de muitas lembranças boas.

 Nas eleições de 2004 e de 2008, época dos dois últimos mandatos do prefeito José Hamilton, Rosilda foi candidata a Vereadora, mas segundo ela: no primeiro, eu consegui apenas ser suplente de vereadora, no segundo, a porca comeu por completo! (risos)

Embora a sua carreira política não tenha deslanchado, a fez ficar bastante conhecida em vários locais de Parnaíba. E unindo isso, aos trabalhos já desenvolvidos por ela na Educação como Gestora e professora, Rosilda recebeu no ano de 2009 uma missão deveras importante, através de um amigo e professor, dono de faculdade: abrir turmas em Parnaíba e atuar como coordenadora de polo: abri duas turmas aqui, uma em Luís Correia, outra em Chaval. Tudo transcorria bem, até que no ano de 2011, veio o falecimento dele, o que a deixou numa situação complicada, pois: as pessoas que se matricularam na faculdade, se matriculavam comigo, confiando em mim, eu tive então que procurar outra faculdade que aceitasse a transferência destes alunos, ou seja, tive que “assumir” as turmas… Não foi fácil, mas consegui!

Rosilda seguiu então, coordenando as turmas, porém o ano de 2013 traria a mais difícil das tragédias e adversidades que ocorreram em sua vida: a perda do filho mais velho, Adriano, pelas mãos da violência. Fato que a mergulhou por um período em depressão, mas que com seu grande poder de resiliência e de sempre encarar os fatos ruins como uma lição, logo conseguiu se levantar e seguir lutando por seus sonhos, no caso, o de ter sua própria faculdade: Eu sempre dizia para o meu marido, que o meu sonho era abrir uma faculdade e ele já tinha comprado um terreno aqui perto da minha casa, só que achávamos muito pequeno, porém estudamos melhor as possibilidades e vimos que era possível construir.

A partir daí veio a construção e todo o processo junto ao MEC e à Prefeitura para a regulamentação da faculdade que foi batizada de FAESPA e que teve sua inauguração no mês de agosto deste ano.

Uma das maiores qualidades de Rosilda Sales, e eu arriscaria em dizer, a melhor, é a generosidade que possuí para com todos que a cercam, seja família, amigos ou funcionários. Ela trata a todos muito bem, de forma igual, e busca a todo momento criar um clima favorável entre, por exemplo, os que fazem parte de sua faculdade, não suportando, obviamente, os egoístas ou aqueles que se achem melhores que os outros: Não é porque você ganha um cargo de confiança, que você vai querer ser melhor do que o outro. Andar com nariz empinado, achar que está andando em tapete vermelho e pisar em cima das pessoas. Todo mundo é de carne e osso, tem sentimentos. Eu sou feliz dessa maneira, tratando todo mundo igual, eu não faço diferença com ninguém. É assim que trabalho, é como ajo com minha equipe.

Perguntada de onde vem todo esse espírito de humanidade e força de vontade de lutar pelos seus e ainda carregando um pensamento positivo, ela diz: Quando eu era pequena, eu não recebi ajuda de ninguém. Eu tive que trabalhar nas casas dos outros e onde sofri muito. Eu não tive infância. E hoje me sinto muito bem quando consigo ajudar as pessoas. Acredito na mudança positiva que pode acontecer às pessoas, até àquelas mais egoístas e não tenho ódio de quem um dia já me traiu, me fez mal, tenho no máximo pena.

Essa incrível Educadora, Gestora, Administradora, Mãe e tantos outros adjetivos do bem, pertencentes a ela, segue agora com novos sonhos, dentre eles, a vinda de mais netos, no que aproveita para tecer inúmeros elogios aos que já tem, que são: Rodrigo, Rebeca e Stéfany. Também confessa que: o foco agora em termos profissionais é cada vez mais ampliar a faculdade, trazendo mais cursos e desta maneira poder ajudar mais pessoas a conquistarem a Graduação e a Pós – Graduação.

No que concluo essas linhas, desejando a amiga Rosilda a conquista de todos esses sonhos, de outros mais, e que seus dias estejam sempre acompanhados de intensa paz, luz, amor e, se possível, ao som de Roberto Carlos, pois como o próprio diria:

“Se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi!”

Claucio Ciarlini (2018)

Eu sou assim…

DO LIVRO “O QUINTO” INÉDITO
MARIA DILMA PONTE DE BRITO – APAL – CADEIRA 29
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA

             Se chove eu me molho. Deixo a água do céu cair no meu rosto. Ensopo meus pés nas poças d´água e brinco com barquinhos de papel.

           Se faz sol eu me bronzeio. Passo protetor e me escancaro, quero aproveitá-lo tim-tim por tim-tim. Gosto de ver o céu azul sem nenhuma nuvem e da claridade do sol e de seus raios adentrando pela minha janela.

        Se faz frio eu me agasalho ponho um casaco e outro e mais outro para me esquentar. Fico igual cebola cheia de capas. Tomo chocolate quente e tiro fotos de gorro e cachecol para recordar.

     Se faz calor eu me dispo. Pouca roupa só para me resguardar. Tomo sorvete, suco gelado e exploro o ar condicionado para me refrescar.

       Se estou triste eu choro. Eu falo, eu digo, eu reclamo e se exagero sei me retratar.Peço desculpas e vou me acalentar.

Se estou alegre, contamino todo mundo. Faço festa, chamo os amigos, divido minha alegria e vou aproveitar.

Eu sou assim por fora e pelo avesso. Transparente, sem me esconder. Mostro a todos a minha cara, eu sou humana, se errar eu corrijo sem constrangimento. A vida é aprendizado. Se acertar recebo os aplausos toda contente. Quem não gosta de ser elogiado?

Pode me virar do avesso não tenho nada a esconder e de meu bolso não cai um tostão mas tenho tantas alegrias que não troco nem por um milhão.