ÚNICO

thumbnail

DO LIVRO “O QUINTO” – INÉDITO
MARIA DILMA PONTE DE BRITO – APAL – CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA

        Os pássaros voam, os peixes nadam, o homem anda. As crianças são incentivadas a dar os primeiros passos. Tem sempre quem lhe segure a mão dando proteção. Alguém viu o peixe aprendendo a nadar ou o pássaro a voar?

      Os homens nadam quando são ensinados. O cão por exemplo caindo dentro de uma piscina ele não afunda. Nada como se tivesse tido um professor e se salva. E o homem se considera o mais inteligente dos animais.

    Rir e chorar são capacidades de expressar sentimentos próprios do homem. E ele chora com a possibilidade de faltar água no planeta embora ele destrua o seu próprio ambiente, desmate a floresta, polua os rios, deprede a natureza, mas ele é único animal que pensa. Imagine.

    O homem é o único bicho que sorrir, expressa seus sentimentos, é emotivo. Sorrir quando está apaixonado, quando vence uma batalha, quando realiza um sonho. É também o único que trabalha, que precisa de veste porque não tem pena, nem pluma e muito menos escama para se proteger.

      Ao destruir seu habitat o homem torna-se menos civilizados do que outras espécies animais.  A verdade é que:

                        “Uma parte dos homens age sem pensar e outra pensa sem agir”.
Jean Jaques Rousseau

RITUAL

forto boa dilma
DO LIVRO "O QUINTO" INÉDITO
MARIA DILMA PONTE DE BRITO - APAL - CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA

          “Ritual é o conjunto de práticas consagradas por tradições, costumes ou normas, que devem ser observadas de forma invariável em determinadas cerimônias”.

      Eles estão presentes nas sociedades humanas passadas e atuais. As posses presidenciais, casamentos, cultos religiosos, eventos esportivos são investidos de ações simbólicas transcritas por regulamentos ou tradição.    Essa forma de comportamento encontra-se também no mundo animal em relação as cortes e acasalamento, por exemplo.

      No cotidiano todo ser humano tem um rito, escolhido por ele próprio. Alguns exageram nessa prática, mas o certo é que eles trazem segurança e conforto para um começar o dia. Levantar da cama com o pé direito, consultar o seu livreto com a frase conselheira, ler o horóscopo, fazer uma oração antes de desjejum, seguir sempre o mesmo trajeto para chegar ao trabalho, tudo isso são pequenos hábitos que dá sentido a uma vida. Descumpri-lo traz incômodo e mal estar.

        Seguir uma rotina até é uma forma de organizar-se e tornar o tempo mais produtivo, mas também é importante a flexibilidade. Não tem como fazer tudo sempre igual.

       A senhora Eloá tinha uma vida pautada na rotina. O seu dia começava habitualmente do mesmo jeito e ai se algo desse diferente. Batia o pessimismo e o pressentimento que essas vinte e quatro horas trariam problemas. Mas o lado positivo dessa formalidade é que ela encerrava esse espaço de tempo escrevendo uma bela crônica. Nem sempre bela porque as vezes o sono dominava a culta mulher e o texto saiu truncado e palavras ortograficamente incorretas, faltando “s” ou um “r”, quando não uma vírgula ou uma aspa, mas ela se garantia com o conteúdo e a imaginação. Isso mesmo Eloá melhor fazer do que ficar omissa. Eu comungo com a culta senhora primeiro o progresso depois a ordem. Amanhã tem muita gente apontando as correções e elas serão recebidas de agrado. Sigo seu exemplo, nobre escritora, estou eu aqui no meu ritual encerrando o dia ou melhor já começando um outro. Estou jogando letras no papel. Isso me dá satisfação e sensação de dever cumprido. Se deixar para corrigir e divulgar depois, provavelmente ficará armazenado nos meus documentos sem publicidade. Tenho como você Eloá o hábito de terminar cada vinte e quatro horas ou começar a outra passando uma mensagem. Fica aqui essa:

    “Crie uma rotina flexível e prazerosa para seu dia a dia. Isso lhe fará organizado, seguro e feliz”.

07.06.2020

Eu, Foguinho, Obama e Todos Nós.

        As luzes dos carros passam por mim. Por breves momentos, elas chegam a ofuscar minha visão. É noite, e voltando do centro, como todos os dias faço, ligo o som e deixo a música fluir. Às vezes, alguém se aproxima e pergunta:

            – Por que tanta música? Sem título

            E confesso, às vezes nem eu mesmo sei o motivo.  Talvez as canções sejam uma espécie de combustível nos momentos alegres, e até uma espécie de morfina nos períodos de dor, sabe lá… Só sei que ao aumentar o volume, retomo minha jornada, empurrando minha “lanchonete móvel” que é, Graças a Deus, de onde tiro meu sustento. Como que andando em câmera-lenta, ao menos em comparação aos veículos, motos e bicicletas que encontro pelo caminho, sigo percorrendo os vários quarteirões desta cidade, que embora não seja o meu ponto de origem, tenho um prazer imenso de dizer que resido há quase uma década. Tive um dia difícil, as vendas não foram muito boas. Chego por um instante a pensar se esta era realmente a vida que eu queria ter, a que sonhei…

       E quem não pensa isso de vez em quando, não é mesmo?
Logo volto à razão, quando alguém buzina e me cumprimenta:

       – E aí Obama, beleza?

       Obama, Foguinho, Rapaz do DVD… Já fui chamado de todos esses nomes, e muito mais, mas será que algum deles traduz, exatamente, quem eu sou? Ou seriam apenas “máscaras felizes” que carrego pela vida, na tentativa de sempre mostrar um lado alegre e positivo, mesmo que nem sempre corresponda com o que eu esteja sentindo em um dado Imageminstante? A cada passada, em direção à minha residência, penso em meu filho, meu companheiro diário nas dificuldades e emoções. Nem sempre ele pode estar ao meu lado, pois prefiro que estude, para que, como  mesmo já me disse:

      – Pai, um dia vou lhe tirar dessa vida! – Eu tenho muito orgulho dele.

           E qual é o pai que não tem orgulho do filho, não é mesmo? Nesse momento, em que me encontro no meio do trajeto, avisto uns garotos jogando bola na rua, e isso me faz lembrar da minha infância no Maranhão, junto de minha avó, figura preciosa em minha existência.
Minha avó foi quem me criou, quando eu, poucos meses de nascido, perdi  a minha mãe, que faleceu. Ainda me lembro das lições que ela me repassou, lembranças estas que ainda encontram-se vivas em minha memória, e que tento repassar para as pessoas próximas a mim, além das que conheço a cada dia quando “perambulo” pelas ruas, em frente às lojas, nas praças,  mexendo com uns e outros, na busca de deixar as pessoas mais sorridentes e, desta forma, tentar tornar o mundo menos “cinza”, do que ele já é…
Até chegar em Parnaíba, foi uma jornada longa e cheia de aprendizados, percorri várias cidades, sempre vendendo meus produtos, sejam eles bijuterias, roupas, fitas, cds, dvds, e nos últimos tempos, devido à dura fiscalização, lanches em geral. A freguesia é boa, não posso reclamar, porém nem sempre as vendas me fazem sorrir ao fim do dia. Muitas vezes, para melhorar e continuar seguindo em frente, preciso lembrar de algo que me mantém firme, e que sempre acreditei, mesmo com todos os percalços do destino:

     – A esperança!

     E por acaso, quem é que consegue vencer sem esperança, não é mesmo? A esperança, esta dama preciosa, é que me conduz pela estrada da vida, e é a mesma que me faz acreditar que um dia as coisas irão melhorar, e que meu talento e criatividade possam ser reconhecidos…
É quando avisto minha casa, faltam poucos metros. Vejo um carro na porta, logo me adianto para saber quem me procura. Ao chegar em casa, encontro meu filho, dou um abraço apertado nele, e, ao mesmo tempo, lembro do quanto sou feliz…
Estavam a minha espera, três indivíduos, que disseram fazer parte de uma revista de cultura da cidade. Eu pergunto o nome:

     – O Piaguí!

      Querem fazer um artigo sobre minha pessoa, para uma série chamada “Parnaíba, por quem também faz Parnaíba”, pedindo que eu conte a minha história. Mesmo cansado, eu concordo, respiro fundo, esboço um sorriso e depois de uns segundos, pergunto:

    – Por onde eu começo?

Claucio Ciarlini (2010)

Nota do autor: Marcos Menezes da Cruz, o “Obama”,  nasceu em 17 de março de 1975,  na cidade de Dom Pedro, no estado do Maranhão. Desde muito jovem trabalha como vendedor ambulante, tendo percorrido diversas cidades do Maranhão e do Piauí, até chegar em Parnaíba, no ano de 2001. É, a meu ver, dentre estes vários personagens da vida real que já entrevistei, talvez um dos que mais simbolizem o “espírito” desta série, pois apesar de não ter nascido na cidade, adotou Parnaíba e é onde resolveu fincar raízes. Além de ser um trabalhador incansável,  uma peça fundamental do drama social no qual se encontra inserido. Figura ímpar, e ao mesmo tempo tão complexa, que optei por narrar sua história de uma forma diferente, ou seja, em 1.ª pessoa. Utilizando relatos de vida repassados por ele, nas conversas que tivemos, somados ao que observei de seu trabalho nestes últimos anos e, por fim, ligando às opiniões e histórias de quem convive diariamente com ele, pude montar, dessa forma, o que seria “Um retorno para casa, e cheio de lembranças, depois de um dia cansativo de trabalho”.  Gostaria de dedicar este artigo à minha avó Francisca de Oliveira Carvalho, que assim como a avó de Marcos, a senhora Maria Bárbara Menezes, também me ensinou a acreditar em palavras que nem sempre são ditas  e muito menos expressadas nos dias de hoje, palavras importantes e que nunca deveríamos esquecer: O respeito, o amor e a esperança.