Salvador Dalí e um corona surreal

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DIÁRIO

[Salvador Dalí e um corona surreal]

Elmar Carvalho

30/06/2020

            Tirei este domingo, pela manhã, para mais uma vez folhear o livro “Dalí: the paintings”, de Robert Descharnes e Gilles Néret, editado em 2018 por Taschen (Bibliotheca Universalis). Quando cheguei à página 608, me deparei com uma pintura que me chamou deveras a atenção, tanto por suas próprias qualidades, como também por motivos particulares meus, sobre a qual mais adiante falarei.

            Desde o início de minha juventude, mais precisamente desde a segunda metade da década de setenta, tenho visto e revisto várias reproduções de suas telas mais famosas, e outras nem tanto, sempre com a mesma admiração e encantamento, tanto através de livros/álbuns, como através de cd’s e, depois, da internet. Desde então, fiz vários poemas de feição surrealista, muitos inspirados em obras de sua autoria.

            Na segunda metade da década de oitenta, já morando em Teresina desde 1982, fui vizinho do pintor Francisco Siqueira Santos (PBA, 14/07/1951 – BSB, 31/10/2017), ou apenas Siqueira, que adotara o nome artístico de Sica. Natural de Parnaíba, ele era agente da Polícia Federal, e também admirava o surrealismo, sobretudo o de Salvador Dalí, tendo ele próprio  produzido algumas pinturas surrealistas de alta qualidade. Um ano ou menos depois foi transferido para Brasília, e agora eu soube, pelo seu colega Odon Baltazar Nobre, que ele faleceu há cerca de três anos.

Nessa época eu já vinha acumulando algumas ideias para escrever um poema épico moderno baseado na vida e na obra do grande surrealista espanhol, titulado Dalilíada. Falei desse projeto ao Sica, e lhe preveni que no dia que me viesse o estalo ou insight eu o procuraria para que me emprestasse os grandes álbuns que ele tinha, em que estavam estampadas as pinturas do mestre do surrealismo, que além de tudo era um grande histrião e falastrão, marqueteiro de suas obras.

E assim, em certa tarde, me surgiu uma forte compulsão para escrever esse poema anunciado e esperado. Corri à procura do Sica, que felizmente se encontrava em sua residência, e me forneceu os livros, conforme prometera.

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De imediato, na mesa de minha sala, como se estivesse sob atuação mediúnica ou automática, sem procurar lógica ou sentido no que escrevia, folheando freneticamente os livros que trouxera, por vezes misturando as ideias de duas ou mais telas, algumas vezes me utilizando também dos títulos, escrevi quase de um só fôlego ou jato esse longo poema; longo, claro, para os padrões de hoje.

Mas, como disse, já escrevera antes alguns poemas surrealistas, vários inspirados em pinturas de Dalí, inclusive um baseado numa tela que, de certa forma, guarda alguma semelhança com a que me referi no início deste registro. Eis o poema, que por sinal faz parte do aludido épico Dalilíada:

           XXXVII

O discóbolo do cosmo

em vigorosa e rigorosa torção

arremessa o disco do Sol

para uma outra desconhecida dimensão.

Retomando o perdido fio inicial da meada, quando cheguei à página 608 vi a pintura que me causou surpresa e admiração. Tinha o título grafado em inglês, que em minha rústica tradução converti para “jogadores de basquetebol metamorfoseados em anjos”. Integrando um conjunto antigo de três poemas, creio que da década de 1970 ou 80, sob o título geral de “No reino do surreal”, encontrei o seguinte:

II – BASQUETEBOL

tomaram-me

            tudo inclusive

            o óbolo inútil

            o bolo indigesto

            a bola murcha

            a bala de festim

            a balada calada

                              alada

            mas sem voo

mas ainda me sobrou

            cabeça para arrancá-la

            e enfiá-la

            na cesta

Contudo, o atleta mais visível do quadro de jogadores de basquete metamorfoseados em criaturas angélicas mais me pareceu um goleiro, em espetacular e espetaculosa “voada”, a espalmar o planeta Terra para longe de sua meta. Um goleiro surreal que parecia ter a ousadia maluca, performática e exótica de Higuita e a eficiência e elasticidade felina e elegante de Yashin.

E a bola, na verdade o nosso terráqueo planeta, tinha umas espécies de pinos, que me fizeram lembrar a imagem ampliada do famigerado coronavírus. Um bisonho observador poderia achar que fora uma premonição. Eu prefiro nada achar, exceto beleza na pintura.

Não querendo ser um cabotino e tampouco um narcisista, e muito menos ainda um ególatra, mas tendo sido um goleiro em minha adolescência, prefiro encerrar esta crônica algo memorialística, com pitadas de gênese literária, com a seguinte frase de José Francisco Marques, extraída de seu texto “Quem te ensinou a voar?”, que me vale como um certificado e consagração:

“Elmar era de fato um goleiro diferenciado. Elegante em suas defesas e de uma agilidade impressionante, pois muitas vezes arrancava aplausos (fato raríssimo entre expectadores desse nível futebolístico), da plateia que o assistia.”

20 dias de Bon Jovi #16: A tímida

1993, em algum lugar de Portugal. (E ao som de In These Arms)

tímida

Porta

(Devidamente trancada)

TV

(Ligada, como sempre, na MTV)

Bon Jovi

(Clipe de In These Arms)

Uma platéia entusiasmada me assiste, agora.

Enquanto todos os meus sentidos parecem agradecer,
De joelhos,
À minha mente mais que fértil…

(Repleta de desejos, inundada de energia)

Movendo a cabeça,
De uma forma que só os fãs de rock poderiam compreender,
Eu brinco mais uma vez, de ser Star!

Embarcando nesta melodia sincera,
Deixo para trás um mundo complexo que me destoa
De frases e trejeitos que ainda não aprendi a aceitar

(E que Deus me ajude a nunca)

A voz do Jon carrega os sentimentos
Todos aqueles que nunca consegui expor
Pelo medo de perder, de fracassar

(E por esta razão, eu sempre me mantive: apenas a observar)

O clima esquenta, no instante em que o refrão novamente surge
E já repleta de emoção, seguro a minha guitarra semi – invisível,
No que chega ao clímax da canção: O solo!

(O solo do Sambora me faz esquecer até mesmo, os mal amados inertes na lembrança)

Bailando com o vocalista, e ligada na pulsante – Tico – batera
Eu consigo expulsar todos os medos (também os demônios),
Que tanto vivem a me espreitar (a me perseguir)

E por um minuto, eu quase esqueço,
Do enorme muro de insegurança que vive a me provocar
Dizendo que nunca conseguirei vencê-lo…

É só uma questão de tempo.

Claucio Ciarlini (2013)

O estudo de Literatura Piauiense nas escolas

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DIÁRIO

[O estudo de Literatura Piauiense nas escolas]

Elmar Carvalho

29/06/2020

            Em nossa última reunião online, o presidente Zózimo Tavares nos anunciou que neste sábado, dia 27, o Prof. Dr. Francisco Soares Santos Filho, presidente do Conselho Estadual de Educação – CEE, iria proferir uma palestra denominada “Ensino médio pós-bncc: tem vaga para literatura piauiense?”, através da tecnologia de videoconferência.

            Abrindo a reunião virtual, o presidente da APL nos explicou que a palestra duraria cerca de dez minutos, e que, após, cada um dos acadêmicos teria direito a fazer breves considerações e perguntas. O presidente do CEE, Francisco Soares Filho, foi exemplar, porque foi claro, objetivo, didático, elucidativo e teve notável capacidade de síntese. Usou cartelas esquemáticas e infográficos em sua explanação, de modo a atrair mais ainda a atenção dos virtuais participantes.

            Disse que foi muito importante a reunião, em 13 de fevereiro, da Comissão de nossa Academia, composta por Zózimo Tavares, Magno Pires, Dílson Lages Monteiro e Elmar Carvalho, com os membros do Conselho Estadual de Educação, para que o ensino de Literatura Piauiense passe a ser posto em prática, como determina o artigo 226 de nossa Constituição Estadual, que lhe instituiu a obrigatoriedade. Disse também ter sido da mais alta relevância a audiência pública realizada em 20/02 para esse objetivo, da qual participou a nossa Academia Piauiense de Letras, representada pelo seu presidente, o confrade Zózimo Tavares.

            Em sua elucidativa explanação, o professor Soares Filho falou dos objetivos e diretrizes da Base Nacional Comum Curricular – BNCC, de seus garantidores legais, além de ter se referido a outros dispositivos legais, que fundamentaram juridicamente a tese de sua palestra. Explicou que a BNCC buscou a equidade, que é a sua palavra chave. Ilustrou e reforçou sua abordagem com infográficos e dados estatísticos.

Explicitou que a BNCC comporta o percentual de 40% para a parte diversificada; que dentro dessa significativa fatia cabem disciplinas de caráter regional (estadual), entre as quais Literatura, Geografia, História e Outros aspectos da Cultura Local.

Dessa forma, ante esse cenário de abertura para a cultura do Estado, o professor Soares Filho, na sua qualidade de presidente do Conselho Estadual de Educação entende que a Literatura do Piauí pode e deve ser matéria curricular obrigatória em nosso estado, e está adotando todas as providências necessárias para que esse sonho dos poetas e escritores piauienses se concretize, finalmente pondo em prática o que determina o artigo 226 de nossa Constituição Estadual, promulgada e publicada em 1989.

Além desse dispositivo constitucional, que determina ser obrigatório, nas escolas públicas e particulares, o ensino de literatura piauiense, o professor Francisco Soares Santos Filho também invocou a Lei Estadual nº 6.563/2014, que “dispõe sobre a preferência pela adoção de autores piauienses”. A propósito desta Lei, relembro que outrora, no tempo dos célebres e fatigantes vestibulares, alguns autores piauienses eram estudados em sala de aula, sempre os mesmos, e que não passavam de meia dúzia. Mesmo assim, isso contribuía para uma maior divulgação e estudo de nossa literatura.

Mas, não bastasse o permissivo legal da BNCC e dos diplomas legais referidos, o ilustre palestrante ainda invocou várias outras razões para o ensino de literatura piauiense, tais como: 1) “A literatura é a manifestação da cultura de um povo na forma de expressões faladas ou escritas.” 2) “Exprime o perfil cultural de uma sociedade.” 3) “É a expressão da sociedade, como a palavra é a expressão do homem (Louis Bonald).”

Por fim, Soares Filho proclamou, de forma muito clara, enfática e peremptória, que não há nenhuma desculpa para que não seja implementado na forma insculpida no texto constitucional o ensino de Literatura Piauiense.

No debate, em suas considerações, todos os acadêmicos elogiaram a palestra, o esforço e o zelo do professor Soares Filho em acatar o pleito da gestão do presidente Zózimo Tavares, no objetivo de que o ensino de nossa literatura seja efetivamente implementado nas escolas, e deixe de ser uma letra morta de nossa Constituição piauiense. Participaram do debate virtual, além deste cronista e do presidente Zózimo, os acadêmicos Felipe Mendes, Paulo Nunes, Nildomar da Silveira Soares, Itamar Abreu Costa, Jônathas Nunes,  Oton Lustosa, Fonseca Neto, Francisco Miguel de Moura, Socorro Rios Magalhães, Dílson Lages Monteiro e Plínio Macedo.

Aproveito a deixa, para expandir (aqui) o que disse de forma sintética em minha participação no debate, quando me foi facultada a palavra.

Parabenizei o Prof. Dr. Francisco Soares Santos Filho por sua excelente palestra e por seu zelo e dedicação no exercício de seu cargo público, e sobretudo por ter acolhido essa importantíssima meta da gestão do presidente Zózimo Tavares. E por isso mesmo sugeri lhe seja concedida nossa honraria máxima, a Medalha do Mérito Lucídio Freitas, e, se ainda houver disponível, a do Centenário.

Disse que em meu biênio na presidência na União Brasileira de Escritores do Piauí – UBE/PI (1988/2000), sucedendo Francisco Miguel de Moura (1986/1988), tive como principal desiderato conseguir fosse insculpida no texto da Constituição Estadual de 1989 a obrigatoriedade do ensino de Literatura Piauiense. Inclusive consegui produzir um abaixo-assinado, com mais de quinhentas assinaturas, reivindicando a inclusão desse pleito em nossa Carta Magna. Tive o apoio dos colegas de diretoria e dos sócios mais assíduos a nossas reuniões semanais, cujos nomes passo a citar: Francisco Miguel de Moura, Hardi Filho, Adrião Neto, Rubervam Du Nascimento, Herculano Moraes, José Pereira Bezerra, Bezerra Filho, Osvaldo Monteiro, fora outros que não recordo no momento.

Contudo, o que foi decisivo para a consecução desse objetivo foi meu contato e de minha diretoria, além de outros membros da UBE/PI, com o ilustre deputado Humberto Reis da Silveira, que era o relator-geral da Constituinte. Ele achou uma excelente ideia, e a adotou quase como de sua iniciativa, passando a tomar todas as providências cabíveis e necessárias para que nosso sonho se tornasse realidade, não poupando nenhum esforço para isso. Mas não foi uma tarefa fácil.

No início mantive contato com presidentes de entidades afins, que não demonstraram o menor interesse pela causa. Talvez porque a ideia não fora sua, ou talvez porque a achassem desnecessária ou pequena. Também alguns políticos, deles alguns vinculados à cultura, não lhe deram importância e mesmo a julgaram indigna de ser posta em dispositivo constitucional. Tanto que o dispositivo foi rechaçado no primeiro turno.

Todavia, Humberto Reis da Silveira, na condição de relator-geral, tinha a prerrogativa de poder reapresentá-lo para discussão e votação em segundo turno, e assim o fez, conseguindo afinal a sua inclusão na Carta Magna, cuja redação, na época, se não estou enganado, continha apenas a obrigatoriedade do ensino de literatura piauiense.

Por seu interesse, zelo e esforço na consecução desse objetivo, homenageei Humberto Reis com os Diplomas do Mérito Da Costa e Silva e de Sócio Honorário (ou benemérito) da UBE/PI, honrarias criadas em minha gestão, e que ele mantinha expostas, em lugar de honra, em seu gabinete, em que cheguei a ver vários livros e antologias de nossa literatura.

Logo no primeiro encontro que tive com ele, contei-lhe que meu pai, Miguel Arcângelo de Deus Carvalho, natural de Barras, havia sido seu colega no Colégio Diocesano, nos idos de 1939/1940. Imediatamente seu semblante mudou, e ele se tornou ainda mais cordial para comigo.

Iniciamos uma forte amizade, que perdurou até seu falecimento. Promovi o encontro dele com meu pai. Em resumo e para finalizar, sua amizade para comigo se tornou tão sólida, que basta que eu conte o seguinte: quando fiz a cirurgia, em virtude de meu primeiro CA, durante duas semanas, todo dia ele ia me visitar no apartamento do hospital, o que muito me sensibilizou, bem como minha mulher, Fátima, e meus pais. Foi um político probo, que em mais de 50 anos de vida parlamentar não amealhou cabedais.

Apesar do meu esforço pessoal e de outros valorosos companheiros, infelizmente o mandamento constitucional se tornou uma verdadeira letra morta, nunca vindo a ser implementado, exceto por iniciativa pessoal dos dirigentes de algumas escolas. Quando ingressei em nossa Academia, em 19/11/2008, em algumas reuniões, inclusive em meu discurso de posse, tratei desse assunto, tendo o acolhimento solidário de vários colegas, que reconheceram o alto valor da colocação em prática desse dispositivo, entre os quais Herculano Moraes.

Quando Zózimo Tavares, com o seu carisma, simpatia, amizades pessoais e esforço, no começo deste ano, assumiu a presidência da Academia Piauiense de Letras, colocou como sua meta principal o cumprimento efetivo do artigo 226 de nossa Constituição Estadual, na parte referente ao ensino de Literatura Piauiense.

Adotou as providências já referidas acima e partiu para a luta, porque teve a compreensão da importância e alcance dessa desejada conquista. Fez desse objetivo um verdadeiro cavalo de batalha. E tudo indica, pelo que já expus, que essa meta de sua gestão já está quase alcançada. Como na parábola de Cristo, foi uma semente que caiu em terreno fértil, e o terreno fecundo foram a vontade, a persistência e o trabalho bem organizado de Zózimo Tavares e de Soares Filho.

Na minha opinião, será a mais importante conquista da Literatura Piauiense, e consequentemente de nossos escritores. Porque a nossa literatura se tornará mais conhecida, e porque nossos escritores serão lidos por mais e novos leitores, muitos dos quais serão formados a partir dessa implementação.

20 dias de Bon Jovi #15: O sonhador

2009, em algum lugar da Itália. (E ao som de When we were beautiful)

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Olhe!

Há um mundo inteiro a nos consumir…

De tal maneira, que escapa, até mesmo,
Daquela tua mania besta de querer definir ou ditar: as formas e as coisas.

Atente!

Para um universo muito além do que a tua tola percepção poderia deduzir…

Entregue!

A tua desumana prepotência,
O teu desprezível gosto,
(Banal, material, vil-metal)

Não há mais tempo!

Entregue logo o teu despeito,
Pois as estrelas estão aí
A cortar o vento,
Iluminando um trilhão de sombras histéricas
Despedaçando a ira e o rancor

Não seja estúpido!

Em querer ser maior que elas, as estrelas
Cegariam-te na primeira tentativa que fosse,
De tentar vê-las (ou ao menos imaginá-las)

Então é melhor que esqueça o que eu disse antes!

Apenas fique bem quieto
Feche os olhos
Desligue-se por completo

Se deixe levar…

Deixe que os sonhos te conduzam até onde as respostas residem,
Um lugar onde todas as lembranças adormecidas se revelam,
Tão vivas quanto o presente (ou até mais)

E daí você vai perceber.

Claucio Ciarlini (2013)

BRASIL – 50 ANOS DE TRICAMPEONATO

No  domingo, 21 de junho,  completaram cinquenta anos  do jogo em que o Brasil sagrou-se tri tricampeão mundial de football association conquistando por definitivo a taça Jules Rimet. Os gols da partida foram marcados por Pelé, Gérson, Jairzinho e Carlos Alberto Torres ( o capitão) para o Brasil e por Boninsegna para a Itália.Nessa época eu morava em São Luís,  e o Maranhão,  possuía apenas um único canal de televisão – a TV Difusora do Maranhão fundada pelos irmãos Magno e Raimundo Bacelar.Sem contar com transmissões via satélite, ou com qualquer outra tecnologia que pudesse conectar a TV maranhense a outras emissoras de televisão do país e transmitir os jogos no momento das partidas,  os maranhenses contentavam-se em ouvir os jogos pelo rádio,  e ver  tarde da noite, ou  no dias seguinte,  os tapes vindos de São Paulo trazidos por aviões que só chegavam em São Luís por volta das 23 horas, sendo que a televisão encerrava sua programação pontualmente à meia noite, ou seja à zero hora e por essa razão nem sempre era possível ver os tapes das partidas no mesmo dia em que eram realizadas. .Já a capital do Piauí, a cidade de Parnaíba e outras cidades do interior piauiense, por intermédio do prestígio e da capacidade do engenheiro Alberto Silva, tiveram o privilégio de assistirem ao vivo todas as partidas da Copa de 1970  transmitidas pela TV Ceará.Alberto Silva, então funcionário da Companhia de Eletrificação do Ceará (COELCE) idealizou a instalação de uma torre na cidade de Ubajara, na Serra da Ibiapaba, cuja função seria captar e retransmitir  o sinal da TV Ceará para uma repetidora instalada na cidade de Pedro II no Piauí, e de  lá,  o sinal da televisão cearense chegaria  à capital Teresina, Parnaíba e para outros municípios do Estado, como de fato aconteceu.  Assim, muitos piauienses tiveram esse privilégio de verem os jogos da copa de 1970 na comodidade e no conforto de seus lares.Como  conta o jornalista Zózimo Tavares, em seu livro 100 Fatos do Piauí no Século 20 “a transmissão foi possívelporque a antiga Companhia de Telecomunicações do Piauí montou o seu sistema de comunicação, por microondas, para quase todo o Estado, de modo que as repetidoras de sinal de televisão pudessem utilizar, com inteira  confiabilidade e sem despesas adicionais, as torres e instalações existentes para a reprodução das imagens da televisão às cidades já atendidas pela Telepisa”.Vale ressaltar que isso só foi possível graças ao prestigio do engenheiro parnaibano e da  aquiescência do então governador João Clímaco d’Almeida, o Joqueira, permitindo, sem qualquer ônus,  a utilização do sistema das  Telecomunicações  do Estado do Piauí – Telepisa.E era  assim que nos dias de jogos sempre  havia uma “invasão” de maranhenses na capital do Piauí – Teresina.De carro próprios, de ônibus, de bicicletas, de jegues,  ou de trem,  os maranhenses vinham em grande massa para Teresina a fim de verem pela televisão os  jogos da seleção. O movimento era grande, principalmente nos bares, nas janelas das casas (no chamado televizinho).Depois dos jogos,  quando o Brasil ganhava, o fuzuê era grande. A alegria ganhava as ruas, as praças e principalmente os bares. Não sei se por gozação, pra “tirar onda” com os maranhenses ou até mesmo para  demonstrar o lado do bom humor piauiense   tinha  uma grande faixa  à entrada da Ponte Metálica João Luis Ferreira,  no lado  maranhense em Timon,  que dizia:“MARANHENSESBEM-VINDOS À GUADALAJARA”, porque os jogos da seleção, com exceção da final da copa foram realizados no estádio Jalisco,  na cidade  cidade de Guadalajara, porém no último jogo a placa foi mudada para “MARANHENSESBEM-VINDOS AO NOVO MÉXICO” tendo emque a partida seria realizada no estádio ASTECA da cidade do México.Mas na realidade o que houve mesmo foi um grande congraçamento entre piauienses e maranhenses. Todos irmanados torcendo pelo Brasil.
Exatamente neste  último jogo, domingo 21 de junho de 1970, lá estava eu e o Marcelino   Champagnat (um amigo e colega do curso de inglês) hóspedes do meu irmão Durval Pimentel, em sua casa da rua Jonathas Batista esquina com a 24 de janeiro, vizinha ao “Bar Leão do Mafuá” e da famosa Ponte do Mafuá que dá acesso à rua Gabriel Ferreira na Vila Operária e bairros adjacentes.Minha madrinha Inês,  esposa de Durval, havia preparado um delicioso vatapá feito com o saboroso camarão de Tutóia e estávamos degustando na companhia de umas “louras suadas” enquanto esperávamos a partida que começaria em poucos minutos.Pois bem, olhos atento no aparelho de TV, silêncio geral e o árbitro dá inicio ao jogo.  Decorridos 17 minutos Pelé marca o primeiro gol. 

 Ainda nas emoções do primeiro gol marcado por Pelé meu irmão começa a passar mal.  Abandonamos um pouco a Televisão para cuidar dele. Não sei se por causa da emoção, ou por efeito etílico, o Durval passa mal, mas logo logo madrinha Inês resolveu o problema com um chá de erva-cidreira e tudo voltou ao normal.Após o jogo, até porque nossa cerveja já tinha acabado, Eu e  Marcelino fomos ao centro, na Praça Pedro II. Um verdadeiro carnaval! A cervejaria Astra, de propriedade do cearense Jota Macedo tinha acabado de lançar no mercado a famosa astrinha e o proprietário do Bar Carnaúba em homenagem ao tri campeonato brasileiro determinou a venda do produto por CR$ 1,00 (um cruzeiro) moeda vigente na época.

20 dias de Bon Jovi #14: O soldado

1992, ruas de Sarajevo, Bósnia. (E ao som de Dry Count)

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Sangue.

É tudo o que presencio neste momento mais que aterrador.

Um dia fomos chamados de soldados,
Éramos como heróis a levantar bandeiras e se exibir
Mas vejo que não passamos de meros assassinos…

Corpos espalhados,

Numa imensidão, que não há como não perder a alma no meio da contagem.

O silêncio é o que mais nos perturba agora,
A criatura que nos persegue, nos açoita,
Como que dizendo: Culpados!

Impotentes,

Sem conseguir responder ao insulto,
Tão frágeis, que desabamos de encontro ao inferno,
(Que, convenhamos, é de onde nunca deveríamos ter saído)

Discursos, discursos e mais discursos,

Entremeados em nossas estúpidas mentes mais que arrogantes

Discursos que nos levaram a matar, até sentindo prazer (vingança é a desculpa).

E com bastante remorso,
Percebemos…

O genocídio de nada mais, do que nossos próprios irmãos.

Heróis.

Claucio Ciarlini (2013)

APAL REALIZARÁ SUA PRIMEIRA ELEIÇÃO VIRTUAL

A Academia Parnaibana de Letras realizará pela primeira vez em seus trinta e sete anos de existência uma eleição diferente do rito tradicional para preenchimento de uma cadeira vaga. No dia 4 de julho a partir das quinze horas será aberto o processo de eleição virtual.
Este processo, segundo anunciou a presidência da entidade, cumpre as recomendações das autoridades sanitárias sobre reuniões em lugares fechados, principalmente para uma entidade com a maioria dos membros dentro do chamado grupo de risco.
O candidato único é o escritor e  desembargador José James Gomes Pereira, parnaibano e que exerce a presidência do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí, coautor do livro Pluralismo e Democracia, Desafios para o Constitucionalismo Contemporâneo, lançado em novembro de 2019.
A cadeira número 9 da Academia Parnaibana de Letras tem como patrono R. Petit e seus últimos ocupantes foram Alberto Silva e José de Nicodemos Alves Ramos. 
Fonte:APAL. Foto: APAL/CV. Edição: APM Notícias.

Café de dias amargos, por Pádua Marques

Seu Belarmino agora era de pouco sair de casa, mas naquele sábado de abril de 1942 deu vontade de ir até o Mercado Central, ali perto da sua casa na Marquês do Herval, próximo da praça de Santo Antonio. Era cedo da manhã e ele com a criada Buita, andando dois passos atrás, ia seguindo naquele silêncio quebrado pelo canto de algum passarinho vindo dos fundos da casa do coronel Epaminondas. Mas o antigo corretor de cera de carnaúba e de coco babaçu, no porto Salgado, ficava pelo caminho esperando algum conhecido pra puxar conversa. E esse conhecido naquele dia foi Mundico Castro.

Mundico Castro, o Mundico Caroba, homem de boa altura, pele queimada, cabelos ficando brancos, ia concordando aqui e ali, metia a opinião nesse ou naquele assunto. Seu Belarmino depois de ter chegado em frente ao armazém de seu Antonio Thomaz da Costa, com o dono se pôs a falar dos tempos passados em que tentou meter na cabeça da gente rica da Parnaíba, agora afundando em dívidas, que desde 1930 a cera de carnaúba e o babaçu estavam sendo rejeitados e caindo no mercado internacional, mas ninguém deu ouvidos.

Passou um conhecido e seu Belarmino lembrou os tempos de Pena Boto, o capitão da Marinha, que sempre falou mal da Parnaíba e da teimosia de seu Josias Moraes Correia sobre o porto de Amarração. Depois veio aquele trabalho todo com o canal de São José, a briga pra ficar com a Tutoia, a questão do Figueiroa, os navios perdidos. Brigas entre as famílias ricas que até deram em intrigas pra vida toda.

Belarmino e a criada iam caminhando devagar, olhando e esticando o pescoço pra esta ou aquela mercadoria, cutucando as frutas, as verduras, perguntando o preço do marisco, da farinha, do feijão e da fava. E ele ia mandando que ela comprasse e fosse botando esta ou aquela verdura ou fruta na sacola.

Ozita, a mulher gorda e pesada, ficou em casa esperando, pois nunca gostou de meio de rua, muito menos cheiro de mercado, com aqueles negros, homens, mulheres e meninos fedendo a peixe, suados e com as roupas remendadas e de tamancos. Mal saía pra assistir a missa na igreja de Nossa Senhora da Graça, ali perto. Mas naquele dia pediu à criada que lhe trouxesse jerimum e maxixes. Enquanto isso o marido vinha caminhando bem devagar e com Mundico Caroba enveredava a conversa sobre a qualidade da cera de carnaúba que as indústrias passaram a beneficiar.

Certa vez chegou a falar grosso com o pessoal do Zeca Correia alertando que aquilo não estava certo. A Parnaíba corria o risco de afundar e levar junto muita gente, principalmente uns que nunca tinham pegado em dinheiro e que agora viviam importando tudo o que era luxo, carros de passeio, caminhões, máquinas pesadas e que pelo andar da coisa, uma guerra na Europa, em breve tudo aquilo ficaria sem serventia. Dizia que se aquelas paredes do Cassino tivessem boca diriam que ele estava falando a verdade.

Belarmino agora entrava no mercado de carnes e de peixes. O dono de um quiosque logo na frente, seu conhecido, o Pompeu, depois de limpar com um pedaço de pano trouxe um tamborete pra que ele se sentasse. O velho corretor, amigo e conhecido de todo mundo ali no mercado, se empolgava ao ver crescendo aquela gente humilde fazer roda pra ouvir suas histórias, sua raiva contra esse ou aquele. Batia os nós dos dedos na cadeira, falava mal de Getúlio, de Landri Sales e de Leônidas Melo, os dois últimos, interventores e que tudo fizeram pra prejudicar a Parnaíba.

Belarmino até podia estar exagerando, caducando, mas nas suas lembranças de tempos passados havia muita coisa verdadeira. E aqueles homens cheirando a rapé, a cachimbo, a aguardente, ficavam encantados ali ouvindo.  Ele lembrava agora dos dois filhos, Belarmino Filho, advogado em São Luís, no Maranhão, e da filha, Violeta, casada com um médico e morando no Rio de Janeiro. Era ela quem mandava dizer pra ele tudo aquilo que estava acontecendo no Brasil e mundo. E ele era também de ouvir a Rádio Educadora.

Pra aquele homem já passando dos setenta anos e que ainda tinha forças pra de vez em quando se levantar e naquele mesmo passo amiudado ir até o fundo do alpendre pra conversar com o xexéu, cantadorzinho que era danado e presente de um compadre e primo de Buriti dos Lopes, a riqueza na Parnaíba estava mudando de mãos e dentro de pouco seria a vez de muita gente correr pra política! Getúlio Vargas e os seus aliados não eram de confiança!

Mundico Caroba, o camarada de conversa, agora olhava pra criada Buita ali ao lado, querendo dizer pra ela que pela hora e o sol alto no céu, queria ir embora, mas Belarmino puxava mais conversa com este ou aquele e as pessoas vinham ver e ouvir aquele homem rico, amigo de poderosos como seu Roland Jacob e Zeca Correia, que morava em casa de palacete na Marquês do Herval, tinha rádio e luz elétrica, filha casada com doutor e filho advogado, andava bem vestido, banho tomado e cheirando a lavanda, estava no meio do povo.

E um ou outro vinha apertar sua mão, trazer um menino pra lhe pedir a bênção com a intenção oculta de que ele abrisse a carteira e dali saísse uma moeda. Belarmino falava agora sem dizer nomes, de uma gente na Parnaíba naquele ano de 1942 que agora vivia até comprando avião, dando festas no Cassino num momento de dificuldades com uma guerra na Europa e tudo o mais! Essas pessoas não mediam carreira e achavam que a riqueza delas seria pra toda a vida. Quando falava aquilo até tremia os beiços.

Na volta pra casa Belarmino mandou que a criada Buita pegasse alguma coisa na cozinha e desse pra aquele homem pobre e que lhe deu o prazer de companhia naquela viagem ao Mercado Central. Benedita foi e veio numa pisada só, com uma tigela de arroz com pedaços de peixes fritos e deu pra Mundico Caroba. Aquela comida era sobra de janta de Ozita, sua mulher. Ozita gostava de peixe de água salgada e feito frito. Mas antes de Mundico apertar sua mão pra ir embora de vez, Belarmino meteu a mão no bolso e tirou uma moeda. Aquele agrado era pra ele tomar um café.

Pádua Marques

20 dias de Bon Jovi #13: A turista

1989, em algum lugar da Índia. (E ao som de I´ll be there for you)

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Palavras

Eu tento encontrar algum significado entre tudo o que dissemos
(Principalmente no que você me disse)

Palavras

Que por ora, teimam em inundar a minha mente,
Já tão desgastada por nós dois
(Eu juro, eu tento não pensar)

Palavras

Espalhadas bem aqui, na frente…
Arremessadas nas nossas últimas horas de lampejos e agonia.
Palavras que castigaram, e ainda castigam
(O ingênuo sonho idealizado por nós)

Palavras

Que causam certo desespero…
Um desespero que viagem alguma conseguiria aplacar,
E, tola, achei que esta fuga me traria alguma paz, quem sabe algumas respostas
(Eu devia ter adivinhado que tudo não passava de mera propaganda criada pelos livros)

Palavras

Escritas em obras, que se tornaram até filmes bons, e canções extraordinárias
Que tanto, nós, digerimos, vivenciamos, amamos…
(Lembra-se disso, meu amor?)

Palavras

De promessas em beijos
De confissões de amor
(De entrega aos mais calientes desejos, ao sabor)

Palavras

Que acabam me seduzindo,
E eu, como de costume, me transformando naquela garota carinhosa, atenta
A te querer, a te esperar, te exaltar
(E para quê?)

Para acabar, como sempre, nas mesmas e tristes palavras.

Claucio Ciarlini (2013)

20 dias de Bon Jovi #12: O perdedor

2004, em algum lugar do Canadá (E ao som de River Runs Dry)

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Apostei

Quando tudo levava a crer que eu perderia…

Arrisquei a última chance de virar este jogo maldito
(nesta vida, que nada mais é do que cárcere)

E agora estou aqui,
Embriagado de angústia
Segurando esta prestativa arma,

Refletindo à beira do convidativo precipício,
Perdido em resmungos e asneiras
Que ninguém, eu digo: Ninguém,
Quer escutar (eles nem mesmo tentam)

Numa monotonia de morrer,
Conversa sem sabor (nem sentido)
Um jogo de xadrez, que você joga sozinho
Que apenas você mexe,
Que até você ganha, mas também perde…

(Quanta besteira)

Os dedos parecem querer se comunicar com o gatilho
Porém a mente é fraca demais (covarde)
E acaba impedindo o grito de se manifestar…

As lágrimas ameaçam surgir,
Mas são apenas ameaças,
Pois qualquer tentativa de choro é inútil,
Quando todas as derrotas e tragédias já te deixaram insensível…

Insensível a ponto de perder tudo,
De tentar viver só de razão,
Achando que venceria até mesmo o tão proclamado amor…

Irônico

É justamente o amor que, agora, me faz desistir.

Claucio Ciarlini (2013)