Meu consolo à minha terra.

 

sinistros3

 

*Nailton Rodrigues.

 

Chore minha terra

Minha terra chora.

Minha terra chora e seu choro é quente

Chora aos berros em um soluço ardente!

 

Chore minha terra

Minha terra chora

Minha terra chora e seu soluço é seco

Chora lágrimas barrentas

Como suas águas ao molhar o medo.

Chore minha terra.

Minha terra chora.

Chora “sem motivo”, chora.

Até que se sinta o cheiro.

Cheiro de um choro.

Cheio de chances de se chorar só

Como o velho que perde a rede,

Perdeu o peixe

Por falta de nó.

sinistros2

Minha terra beira à morte.

Minha terra, flor do Norte.

Minha terra tem de tudo.

Trago em meu peito o bronze escudo.

sinistros1

Minha terra chora

E nós a fizemos chorar.

Minha terra seca e nós negando

A plantar.

Minha terra viva, não será matada!

Morrida, se Deus a mandar!

Minha terra chora.

Minha terra me chama: “Tomai o pano de prato, venha me consolar”.

 

sinistros4

Relicário.

*Nailton Rodrigues.

 

Criei simples relicário e pus suas palavras.

Os seus sorrisos, seus olhares.

Era tão simples, mas tão belo, corria estradas.

De suas lembranças, só milhares.

 

Pus também os nãos

Rudes cores mágicas

Sem usar as mãos

Só usei minhas lágrimas.

 

Mas houve um problema a se resolver.

Tornou-se imenso

Muito pesado, contendo desgosto e prazer

Sem queimar incenso.

O relicário tinha vida, mais até que o coração!

Tinha voz, tinha usura.

O relicário era vida, era morte, era intenção.

Tinha “Nós”.

Tinha amargura.

 

*Nailton da Silva Rodrigues, estudante do curso de História no campus da UESPI em Parnaíba. Em 2016, como estudante do ensino médio na Unidade Escolar Edson da Paz Cunha em Parnaíba, foi medalhista de prata na Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa.

 

 

 

 

DIÁRIO – 19/05/2020

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DIÁRIO

[Felipe Mendes: Economia e Desenvolvimento do Piauí]

Elmar Carvalho

19/05/2020

No dia 14 tive uma longa conversa telefônica com o confrade Felipe Mendes, escritor e economista renomado, sobre assuntos diversos do Piauí, incluindo sua economia, aspectos sociais, administrativos, financeiros, políticos e históricos.

Por ter sido deputado federal, vice-governador, secretário de estado da Fazenda, do Planejamento, e secretário municipal de Teresina nas pastas do Planejamento e de Finanças, além de professor do Curso de Economia da UFPI, ele é profundo conhecedor da administração, da economia e do planejamento do Estado do Piauí. Exerceu seus cargos públicos com probidade, eficiência e dedicação, como um verdadeiro servidor público e estadista, com o olhar voltado para o interesse social e com espírito público.

 No final da conversa, ele me pediu meu endereço; dei-lhe também os necessários pontos de referência, para uma mais eficaz localização. Um pouco mais tarde, chegava à portaria do condomínio onde moro a 2ª edição (2019) do importante livro Economia e Desenvolvimento do Piauí, publicado pela Editora da Universidade Federal do Piauí, que no ano vindouro completará 50 anos de bons serviços prestados à educação superior de nosso estado. Na folha de rosto encontra-se a amável dedicatória: “Ao amigo e confrade Elmar Carvalho, com estima e admiração, Felipe – 14.05.2020.” Desnecessário dizer que é verdadeira a recíproca.

Neste registro, referente ao livro de Felipe Mendes, me servirá de mote o pequeno comentário de Teresinha Queiroz, de apenas seis linhas, inserto em sua contracapa, assim como usarei, como aperitivo ou chamariz para futuros leitores, algumas passagens, sobretudo as do capítulo 1 – O Piauí em 1950, da Terceira Parte, que traz a seguinte epígrafe, da lavra de Renato Castelo Branco, com quem tive a honra de manter correspondência pelos Correios na década de 1980: “[…] por um erro administrativo crônico, por um vício hereditário dos nossos governos, temos preferido, até hoje, solucionar o acessório, com abandono do fundamental.”

Confessou-me, em outro telefonema, que a gênese de seu livro, ou pelo menos o que lhe provocou o desejo forte de escrevê-lo, foi o ensaio Formação Econômica do Piauí, de sua autoria, publicado originalmente no livro Piauí – formação – perspectivas – desenvolvimento, organizado pelo professor R. N. Monteiro de Santana, editado em 1995, do qual constituía o  capítulo III.

Sem dúvida o magistério superior de economia, as longas e profundas leituras e a experiência e conhecimento adquiridos nos importantes cargos públicos que exerceu lhe possibilitaram escrever essa importante obra, pioneira do ponto de vista do enfoque e abordagem e da formatação do conteúdo.

Como o próprio autor admite na “orelha”, a vertente edição teve pouca modificação em  referência à primeira. Houve a necessária correção de erros de digitação e de eventuais “cochilos” ortográficos. A quarta parte foi suprimida para ser transformada “em versão eletrônica da Quarta Parte, constituída pelo Documento dos Governadores e a Cronologia Histórica”.

Associaram-se a esse adendo eletrônico os arquivos de fotografias e vídeos relacionados com os temas abordados no livro, que evidentemente não poderiam integrar a edição impressa. Tanto o conteúdo do livro físico como essa parte eletrônica estarão integrados no site felipemendes.com.br, em fase de construção.

De fato, em sua seara, é enciclopédico, como disse Teresinha Queiroz, pela quantidade e diversidade de informações que contém. Sem dúvida, é também uma obra de consulta, e abarca um amplo corte cronológico, que se estende do período colonial aos nossos dias. Sem pretensão a fazer exercício de futurologia, o autor, com fundamento em suas análises e diagnósticos, aponta prognósticos e perspectivas coerentes com a nossa realidade, e não fantasiosos ou ufanistas.

Não apenas nos fornece informações e dados, mas os coteja, quando necessário. E os analisa e interpreta de forma perspicaz, de modo a esclarecer ou justificar os fatos e fenômenos de nossa economia. Lança luz em nossos sucessos e insucessos econômicos, em diferentes períodos de nossa história, apontando os “erros e acertos de nossos ancestrais e contemporâneos”, conforme escreveu Teresinha Queiroz, que além da notável historiadora que todos conhecemos, é também afeita aos estudos da economia.

Além de expor os dados, os fatos e informações de forma clara e objetiva, o autor os ilustra com quadros, tabelas e gráficos, cujos dados e informações são analisados, esclarecidos e interpretados de forma didática, sem filigranas ou firulas sibilinas, com que muitos pretendem fazer pose de profundos. Assim, esses quadros demonstrativos são uma síntese do objeto da dissertação e ao mesmo tempo a sua comprovação estatística.

Não é uma obra maçante ou meramente técnica, recheada de hermético economês. Ao contrário, é permeada pela história social, econômica, política e administrativa do Piauí, o que torna atraente e agradável a leitura. Para melhor condimentar esta crônica e fazê-la mais atrativa, pinçarei alguns tópicos, de forma sintética, do aludido capítulo 1 da Terceira Parte.

No ano de 1950, o nosso estado ultrapassou mais de um milhão de habitantes, conforme o censo demográfico desse ano. Contudo, de cada quatro piauienses, de 10 ou mais anos de idade, apenas um era alfabetizado. Essa faixa etária totalizava 702.424 habitantes, dos quais apenas 591 “afortunados”, como os classificou o autor, possuíam curso superior completo.

A estatística não era e nunca foi cruel; cruel era a realidade que ela expressava. De fato, a estatística não tem coração, mas apenas deve ser a pura expressão da verdade. No mesmo ano acima referido, a taxa de mortalidade infantil era alta: de cada mil nascimentos, 146,54 infantes morriam. Ainda assim era relativamente favorável, se comparada com a do Nordeste, que era de 176,34.

Somos informados de que, no início da segunda metade do século XX, o Piauí amargaria uma de suas piores crises, com a chegada do fim do ciclo do extrativismo vegetal associado ao comércio exterior, cujas atividades possibilitaram, a partir do final do século XIX, “um período de prosperidade singular na história do Estado”.

O autor nos informa que “as exportações de cera de carnaúba, iniciadas em 1894, as de babaçu, em 1911, e as de borracha de maniçoba”, que alcançaram seu auge no período de 1900 a 1920, tornaram possível o Piauí alcançar, na primeira metade do século passado, relevante posição no conjunto das exportações de nosso país. O fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, teria determinado a queda dos preços desses produtos, sobretudo da cera de carnaúba e do babaçu.

A borracha da maniçoba, no início do século XX, que teve sua exploração impulsionada pela nascente indústria automobilística nos Estados Unidos e na Europa, foi sufocada pela produzida na Malásia, o que também aconteceu, ainda em proporções maiores, com a produzida nos seringais do Acre.

A vontade de mostrar outros dados, informações e análises contidos na obra em comento é enorme, todavia devo me curvar ao fato de que não devo subtrair ao leitor o prazer de beber na fonte límpida, fecunda e original do livro. E também não desejo fazer uma espécie de spoiler.

Mas, como curiosidade e por ser interessante, ainda um fato quero e devo comentar. Com o declínio do extrativismo local, que prosseguiu até hoje, e do surgimento de outros produtos extrativos de outros estados e regiões, as companhias de navegação estrangeiras, com escritórios instalados em Parnaíba, começaram a encerrar suas atividades, desde o final da Segunda Guerra Mundial até meados da década de 1950, o que mais agravou a crise econômica parnaibana.

Com o agravamento da crise, segundo nos revela o livro, em 1957, a Companhia de Fiação e Tecidos Piauienses, instalada em Teresina, deixou de funcionar, após 64 anos de existência. E nessa derrocada econômica, pequenas fábricas de cigarro e quase dois mil engenhos, produtores de cachaça e açúcar, situados em diferentes rincões do estado, encerraram suas atividades.

Os pequenos engenhos, que inspiraram Da Costa e Silva a fazer o seu célebre soneto, ficaram de fogo morto, como no belo título do romance de José Lins do Rego. Restou apenas a saudade dos pequenos engenhos de madeira, “movidos pelos bois tardos e sonolentos”, que também povoam a poesia de Ascenso Ferreira: “Dos engenhos de minha terra / Só os nomes fazem sonhar:  // – Esperança ! / – Estrela d’Alva ! / – Flor do Bosque ! / – Bom-Mirar !”

Todavia, esse capítulo também refere os fatos auspiciosos da história social, administrativa e econômica de nosso estado, tais como, em 1954, a fundação em Parnaíba da Federação da Indústria do Estado do Piauí; o início do processo de organização e planejamento da administração pública estadual, com a criação, em 1956, da Comissão de Desenvolvimento do Estado – CODESE; a vinda, neste mesmo ano, do novo arcebispo de Teresina, Dom Avelar Brandão Vilela, que além da ênfase que deu à solução de problemas sociais, com a criação da Ação Social Arquidiocesana – ASA, fundou a Rádio Pioneira de Teresina e a Faculdade de Filosofia – FAFI; e a fundação, por um grupo de particulares, da Faculdade de Odontologia, cujo funcionamento contou com o auxílio do governo estadual. O Piauí já dispunha da Faculdade de Direito, instalada em 14/04/1931 e federalizada através da Lei nº 1254, de 04/12/1955.

Podemos dizer que essas três faculdades e mais a de Administração de Empresas (Parnaíba) e a estadual de Medicina foram a semente ou o embrião da Universidade Federal do Piauí, criada em 1968 e instituída pelo Decreto nº 64.969, de 11/08/1969, conforme informações colhidas no monumental Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Piauí, de Cláudio Bastos, para cuja publicação tive a honra de contribuir, na época em que fui presidente do Conselho Editorial da Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Sua instituição pelo Poder Executivo fora autorizada pela Lei nº 5.528/68. Foi instalada em 01/03/1971, e no próximo ano completará, como dito, meio século de relevantes serviços educacionais, culturais, hospitalares e editoriais prestados ao Piauí.

Por fim, merece uma menção honrosa e destacada a construção da Barragem de Boa Esperança, que no livro de Felipe Mendes teve uma longa abordagem, inclusive em seu aspecto histórico. A obra, uma das mais importantes em nosso estado, foi iniciada no princípio do governo do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco e concluída em 1970.

Também mereceu um percuciente, embora sintético estudo o panorama político que se desdobrou de 1947 até 1960, em que analisou as eleições e os embates políticos e partidários, as mazelas econômicas e eventuais conquistas, bem como as crises administrativas. Por conseguinte, comentou as eleições de José da Rocha Furtado, Pedro de Almendra Freitas, Jacob Manuel Gayoso e Almendra e Chagas Rodrigues.

Nesta segunda edição foram acrescentados os capítulos 6 e 7, que versam fatos ocorridos a partir de 2000, de forma resumida, mormente quanto aos aspectos sociais, econômicos e ao “papel do governo estadual no processo de desenvolvimento do período”. O livro, como já tive oportunidade de afirmar, é recheado de fatos históricos e políticos, que terminam comprovando que os problemas atuais de nosso estado vêm de um tempo remoto. Afirma e demonstra que o progresso e o avanço econômico do Piauí, nos últimos vinte anos, dependeu da iniciativa privada, e não de induções, de estímulos e de obras estruturantes do governo estadual.

Teresinha Queiroz, em entrevista publicada pela revista Revestrés (setembro/outubro de 2012), diz que “O IBGE, em meados dos anos 50, publica a primeira pesquisa com o ranking dos estados brasileiros. São Paulo aparece em primeiro lugar. O último era o Piauí. Essa descoberta impactou fortemente a maneira como os Estados passaram a se enxergar.  O Piauí se tornou, a partir daí, no discurso local e nacional, o pior Estado do Brasil. A ironia é que se a pesquisa tivesse sido feita alguns anos antes, o Piauí estaria muito bem”. O livro de Felipe Mendes, por suas análises e interpretações pautadas nos fatos, na lógica e nos números, por suas informações, dados e quadros demonstrativos estatísticos, além do volumoso conteúdo histórico que possui, no âmbito econômico, social, administrativo e político, é uma fotografia e uma radiografia do que disse a historiadora e economista.

Teresinha também afirmou, no breve comentário da contracapa, que Economia e Desenvolvimento do Piauí já surgira como “um clássico da cultura escrita piauiense”.

E pelo respeito e acatamento, que tem merecido dos estudiosos e leitores ao longo de dezessete anos, permanece e há de permanecer como um clássico, ocupando o pódio que merece ocupar.

CONSERVADORISMO …

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               O Sr.Gerardo era aquele tipo de homem que impunha respeito ao  adentrar em qualquer recinto. Mesmo de boca fechada e em ambiente desconhecido sua aparência demonstrava sua integridade. Cabeleira farta e grisalha, postura elegante, bem vestido, gestos de gente fina e educada e jeito de pessoa instruída, culta e inteligente.
            Mas era um homem conservador, mantinha um vocabulário retrogrado e não aceitava certos modernismos.
             Para ele:
           .  Bula  era prospecto
           . Foto  era retrato
           . Sutiã  era califom
           . Fusca era Volks
            E dizia em alto e bom tom, que o melhor desodorante era Leite de Rosa e não passava sem uma pomada Minancora que tinha mil e uma utilidades tal qual o vickvaporub.
            Ficava bravo quando via na televisão ou lia nas revistas dicas para viver feliz e saudável. O stress e a depressão, doenças da modernidade, chamava de fricote. Não entendia como as reportagens mudavam de cara repentinamente. Um dia saudável era andar, no outro era correr. Caminhada é recomendada pela manhã depois a melhor hora era no final da tarde. Carne vermelha ora faz mal, ora faz bem.
           Nunca mudou seu estilo de vida e continuava forte, robusto e saudável. Não praticava nenhum exercício, comia feijoada e carnes gordas apesar de sua idade. Por isso mesmo escutava todo o dia um blá-blá-blá de sua esposa e do seu médico.
             Quase não assistia televisão. As novelas exibiam a família moderna onde os filhos não tinham limites. Família tem que ser careta na concepção do Sr. Gerardo. A paternidade e maternidade devem ser responsáveis pelo respeito e obediência. Por isso mesmo se tem tanta violência nesse mundo, falta de educação, de repressão, de formação, de autoridade dos pais, de família.
             Não lia os autores modernos, preferia o Olavo Bilac e Machado de Assis. Mas, repentinamente passou a ler Arnaldo Jabour. Surpresa para todos porque quem o conhecia de perto, sabia que o estilo do escritor nada batia com seu jeito austero de encarar a vida.
            D.Dora sua esposa só pode entender essa mudança brusca do marido em relação ao gosto pela leitura quando chegou ao consultório médico no exame de rotina que Sr. Gerardo  fazia somente pela insistência da esposa e filhos.
          Dr. Beroaldo começou com as recomendações de sempre. Faça exercícios, coma isso e aquilo, evite sedentarismo etc. Adotar mudanças de hábitos traz qualidade de vida e longevidade. E por ai foi o rosário de recomendações impostas ao homem do século XXI. Antigamente nada disso existia.
         Depois que escutou passivamente os conselhos do médico, o paciente tirou do bolso um papel amassado entregou ao médico e se retirou da sala. Desta vez com uma cara de satisfação. D.Dora o acompanhou sem entender nada e perguntou ao esposo o que deu nele para interromper a consulta. Que papel tinha entregue ao doutor.
           Ele ainda sem falar, mas com um sorriso maroto passou uma segunda via para esposa.

           “A tartaruga com toda aquela lerdeza vive 300 anos….Você conhece algum coelho que tenha vivido 15 anos? … Não fique chateado se você passar a vida inteira gordo… Você terá toda a eternidade para ser só osso!….A baleia só  bebe água, só come peixe, faz natação o dia inteiro, e é gorda!!! O elefante só come verdura e é gordo!! Você  tem pneus??? Lógico todo avião tem!!!” ( Arnaldo Jabour)

                Cabeça dura a do Sr. Gerardo heimm??!!

DO LIVRO “VOU TE CONTAR” 2008
MARIA DILMA PONTE DE BRITO APAL
CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1ºOCUPANTE HUMBERTO TELES MACHDO DE SOUSA