SANTIDADE

SANTIDADE
Wilton Porto

QUADO eu era uma criança
com altivo sonho de ser santo
livro nas mãos em hora mansa
Olhos nos Céus Coração em canto.

Quando eu dormia – alma serena
anjos de luz comigo voavam.
Ouvia música de clarinetes: centenas!
Os vexames do medo se apaziguavam.

Na calma igreja joelhos dobrados.
Olhos fixos no Jesus, da Cruz.
Em vez de vê-lO todo ensanguentado,
O via inundado numa etérea Luz.

Parece que Seus Olhos pousavam em mim.
No meu Coração a Voz dEle: clara, forte…
Era os acordes de um violino,
traçando do meu destino a minha Sorte.

Hoje, olhando as lutas que todo dia travo,
o desempenhar de cada ação em prol do outro eu.
Percebo que a mesma voz da infância, ouço e afago,
imaginando que esta Voz vem lá do Céu.

Se me derramo sobre estas verdades – quem acredita?!
sou como o filho do Carpinteiro, que todos conhecem.
Neste Plano é tão certo, que só a ilusão se fita,
que o Cristo que pela rua pede esmola, dEle, realmente, quem se compadece?!

Se hoje, temos Profetas,
quem neles acreditam?!
São homens comuns: apenas com altas metas!
– Alertar aos desavisados daquilo que todo dia fitam.

O progresso que desumaniza: Banco do Brasil

Capitulo 1: Banco do Brasil

O passado.

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Os passos apressados… Pelos corredores do prédio, correndo, entrando nos elevadores, apertando os botões luminosos, que me conduzem a outros andares… Brincando de nave espacial, viagem no tempo, e tantas outras invenções, oriundas da imaginação sem limites de um ser em plena infância. Momentos e sensações, que não se limitam apenas a corridas, subidas e descidas. Continuam pela lanchonete do terceiro andar, onde degusto salgados, sanduíches, refrigerantes, e quanto mais guloseimas meu (jovem) estômago consegue suportar…

Encerrado o lanche, é hora de “trabalhar” na máquina de datilografia, que se encontra em local improvisado, ao lado da mesa de minha mãe, funcionária do banco. Enquanto ela trabalha, atendendo os clientes, fico de cabeça baixa, a bater os dedos cImagemom força e rapidez, registrando letras, números e símbolos… Deixando-me levar pelos primeiros (e sedutores) passos no mundo subjetivo da escrita.

Entre um teclar e outro, eu me permito levantar, mesmo que levemente a cabeça, e a prestar a atenção… No movimento das pessoas, desde os clientes, passando para os mesários, os caixas, funcionários da limpeza… Noto, em grande parte deles, uma amizade, um respeito, um clima agradável de sorrisos e descontração, um calor humano exala das janelas, ao mesmo tempo em que recebe um ventinho bom de fora, que todos agradecem e que os impulsiona, a trabalhar com mais satisfação e prazer.

Os dias atuais.

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Entro no Banco do Brasil…  Ao invés de pessoas, atendendo com um “bom dia” e uma “boa tarde”, encontro máquinas, as chamadas “Caixa – Rápido”. Podem até serem eficientes, as tais máquinas, contudo são apenas máquinas, ríspidas, sem sensibilidade, no qual inserimos cartões e digitamos códigos… A lanchonete nem deve existir mais… Pois afinal, máquinas não precisam beber ou comer… Os funcionários, assim como a velha companheira de datilografia, foram substituídos por avançados computadores, que repito, podem até serem mais eficientes (e rápidos), porém não esboçam qualquer simpatia ou charme…

No primeiro andar, atualmente o meu último acesso, avisto ainda alguns funcionários, trabalhando nos caixas e mesas… Mas tudo é diferente. O ar-condicionado reproduz a frieza que existe no ambiente dos dias atuais… Faz até com que algumas pessoas que se encontram nas filas, se tornem mais impacientes e tensas…

Às vezes, mais vale um barulho que incomode, do que um silêncio que angustie…

Sobraram apenas poucas pessoas, a operar as máquinas, apertando um botão e outro, sérias, e quase sempre com um olhar estressado, mais parecendo as máquinas, que elas próprias, operam. Não há mais sorrisos, pois não há mais crianças correndo e brincando… Minha mãe não se encontra mais aqui… Aposentou-se há alguns anos. Ela não se encaixaria mais neste “novo Banco”… Com sua alegria de viver, ela traduzia exatamente o que era a agência de Parnaíba há apenas alguns anos…

O calor humano não existe mais. A inocência se foi. Existe apenas um ambiente fechado, repleto de trancas e alarmes, dispositivos implantados para que haja mais segurança… Mas que torna o Banco do Brasil, assim como diversos outros bancos, cada vez mais distante das pessoas que dele dependem.

O avanço tecnológico aliado ao crime e a violência, consistem em alguns dos principais motores que tornam possível o “progresso”, sempre atrelado ao capitalismo, e cada vez mais, independente de “humanidade”. Esta série surge para tratar justamente destes “progressos” e suas consequências, principalmente no que condiz à questão do fator desumanizador deste avanço ou progresso, que muita gente nem nota… A não ser, quando este se faz, real e tarde.

Claucio Ciarlini (2012)

Vaidade de mulher…

 

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         Toda mulher é vaidosa. E todo marido reclama da demora que a mulher leva no banheiro, no salão de beleza e para se preparar. Até para um churrasquinho simples ou mesmo para ir ao shopping a mulher passa creme, sombra, batom, arruma os cabelos, põe brinco, colar, etc., etc.

            Não basta fazer academia, tem que se submeter a massagem, caminhar e ainda obedecer um rigoroso regime em nome da beleza. Queira fazer uma mulher feliz, diga que ela está nova. A Margarida passou dias sem dormir de tanta felicidade porque ao sair com sua filha perguntaram se eram irmãs. A Teresa quase morre de contente quando o rapaz do caixa a mandou para a fila porque ali só atendia prioridade, pessoas com mais de sessenta anos. E ela foi para o final e muito contente mesmo tendo sessenta e quatro anos. Um elogio desse não tinha como reclamar, pelo contrário o caixa ganhou sua simpatia.

            Batom é o que não falta nas bolsas das mulheres. O João diz que tem a impressão que são de cores repetidas porque pela quantidade não dá para ser um de cada cor. Batom e brinco são tão essenciais para o sexo feminino como o ar que se respira. O Mário reclama porque toda semana a sua esposa compra um batom e tem uns que são tão caros que parece joia.

            Dizem que tudo que acontece, embora não sendo algo bom, tem um lado positivo. E a prova disso é que agora estamos em tem tempo de COVID-19, uma pandemia que vem tirando a vida de muitas pessoas e trazendo consequências desastrosas para a economia e para a sociedade. Isso é muito triste e preocupante, mas o lado positivo é que agora todo mundo usa máscara e assim os batons ficam dispensados. Como esta situação já perdura por meses está sendo ótimo para o bolso de Mário e de tantos outros maridos.

            Mas, nem tanto assim porque agora o gasto foi para as máscaras. A Judite combina cada uma com a roupa. Tem de bolinha, listrada, de xadrez e até bordada. Isso porque é tempo de confinamento. Sair só quando extremamente necessário porque essa é a vacina para evitar a proliferação do vírus, explicam os profissionais da saúde.

            Enquanto isso as roupas, sapatos, acessórios, colar, brinco e os produtos de beleza ficam intrigados por estarem mofando no guarda roupa. Eles também querem sair. E ficam a indagar o que aconteceram com suas donas. Viajaram? Morreram?

           Nada disso. Calma! Paciência! Tudo isso vai passar!

        Mulher tem que ser mesmo vaidosa. Todas querem ficar bonitas. Mas a mais elegante de todas é aquela que é bela por dentro. Ou seja, é a que se veste de caráter, simpatia, educação e singeleza.

DO LIVRO “O QUINTO” INÉDITO
MARIA DILMA PONTE DE BRITO APAL
CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1ºOCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA

 

 

Transparência – ande na linha

 

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            A gente abre a boca e diz um monte de besteira, sem nem imaginar o que essas palavras possam refletir e comprometer. Meu pai sempre recomendava. “Veja o que diz, para quem diz e como diz e onde diz”. Ele gostava de dizer: “Matos tem olhos e paredes têm ouvido”. Imagine, que ele já faleceu faz tempo. Nunca navegou na Internet e nunca possuiu um celular. Mas naquela época, já se previa que o homem devia ser cauteloso. Modernamente deve ser muito mais ainda, porque é vigiado por câmaras, por radar, pode ser fotografado discretamente por um celular minúsculo, não adianta jurar que não ultrapassou dos 60 km porque seu carro está na fita com placa e tudo. Não ouse limpar o nariz no elevador porque o porteiro que está lhe observando na “cam” vai saber o quanto você é mal educado. Meu irmão, cuidado, sua vida é transparente.

         Se meu pai ainda tivesse nesse mundo, tenho certeza que me diria: Minha filha ande na linha. Sua vida está exposta. Ele naquela época já gostava desse conselho: Ande na linha. Agora nesse momento, fico pensado. O que é andar na linha? Acho que essa expressão vem do tempo que o trem era o mais importante meio de transporte. Se ele sai da linha todos os vagões se desgovernam, é o caos. Mas, o que significa dizer que o homem tem que andar na linha? Talvez seja pensar, dizer, falar, ter atitudes que possam ser vistas ouvidas, fotografadas por qualquer pessoa sem comprometer sua integridade, sua postura, sua imagem.

            Uma palavra dita erradamente, um gesto, um atitude momentânea, pode servir de provas que lhe comprometa. Os gravadores estão cada vez menores, a tecnologia cada vez mais avançada que colabora e atrapalha. O bem e o mal existem.

          Portanto caro companheiro, ande na linha e não se desespere. Se alguém lhe filmar fazendo amor ou no vaso sanitário, aconteceu, faz parte! Você não tem mais privacidade.  Não se estresse. Quem sabe, você esteja até bem na fita.

 

DO LIVRO “O QUINTO” – INÉDITO
MARIA DILMA PONTE DE BRITO APAL
CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA