Dossiê Versania (5): Divulgações

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Setembro – Dezembro de 2017

Os poetas de Versania iniciam turnê de divulgação da obra e através das redes sociais (principalmente Facebook) seguem anunciando os locais. Abaixo, alguns exemplos:

      A obra Versania ainda contou com o lançamento de uma segunda edição, exatamente um ano após o lançamento da primeira. Mas isso é assunto para um outro dossiê. Um outro dia!

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SERVIDOR PÚBLICO

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Elmar visto por Gervásio Castro, na condição de juiz, blogueiro, literato e flamenguista

Servidor Público

Elmar Carvalho

Faz hoje 36 anos que ingressei no serviço público, quando fui admitido na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, lotado na Diretoria Regional do Piauí, no cargo de monitor postal, após ter feito curso de três meses, em Recife. Amanhã, por coincidência, meu filho João Miguel de Sousa Carvalho segue para Manaus, onde será aluno do curso para oficial da Polícia Militar do Amazonas, depois de ser aprovado em difícil e concorrido concurso público. Após as provas, foram exigidos rigorosos exames e laudos referentes à saúde, além de um extenuante e reprovativo exame de resistência física, em que muitos não lograram êxito. Por último, ainda houve teste psicotécnico.

Após deixar a ECT, ingressei na SUNAB, no cargo de fiscal, através de aprovação em concurso público, no dia 10 de agosto de 1982. Se não tivesse seguido outro rumo, hoje seria auditor-fiscal da Receita Federal. Em 19 de dezembro de 1997, tomei posse junto ao egrégio Tribunal de Justiça do Piauí, no cargo de Juiz de Direito. Hoje, sou o titular da Comarca de Regeneração, desde 3 de abril de 2007.

Na minha vida, desde muito cedo, senti atração pelo serviço público, pois nunca tive vocação nem para empregado e nem para patrão. Também nunca tive desejo de ser rico. Confesso que sempre desejei ter um bom emprego público, em que pudesse me sustentar e sustentar minha família com dignidade, sem maiores sobressaltos financeiros. Deus me concedeu isso, não, talvez, exatamente no modo e na velocidade em que o almejei, mas me atendeu esse desejo de forma gradativa e ascendente, como a me moldar, a me aperfeiçoar na experiência e nas lições de vida.

Não vou aqui ser um cabotino, e dizer que tenho sido um bom servidor; afinal, parafraseando Cristo, quem quiser ser o maior, deverá ser aquele que melhor serve. Portanto, deve ser o melhor servo, aquele que serve, e não o que é servido. Direi apenas que tenho me esforçado para ser um bom servidor, para cumprir da melhor forma possível o meu dever, dentro de minhas limitações físicas e intelectuais, e de acordo com as condições que me são oferecidas, que certamente não são as ideais.

Considerando meu tempo ficto na magistratura e no serviço público em geral, tenho mais de quarenta anos de serviço, e, portanto, já posso requerer minha aposentadoria. Como gosto do que faço, e continuo estimulado a bem desempenhar o meu ofício, ainda pretendo seguir na ativa por mais alguns anos. Desde que assumi minhas funções judicantes, compreendi que a Justiça tardia é muitas vezes injustiça; que minha maior preocupação não deveria ser o formalismo dos ritos e das decisões, mas a essência, e a essência é exatamente fazer justiça, agir com justiça, e com a possível celeridade.

Nem sempre isso é possível, pois a parte, embora possa ter razão, nem sempre consegue provar as suas alegações. Mas, digo sem empáfia, tenho buscado alcançar esse desiderato, analisando as provas carreadas para os autos e procurando bem instruir o feito. Em meu mister de julgador, com modéstia o digo, não tenho remorso, pois nunca violentei a minha consciência e jamais cometi injustiça deliberadamente. Os erros que devo ter cometido foram involuntários, e se devem à minha condição humana, pois todos os seres humanos somos pulvis e somos falíveis.

Neste momento em que o João Miguel se prepara para ingressar no serviço público, peço a Deus que ele seja um bom servo, seja um bom servidor público, quando estiver no seu cargo de oficial da Polícia Militar do Amazonas; que tenha prazer em servir, pois para isso será um servo/servidor público; que cumpra as suas funções com correção, justiça e bondade. Já tive oportunidade de dizer que quem é justo é bom, e quem é bom é justo, embora tendo a humildade de reconhecer que verdadeiramente bom é o Senhor que está nos céus.

Mas nos esforcemos para sermos um pálido reflexo de sua bondade e justiça. Exorto meu filho a seguir os princípios estampados no caput do artigo 37 da Constituição Federal (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência), procurando sempre ser justo e bom, para ter a proteção do Onipotente, que não vela pelos iníquos e perversos.

            (Texto extraído de Diário Incontínuo, de 15 de setembro de 2011)

Os dois lados da moeda

 

 

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      Tem gente que reclama de tudo. Calor é algo insuportável. A pele fica oleosa, o cabelo suja logo, a gente fica desarrumada. Se fizer frio é um caos. O nariz fica obstruído, a gente tem que andar agasalhado parecendo um repolho, roupa em cima de roupa. É horrível!

Tem gente que reclama do barulho da rua, dos carros, da vizinhança, das motos, do som que passa fazendo propaganda. Xinga pra cá, xinga pra lá. Também não quer morar distante longe do tumulto do centro da cidade. Deus me livre de ficar isolada, o silêncio me dá nostalgia, tenho medo de ladrões.

Ai! Meu Deus! Difícil contentar certas pessoas.Ainda bem que nem todo mundo é assim. Eu tenho uma amiga que tudo pra ela está bom, está certo, está ótimo. Quando eu pergunto qual o segredo de se viver tão bem, ela responde: se lhe derem um limão faça uma limonada.

Um dia desses nós estávamos  numa festinha. A anfitriã sorteou uns dez brindes. Todo mundo querendo ser premiado, inclusive ela. Infelizmente não ganhamos nada. “Feliz no jogo, infeliz no amor”. Encontrou rapidamente uma desculpa para não lamentar a falta de sorte.

Engraçado mesmo foi quando ela pegou uma gripe. Ficou de cama, sem apetite por uns quatro a cinco dias. Enquanto as colegas ligavam lamentando:
– Que pena! Você perdeu uma bela festa, um excelente aniversário, ta-ra-ra-ta-ra-ra.
– Pois é, perdi muitas coisas boas, mas perdi também uns três quilinhos que tanto queria  e não conseguia nem malhando três horas por dia . A gripe foi ruim me deixou com falta de apetite, mas pelo menos emagreci.

Pode uma coisa dessa? Achei mais  interessante foi quando nos encontramos com João. O olho inchado, por acolá, como se costuma dizer.
-Vixe! Que foi isso!
-Ah! Foi uma picada de marimbondo. Você não imagina a dor. E por cima ainda estou deformado.
– Não fica lamentando assim, meu irmão. Você sabe que a toxina do marimbondo faz bem para o coração?
– É mesmo? Quem lhe disse isso?
– Não sei onde li, ou se me contaram mas eu ouvi falar que é. Depois  por que esses óculos esporte no bolso? Põe na cara que você vai ficar charmoso homem, lindão e ninguém nem vai saber que seu rosto está assim.

Adentrando no apartamento de minha amiga fui direto para o note book. Abri o google e procurei: marimbondo. Nada encontrei sobre o relacionamento da toxina com a doença do coração. Li apenas algumas recomendações de como proceder após a picada:
• Eleve a parte do corpo que foi picada e coloque gelo ou faça uma compressa fria para diminuir o edema (inchaço).
• Creme de corticosteroide tópico e anti-histamínico oral podem ajudar a controlar a inflamação e a coceira.
• Se você tiver com muita coceira (mesmo sem reação alérgica) procure um médico para que ele receite a medicação correta para reduzir o inchaço.

Indaguei mais uma vez de minha amiga otimista.
– Onde você leu sobre a toxina do marimbondo? Não vi nada na Internet que tivesse relação com o coração.
– Não lembro, mas deixe-me pesquisar novamente na Internet.
– Foi lá, foi cá, abriu várias páginas, “altavista”, voltou para o “google”, e disse:
– Olha o que encontrei:
“Os marimbondos também têm o seu lado bom. São predadores de muitos insetos nocivos como cupins, aranhas, formigas, lagartas, gafanhotos e mosquitos.Então, é bastante útil preservá-los, mas quando a população desses bichos aumenta muita é necessário fazer o controle para que não se torne perigosa a convivência” . Pronto, encontrei uma vantagem do marimbondo. Você  só encontrou o lado negativo do bichinho.

– Mas o seu amigo acreditou que a toxina do marimbondo serve para o coração e pode até sair contando por aí.

– E daí? Você acha que alguém vai se deixar picar propositalmente por marimbondo? O importante é que ele se conformou com seu estado e saiu todo contente e feliz com aqueles óculos escuros na cara. Que ele ficou com pinta de galã ficou mesmo.
Aprenda minha amiga, toda moeda tem duas faces. Um lado bom e outro ruim. Se sua moeda cair do lado bom aproveite e se cair do lado mau, não fica lamentando, troque de lado.
A vida é bela!!!…

 

DO LIVRO “O QUINTO” INÉDITO – TEXTO 05,11,2008)
MARIA DILMA PONTE DE BRITO
CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA

DOIS REAIS

 

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        Ele me pediu dois reais. Nem sei se murmurei alguma palavra ou se fiz algum gesto de negação. Ele se afastou. Olhei pelo retrovisor e vi um  jovem de cabelos compridos, a camiseta deixava exibir tatuagens nos ombros, nos braços, no pescoço e nas costas. Pensava cá comigo, vagabundo! Por que não está na escola? Por que não arranja um trabalho. Que idade terá esse jovem? Dezesseis , dezessete anos talvez.

Dois reais. Poderia ter doado esse dinheiro, não me faria falta. Por que não dei? Estava saindo do super mercado, cansada, quase meio dia, hora do almoço, queria chegar em casa. Qualquer minutinho naquele momento era importante para mim. Abrir a bolsa, procurar trocado, era perda de tempo. Depois  alimentaria o vício de pedir.

Sentada na minha mesa farta, pensei que dois reais seria o suficiente para comprar dez  pãezinhos. Não teria o sabor da salada que estou comendo, do filé gostoso que está na minha mesa, mas saciaria a fome, enganaria o estomago.

“Não dê o peixe, ensine a pescar”. Dois reais era dar o peixe. Fiz certo em dizer não. Mas o que ele pensou a meu respeito? Talvez tenha me chamado de miserável, ou não. Acho que está acostumado a receber “nãos” e  uns ainda  xingam, humilham, chamam de vagabundo, mandam procurar emprego, eu pelo menos pensei tudo isso mas não manifestei meu pensamento.

Nunca pensei que dois reais pudessem ser tão importante na minha vida. Já é noite e eu continuo me indagando se fiz certo em não doar essa insignificante quantia. Insignificante é uma coisa que não tem valor. Mas essa importância não tem valor pra mim, mas se ele pediu, para ele tem. Depois eu não ensinei a pescar, portanto deveria ter dado o peixe.

Alguém já lhe pediu dois reais hoje? Se você deu muito bem, talvez esteja tranquilo. Se não deu você parou para pensar o quanto poderia mudar a vida de alguém esse valor que para você é tão irrisório? Poderia ser uma passagem de ônibus que  levaria essa pessoa para uma outra vida ou para comprar um analgésico para minimizar uma dor. Poderia ser também para comprar cigarro, um trago de cachaça.

Por que ele não estuda? Por que não trabalha? Tem escolas para todos? É fácil conseguir trabalho?

Outro dia. Estou no mesmo super mercado. Parei o carro quase no mesmo lugar e na saída ele me olhou. Nada me pediu. Talvez tenha me reconhecido. Se não dei ontem também não dará hoje. Miserável! Deve ter pensado ele. Fiquei  arrumando as compras lentamente, fazendo hora para ele se aproximar. Nada.  Encarei o pedinte, olhei firmemente e sorri. Ele se aproximou. Já estava com cinco reais na mão para doá-lo. Ele sorriu agradecido e aproveitei  para puxar conversa.

– Ontem não lhe dei  dois reais porque não tinha trocado.
– Não tem nada. Hoje eu compro meu caderno.
– Você estuda?
– Sim, estudo a noite, mas não pude ainda comprar meus cadernos.
– Por que você não trabalha?
– Eu trabalho sim. Faço faxina e cuido de jardim de 7:00 às 11:00 horas.
– Mesmo assim você não tinha dois reais para comprar caderno?
– Esse dinheiro que ganho minha patroa entrega diretamente a minha mãe para as despesas da casa. Tenho 4 irmãos mais novos que eu e meu pai está desempregado.

Procurei as tatuagens no seu corpo e não encontrei nenhuma. Ele explicou que não eram permanentes. Justificou que o cabelo estava grande porque não tinha dinheiro pra cortar. Que nem sequer gostava de usar camiseta mas não tinha outra roupa para vestir. Dei-lhe muitos dois reais, para cortar o cabelo, comprar material escolar, comprar roupas adequadas a seu gosto. Ele não é vagabundo, ele estuda, ele trabalha, mas pede porque o que ganha não é suficiente para manter-se.

Não generaliza, dialogue.

DO LIVRO ” O QUINTO” INÉDITO (TEXTO 16.11.2008)
MARIA DILMA PONTE DE BRITO APAL 
CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA