E no intervalo em que encontrava os lábios na borda áspera da xícara e soprava o líquido amado e morno, a canção dizia: “sous terra!”.
Até que toquei o lábio na hortelã aquosa, senti queimar.
E a canção dissera: “tu dors enfim”.
Fora como um beijo em meu futuro.
Pus a mim mesmo em repouso.
Mas não muito tempo passou,
Foi-se assim alguns poucos segundos de paz.
*Naiton da Silva Rodrigues, estudante do curso de História na UESPI, campus de Parnaíba. Foi medalhista de prata em 2016 na Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa.
Nunca gostei do jeito dele olhar pras pessoas. Parecia que tinha agulha espetando o couro. E era calado. Era de ficar daquele jeito por um bom pedaço de tempo até que alguém puxasse assunto de seu interesse ou perguntasse sua opinião. Diziam que conversava com gente morta. Aquilo causava medo até em gente grande, quanto mais em gente miúda, assim feito nós naquele tempo. E muita era gente que procurava ele pra modos encomendar rezas contra mal olhado, doenças de toda espécie, coisa de quebranto.
E pra gente grande, reza pra encontrar coisa perdida, sorte e fortuna em serviço e viagens. Dava medo olhar praquele homem mais seco que nem galho de goiabeira, os olhos fundos e cravados nas coisas com aquele chapéu sempre enfiado até a altura das orelhas. Nunca, diziam aqueles mais velhos, mostrou interesse de ter mulher e filhos. Ele mesmo lavava, passava as roupas, cozinhava, lustrava a casa que nem a mais devota das criadas.
Mas também pouca gente teve dele permissão de entrar da porta pra dentro. E nem adiantava a insistência. Os olhos duros ficavam mais duros ainda e o visitante até sentia um assim arrepio de frio naquele feito sol a pino. Daí, com aquele sobrosso se tratava logo de escapulir sem mais ver. Coisa de meter medo até em padre de batina com o cordão de São Francisco. Credo em cruz.
Nezinho Doido. Falavam desse jeito pelas costas, mas na frente era “seu” Nemésio. E nem adiantava procurar saber de quem era filho ou neto pra se dar nome de família. Era coisa maior que segredo ou adivinhação. Gente muito antiga dizia que ele veio em companhia de uns retirantes ainda rapazinho, mas sempre esquisito. Olhando pra o chão como estivesse procurando dinheiro ou medalha perdida.
Ninguém soube até hoje se tinha ou onde guardava dinheiro, o ganho nas rezas e benzeduras. Certeza mais que certa mesmo é de nunca ter sido visto colocando um vintém em sacola de igreja. E de certo que nunca haveria de entrar no céu por conta da mão fechada. Padres não gostavam dele. Diziam que era espírito ruim.
Morava numa casa pequena. Quarto e cozinha eram tudo. Até de onde se dava pra ver, era limpa, mas sempre de porta e janela fechada. Aquele homem não poderia nunca ter feito mal a ninguém. Não tinha jeito de gente ruim. Isso mesmo não! Era manso demais pra ter um dia sido mau. Se bem que, como diziam os mais antigos, gente que anda ou andou pelo mau caminho não tem estrela na testa. Até houve suspeita de que Nezinho Doido pudesse ser estrangeiro. Desses que metem a cara no mundo e passam anos e mais anos sem dar notícias pra família.
Talvez até um filho de gente rica da França, Espanha ou Portugal. Talvez um cigano desgarrado do bando. Quem sabe andou escondendo fortuna todos esses anos ou matou alguém por conta de mulher ou dinheiro. Ninguém queria apostar um vintém que fosse quando alguém tocava nesse assunto. E assim a coisa ia passando. De vez em quando aparecia alguém tentando levantar suspeita sobre alguma pista que desse naquela vida mais que misteriosa.
Depois deixavam de mão, acontecia alguma coisa de relevo e Nezinho era deixado de lado, esquecido. Mas havia sempre alguém mais afoito. Desses de se ocupar de guarda dia e noite na inventiva de levantar aquele manto e ver finalmente o que debaixo havia de estar escondido.
Nezinho era de muita cautela em se tratando de sua vida e de seu passado. Por isso mesmo acabou causando inquietação em muita gente. O delegado foi uma dessas pessoas. Usando e abusando da autoridade, um dia arranjou de prender aquele homem e arrancar dele alguma confissão. Eles se cruzaram na entrada da praça e o delegado pediu os documentos. Na ausência do pedido deu voz de prisão e levou para a delegacia. A notícia correu rápida e em menos de um quarto de hora estava o maior alvoroço a tomar conta da cidade.
Vai ver que era até fugido da justiça feito um criminoso metido em coisa de política que agora vivia se metendo a doido pra ir passando? O prefeito Salomão Belarmino chegou a encomendar investigação nas altas esferas do governo estadual pra saber e tirar aquilo tudo a limpo. Mas passados alguns meses entre idas e vindas de seu secretário, teve resposta de que nada se sabia sobre o indigesto forasteiro, como dizia de boca cheia o padre Cristóvão. Daquela forma era melhor ir deixando a coisa andando e só tomar providência quando houvesse risco de ordem.
Aquilo não estava certo não. Gerava intranqüilidade nas pessoas. Pereira de Souza foi ter com Demerval Mascarenhas, o promotor de justiça. Da conversa entre os dois veio a idéia de armar uma emboscada. A coisa já estava chegando aos ouvidos das autoridades na capital e mais dia menos dia acabaria em destroço. Seria o fim de muita gente.
Ficaram sabendo que uma mulher tinha o filho pequeno às portas da morte e havia de levar com certeza para benzedura com Nezinho. O homem tido e havido como santo por toda aquela gente recebeu a mãe e fez seu serviço: recomendou um chá de erva doce e banho de carrapicho. Dois dias se passaram e a criança piorou. A mãe no desespero correu a dizer pra tudo o que era ser vivente que aquilo que o curandeiro havia receitado saiu como veneno.
O menino apareceu de repente com uns calombos tomando por todo o corpo e sem vontade de comer qualquer que fosse a comida acabou se desfazendo em merda. Daí pra prostração e a morte foi como dar de olho de machado em cangote de porco. Culpa de quem? Nezinho Doido. Foi o que correu de boca em boca assim de uma hora pra outra. A notícia chegou aos ouvidos de Pereira de Sousa e Demerval Mascarenhas.
Mais que depressa os dois acharam de encerrar a última parte do trato e passaram a caçar o forasteiro por tudo o que era canto. Toda aquela gente tomou o rumo da casa de Nezinho Doido na intenção de ver o curandeiro sofrer alguma penalidade. Armados de paus e pedras, foices e até espingardas se puseram a gritar e a exigir reparo. Ele, sem ter como escapulir acabou se entregando.
Na delegacia a multidão era grande e cheia de alvoroço. Como podia, assim de repente, aquele homem desconhecido e misterioso, que até pouco tempo era tido e havido como enviado de Deus pra curar doentes, dar conselhos e encaminhar ao caminho do bem muitas moças perdidas, estava ali, debaixo de ordem sendo interrogado feito ladrão e assassino e, se solto, correndo risco de ser esmagado debaixo de paus e pedras? O delegado fez tudo o que pode pra achar um rasgo de culpa naquele pobre diabo.
– Me diga nome e onde mora, de quem é filho e ocupação.
– Nemésio. Nemésio dos Santos.
– Só isso de nome?
– Mais não posso inventar.
– E onde mora Nemésio dos Santos?
– Rua dos Alípios, 150.
– De que família e ocupação?
– Não conheço nem pai e nem mãe. Vivo e me sustento de meu trabalho.
– E que ocupação é essa, seu Nemésio?
– De reza.
– De reza? E isso lá é ocupação de gente?
– Não sei pro senhor, mas pra mim é coisa de que me sustento. Dou alívio pras pessoas. Mulher, velho e menino pequeno…
– E seu Nemésio acha que o delegado aqui, Pereira de Souza, acredita numa potoca destas? Me adiante cá uma coisa: o que foi mesmo que deu pra o menino?
– Coisa de mato. Tudo erva sem risco. Além do que é segredo que nem a Deus Nosso Senhor havera de contar.
– Pajelança. Só pode ser coisa de pajelança! Seu Nezinho está me tirando de cima dos trilhos da paciência! Acho bom ir abrindo o bico e contando tudo!
O interrogado permanecia calado e olhando pra o chão. O delegado agora começava a ficar impaciente. Daí pras ameaças e ofensas foi um pulo. Lá fora a multidão esperava uma resposta. De vez em quando do meio daqueles homens e mulheres enfezados partia uma palavra mais grosseira. Ali estava o pagamento pelo bem que tantas vezes Nezinho achou de fazer, muitas vezes sobressaltando uma noite de sono pra atender ao pedido de uma mãe aflita.
– Dê cá esta mão.
Nezinho estirou bem devagar a mão esquerda e ficou esperando que o delegado desse prosseguimento naquele interrogatório. Agora começava a suar frio e a tremer as pernas e os queixos. Pereira de Souza estava procurando uma forma de intimidar. Havia de ter uma forma, um sinal, qualquer coisa que fizesse com que, de uma hora pra outra desandasse.
– Me dê cá a outra mão, seu Nezinho!
O delegado procurava ganhar tempo pra alguma coisa que só ele haveria de saber e executar. Quando o curandeiro estirou a outra mão, Pereira de Souza se pôs a meditar por alguns instantes. O jeito era que não tendo encontrado qualquer sinal de culpa no preso o deixasse ir embora. Vai que acontecesse um motim e aquela gente lá fora invadisse a delegacia? O plano traçado entre ele e o promotor Demerval Mascarenhas foi por água abaixo. Realmente Nezinho era mais inocente do que culpado.
Durante muitos e muitos anos deixou que aquela gente ignorante acreditasse no que dizia sobre curas. Nunca desacatou quem quer que fosse. Foi mais usado do que pano de chão, quando patrocinava suas maluquices. Se ele, Pereira de Souza o deixasse ao relento da lei haveria de se ter com gente mais graúda. Chamou uns dois soldados e deu ordens que levassem Nezinho em segurança até a porta de casa. As ordens eram de que arrumasse suas trouxas e fosse embora sem mais tardança.
O delegado tinha em planos que, Demerval Mascarenhas, homem por demais ocupado nas lides do cartório, nem haveria de desconfiar que aquela fuga permitida fosse simplesmente uma forma de, caso alguma coisa mais grave acontecesse com o curandeiro, a culpa recairia em cima daquela gente. E no meio de tanta gente zangada na rua não haveria como apontar este ou aquele autor. Depois de um rasgo de tempo em que coçou o queixo várias vezes, disse que Nezinho Doido podia ir embora.
– Vá embora. Vá embora de vez, seu fresco!
*Trecho do livro Serragem, de Pádua Marques, ainda não publicado.
A D. Mazé era daquelas criaturas que tinha medo de tudo. Quando via uma barata era um Deus nos acuda. Subia nas cadeiras, nas mesas, gritava e chorava ao mesmo tempo. Rato e rã, então? Ainda era pior o chilique. E de defunto? Quando morria alguém conhecido passava uma semana sem dormir. Ficar só no quarto, Deus me livre. Velório não ia de jeito nenhum. Fazia a visita somente na missa de sétimo dia. Certa vez, morreu um parente seu, bem próximo. Foi uma situação horrível. Além da ligação familiar eles tinham uma amizade muito forte. Teria que se fazer presente no velório. A medrosa senhora, sofrendo por antecipação ficava imaginando aterrorizado o quadro que lhe esperava. O calor das velas, o cheiro das flores, as vozes das pessoas rezando o terço, uns chorando segurando a mão do falecido, outros arrumando os cabelos, outros alisando o rosto. Que coragem! Tentava desviar o tal pensamento da cabeça enquanto se arruma. E pedia aos seus “Santos” coragem. Precisava dominar o medo. Tirou seu vestido preto de velório do guarda – roupa. Passou no ferro para tirar o cheiro do mofo, colocou uns óculos escuros para disfarçar os olhos de espanto e foi-se. No caminho planejava: – Vou me posicionar bem distante. Assino o livro de visitas para testemunhar minha presença e só falo com quem passar perto de mim. Lá, próximo ao caixão não vou mesmo. O plano de D.Mazé deu certo. Outras pessoas foram morrendo: amigos, parentes, vizinhos e ela seguia o mesmo esquema. Sempre tinha uma comadre que lhe convidava para ver o defunto, mas ela arranjava um desculpa qualquer. E ficava admirada quando via alguém levantar o véu que cobria o rosto do morto, arrumar o algodão do nariz. Nossa! Jamais faria isso. Um dia morreu um irmão de sua afilhada que morava afastado da cidade. A mãe chegou a procura de D.Mazé em prantos. Gente pobre chora mais por morto do que os ricos não sei o porquê. Mal podia narrar os acontecimentos, soluçava, estava nervosa demais. Depois de tomar alguns goles d´água foi se acalmando e contou que o menino morreu de lombriga. Tava doente há muitos dias, não comia, amarelo, sem ânimo. Quando foi levar ao médico estava muito fraco e não resistiu. A história não estava muito bem contada, não se sabe se era por ignorância ou nervosismo. O certo é que D.Mazé deu pra ela certa importância que dava para comprar a mortalha, o caixão e as comilanças para as pessoas que fossem para o velório. E a pobre senhora foi-se. A dor daquela mãe era tamanha. Via-se pelo seu semblante um coração partido. D.Mazé sabia que pouco tinha feita pela sua comadre. Mas além da parte material, também contribuiu com palavras de consolo e foi solidária com o sofrimento daquela querida amiga. Faria qualquer coisa para amenizar aquele sofrimento, mas o quê? Ao entrar numa loja de tecido D.Mazé encontra-se novamente com a comadre. Estava comprando a mortalha com o dinheiro que ela havia dado. Mais uma vez entre lágrimas as duas se abraçam e mão do defunto diz:
Comadre, a senhora está sendo muito boa comigo, mas posso lhe pedir mais um favor?
Claro, faço qualquer coisa que a senhora pedir.
Comadre, eu quero ter última lembrança de meu filhinho, por favor, tire uma foto dele no caixão.
MARIA DILMA PONTE DE BRITO APAL CADEIRA 28 PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO 1º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA
Por e-mail, recebi da Luíza Amália Meireles, amiga dos tempos parnaibanos, várias fotos do lançamento do livro “O que os netos dos vaqueiros me contaram – o domínio oligárquico no Vale do Parnaíba”, de Manuel Domingos Neto, a que já me referi, na nota anterior. Ela, mercê de seu esforço e através de concurso público, é auditora-fiscal da Receita Federal.
Cultiva o hobby da fotografia, assim como seu irmão Meireles, chamado pelo Reginaldo Costa de “santo”, exatamente pela sua quase beatitude e mansidão de pessoa boa. Na fila dos autógrafos, fiquei imediatamente atrás de sua irmã Socorro, que ocupa uma das diretorias da Secretaria Estadual da Educação. Tanto o Meireles como a Socorro ajudaram o jornal Inovação em sua luta quixotesca por um mundo mais justo e mais fraterno.
Numa das vezes em que a Luíza me fotografava, um amigo ficou na frente da mira para me cumprimentar. Este fato me fez lembrar das lendas dos caçadores, muitos deles versados em mistificações hiperbólicas, que muitas vezes, quando estão concentrados na pontaria, são atrapalhados por alguma circunstância fortuita ou por alguma assombração protetora dos animais.
Encontrei na solenidade o teatrólogo e intelectual Tarciso Prado, quase totalmente recuperado de um grande susto que levou, quando um infarto lhe pregou uma peça – sem trocadilho dramatúrgico nenhum – da qual saiu ileso. Quando cheguei, conversava ele com o arquiteto Olavo Pereira, cujo livro sobre arquitetura piauiense o Tarciso considera como um dos melhores no gênero.
Olavo é parente de vários amigos meus e do saudoso Francisco Pereira da Silva, natural de Campo Maior, um dos maiores teatrólogos do Brasil, cuja obra completa foi recentemente editada, pela FUNARTE, órgão do Ministério da Cultura. Há cinco anos existe uma lei estadual prevendo a criação de um memorial em homenagem ao Chico, mas, por mistérios insondáveis, que nem uma sibila seria capaz de explicar, não construído até hoje.
Mas por que mudei tanto de assunto e de modo um tanto abrupto, em texto tão curto, é um mistério que nem eu mesmo sei explicar, a não ser fazendo uma analogia com o título deste registro: Luíza Amália é uma caçador de imagens, e eu sou um caçador de assunto e de conversa.
Agora era descer de vez daquela canoa e esquecer o que havia ficado pra trás. Estava na Parnaíba, terra onde ouviu dizer que corria dinheiro, tinha movimento e mais gente, onde podia estudar e seguir carreira num emprego bom sem ter que bater cabeça o resto da vida. E estava trazendo uma carta de recomendação de Benedito Cordeiro, amigo e compadre de seu pai, pra ser entregue a seu Zeca Correia, dono do Moraes, dono de carro de passeio e até de navio.
Se Deus quisesse havera de se arranjar num emprego naquela fábrica de sabão e de óleos. Se não desse no Moraes, que pelo menos fosse nalgum armazém na rua Grande ou nas próximas, aquelas ruas onde tinha mais comércio. Mas se também não desse, que fosse alguma colocação mais embaixo, porque depois e com muito trabalho, cuidado e coragem, iria chegar mais perto da porta de um escritório e de lá pra dentro era coisa de um pulo. Martinho Cardoso era de pouca leitura, mas era esperto.
Do porto Salgado com todo aquele movimento de início de tarde, Martinho foi direto pra uma pensão perto da igreja de Nossa Senhora das Graças e de lá se avistava também a igreja do Rosário dos Pretos, vizinha do Hotel Parnaíba, algumas casas de comércio, outras pensões e o Banco do Brasil. A pensão Nossa Senhora dos Remédios, de um velho de Buriti dos Lopes, Chagas Caetano, era pequena, mais barata que o Hotel Carneiro. Tinha uns seis quartos, um salão maior com mesas e cadeiras pras refeições, um banco com dois potes e seis canecos, uns quadros de santos e uns tamboretes espalhados pra quem quisesse se sentar.
Depois de ser atendido na entrada por um rapazinho de uns quinze anos, de rosto azeitado e já apontando uma nuvem de bigode, Martinho foi informado que a dormida era em rede. E ele trouxe a sua, larga e limpa, dois lençóis, pijama, três calças, cinco camisas, um paletó, seis cuecas, toalhas de rosto e de banho, pão de sabonete, escova de dente, uma flanela e escova pra lustrar os sapatos, dois pares de meias, pente de chifre, um potinho de brilhantina e uma navalha pra fazer a barba de vez em quando.
Martinho foi ver a cozinha lá no fundo de um corredor na esperança de encontrar ainda naquela hora alguma coisa pra comer. A canoa vindo de Araioses atrasou e o desembarque no porto Salgado foi demorado. Não queria ainda meter a mão nas economias por pouca coisa, tinha que regatear comida barata. Os quartos, àquela hora da tarde, estavam com as portas abertas devido ao calor e ele viu outras pessoas, umas falando baixo. Num dos quartos um velho estava cochilando e a filha remexia numa mala.
E na cozinha lá no fundo, com algumas gaiolas de passarinhos, encontrou apenas uma mulher, a cozinheira, quase negra, e que quando ela perguntou o nome e de onde vinha, Martinho deixou ver que tinha os dentes estragados, as unhas escuras pelo trato com o carvão e as panelas, ficava se limpando todo tempo com um pano encardido, o sovaco descuidado e no pescoço, um rosário de contas azuis e brancas. A mulher puxou conversa e ofereceu os serviços do filho. O menino da entrada da pensão, também era engraxate perto do armazém de seu Franklin Veras, indo ter no porto Salgado, se precisasse.
Com o tempo Martinho ficou sabendo que o menino, o rapazinho fumava escondido da mãe. À tarde, quando servia o jantar dos hospedados e o sol mais frio descendo por trás dos carnaubais de Ilha Grande de Santa Isabel, a cozinheira e o filho iam embora tomando o rumo da Guarita, levando o sobejo limpo de algum prato ou o que havia sobrado de um galinha ensopada, guisado de panela, sopa, um pregado de arroz, panelada de bucho de boi com abóbora. A pensão ficava nos cuidados de Belarmino, sobrinho de Seu Caetano.
Em casa aquela comida era esquentada e servida pra os outros três meninos que ficavam o dia inteiro se entretendo na vizinhança e indo, quando muito, pra beira da linha do trem ou nas redondezas procurar gravetos pra acender o fogareiro, tão logo o irmão engraxate e a mãe chegassem do serviço. O marido? Esse a cozinheira largou havia tempo! Não queria nada, um vagabundo. Agora vivia amigado com outra mulher na Coroa. Até apanhava dela. Era o que ficava sabendo pela boca dos outros de vez em quando.
Martinho depois de arranjar com a cozinheira um café e um pedaço de cuscuz de milho, veio pra porta da pensão ver aquele movimento de fim de tarde na Parnaíba. Passavam agora automóveis no rumo da Nova Parnaíba, onde moravam os abastados, os ricos comerciantes e donos de indústrias, médicos, advogados e juízes. Outros desciam no rumo da rua Grande indo dar no Macacal. Seu Zeca Correia devia decerto ter um automóvel daqueles. E era esse homem que iria lhe estender a mão, tinha certeza.
Os dias passaram e Martinho ia se dando bem de ver a Parnaíba com aquele movimento todo do porto pra todas as ruas de cima e de baixo. Foi à missa na igreja de Nossa Senhora das Graças num domingo. Ficou olhando as pessoas importantes sentadas nos bancos da frente, as mulheres com as cabeças cobertas de véus, os terços de contas lustrosas, o perfume bom das roupas delas, as filhas, meninas silenciosas e muito bonitas, limpas e que em nada haviam de se comparar à cozinheira da pensão onde ele estava hospedado.
Conheceu um rapaz, de uns vinte anos pra cima, vindo dos Morros da Mariana, botador de água na pensão Nossa Senhora dos Remédios e nas outras, até na pensão de seu Nagib, o turco mão de vaca. Rapaz dado, falador, baixo, tinha o beiço de cima cortado, era fanho e gordinho. Sebastião o nome. E numa conversa e noutra o amigo novo de Martinho disse que, bem que gostaria de ser sacristão da igreja de Nossa Senhora das Graças. Ser sacristão deveria ser bom.
Iria comer do bom e do melhor e na hora certa, tomar banho de chuveiro, comer sentado em mesa com toalha de renda, beber em copo de vidro, trabalhar pouco, talvez até andar de carro, no muito, ajudar na missa uma vez na semana, fazer algum mandado, uma compra aqui e ali, conhecer e ficar perto de gente rica e importante como seu Zeca Correia, doutor Cândido, Mirócles Veras, Raul Bacellar, José Narciso e ainda podia mexer nos livros do padre. Tinha ambição de subir na vida. Talvez até desse para seguir carreira. Tinha família pobre que passava necessidade nos Morros da Mariana.
*Pádua Marques, cadeira 24 da Academia Parnaibana de Letras, romancista, cronista e contista.
A pequenina gigante contra os terríveis olhos de desprezo…
Escondida do mundo… Ela assim pensava, porém por debaixo da mesa estava… A imaginar mil e uma histórias, no intuito de escapar do tédio que era estar ali. Entre um curiar e outro, tentava entender como poderia existir, gente de toda sorte e vaidade, alguns carregando olhos de sinceridade, outros, uma terrível face de desprezo… E ela ali, pequenina (desencontrada), em meio àquela sala, que ouvia, vez por outra, alguém dizer que era de aula… Mas que nem por um momento, até então, acalentava o seu mais que inquieto coração.
Apenas ir, comer, fingir e partir. Era assim no colégio, ao menos até os nove. Até que um dia (e que dia!), uma mulher revestida de coragem e paciência resolveu fazer mais que sua obrigação… Mergulhou fundo nas águas geladas, sem tanque de oxigênio e sem temer os perigos que pudesse haver em território tão obscuro, à procura daquela menina… Na verdade não se tratava de rio, e nem lago, mas o velho esconderijo, debaixo da mesa… O fato é que ela foi encontrada, e de lá, resgatada. Conheceu pela primeira vez, uma aula de verdade. Uma aula com amor.
A partir daquele dia a escola passou a ter cor, a fazer sentido, até mesmo sabor, quem diria… Não o suficiente para fazer os problemas do dia desaparecerem, mas agora ela sentia que dava pra resolvê-los… Mesmo que demorasse e assim custasse inúmeras gotas de suor e criatividade. Ela passou a enfrentar o mundo, do seu jeito. E enfrentar para ela sempre foi lembrar de uma inspiração eterna, que mesmo o tempo (por vezes vilão) não apagou… A lembrança da adorada mãe, que sozinha criou seis e mais essa pequenina (traquina), que gostava de observá-la, educando e cuidando de todos, sem distinção ou crueldade, apenas a realidade, exposta a cada um e antes de dormir, as histórias de trancoso, para aguçar ainda mais a curiosidade, enquanto divertia e a fazia esquecer a infância pobre, porém honesta.
E de histórias que existiam e outras nem tanto, a juventude chegou, e com ela, outros dilemas… Fosse no bairro de origem, ou por outros que morou, passou dias, ou até horas, vez por outra tropeçando, caindo, sem saúde, sem chão e ainda assim, a contragosto daqueles mais desumanos, lembrando do quanto é forte, e se reerguendo, ficando de pé, e ensinando, aprendendo, vencendo, se formando… E tendo a noção, desde sempre, que é preciso de alegria, muita alegria (mesmo na dor) para derrotar o cruel inimigo preconceito… Tendo a força da lembrança da mãe, e de todos aqueles que já apoiaram e a acompanham como combustível… E inspirada naquela professora, que um dia mergulhou, sem pestanejar, fazendo ela ver que também poderia resgatar tantos outros meninos e meninas, que a vida tratou de magoar (a vida não, os seres com olhos de desprezo) e que escondidos estão, estes meninos e meninas, à espera, mesmo sem saber, de alguém grandioso como ela, que um dia pode chegar, com uma bolsa carregada de sonhos e um punhado de esperança. E os salvar.
Claucio Ciarlini (2017)
Nota: Maria José Veras Ferreira, mais conhecida como Tia Zezé ou a pequenina gigante deste breve conto inspirado em sua vida, enfrentou preconceitos, obstáculos e pedras no caminho… Superou todos! E é um exemplo para quem já fez parte de sua história (os que possuem coração). Nasceu em 10 de abril de 1965, é parnaibana e residiu boa parte de sua vida no Bairro São José, tendo morado também em outros lugares e hoje no Bairro Pindorama. É graduada em Pedagogia e especialista em Educação Infantil, tendo atuado em várias escolas e faculdades (tanto públicas, como particulares) sempre com o mesmo empenho e entrega, a citar o Colégio Nossa Senhora das Graças, onde lecionou por 25 anos. É referência na área de educação e cultura de Parnaíba, também é poetisa, roteirista, escreveu e dirigiu várias peças em escolas. O nome da professora que a resgatou e lhe serviu de inspiração é Ana Teles e o nome de sua mãe: Teresinha de Jesus Pascoal Veras. Os irmãos: Francisca, Socorro, Antônia Maria, Maria Ozanete, Regina Célia e José Carlos. Os filhos: Darcon e Dalila. Sua caminhada pessoal e profissional, que tive o privilégio de conhecer através de nossas conversas (que muito me emocionaram), é uma grande lição de resiliência e de amor à sua cidade e à Educação, numa linda e vibrante trajetória que precisaria de inúmeras páginas… Um livro! E que livro seria… Quem sabe um dia!
O som se fazia inconfundível, e por vezes até ensurdecedor… Black Dog, um cover ledzepeliano, se mostrava com toda sua força e genialidade, numa noite de sexta-feira, 26 de junho de 2009, no ambiente do Sesc – Beira Rio. Embora, acredito que, muitos ali, nem mais conseguissem distinguir as notas e arranjos, emitidos pelas guitarras furiosas e experientes, de uma banda que, com toda certeza, carrega a bandeira e o espírito de seus ídolos, o famoso grupo de rock inglês Led Zeppelin. E era tão perfeita a entrega da plateia que ali se encontrava, imersos na aura setentista, mergulhados nas profundezas do que muitos chamariam de “O bom e velho rock and roll”, que estes indivíduos já não mais enxergavam uma banda à sua frente, nem tão pouco escutavam os acordes distorcidos dos instrumentos amplificados pelos alto-falantes, mas sim um universo paralelo, uma outra dimensão de cores e formas infinitas, que a todo instante se sobressaíam, umas às outras, produzindo mágicas melodias que viajavam por todos os sentidos, fazendo com que surgissem emoções, das mais variadas… Ao meu lado, um amigo, Israel Galeno Machado, colega de escola desde a época das séries iniciais, conversávamos sobre nossa juventude, no início dos anos 90, e lembrando de inúmeras situações e pessoas pelas quais havíamos passado, acabamos por recordar do tempo em que descobrimos os sons de Iron Maiden, Metallica, Guns and Roses, Aerosmith e Bon Jovi, para não citar várias outras bandas de rock que, aos 12 anos de idade, escutávamos à exaustão, como que numa maneira de expurgar todos os problemas e questionamentos surgidos no período da adolescência… No meio da conversa nostálgica surge em nossa frente, de forma apressada e com uma mochila nas costas, simplesmente o organizador do evento, o roqueiro e professor Paulo Roberto Rocha Bastos, o Paulim, como costumo chamá-lo.
Nascido em 11 de julho de 1961, na cidade de Fortaleza (Ceará), mas mudando-se para Parnaíba aos 4 anos de idade, trazido pelos pais Francisco Ferreira Bastos e Cosma Rocha Bastos, Paulim, que se considera de fato parnaibano, pois residiu nos últimos 45 anos nesta cidade, estudou em diversos colégios, tendo concluído o ensino médio na escola estadual Lima Rebello. Formado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Piauí, onde atualmente é professor, e servidor do estado há 21 anos, detém hoje, além de algumas especializações e cursos, o cargo de diretor da escola estadual Cândido de Oliveira. Porém não é apenas o ofício do magistério que faz com que Paulo Bastos seja reconhecido e elogiado pelos quatro cantos da “velha Parnaíba”, mas também sua paixão exacerbada pelo rock, nascida desde ainda muito jovem, em meados dos anos 70, quando escutou em um programa do locutor Bernardo Silva, chamado “O som nosso de cada dia”, da Rádio Educadora de Parnaíba, uma canção da banda Led Zeppelin, intitulada Black Dog – sim, caro leitor, Black Dog, o mesmo nome que, décadas depois, uma banda cover do Led pegaria emprestado e, certo dia, faria um show em Parnaíba, que este humilde escritor acabaria por comentar no início deste artigo. Depois de ter escutado o rock da banda inglesa, Paulo Bastos foi tomado pela essência deste estilo e desde então, nunca o abandonou. Na década de 80, já tendo aprendido a tocar violão, montou um grupo de Heavy Metal chamado Condutores de Cadáver, onde a formação tinha: Paulo Bastos (Guitarra), Nilson Borges (Voz e Baixo) e Netinho (Bateria). A banda não durou muito, mas serviu para Paulim conhecer várias pessoas ligadas à música na cidade, e principalmente aqueles que pertenciam ao gênero roqueiro. O rock em Parnaíba, como em todo Brasil, estava em alta durante os anos 80, em decorrência do surgimento de várias bandas nacionais de destaque, como também do festival ocorrido em 1985, no Rio de Janeiro, no qual Paulim teve o prazer de ser espectador, evento este que trouxe para o nosso país nomes como Scorpions, AC/DC, Ozzy Osborn e Withesnake – logicamente, caro leitor piaguiense, que estou falando da primeira edição do Rock in Rio.
Entre o fim de 80 e início de 90, Paulim teve que deixar de lado a cena roqueira, ao menos profissionalmente, para trabalhar como professor da rede estadual de ensino, porém nunca esqueceu o rock, como ele mesmo afirma: “Nunca deixei minhas raízes”. E foi com esse pensamento que Paulim teve a ideia, em 1994, de montar uma loja de artigos de rock, chamada Metal Vídeo. Vendas de camisas e cds, gravações de fitas-cassete (e posteriormente cds) era no que Paulo trabalhava, ao mesmo tempo em que exercia o cargo de professor, tanto do estado como, também, já nesse período, da Universidade Federal do Piauí. Dois anos depois, em 96, casa-se com Ligia Thomaz Bastos, de onde surgiram os dois filhos, Samuel (12) e Gabriel (9), ambos fãs de rock e que já tocam violão e guitarra, mesmo com a pouca idade. A loja Metal Vídeo, que se situava na Rua Padre Castelo Branco, em 1998 teve sua mudança para o endereço localizado à Rua Caramuru, que depois se tornou também locadora. Em 2004, ainda não satisfeito, começa a promover festivais de rock na cidade, trazendo bandas de vários lugares do Brasil, como foram os casos de: Dark Season (Teresina), Paradise in Flames (Belo Horizonte), Andrals (São Paulo) e Desgrace and Terror (Pará), para não citar outras. Foram sete eventos já realizados em diversos palcos de Parnaíba, fortalecendo, assim, a cena roqueira da cidade nos últimos anos.
O último evento, realizado em 2009, que trouxe a banda carioca Black Dog e que tive o prazer de presenciar, significou um dos pontos altos, segundo o próprio Paulo Bastos, em sua jornada como propagador e incentivador do rock em Parnaíba. Sempre na busca de ajudar tanto veteranos quanto grupos recém-formados, ele segue, assim como o vi naquela nostálgica noite, de forma apressada e com uma mochila nas costas, mochila esta que traz uma bagagem rica de conhecimentos e atitudes, de alguém que soube amadurecer e envelhecer, sem nunca deixar de lado os anseios de quando era apenas um jovem, igual a muitos, igual a mim ou a vocês, rebeldes, sentimentais, inseguros, sonhadores, indomáveis, inesquecíveis, e muitas outras coisas…
Talvez sejam as duas qualidades que levaram Francisco de Assis a vencer as adversidades da vida e crescer, sem que fosse preciso “passar por cima de ninguém”. Nascido em Porto (Piauí), no dia nove de novembro de 1970, tendo morado a maior parte da vida em Parnaíba, “Neguinho”, como é mais conhecido, vem de família humilde, perdeu o pai aos cinco anos e terminou de ser criado apenas pela mãe. Estudou sempre em escola pública e desde criança preferiu o trabalho ao invés do ócio como ele mesmo disse: “dos seis aos nove anos eu trabalhava vendendo alumínio, ferro (…) essas coisas que as pessoas compram como ferro velho, vendia bolo em fatias pela cidade; trabalhei em olaria, fui jardineiro em algumas casas, vendia até manga no Pindorama”. Apesar das dificuldades que sua condição lhe impusera, Neguinho sempre teve responsabilidade e tentou vencer a árdua batalha da vida pelo seu próprio esforço e suor: “minha mãe nunca me obrigou a trabalhar, eu fazia porque não queria ficar pedindo dinheiro na rua, e com isso podia comprar meus bombons, chocolates etc.”. Aos 10 anos voltou à cidade de Porto para continuar os estudos na casa da avó. Não ficou parado, lá vendia carvão, picolé e batata doce. Aos 13 morou no interior de Pirangi e trabalhou na roça por três anos. Aos 16 voltou para Parnaíba, onde morou “de favor” na casa de conhecidos; aqui, estudou em várias escolas: “estudei no Galhanoni, no Clóvis Salgado, no Edison Cunha e terminei os estudos no Lima Rebelo”; durante esses meses, trabalhou em serrarias, como ajudante de pedreiro, ajudante de eletricista e construiu calçamentos, como ele mesmo brincou: “eu era mil e uma utilidades”. Já aos 21 anos casou, na ocasião, trabalhava vendendo picolés na praia: “na época eu vendia picolé na praia e quando casei fui trabalhar na Kibon de 91 a 95”; a Kibon Sorvane (distribuidora e produtora de picolés e sorvetes), no ano de 1995, diminuiu seu quadro de vendedores de rua. A empresa achou por bem fechar a distribuidora em Parnaíba. O pagamento dado a ele por mais de quatro anos de trabalho foi o valor de 600 reais (e ainda parcelado em 3 vezes), porém, isso não foi o suficiente para causar alguma mágoa, ou ressentimento: “sai numa boa, depois comprei um carrinho de compensado, carrinho esse que pegou até muita chuva, estava todo inchado, comprei por 140 reais, mas eu pensei: é… Pra começar tá bom” (sic).
A capacidade de nunca desistir e jamais perder o bom humor lhe foram bem úteis, pois, de carrinho de mão, teve que recomeçar do zero: “no primeiro dia levei 30 pães, uma panelinha com carne moída e uns refrigerantes, para o Colégio das Irmãs, tive medo de não vender, mas Graças a Deus vendi tudo…”. O negócio do cachorro-quente havia dado certo e com o passar dos meses, economizando bastante, ele pôde comprar uma Kombi. Nas temporadas de dezembro a fevereiro, que não haviam aulas, Neguinho viajava para São Luis, no Maranhão, e ajudava seu cunhado numa empresa desentupidora de esgotos.
O tempo foi passando e a Kombi foi substituída por uma Taunner. E ele não se acomoda em momento algum, além de hoje possuir dois transportes para vender cachorro-quente em diversos lugares da cidade e em Luiz Correia, tem um ponto comercial em casa e um empreendimento maior na Avenida São Sebastião; a comunidade do Orkut criada em homenagem a ele pelo estudante Glauber Rodrigues Lima, já possui 1.835 pessoas, de vários lugares como Teresina, Fortaleza, São Luis e Natal. Porém, a maior vitória desse piauiense batalhador não foi a sua independência econômica, ou suas conquistas comerciais, mas a humildade que até hoje permanece estampada no sorriso de um vencedor!