Eu não vendo. Não vendo aquela pulseirinha de ouro gravado com o meu nome que ganhei de meus padrinhos quando nem sabia ler, nem tinha vaidade, acabava de vir ao mundo.
Não tem preço minha boneca Gardenha de cabelinho quase loiro e sapatinho vermelho com olhos que abrem e fecham, eu não vendo e nem dou. Com ela faz par o Gurdes. Existe esse nome mesmo? Eu batizei meu boneco que tem causas azuis e blusa branca de suspensório preto pintados no corpo, quando eu tinha meus cinco ou seis aninhos. Pesquisando agora no google descobri que gurde é a unidade monetária no Haiti. Encontrei também algumas pessoas com o sobrenome Gurdes. Não lembro de onde tirei esse nome naquela época, mas eles estão comigo em perfeito estado.
Eu não vendo e tenho ciúmes de emprestar meu caderno de recordações com fotos e mensagens de amigos que estão distantes, muitos deles nem sei mais notícias e alguns já partiram para outra dimensão.
Não tem moeda que pague o valor de estimação da minha grinalda de flores de organdi branco com centro de pérolas e arrematado com torçal de seda.
Não vendo também o mandrião de cambraia amarela bordado a mão com crivos e arremates em ponto cheio. Nem me desfaço também dos sapatinhos de linha nem dos cueirinhos e algumas camisinhas de cambraia cavalinho que vestiram meus babys e ainda conservo comigo.
Eu compararia, daria qualquer preço para adquirir meu primeiro livro de escola “O Livro de Lili” de autoria de Anita Garibaldi. O tempo destruiu apesar do meu jeito cuidadoso.
Também pagaria um preço alto para recuperar minha caixa de camisa com muitas fotos e recortes de jornais e revistas registrando o cotidiano de Jonh Kennedy e Ronnie Von. Meus dois grandes ídolos. Hoje o que me restou desta feliz época foi um cadernetinha com todas as músicas de Ronnie escrita por mim a punho.
Compraria minha coleção de chaveiro e flâmulas se elas existissem, mas foram destruídas pelos meus filhotes que se entretiam horas e horas espalhando todos no chão e observando a beleza dos objetos que acumulei durante anos.
Acho que todo mundo por mais desprendido que seja tem alguma coisa que guarda consiga para relembrar de forma mais concretas algumas passagens de sua vida. Eu já fiz a minha amostra agora é sua vez você de recordar objetos que você não vende e nem troca ou aqueles que você gostaria de recuperar se possível fosse.
DO LIVRO “O QUINTO” INÉDITO
MARIA DILMA PONTE DE BRITO APAL
CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA