Sobre os poetas…

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Imaginação (tão abstrata) que se junta à tinta (altamente concreta)
Casamento perfeito, união reveladora (simbiose)
De talentos, de histórias, de momentos

Percorrem as mais variadas linhas, que antes pareciam
Tão retas, claras, objetivas (razão acima de tudo e com tudo)
E agora… Agora se misturam ao torto, ao obscuro, ao subjetivo (sentimento)

É a criança deixando de ser a mesma, para se perceber: jovem
É o jovem se permitindo ser tudo e tanto mais: até criança

Escrevendo

Em meio a tantos gritos e dizeres, problemas e confusões,
Catástrofes, inundações, reflexões a degustar!

Sobre

Amores: do mais sublime ao mais avassalador
Platonismo exacerbado, enquanto espera à hora certa de falar
Dor, na alma, no coração, muito além do que o corpo poderia suportar

Um fechar de olhos para o novo, sem olhar para trás
Um saltar no escuro da contradição, despejando termos, rimas e confissão
Um reviver de sonho, que espera, a cada novela, o mais doce das ilusões

Um peito traído que faz do mais penoso tormento: criação
Um olhar dirigido (e até crítico) aos problemas do seu lugar (para quem lhe rodeia)
Um ouvido atento, na busca de um sorriso em meio a milhares de lágrimas

De tudo isso, e um tanto, é que humildemente se faz
Aquele que traz na vida, a missão: de provocar os nossos sentidos

Sim, é ele, o poeta, e ninguém mais.

Claucio Ciarlini (2013)

Maldita

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Insônia é a vilã intragável que me consome agora
Não me deixa quieto (talvez o correto)
Com um sorriso desgraçado de ironia, na boca
E eu me perdendo no desprezo deste dia
Perdendo o sono, a paciência, a beleza

Insônia que me traz, e traz: angústia que nem sempre é bom
Mas o que fazer? Não há, não há
Se na noite ela me provoca feito Diabo a Jesus
Que cruz, meu Deus, que cruz!
E eu tão pouco sou Deus pra lidar, para domar a fera

Insônia para poucos, que coléricos, gritam feito insanos
Sufocados à espera do agrado do danado (Morfeu)
Penitência maldita no pingar lento dos olhos cansados
Desgraça calada, que cutuca e desnorteia
Num turbilhão de mensagens bizarras e complexas

Insônia é a droga que ninguém deseja
Mas que todos procuram remédio, solução
A droga pra droga (que droga!)
Agoniação indigesta e praticamente imbatível
Como os sonhos ainda não conquistados, que me esperam

No amanhã, que só chegará se eu dormir.

Claucio Ciarlini (2013)

DIÁRIO

[Cunha e Silva Filho e a Literatura Piauiense]

Elmar Carvalho

21/04/2020

            Em certo dia de 1990 conheci, em Amarante, sua terra natal, o professor, erudito, crítico literário, cronista, memorialista e ensaísta Francisco da Cunha e Silva Filho.

            Eu estava hospedado num hotel, instalado num velho e solarengo casarão, situado quase ao pé da escadaria do Morro da Saudade, que assim chamo em homenagem ao excelso poeta Da Costa e Silva, cujos extraordinários poemas passei a conhecer a partir do final de minha meninice, e depois, com mais intensidade, do início de minha juventude. Eu fora participar de um evento lítero-cultural.

Aliás, ao longo de muitos anos estive nessa cidade várias vezes, e sempre me é muito agradável retornar a essa aprazível e encantadora cidade, e essas visitas estão registradas em várias crônicas memorialísticas que escrevi, e no meu poema Amarante. Me é sempre agradável rever suas ruas e becos tortuosos, seus vetustos solares, suas praças ajardinadas, sua graciosa e elegante matriz, a atraente beleza dos rios, e a moldura azul e sinuosa das serras, que o poeta nostálgico do azul cantou.

            Ao dar uma volta pela cidade, sem dúvida em companhia do Virgílio Queiroz, professor, escritor e poeta amarantino, o encontrei num dos casarões da Avenida Des. Amaral, que se limita com o morro e com o rio Parnaíba, em suas extremidades. Não sei quem nos apresentou; talvez tenha sido a Sônia Setúbal, sua irmã.

Sei que iniciamos uma rápida conversação sobre literatura, na qual lhe informei que cometia versos, e participara de algumas coletâneas e antologias. Ainda no fulgor e no entusiasmo de minha juventude, prometi lhe enviar, pelos Correios, já que ele morava no Rio de Janeiro, onde exercia seu mister magisterial, cópia de minha participação na coletânea “Poemágico – a nova alquimia”, com prefácio de Assis Brasil, da qual eu fora um dos organizadores. Nessa ocasião ele disse haver gostado do meu nome literário, que o achava forte e bonito.

Ele tinha ido a Amarante, para fazer uma visita ao túmulo de seu pai, que falecera sete dias antes. O velho professor Cunha e Silva fundara o Ateneu Rui Barbosa, que relevantes serviços prestou à Educação do município até 1947, data de sua mudança para Teresina, onde continuou a exercer o magistério, e deu continuidade a sua vocação jornalística e literária, tendo vindo a integrar os quadros da Academia Piauiense de Letras. Homem de largas leituras, exerceu o magistério e a literatura com proficiência e dignidade.

À noite, perto do cais do Parnaíba, voltamos a nos encontrar. Entre outros, estava em minha companhia o contista e romancista José Pereira Bezerra, no auge de seu entusiasmo e de sua potencialidade literária, que entrou em erudita discussão com o Cunha e Silva Filho, em que este parecia se divertir com a veemência quase acirrada com que o Bezerra defendia as suas ideias e preferências na seara literária.

De volta a Teresina, imediatamente enviei, como havia prometido, a separata de minha participação no Poemágico. Poucos dias depois, recebi dele, através da ECT, um belo e desvanecedor artigo, diria pequeno ensaio, sobre a minha poesia. Para encurtar este registro, devo dizer que, posteriormente, sobre vários livros coletivos de que participei ou sobre os de minha exclusiva autoria, o Cunha escreveu vários estudos introdutórios ou manifestações críticas, percucientes, argutas e elucidativas.

Em todos esses anos mantivemos correspondência mais ou menos assídua, pelos Correios e depois pela internet, através de e-mails. Tanto em prefácios como em artigos avulsos, são vários os estudos ensaísticos que Cunha e Silva Filho dedicou à minha poesia, sobretudo, mas também à minha prosa, mormente às minhas crônicas, pequenos ensaios e discursos acadêmicos. E muito me honrou o seu ensaio literário sobre o meu romance Histórias de Évora, que lhe serve de prefácio.

Por tudo isso, lhe sou muito grato, e me sinto feliz com a amizade e a admiração recíproca que cultivamos ao longo dessas três décadas. Nas poucas vezes em que veio ao Piauí, estive com ele e com sua esposa Elza. Estreitei amizade com os seus irmãos Sônia e Evandro (falecido). Evandro era um leitor voraz, inteligente, atualizado, e muito perspicaz em suas observações críticas, sendo, algumas vezes, algo mordaz, mormente em relação aos falsos valores literários. Um outro seu irmão, Winston Roosevelt, é um mestre consagrado da estatuária piauiense, sobretudo em bronze.

A partir de 1990, acompanhei a ascensão magisterial e literária de Cunha, quase diria uma vertiginosa espiral para o alto, não fora eu lhe conhecer as suas lutas e esforços nessas suas atividades. Sempre no campo da literatura, fez mestrado, doutorado e pós-doutorado. Com essas conquistas, pôde exercer o magistério superior. Publicou um dos mais importantes ensaios sobre a poesia de Da Costa e Silva, o nosso nunca assaz proclamado poeta maior, um dos maiores ou melhores poetas do Brasil, como o considera o meu amigo Geraldo Magela Meneses, digno juiz federal, mas amante inveterado de nossa literatura.

Posso afirmar, sem medo de estar errado ou a cometer injustiça, que Cunha é um dos que mais escreveram artigos, dissertações, teses e ensaios sobre autores piauienses, muitos coligidos ou transformados em livros. E isso não é fácil, requer esforço, argúcia e criatividade, porquanto vários desses autores nunca antes haviam sido objeto de estudo. Escrever sobre autores nacionais, de dilatada fortuna crítica, objetos de ensaios, monografias e teses sobre sua obra, é fácil; basta que se diga com palavras próprias o que outros já disseram ou escreveram.

Porém, escrever sobre autores provincianos, esquecidos pelos leitores e críticos, sobre quem nunca ninguém fez sequer uma pequena resenha, requer trabalho, pesquisa, meditação e muito poder de observação e perspicácia. E isso Cunha o fez muito bem, pelo que merece todas as nossas homenagens.

Tratou nesses trabalhos dos aspectos intrínsecos da obra desses literatos, seguindo os postulados da nova crítica, mas sem deixar de fazer uso, quando isso servia para iluminar a matéria analisada, das lições da boa crítica impressionista, nos moldes de um Álvaro Lins. Nunca maltratou ninguém em suas judiciosas críticas, pois preferia deixar os medíocres em seu canto, quietos e esquecidos. Todavia, não fazia concessões, e só louvava os que, no seu entendimento, como no dizer do poeta Torquato, merecessem ser louvados.

Não bastasse tudo quanto disse, construiu uma bela obra literária, contida nos seus livros  Da Costa e Silva: uma leitura da saudade (Teresina: Editora da UFPI/Academia Piauiense de Letras, 1996); Breve introdução ao curso de Letras: uma orientação (Rio de Janeiro: Editora Quártica, 2009); As ideias no tempo (Teresina: APL/Senado Federal, 2010) e Apenas memórias  (Rio de Janeiro: Quártica, 2016).

No seu blog “As ideias no tempo”, ao longo de alguns anos, vem publicando primorosos artigos, elucidativos ensaios literários e excelentes crônicas, algumas de cunho memorialístico, que enfeixados formariam um notável livro, de interesse para a cultura e a literatura brasileira e piauiense.

PATARIA

 

duck and ducklings

         O “Pato” é o bicho de pena, que anda abaixadinho e a “Pata” é a mulher do pato que “patateia” pra lá e pra cá. Pato é o jogador, que chegou e fez o gol. E tem o bico de pato, a sianinha de algodão que enfeita e adorna e que tem de toda cor. E o Donald é um pato que tem os sobrinhos patinhos e o tio, o “Patinhas”.

            E tem quem pague o pato. Quem arca com as conseqüências de ações e atitudes de outra pessoa, paga o pato. E se não tiver pato, ele paga o peru. E além da pata mulher do pato tem as patinhas de caranguejo e a gente come uma, come duas e come três e como ela é gostosa a gente come outra vez.

            E tem gente que é pato. Pato no xadrez, pato na dama, sempre perde, nunca ganha E tem o pacto, acordo entre pessoa. A especialidade médica que auxilia o médico em diagnóstico é a patologia. Gente que canta e que fala é patativa, nome de pássaro cantador. Quando se junta muitos patos como lá em Minas Gerais tem folia a “Patos Folia”. Sem falar no pato recheado, prato mineiro, que dá água na boca.

            E tem pato que é gente. O Alexandre que joga a Maria Helena Patto que escreve. Tem pato preto, mariscado e branco. O pato do Paraná é “Pato Branco”. No Pará ele é com tucupi. A patogenia quer dizer o modo como um agente patogênico promove agressão a um organismo. Patogênico é algo capaz de produzir doenças – bactérias patogênicas.

            No meio da tanta pataria o melhor é comer o pato. Se eu pedi e comi eu pago o pato. Mas, porque pagar o pato se eu nem escolhi, nem aplaudi, nem concordei? E qual é o preço do pato? De que tamanho é o pato? E se esse pato nem tem pena eu tenho pena de mim que não comi do pato e vou pagar mesmo assim.

DO LIVRO LERO -2011
MARIA DILMA PONTE DE BRITO APAL
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1ºOCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA

 

PÉS NO CHÃO

pés

          Ouve-se falar comumente que manter os pés no chão evita queda brusca. E há quem diga que de vez enquanto é preciso tirar os pés do chão, caminhar entre as nuvens e viver uma ilusão. Voar, voar, subir, subir, viver, viver. Cantar uma canção do alto o coração. Ser feliz.

            Pés no chão às vezes de salto, toda poderosa. Pé no chinelo na luta dia a dia no rojão. Pé no chão de barro, no asfalto, na areia, na água do mar, na lama ou nas estrelas. Todo pé tem um dono com a cabeça feita ou não.

            Pé fora do sapato. Alívio o sentir do chão, energias que vem do solo, relaxa e traz boa sensação. Pés para cima sangue circulando descanso, repouso paz, satisfação. Pés descalços batendo na água, isso é natação. Pés no ar quando se dá asas para tocar as nuvens e alcançar as estrelas indo além da imaginação.

            Pé de rosas, lindos, lindos coloridos que precisam de amor para florir. Pé de laranja, de limão que oferece frutos e sombra para a população. Também tem o pé de briga aquele procura uma confusão. Pé de moleque aquele bolo doce feito com rapadura, leite condensado e açafrão.

            Andar sobre o solo sem a proteção de nenhum calçado, conhecida como “grounding“, ou “earthing” (algo como “aterramento”), aumenta consideravelmente nossa saúde e nosso sentimento de bem estar, de acordo com estudo publicado site científico NCBI (National Center for Biotecnhology). Pesquisa realizada afirma que a terra ou o aterramento do corpo humano podem ser um elemento essencial na equação da saúde, juntamente com a luz do sol, ar limpo e água, alimentos nutritivos e atividade física.

          Têm pés pequenos e gigantes, pés bonitos e pés tortos, pés macios e delicados e pés que parece um bolão. Tem pé de pato e pé de coelho que dá sorte e superstição. O pé de pano faz de trouxa o João.

            E por fim, ali e acolá é bom dar asas e liberdade aos pés, qualquer que seja o tombo ninguém passará do chão e valeu a pena os devaneios, os sonhos, sair do sério faz bem para alma e para o coração.

INÉDITO – DO LIVRO “O QUINTO” A SER PUBLICADO
MARIA DILMA PONTE DE BRITO APAL
CADEIRA 28
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO 
1º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA