Vale a pena repetir

 

girl with a cup in pink dress

         Marilu acordou muito cedo com o telefonema de Betinha. Sempre contando novidades boas. Betinha era uma mulher de alto-astral. De bem com a vida, vaidosa, elegante, educada. Nunca repetia uma roupa. Seu armário era preciso esvaziar de vem em quando. Cuidava dos cabelos, das unhas, da pele, sempre perfuma e bela.

       O problema era que uma grande festa aconteceria no dia seguinte e Betinha não tinha preparado uma roupa nova. Lamentava com Marilu seu tamanho descuido. E vaidosa como era, preferia deixar de ir a festa que repetir uma roupa.

      Bobagem, menina, dizia Marilu. A festa vai ser tão boa, você não pode perder. Sabe aquele barbudo que você dançou no “Baile das Rosas” no ano passado? Ele vai estar aqui.

     – Não diga amiga. Aquele gato que fiquei com ele? Já que é assim vou até pensar em repetir uma roupa. Depois daquela festa ele já esteve aqui umas três ou quatro vezes e nem sequer olhou para mim. Pensando bem, acho que não vou mesmo.

       -Mas você não anda sonhando acordada com ele? Não diz que daria tudo para pelo menos dançar com o dito outra vez? Eu não perderia essa oportunidade. Quem sabe, talvez vocês fiquem de novo.

       -Não, Marilu. Ele passou por mim e faz de conta que nunca me viu. Não entendo o desencanto. Fomos tão felizes naquela noite. Jurou que me procuraria outras vezes. Mas nada. Todos são iguais. Não vou mesmo essa festa.

        Deixar de ir a festa com barbudo ou sem barbudo era de veras um sacrifício para Betinha. Ela adorava movimentos, curtir um som, mas com um mesmo vestido ela não iria. Mesmo assim, foi ao salão de beleza. Gostava de cuidar do visual. E por ironia de destino cruzou com o barbudo na esquina. Vinha conversando com um colega sobre a festa tão badalada. Passou pertinho de Betinha, quase seus braços se roçaram. Nem por isso percebeu a bela morena que já beijará e amassará com tanto desejo e paixão. Foi aí que Betinha decidiu. Ah! Tenho que ir ao clube essa noite. Mesmo que ele não me olhe, que ele não dance comigo, eu vou. Se me ignorar outra vez, ai eu vou tentar esquece-lo.

        E Betinha faria o sacrifício. Repetiria um vestido. Mas qual? Abriu seu guarda-roupa. Pegou um longo preto, de grife. Muito caro, por sinal. Olhou e jogou para o lado. Escolheu um branco curtinho. Colocou no corpo. Examinou o decote e pensou: esse também não. O róseo choque era tomara que caia. Colado no corpo até os quadris e depois tornava-se largo, deixando sobressair sua silhueta de cintura fina e quadris avantajado. Um vestido sexy, “cheguei”, como se diz na gíria. Detalhes de pedraria no mesmo tom da roupa. “Chique” pensou. É com esse que vou. E ficou imaginando: Quando vesti a ultima vez? Ah! Faz tanto tempo que nem lembro. Sei que essa roupa me deu sorte. Estirou em cima da cama, escolheu as bijuterias para combinar, mas sempre cismada. Não gostava de repetir uma roupa.

        Chegando na festa, meio encabulada por não estar com uma indumentária nova, não se expôs muito. Quieta no seu cantinho observava a festa. Buscava com os olhos o tal barbudo. Lá estava o garanhão. Dançava com uma, com outra. Bebia, conversava, parecia estar entrosado no ambiente. Betina que era alegre, divertida, estava acabrunhada num cantinho porque seu vestido não era novo. Não dançou com ninguém porque estava quase escondida. Lá pelas tantas, sentiu uma mão em seu ombro cujo dono dizia:

         -Vamos dançar?

        Betina levantou-se surpresa. Era o barbudo. Lindo de morrer. Seu coração batia tão alto que ficou com medo que alguém escutasse. Sem dizer uma palavra chegou ao salão.  Dançaram coladinhos e se esfregaram como da outra vez. Depois de muito rala e rola foram para um cantinho reservado do clube. E entre beijos e amassos ele comentou.

         – Como tenho te procurado. Esperei tanto esse momento.

          -Mas eu sempre lhe vejo por aqui, disse Betina.

          – Ora, e por que você não falava comigo? Já procurei muito por você. Não sabia seu nome, nem seu telefone. Tive sorte de lhe encontrar dessa vez.

         -É?!…Mas eu sempre estou nas festas e tenho lhe visto.

         -Pois essa é a primeira vez que vejo você após aquele dia. Quando vi esse vestido róseo, não tive dúvida. É ela, a minha gata, a minha fêmea, a minha paixão. Conheci você pelo vestido. Era ele que você usava quando nos encontramos naquela noite. Lembro da cor, dessas pedras que ofuscam e atraem. Não tive dúvida quando meus olhos bateram nesse róseo. Estou sonhando? Será miragem? Como fiquei feliz.

         E Betina também feliz envolvido em afagos e no fogo da volúpia pensava:

                                                           VALE A PENA REPETIR

 

DO LIVRO HISTÓRIA DE MARILU – 2005
MARIA DILMA PONTE DE BRITO
CADEIRA 28 DA APAL
PATRONO LÍVIO LOPES CASTELO BRANCO
1º OCUPANTE HUMBERTO TELES MACHADO DE SOUSA

 

 

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