Tem um velho ditado popular que diz assim: “morro e não vejo tudo”. Pois é, a gente fica pasma com certas coisas que acontecem no dia-a-dia, que a gente nunca imagina que pudesse acontecer.
Um dia desses fui abordado por um simpático senhor que conhecia o estilo de minhas crônicas e pediu licença para me contar uma história. Disse que estava me dando de presente um texto para que eu publicasse como de minha autoria. Esqueci de perguntar se o caso foi verídico ou imaginação criadora dele. O certo é que gostei e repasso para meu estimado público.
Começa com uma linda história de amor entre um casal muito apaixonado. Ela tinha o corpo escultural e isso só fazia seu parceiro ficar mais enamorado. Ele era um escultor. Sabia apreciar as formas, valorizava as linhas, os ângulos o que favorecia valorizar as belas curvas da sua amada, mais que qualquer um leigo.
E assim se passaram alguns anos, comeram alguns quilos de sal juntos e ela foi engordando, perdendo traços, ele já não mais encontrava cordas no seu violão, aliás, não havia mais instrumento musical. Havia sim, um bujão de gás, um saco de batata.
O amante, o artista, o apaixonado, o parceiro, o escultor, passou a se preocupar com a esposa e começou a investir em sua recuperação corporal. Pagava academia, contratou personal trainer , massagista, nutricionista, mas ninguém dava vencimento ao apetite da mulher que comia, comia,comia e engordava, engordava, engordava.
O marido já sentia o fracasso do casamento. Lutava incessantemente para conserva – lo. Mas, a imagem daquela mulher que não era mais a esposa que contrai núpcias tornava o casamento frio, gelado, sem atração.
Foi o jeito tomar uma atitude esdrúxula, mas bem intencionada, salvar o casamento. Chamou duas pessoas de sua confiança e simulou um sequestro. Encenou bem o seu papel. Chorava preocupado com a esposa. Não saía do pé do telefone aguardando o contato dos sequestradores. Inventava que recebia mensagens dizendo que breve anunciariam o valor do resgate.
Enquanto isso, a vítima no cativeiro era tratada muito bem. Com água e comida light. Todo o conforto necessário. Se não fosse a saudada da família e da mesa farta, aquilo era um céu.
Certo dia os homens de confiança chegaram para o patrão e anunciaram.
– Ela está no ponto. Magrinha, magrinha.
– Traz a madame ordenou.
Comunicou a todos que os contatos foram feitos e ele iria pagar o resgate. Simulou tudo direitinho e sua amada esposa foi libertada. Sua chegada foi com uma festa. Ela estava linda. Do jeito de quando eles se conheceram. Corpo escultural. Um violão. E ele dedilhava com muito prazer nas cordas de sua linda amante. Amaram fervorosamente. Tiveram uma nova lua de mel. O amor renasceu.
Mas, esse quadro não durou muito. Para começar na festa de comemoração de sua saída do cativeiro tinha de tudo. E ela faminta experimentou de todas as delícias. Não conseguia conter sua gulodice e o saco que estava vazio começou a encher. E foi crescendo, crescendo. Antes que ela chegasse ao extremo o marido advertiu. Faça regime, volte para academia, faça caminhada, procure a nutricionista. Mas, nada disso dava vencimento comparado a quantidade de alimento que ela digeria.
E tudo começou outra vez. Ele não tinha mais tesão. Na tentativa de salvar mais uma vez seu casamento insistia diariamente para que a sua amada se cuidasse. Por conta disso muitos atritos aconteciam entre eles e num belo dia a coisa pegou fogo. No auge da discussão sem querer ele deixou escapulir: só mandando lhe sequestrar de novo para você emagrecer.
– O que? Então o sequestro foi uma farsa? Ele tentou explicar a boa intenção da coisa, mas ela estava indignada com o fato. Discutiram, brigaram muito. E eu fico a matutar. Será que ela perdoou o marido e prometeu emagrecer? Ou quem sabe, ele tenha aceitado ela gorda. Fico até fantasiando e imaginando que tudo terminou num longo beijo Eles se amavam tanto.
O fato é que, o resto desse romance só sabe Deus.
Inédita/2012
Do livro “O Quinto” a ser publicado
Maria Dilma Ponte de Brito
Ocupante da Cadeira 28
Patrono Lívio Lopes Castelo Branco
1ºOcupante Humberto Teles Machado de Sousa