Cirurgia ou Operação?

cirurgia

      Final de ano. Muito serviço na empresa. Mas todos faziam seus planos para essa temporada. Silvinha tiraria férias para passar com a família numa praia. Jônatas viajaria para o sul. Estava ansioso em rever a família. Carla optou mesmo por ficar em casa, tinha muita coisa para por em ordem. Samuel estava estressado. Necessitava de descanso. Cada um com seu programa. E quem ficaria na empresa? Esse era o problema…

      O gerente não sabia o que fazer. Que critério usaria para ser justo. A empresa não podia dar férias coletivas. Alguém tinha que ficar. Mas quem? Fez uma reunião. Pediu a compreensão de todos. De cada setor um gozaria férias. Impossível todos saírem ao mesmo tempo. Alguém sugeriu que fosse feito um sorteio. Quase ninguém concordou. Reunião encerrada sem nenhuma solução.

    No gabinete do gerente, um a um ia justificar o porquê da escolha dessa data. Choravam, imploravam e deixavam o gerente de calça curta. Que fazer!

      Pensou, pensou…E convocou uma segunda reunião com a mesma pauta – Férias. Fez um discurso bonito, explicou que entendia a situação de cada um. Mas que no final do ano os serviços se multiplicam. Portanto, chegou a seguinte conclusão para o bem da empresa e para não ser injusto. No mês de dezembro ninguém tiraria férias. Ponto final.

      Voltando a seu gabinete encontrou um funcionário a sua espera.

      – Bom dia Francisco, como vai?

      – Não muito bem Senhor Gerente, estou com um probleminha, espero que o senhor resolva.

      – De que se trata Francisco.

      – Preciso tirar férias em dezembro.

      – Mas acabei de falar na reunião que por motivo superior ninguém tiraria férias nesse mês.

    – É… Senhor Gerente, mas o meu problema é diferente. Preciso fazer urgentemente uma “operação”.

     O gerente ficou num beco sem saída. Pensou em dizer não. Mas se esse homem morre, minha consciência vai me acusar. Coçou a cabeça, franziu a testa, e com uma voz contrariada disse:

    – Seu caso é diferente, Senhor Francisco. Não posso me opor. Passe no setor de pessoal e marque suas férias para dezembro.

   Ninguém criticou a decisão do gerente. Era realmente um caso justo. Tudo bem. E assim Francisco tirou suas férias, no período nobre.

     No primeiro final de semana de dezembro, a turma se reuniu no barzinho da praia. Já que não podiam tirar férias pelo menos no final de semana aproveitariam para se divertir. Tudo estava muito bem. O sol, a cerveja, o caranguejo, até que para surpresa de todos, olha quem estava no barzinho ao lado de boné, camiseta, numa boa. Adivinhe quem? O Francisco…Ninguém acreditou. Mas ele não ia fazer uma operação? Ele enrolou o gerente ou o gerente quis protegê-lo e inventou essa história? Vamos tirar a limpo.

  Três deles foram ter com Francisco. Ele os recebeu com muita festa. Saudável, vendendo saúde. Que malandro! E aí a pergunta foi direta.

     – Francisco, você tirou férias para fazer uma operação não foi?

     – Sim, foi.

     – Não venha me dizer que já fez e já está bom curtindo esse sol.

      – Verdade, amigo, fiz a operação. Correu tudo em paz.

      – Não parece que você fez uma cirurgia. Seu médico sabe que você está na praia?

     – Que cirurgia? Médico? Fiz uma operação sim. Mas foi uma operação financeira.

      Êta Francisco…Você heim?!!!!

MARIA DILMA PONTE DE BRITO
Cadeira 28 da Apal
Do Livro História de Marilu/2004

DIÁRIO -10/04/2020

DIÁRIO

[Aniversário, Kindle e um susto]

Elmar Carvalho

10/04/2020

            Ontem fiz 64 anos de vida. Como não tenho o hábito de comemorar meus aniversários natalícios, nada me custou permanecer em meu distanciamento social, eufemismo criado, nestes tempos de expressões politicamente corretas, para a quarentena imposta pela covid-19. De qualquer maneira, como o próprio nome indica, aniversário acontece todos os anos.

Mesmo assim, a Fátima pediu uns quitutes por serviço de entrega domiciliar, e fizemos pequena comemoração, apenas com a presença dela, de minha filha, do seu namorado, o Felipe, e deste aniversariante sessentão. Em termos de aniversário, comemorei apenas o de meu meio século, o de meus 55 anos e o de quando me tornei um sessentão. Como dizem os sarcastas, entrando agora na casa dos 64, não sei nem bem se é de fato uma casa ou se apenas um pardieiro, ou, na melhor das hipóteses, uma tapera. Por ser um número redondo, talvez comemore os meus 65.

Alguns poucos e bons amigos, confrades e parentes me parabenizaram através de telefonemas, torpedos, e-mails e mensagens por whatsapp. Entre eles, pedindo desculpa por involuntária omissão, e sem seguir (necessariamente) a ordem de recebimento: Homero Castelo Branco, Maria, Reginaldo(s) Costa e Miranda, César e Simone, Natim Freitas, Teresinha Queiroz, Ben-Hur Sampaio, Maria José, Josélia, Nilva, João Miguel, Gelvan Lisboa, Cid de Castro Dias, Walter Lima, Felipe Mendes… Também fui parabenizado pelo grupo de whatsapp da Academia Piauiense de Letras, mas não pude responder, por não ser usuário desse sistema de rede social, porém o faço aqui e agora. A todos muito obrigado pela lembrança, de todo coração.

Ainda ontem sofri um grande susto. Caí na besteira, não sei por que, de tentar fazer a configuração de meu aparelho de leitura Kindle, da Amazon. Numa barbeiragem ou vacilo indevido, optei por comandar a configuração inicial do dispositivo, e isto me custou o sumiço de minha biblioteca virtual, de mais de quinhentos livros, o que, além do transtorno, implicaria na “queima” de uma pequena fortuna. Para mim, seria uma verdadeira calamidade, uma vez que hoje leio muito mais através do Kindle, do que por meio de obras físicas.

Tentei manter minha calma, ao pensar que os livros deveriam estar no empíreo, isto é, numa “nuvem” virtual, e que, portanto, eu poderia resgatá-los. Um tanto ansioso, fiz algumas tentativas fracassadas. Mas, insistindo, pelo método do “erra acerta”, consegui trazer para o Kindle a minha biblioteca, quando já era bem tarde da noite. Para me tranquilizar e me fortalecer espiritualmente, pedi logo um novo e-book.

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Tratava-se de “Tao Te Ching – o livro que revela Deus”, da autoria de Lao-Tsé, texto integral, 5ª edição (2006), publicado pela Martin Claret, tradução e notas de Huberto Hohden. Enfeixa 81 breves poemas, alguns um tanto herméticos, por conterem paradoxos e antíteses ou por tentarem sondar o insondável, conhecer o incognoscível, ou auscultar o inaudível e inescrutável.

Alguns versos, tal a beleza sintética de que se revestem, são verdadeiros aforismos e lições de bem-viver. Desses aforismos e lições transcrevo apenas três, que seguem abaixo:

  • Grande, porém, és Tu, de quem tudo vem / E a quem tudo volta.
  • Tudo o que existe egressa do Ser / E regressa ao Ser.
  • O único desejo do sábio / É não ter desejos.