POEMITOS DA PARNAÍBA
Texto: Elmar Carvalho
Charges: Gervásio Castro
- Alain Delon
Situava-se entre o feio e o horrível
mas se dizia BG: bonito e gostoso.
Metido a conquistador de mulheres
conseguia o inverso efeito:
as mulheres – lebres assustadas –
de Alain Delon fugiam.
Se Alain Delon muito fosse
Alain Delonge seria.
- Derocy
Derocy, Ofélia da Parnaíba,
não era um orador oral:
era um orador boçal
em seus discursos bestialógicos,
ilógicos, escatológicos. Tirava
do sério o homem sério quando
disparava seus disparates.
- Meio-Quilo
Se bem pesado não dava
sequer meio-quilo. Pai de
Cotinha, mulher bonita e
namoradeira nos escuros
do velho Cine-Teatro Éden – paraíso
de estripulias estrambóticas e eróticas.
O pequenino Meio-Quilo, de lanterna em
punho, a roubar Cotinha dos braços
do namorado, era um filme
à parte.
- Alarico da Cunha
Poeta. Espírita. Espírito
da carne e do osso, a roer
o osso duro do ofício de poetar.
Quixótico, exótico: misto de poeta
e de espírita. Via espíritos no
- Nunca estava sozinho:
quando a poesia lhe faltava
os espíritos surgiam e
se insurgiam contra a solidão.
Cavalheiro de fino trato:
tirava o chapéu para os
espíritos que só ele via.