UESPI PODERÁ FORMALIZAR CONVÊNIO DE PARCERIA COM A APAL

Na manhã de ontem, quinta feira 27, o presidente da Academia Parnaibana de Letras, José Luiz de Carvalho e o secretário geral Antonio Gallas estiveram em  visita ao Campus professor Alexandre Alves de Oliveira, da Universidade Estadual do Piauí – UESPI.

O objetivo da visita foi manter contato com os professores Eyder Rios, diretor do Campus,  e com a professora Shenna Luissa Motta,  coordenadora do Curso de Letras Inglês,  no sentido de tentar formalizar um convênio entre aquela universidade e a academia para disponibilizar alunos dos cursos de Letras e História para estágio/monitoria na sede da APAL.

Na ocasião foram entregues à professora Shenna e ao professor Eyder exmplares da última edição do Almanaque da Parnaíba como também dois exemplares para a biblioteca da instituição.shenna.jpg

O presidente José Luiz solicitou ao professor Eyder e à professora Shenna,  que fosse destinando na sessão literatura piauiense daquela biblioteca,  um espaço exclusivo para obras de autores parnaibanos, independente de serem acadêmicos ou não.

A possibilidade da formalização do convênio está em andamento e ideia da criação de um espaço único para autores parnaibanos foi bem aceita pela direção do Campus da UESPI em Parnaíba que prontificou-se a atender esta solicitação do presidente.

  uespi

Simplício Dias à espera de Napoleão Bonaparte na praia da Pedra do Sal.

 

napoleao2

*Pádua Marques

 

Se pudessem dizer pelo menos alguma coisa, um nome feio por menor que fosse e não parecesse ofensa e insubordinação, aqueles soldados famintos, com sede e os pés cheios de bolhas certamente diriam que o capitão Simplício Dias da Silva, aos trinta e cinco anos, estava fazendo papel de palhaço em cima daquelas pedras e com os olhos vidrados pra dentro do mar, na praia imensa e sem vida da Pedra do Sal, naquela manhã de fevereiro de 1808.

Tudo porque o governador da capitania do Piauí, Carlos César Burlamaqui, que passava o dia lá na distante Oeiras limpando as unhas com a ponta de um punhal e de vez em quando fumava um cigarro filado de um cabo puxa saco, cismou de mandar pra Parnaíba um estafeta, instruindo o capitão Simplício Dias da Silva de que ficasse com os olhos bem abertos porque o Piauí corria o risco de ser invadido pelo general e imperador Napoleão Bonaparte, com trinta e nove anos.

Burlamaqui recebeu notícias de que a França havia riscado Portugal do mapa da Europa e tudo indicava que o príncipe dom João corria risco de ser preso e até morto em Lisboa, se não desse a qualquer hora com a família nas costas da Bahia, o que realmente acabou acontecendo. Vinha de mala a cuia com um monte ministros e de assessores. Instruía o comandante militar sobre a defesa do litoral piauiense e confiava na perícia do parnaibano. Simplício se encheu de moral e armou logo de manhã uma confusão na cozinha porque a criada não havia cozido os ovos e o leite não havia chegado.

Depois de calçar as botas lustradas a esmero, fardado e medalhado, descendo pra frente da casa de morada, reuniu a tropa, nada mais que uns trinta soldados rasos, dois oficiais e uns cinco escravos como pessoal da logística. Marchar até a distante praia da Pedra do Sal, umas quatro léguas e meia de Ilha Grande de Santa Isabel pra dentro, esperar que aparecessem os franceses, que segundo alguns fofoqueiros da praça da Graça, seriam comandados pelo próprio imperador, que ao que constava, muito queria conhecer o delta do Parnaíba e principalmente o porto dos Tatus.

Simplício Dias da Silva naquela manhã estava com a cachorra! Mandou perfilar a tropa e a banda executar o hino de Portugal e aquela música do Airton Senna. Depois subiu as escadas à procura de dona Isabel Thomásia pra dar algumas instruções, em caso de ocorrer algum infausto na campanha. Os negros iam levando em grandes caixas de madeira, a farinha, a carne seca e nas ancoretas a água pra beber. Só e não tinha outra coisa não. Os soldados armados com espingardas velhas de encher pela boca, estavam um aqui e outro ali reclamando porque não haviam recebido as diárias.

Foi emocionante e ao mesmo tempo triste a expedição dos voluntários da Parnaíba que iriam enfrentar Napoleão Bonaparte e os seus soldados naquela que se chamaria a Batalha da Pedra do Sal. Choro e ranger de dentes. Ranger de dentes mesmo era pra os escravos tendo que levar na cabeça e nos ombros todos aqueles apetrechos, aquela arrumação toda sabendo que iriam voltar com a cara calçada de vergonha. Atravessaram o Igaraçu e entraram de ilha adentro. Simplício e os oficiais montados a cavalo e os soldados a pé e ainda cantando, que era pra ninguém ficar mangando ou reclamando uns dos outros. Castigo era meia dúzia de bolo de palmatória de número dois, aquela que tem um furo no meio.

Depois de cinco horas de marcha batida havia gente arrenegando de ter deixado o bem bom da caserna! Um sol de rachar os miolos. Carnaúba pra tudo que era lado e depois as enormes dunas de areia quente queimando o solado dos pés. Levaram um dia inteiro nessa arrumação. Simplício de vez em quando olhava pra trás pra ver se alguém estava fazendo corpo mole ou querendo correr no rumo do Labino. Ao final da tarde avistaram as pedras enormes. Os animais, os soldados e os negros estavam enfadados, mas ninguém reclamou ou deu um piu! O pessoal da logística foi logo tratando de montar as barracas onde iriam dormir o capitão Simplício Dias e os oficiais.

 

Passaram dez dias esperando um sinal que fosse vindo do mar. Comendo carne seca com farinha branca e bebendo água racionada. Ninguém tomava banho. Nos três primeiros dias os soldados passavam o dia marchando e recebendo instruções de combate. Mas do quarto dia em diante, como ninguém era de ferro e nem via e nem ouvia um sinal de vida, uns foram saindo e ganhando as pedras, outros pescando, outros fazendo poesia.

E outros se danaram a escrever os nomes de esposas, namoradas, amantes e casos nas pedras. Era letra de tudo quanto era jeito e tamanho. Anita, Solange, Marilda, Pretinha, Diane, Lucineide, Socorrinha, Angélica, Bruna, Fransquinha, Lurdinha, Patrícia, Rebeca. Encheram as pedras de declarações de amor, corações e de nomes. Simplício fazia que não estava vendo nada. Passava o dia riscando o chão de areia fofa com um graveto e mandando os oficiais menores procurarem o que fazer ou indo até a parte da cozinha de campanha olhar pra dentro das panelas.

A água e a paciência dos soldados estavam acabando, mas ninguém reclamava de nada. Tinha soldado que estava achando aquilo uma beleza que não iria nunca mais se repetir tão cedo. Simplício Dias da Silva começou a ficar impaciente e desmotivado. Olhava pra aquele mundo de água salgada e não via um sinal de nada. Já começava a criar uma escuma nos cantos da boca quando chamou todo mundo e mandou que debandassem. Napoleão deve ter desistido com medo. Só podia ser!

*Pádua Marques, jornalista, cronista, contista e romancista. Ocupa a cadeira 24 da Academia Parnaibana de Letras. Sócio efetivo do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba, da Academia de Letras de Sete Cidades, entre outras entidades culturais no Piauí. 

 

TRON E UFDpar DOAM EQUIPAMENTOS PARA A APAL

TRON

A empresa de Tecnologia, Robótica e Natureza –  TRON e a Universidade Federal do Delta – UFDPar  doaram  equipamentos de tecnologia de informática,  mesas e cadeiras para a Academia Parnaibana de Letras – APAL.

Os equipamentos foram instalados na sede da Academia, nesta segunda- feira, 24 de junho e serão destinados para a Biblioteca Renato  Castelo Branco e para o  Memorial Humberto de Campos, que funcionam naquela entidade.

TRON 2
Técnico Edisac na montagem e instalação dos computadores

 São dois computadores, sendo que um ficará exclusivo para ser utilizado pelos acadêmicos, na produção de textos e pesquisas.

Para  efetivação desse serviço foi contratado com recursos próprios da APAL  o sistema de internet via rádio  fornecido em nossa cidade pela empresa Piauí Telecom.

A doação desses equipamentos foi possível graças aos esforços dos professores doutores Alex Marinho,  diretor da UFDPar e Gildário  Lima da TRON.

Segundo informações do presidente José Luiz de Carvalho  esse foi mais um dos objetivos atingidos pela atual diretoria que vem executado o Projeto Academia Viva que consiste na completa revitalização e funcionamento da entidade.

 

 

O calango à francesa.

 

cabriole

*Pádua Marques. 

 

Simplício estava feliz, embora por dentro com o coração aos pedaços. Havia tempos que sentia e via sua fortuna e opulência saindo de dentro de casa e indo parar na mão de agiotas em São Luiz. Tudo por conta das investidas que achou de dar nas tramas da política, as intrigas com vizinhos por causa do irmão Raimundo, assassinado quase na porta de casa e de brigar por terras que não eram suas e nem seriam de seus descendentes.

Constance e Apolinaire Dabreux chegaram numa canoa larga puxada a remos por doze negros, vindos da Tutoia, no distante Maranhão. Era por volta do meio dia quando subiram o barranco que dava para a casa de Simplício Dias da Silva e sua família. A francesa subiu numa liteira carregada por dois criados enquanto o marido foi montado num cavalo pequeno.

Simplício e dona Isabel receberam os visitantes ainda na parte de baixo do sobrado de paredes encardidas, de dois andares, no meio entre um outro de esquina e a igreja, de frente para um campo de areia onde a vista mal alcançava. A mulher do anfitrião brasileiro estava vestida sem muita ostentação. Não era bonita. Morena, baixa, rosto latino e tinha uma verruga embaixo do lábio. Em Constance causou uma certa repugnância, mas se conteve. A filha, uma menina de seus onze anos, de pouca presença.

cabriole2

Era o que se esperava de uma criança nascida e criada naquele lugar de pouca gente civilizada, com as poucas ruas cheias de soldados, homens rudes e negros suados, embarcadiços e negras nos mais diferentes ofícios. Constance tão logo subiu as robustas escadas de madeira para acomodar a bagagem, trouxe na volta uma caixa. Chamou a menina e entregou pedindo que abrisse o presente. Uma bonita boneca de porcelana, olhos pintados de azul e cabelos humanos.

Uma joia na frente daquelas suas de pano ou de sabugo de milho feitas pelas criadas. Recebeu e tratou de se retirar sem agradecer. Era acanhada demais e mais ainda com estranhos. Para dona Isabel Thomásia, um xale negro de renda espanhola e um corte de seda azul turquesa. Simplício havia ganhado de presente de Apolinaire Dabreux um rico estojo de escrita com tinteiro de prata e cuja tampa era de cristal da Boêmia.

Os dois homens agora conversavam na janela de cima do segundo piso enquanto olhavam o serviço dos negros lá embaixo no cais. Olhando em volta, nada era verdade do que Constance ouviu pela boca de outros franceses encantados com a América do Sul. Simplício e sua família estavam arruinados. A pobreza começava a bater na sua casa pela porta dos fundos e a cozinha era testemunha. Mas com o casal estrangeiro, Simplício quis fazer bonito.

Na missa de domingo, Constance e Apolinaire Dabreux, Simplício Dias e dona Isabel Thomásia ficaram na parte reservada aos principais. Após a demorada celebração foi ordenado que entrassem três negros, todos jovens, entre quinze e vinte anos. Era a orquestra de que tanto Constance e o marido ouviram falar ainda no porto de Marselle, de que um rico comerciante no Piauí mantinha às suas custas. Executaram duas peças sacras curtas e saíram silenciosos. Estavam vestidos com roupas ordinárias e mal cortadas. Mas um detalhe chamou a atenção, estavam descalços.

cabriole3

Apolinaire Dabreux acompanhava a música dos escravos com os olhos fechados, a mão na boca escondendo uma certa surpresa e reprovação. Como podia numa terra daquela, distante da sua França e da civilização, alguém à custa de muita teimosia e violência meter na cabeça daqueles negros um rasgo de arte, uma arte que só era possível e vinda da Europa? Simplício olhava para o casal francês como que procurando aprovação. Estava radiante.

No almoço, servido na parte de baixo do sobrado, a mesa estava farta. Fazia muito tempo que isso não acontecia. A louça estava limpa, os talheres lustrados à custa de muita areia lavada e sabão de coco. Bananas, mangas e laranjas vindas do distante Maranhão, carne de gado ensopada, perus e galinhas assados, vinho do Porto e água de coco. Constance ficou admirada com aquela bebida. Apolinaire não demonstrou muito gosto pela novidade. Mas bebeu um copo.

De repente, assim do nada, todos sentados em volta da mesa enquanto a criadagem trazia e retirava pratos, entra um calango. Simplício, que vinha convalescendo de umas bolhas nos pés, foi o primeiro a dar sentido. O lagarto feio, pele entre o negro e o cinzento e que quando parado ficava balançando a cabeça, atarantado, correu para debaixo da mesa e quase se perde embaixo dos vestidos das mulheres. Gritos e mais gritos se ouviram. Os criados vieram com pedaços de pau e cabos de vassoura tentando achar e espantar o bicho.

Já nesse instante as duas mulheres haviam subido as escadas e estavam muito aflitas. Um calango. Simplício se pôs a dizer para Apolinaire Dabreux como era viver numa terra ainda cheia de animais venenosos e até de vez por outros selvagens. O francês ia ouvindo tudo, concordando e consigo pensando. Não, aquela terra perdida da América do Sul iria apenas ser outra Jamaica, Haiti e Cuba. Não e nunca seria como a França! Na sua França jamais se teriam calangos à mesa.

cave4

*Pádua Marques, cadeira 24 da Academia Parnaibana de Letras. 

 

 

 

 

Areia suja de sangue na frente da igreja.

praca_da_graca_foto 4

*Pádua Marques

Veio dos lados da cozinha um barulho de louça caindo. Dona Isabel já estava recolhida à camarinha e Simplício ainda sentado com os pés fora dos chinelos quando foi alertado de que alguém estanho estava dentro de casa. Correu a mão na vela e chamou Florindo que dormia nos fundos da casa. Antes, pegou o punhal em cima da mesa e apurou o ouvido.

Simplício era gago quando tomado por uma situação de perigo. Ao ver Florindo entrando pelo corredor mal iluminado, ficou ainda mais gago. Os dois homens foram caminhando na ponta dos pés no rumo da cozinha enquanto dona Isabel e as filhas ficaram na porta dos aposentos esperando saber do que se tratava. Não era coisa de rato mexendo nos trens da cozimha e na carne salgada. Era coisa de gente. E essa gente, se é que se podia dizer ser gente, era um escravo.

Pegaram o negro. Alto, de canela fina, nu da cintura pra cima, catinga de aguardente e cara bexiguenta. Uns trinta anos, se pouco. Os olhos vermelhos que nem postas de sangue. As palmas das mãos amarelas. Florindo mandou que cantasse o nome e de onde estava fugindo. O negro calado estava, calado ficou. Simplício estava mais atrás, segurando a vela na altura dos olhos. Outros criados chegaram e amarraram o negro.

Arrastaram pelos fundos da casa e lá no terreiro, Simplício desferiu uns dois golpes na cabeça com o cabo do relho. Não queria mancha de sangue dentro de sua casa. O mel desceu. Ferido, o negro disse que estava fugindo do Maranhão, onde era procurado porque matou um tio. Veio à procura de comida, um pouco de sal e farinha. Era conseguir a comida e ganhar o rumo do porto pra comer com os embarcadiços que subiriam pra Tutoia e depois São Luiz.

Foi retirada a faca que o negro trazia no cós da calça e entregue a Simplício. Pego com a mão no que era alheio, dentro da casa, agora iria arrenegar da hora que nasceu e de onde havia vindo. Mandou amarrar o negro num tronco ainda naquele início de madrugada. Voltou pra camarinha e tratou de acalmar a mulher e as filhas. No outro dia era mandar saber nas redondezas sobre um cativo assim e assim, como quem não quer nada. Ainda estava escuro quando Florindo e mais dois negros da casa grande começaram a surrar o fugitivo ladrão.

A ordem de Simplício era de que fosse antes do sair do sol. Pra não dar motivo que ninguém se acordasse. Surrou, fosse levado pra bem longe. Nada de compaixão com o diabo daquele negro! E sendo ladrão, pior ainda! Se não aguentasse e morresse, que jogassem o corpo bem longe pra os urubus comerem. Carne desgraçada! Nem valiam a fortuna que custavam no cais de Recife e de Salvador. Custavam mais que o gado pra tirar carne e leite.

Simplício, que não falava com negros cativos, não dormiu o resto da madrugada. Não que tivesse remorso pelo que Florindo estava fazendo com o escravo ladrão. Lembrou o irmão Raimundo, assassinado há vários anos pelos inimigos da sua família, na biqueira da casa. Aquela morte tão cruel e que até agora vinha acabando com sua saúde. E agora aquilo, ver sua casa invadida e todo o risco de perder o sossego com dona Isabel, a fortuna e as filhas naquela terra ingrata. Um negro dentro de casa. Um negro entrando pelos fundos da casa e já de posse de uns pratos! Pois que se morresse, que fosse enterrado com o produto do roubo! Servisse de lição! Lá pelas tantas ouviu de longe umas vozes no meio do largo. Eram de certo Florindo e os outros que haviam terminado o serviço.

O negro morreu de tanto levar punhaladas. Foi por isso que não se ouviram gritos naquela madrugada. Depois de darem muita aguardente foram matando aos poucos.  Seu corpo foi enterrado no meio do campo, um pouco afastado da igreja com os objetos roubados da cozinha de dona Maria Isabel Thomásia de Seixas e Silva. Pratos, talheres, um pouco de sal e de farinha dentro de um paneiro. Uma miséria. Até hoje, no lugar onde está enterrado existe um formigueiro.

fadinha1

* Pádua Marques, cadeira 24 da Academia Parnaibana de Letras. 

 

 

A data correta da Igreja de Frecheiras

Fonte: Jornal da Parnaíba/Walter Fontenele/Google

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Frecheiras da Lama, no município de Cocal (PI), teria sido construída na segunda década do século XVII ou no terceiro quartel do século XVIII?

O e-book “História e Fé na Conquista do Sertão do Norte: A CAPELA DAS FRECHEIRAS”, da autoria do pesquisador e historiador Vicente Miranda, publicado pela Editora da Universidade Federal do Piauí, demonstra, através de documentação, de argumentação contextual lógica e da interpretação apropriada e harmônica dos algarismos e das letras (iniciais) das duas cruzes vistas em seu frontispício, qual a data correta de sua construção.

O livro virtual pode ser lido através do link:  http://www.ufpi.br/e-book-edufpi.

AFOGADO, ENFORCADO E DE CABEÇA PRA BAIXO!…

Professor Antonio Gallas 

Os festejos juninos, Santo Antonio, São João e São Pedro é uma das festas mais alegres e comemoradas em todo o Nordeste. No Maranhão, por exemplo, as cidades de todas as regiões do Estado transformam-se  no mês de junho numa alegria única. Na capital, São Luis, nem se fala noutra coisa, e pra completar, ainda criaram o Dia de São Marçal,  dia 30, último dia do mês, que é quando se  encerram as festas, na avenida que recebeu o nome do Santo, no Bairro do João Paulo.

São Marçal  apesar   não ser um Santo reconhecido pela Igreja,  é venerado pelos brincantes dos  bumbas-meu-boi. E neste dia, sob o som das matracas, orquestras  e pandeirões,   os grupos de mais famosos do Maranhão promovem o encerramento oficial dos festejos, marcado pelo grande Encontro dos Batalhões  que  começa às seis da manhã estendendo-se até a madrugada de 1º de julho. A festa reúne milhares de pessoas todos os anos.
Boizinho “Precioso” – Tutóia- Maranhão
Mas, apesar desse encerramento festivo na capital São Luis, o Bumba Meu Boi no Maranhão não termina em 30 de junho. Prossegue o ano inteiro em todo o Estado.
E não é sobre São João dos Carneirinhos, São Pedro, o protetor dos pescadores ou sobre São Marçal, o padroeiro dos brincantes do bumba-meu-boi que pretendo agora escrever. Quero falar sobre Santo Antonio, o chamado “santo casamenteiro” e narrar   um causo que aconteceu comigo e mais outro amigo em Tutóia, no tempo de nossa adolescência. Sobre Santo Antonio, muitas são as simpatias que, não apenas as que já estão no “caritó” ou seja, as solteironas fazem, mas também as novinhas desejosas de casar. Poi bem, vamos ao caso:
Nessa época, década de 1960, muitas famílias naquela cidade maranhense ainda não se davam ao luxo de ter uma geladeira em em suas residências.  A água para o consumo era armazenada em filtros de barro da marca Fiel ou São João ou então depositada   em potes também de barro. E diga-se de passagem, era friinha e deliciosa  chegava até fazer inveja a certos refrigeradores de hoje.
Eu e meu primo, paquerávamos duas irmãs que moravam no bairro  Barra, já na beirinha da praia, na rua dr. Paulo Ramos, à época sem qualquer pavimentação. Em suma, as dunas tomavam conta da rua. Essas moças, hoje são casadas e não residem mais em Tutóia.
Sempre aos domingos ou feriados  eu e meu primo as visitávamos na parte da tarde. Depois de uma caminhada de mais ou menos dois quilômetros, chegávamos, ao nosso destino esbaforidos, suados e com muita sede. A primeira coisa que fazíamos era saciar a sede e como eu já tinha bastante intimidade na casa, eu mesmo enchia os copos  com água,  bebia e trazia para o meu primo.  Era um domingo, 12 de Junho, véspera de Santo Antonio. Aconteceu que nesse domingo o filtro estava vazio, não saiu água da torneira. Então, peguei o púcaro, um pequeno recipiente de alumínio com um cabo comprido para se retirar água dos potes  e que muitos chamam “cuco” ou “côko”,  e quando o introduzi ao pote notei que batera em algo rijo  provocando um certo barulhinho. Aquilo aguçou minha curiosidade. Então meti a mão dentro do  pote e sabem o que encontrei? Imaginem: uma   pequena imagem de Santo Antônio de cabeça para baixo, dentro de um copo e  com um cordão dado um nó no pescoço, como se tivesse sido enforcado.
Chamei meu primo, fomos embora, e as meninas ficaram sem falar conosco por um bom tempo.
Pobre Santo Antonio! Afogado, enforcado e  ainda de cabeça para baixo!

A negra que abanou os queixos de Simpilição.

* Por Pádua Marques. 

rosario1

Negra Gonçala procurou relho pros couros e palmatória pras solas das mãos. Naquele domingo da entrada de junho achou de trazer pra o largo da matriz uma penca de filhos e netos, pronta que estava pra batizar um deles. Achou que, sendo antiga criada da casa de Domingos Dias da Silva, alforriada e tendo passado parte de sua vida com a barriga encostada no fogão daquela casa, tinha direito a ser tratada, ela e os seus, como gente do palácio.

Eram mais de quinze negros entre homens mulheres e crianças, todos vestidos com suas melhores roupas de domingo e que desceram do Testa Branca pra assistirem missa e batizarem o menino. Negros que davam uma guerra. A missa daquele domingo foi a de costume. O velho Domingos, a mulher e os filhos e alguns poucos convidados. Nada de cativos e agregados dentro da igreja. Se quisessem, que assistissem do lado de fora!

Mas a negra Gonçala estava na moita e esperando uma brecha pra convencer o padre a batizar o neto. Seria motivo de orgulho mostrar a afeição que os donos lhe deviam pelos serviços prestados na cozinha. Conhecia a família Dias da Silva como a palma da mão grossa de retirar panela de ferro de cima das trempes. Conhecia o velho Domingos, a mulher e os dois filhos, Simplício e Raimundo. Trocou cueiros, deu banho e passou talco neles. Achava que tinha direito a ser igual a eles.

O padre estava já guardando os paramentos, cálices e se preparando pra deixar o altar quando negra Gonçala chegou perto e disse que havia saído do Testa Branca  de madrugada com a família pra, se merecesse e fosse do agrado dele, batizar o neto, que dentro de mais alguns anos iria servir de escravo aos seus donos. Domingos Dias da Silva ainda cochilava quando ouviu aquela proposta mais fora de hora. Acordou feito um cão saindo da fornalha.

Não se enxergava não? Onde já se viu negro dentro da igreja?! Que diabo é que quer negro dentro de igreja? E mais ainda batizar filho ou neto! Quem desobedeceu sua ordem pra permitir uma ousadia daquelas? Os convidados vendo aquele destempero do dono da freguesia da Parnaíba foram tratando de escapulir pelas portas dos lados, ali pros lados da Câmara Municipal. Negra Gonçala estava com as petecas dos olhos quase saltando em cima do velho português e de seus filhos.

Disse que nunca passou pela sua cabeça desrespeitar ordens, mas achava merecimento seu batizar o neto naquela igreja. Domingos estava furioso. Disse pra quem quisesse ouvir que naquela igreja negro não haveria nem de passar na porta, que não se enxergavam e que olhando bem, não eram e nunca foram gente. A coisa foi esquentando e negra Gonçala aguentando toda aquela descompostura. Começou a jogar praga e a espumar pelos cantos da boca.

rosario2

Simplício, o filho querido de Domingos Dias da Silva, achou de botar mais lenha na fogueira. Disse que aquele lugar não era pra espetáculos daquela natureza e que Gonçala e os seus se retirassem senão o bolo de palmatória e o relho iriam cantar. Nem haveria de respeitar o domingo e quanto mais o padre. A velha escrava saiu xingando os donos enquanto os filhos, noras e netos se distanciavam. Simplício não se conformando com o que disse veio pra o largo da matriz e desacatou um dos negros. Chamou de filho dessa e daquela. Um deles correu a mão na faca que trazia na cintura e mandou que corresse dentro. Foi um rebuliço dos diabos na frente da igreja. Teve gente correndo e espalhada até pelo Armazém Paraíba e o Bar do Farias.

Raimundo, metido a valente, correu na cerca do cemitério do burro e arrancou uma estaca. Alguém disse que iria chamar o juiz porque a coisa estava ficando sem controle e poderia ocorrer até morte. Negra Gonçala estava agora sentada e se abanando embaixo de um pé de manga ao lado da matriz. O SAMU já estava de prontidão e tudo. A família, que se preparou toda pra o batizado descendo do Testa Branca naquela manhã de domingo, agora estava mais distante e mais acalmada porque chegou a Guarda Patrimonial.

rosario3

De repente Simplício saiu de dentro de casa e veio negociar. Negociar porque Gonçala prometeu que só arredava o pé da frente da igreja se o padre batizasse o menino. O futuro dono da casa grande vendo que não tinha saída pedia penico. Foi chegando e chegando até que ficou frente a frente com negra Gonçala. Chegou e mandou que se levantasse. Que conversa era aquela de querer batizar negro dentro da igreja? Quem foi que inventou aquela história?

Gonçala deixou Simplício Dias da Silva falar suas verdades. Ele disse que negros não eram gente, que se colocassem nos seus lugares. Voltassem pro Testa Banca porque era capaz de mandar queimar as suas casas e aí nem o mel, nem a cabaça e nem o batizado. Gonçala perdeu a paciência que havia guardado. Chegou bem perto de Simplício Dias da Silva, abanou os queixos dele e disse que ele não era nem besta. Ela sabia de tudo e mais um pouco de tudo da família.

Quem prestava e quem não prestava. Era sair e espalhar no Bar Carnaúba, no largo dos pipoqueiros, fila da Caixa, Banco do Brasil, Secretaria de Fazenda e na frente da Banca do Louro. Queria ver ele e a família dele proibirem batizar seu neto na matriz de Nossa Senhora da Graça! Mas se não era possível, tudo bem. Iria levantar dinheiro pra construir a igreja do Rosário. Foi o que fez.

rosario4

*Pádua Marques, ocupa a cadeira 24 da Academia Parnaibana de Letras, jornalista. 

 

 

 

A caveira de burro. Por Pádua Marques.

 

O velho Domingos Dias da Silva vivia batendo cabeça, tentando de tudo em quanto pra se aposentar pelo INSS. Tinha umas cabecinhas de gado, pé duro, não restava dúvida, mas que lhe davam uns poucos litros de leite todo santo dia. Pra ele e os dois filhos, Simplício e Raimundo. Este último sempre foi o mais rebelde, metido a valentão, rabo de burro. Do cais do porto até a Nova Parnaíba tudo era território dele. Como se dizia na época, ali Raimundo casava e batizava.

Raimundo passava o dia inteiro em cima de um burro velho cotó. Era o mesmo que o pai usava pra mandar os criados, os cativos, trazerem água do Igaraçu pra encher os potes da cozinha e as tinas de banho. Menino ainda, ia até a cozinha atrás de comer farinha com açúcar. Era sair da cozinha com a boca cheia e ir intimar com as duas filhas da criada, duas negrinhas já no tope, furando os bicos dos peitos.

A vida que queria quando foi ficando rapazinho era descer o barranco na direção do porto, lá embaixo, na boquinha da noite, tudo turvo, escuro de meter o dedo no olho, escondido da mãe Claudina Josefa, que nesta esta hora estava descaroçando um terço e pedindo a Deus que desse juízo pros filhos. Ia atrás de raparigas. Índias, vindas do outro lado do rio e pelo que se sabia, ainda parentes de longe de um tal Mandu Ladino, que dominou desde a Tutoia e Araioses.

O velho Domingos vivia coçando a cabeça de tanta preocupação porque numa daquelas o filho, vai que se engraça de alguma, acaba trazendo pra dentro de casa? Depois era preparar os couros e contratar advogado pra não pagar pensão alimentícia. Raimundo vivia metido em confusão e de vez em quando chegava em casa apanhado. Lá se danava seu Domingos a correr pra delegacia atrás de algum jeito pra tirar o menino da cadeia e evitar até que fosse pra o Complexo do Menor, onde havia muito rapazinho do Broderville, São Vicente de Paula, João XXIII e do Mendonça Clark.

Com essas e outras o velho português acabou perdendo muita cabeça de gado e até teve de vender terras pra pagar indenizações. Mas a vida de Domingos e de dona Claudina tinha uma satisfação neste rosário de lagrimas, o filho Simplício. Era na família o filho mais bom da cabeça. Tá certo que lá mais na frente gastou fortuna, o que tinha e o que não tinha com luxo desnecessário. Somente pra fazer inveja nos vizinhos. Tinha até uma banda de música, de rock, sabe-se lá o que, formada por uns negros e índios. Coisa sem futuro.

 

A ideia de Simplício era competir com as bandas inglesas e norte americanas garantindo espaço no mercado de show business. Meteu o pau em tudo. As vaquinhas que davam leite e carne de charque, algumas léguas de terras pras bandas do Cocal e da Testa Branca, o PIS, o FGTS. Tudo pra se meter em política. Perdeu tudo. Morreu pobre e ainda com fama de medroso que fugiu pras bandas de Granja no Ceará, quando o velho Fidié, já se arrastando com a língua de fora, deu de cara ali na Guarita, invadiu a Parnaíba e levou o que pode e o que deu pra levar.

Raimundo, quando o burro velho cotó morreu, tratou de pedir ao velho Domingos Dias da Silva que fizesse o enterro com homenagens e uma sepultura com tampa de mármore e tudo o mais . Insistiu, mas insistiu tanto que o pai, já ficando caduco, mouco e perdendo a autoridade dentro e fora de casa, mandou cavar um buraco ao lado da igreja e na frente de casa, pra enterrar o diabo do burro. Não era na frente da igreja, era à esquerda, onde hoje está enterrado também o finado Cine Delta.

Foram chamados, o juiz, os vereadores, chefes de repartições públicas, as escolas, a banda de música e a criadagem ignorante. Todo mundo foi convidado pra ver o enterro do burro. Houve discursos, badalar de sinos, coroa de flores, colocação de fitas, choros e ranger de dentes. A Parnaíba parou pra ver ou acompanhar o enterro desse burro, que saiu lá do Campo das Mercedes e atravessou a cidade inteira. Igual, somente entronização de Papa no Vaticano.

Anos depois começou a decadência e a dor de cabeça sem fim dos Dias da Silva. Chamaram umas ciganas, que ficam ali perto da Banca do Louro, pra dizerem o que estava acontecendo e o que ainda iria acontecer. Como é que de uma hora pra outra o leite azedou e foi tudo por água abaixo? A fortuna, o brilho, a influência da família estava acabando e por quê?

Foi motivo de muita discussão e pedidos de instalação de audiência pública no senado da Câmara e tudo mais. E nessas idas e vindas, discursos e discussões sem utilidade e finalidade, procissões, rezas de terços, quermesses e leilões, as ciganas disseram a uma só voz que o segredo daquela decadência da Parnaíba estava enterrado em frente da casa de Simplício Dias da Silva e era uma caveira do burro! Daí que tudo que se tentou construir ou instalar naquele quarteirão, até hoje nunca foi pra frente.

 

* Pádua Marques, ocupa a cadeira 24 da Academia Parnaibana  de Letras. 

 

 

 

 

 

EDITAL PARA PREENCHIMENTO DA CADEIRA Nº27

Foi assinado hoje pelo Presidente e  pelo Secretário Geral da Academia Parnaibana de Letras  o Edital para preenchimento da Cadeira 27 que se encontra vaga desde o falecimento da acadêmica Maria Luisa  Mota de Menezes.

O período para o requerimento de inscrição dos interessados é de 60 (sessenta) dias a partir desta data.  O Edital será divulgado na mídia parnaibana e publicado nos jornais impressos da cidade.

É pretensão da atual diretoria da APAL colocar no segundo semestre, logo após o preenchimento desta cadeira, novo edital para preenchimento da cadeira de nº 23 que foi ocupada pelo médico cardiologista Dr. Carlos Araken Correia Rodrigues.

novo edital