Imortais da Academia Piauiense de Letras escolhem sábado três novos membros.

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A Academia Piauiense de Letras reúne seus imortais neste sábado (1º) para eleger os três novos ocupantes das cadeiras 18, 24 e 32, que ficaram em aberto após o falecimento de Paulo de Tarso Mello e Freitas, Herculano Moraes da Silva Filho e Raimundo Nonato Monteiro de Santana.

Ao todo, 13 escritores fizeram a inscrição para concorrer no pleito. “Nos últimos meses, a Academia sofreu com as perdas do desembargador Paulo Freitas, do nosso querido Herculano Moraes e do estimado professor Raimundo Santana. Então, resolvemos unificar as eleições, promovendo todas em uma mesma data”, explica o presidente da instituição Nelson Nery Costa.

Os eleitos ocuparão as cadeiras 18, 24 e 32 que pertenciam a Paulo de Tarso Mello e Freitas, Herculano Moraes da Silva Filho e Raimundo Nonato Monteiro de Santana. Cada um dos candidatos, no ato da inscrição, teve a oportunidade de escolher para qual cadeira concorrerá. Entre os pré-requisitos para a participação, segundo o regimento da APL, estão: ser piauiense ou morar no Estado há mais de 10 anos e ter ao menos um livro publicado.

Os 37 imortais estão aptos a votar. Cada um deve escolher três nomes, um para cada cadeira. Pelo regimento, a votação poderá ser feita presencialmente (para aqueles que residem no Piauí) ou o voto pode ser enviado em envelope lacrado pelos Correios (para os imortais que moram em outros estados).

A comissão eleitoral é presidida pelo professor Fonseca Neto, tendo como membros Magno  Pires, Reginaldo Miranda, Elmar Carvalho e Dilson Lages. É essa comissão que comandará todo o processo. Os votos, tanto os presenciais como os enviados, serão depositados numa urna. Ao final do horário estabelecido, a comissão abrirá a urna e fará a contagem dos votos referentes a cada uma das cadeiras. O resultado é proclamado ao final da apuração.

 

Renascer do dia de sempre.

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* Ivaldo Freitas Cardozo. 

Te lembra da juventude? Aquilo foi só mais um dia.
De tantos meus, embaraços, alforrias
Carregando momentos, cheios de olhares tortos
Como se a Primavera durasse a eternidade, ou um enlace de amor
Até o acinzentado é composição predominante desta aquarela
E a vejo e dou risada, mesmo carregando tanta idade e saudade.

Ai que saudade do contentamento, que já não devo a ninguém exceto a mim
Ah o dia, tão vanglorio é o dia de sempre, esse renascer contente
Esse riso infundado a cada salário, ainda que não pago
A cada beijo em lábios calados, com corações tão cheios
Embalo meu passo nas ruas dessa cidade, estendo as mãos agradecendo as manhãs
Por sempre me acordarem com um grito de silêncio.

Um abraço apertado à monotonia una de existir!

Um bom riso complacente às mágoas que me trouxe o dia de sempre

Aqui canto meu renascer com uma bela canção
De um exílio infundado, cravado na minha mente e coração
Uma canção aos desamores, a tantos gostos vivenciados e desentendidos
A felicidade que me abraça pelas costas em vez de me olhar nos olhos.

Dias inteiros param e acabam num infame adeus
Se apercebem dos tons da tarde, da manhã, da noite.
Dos conflitos velados, sorrisos calados
E as frases jamais ditas, poemas nunca recitados
Momentos que nos fazem, mas não os quisemos
Talvez pela ansiedade de ter sempre mais
Mais? Mais o que?
Nada. Simplesmente nada.

*Ivaldo Freitas Cardozo é estudante de Eletrotécnica do Instituto Federal do Piauí, campus Parnaíba. Poeta, 16 anos de idade e tem trabalho na edição 71 do Almanaque da Parnaíba. 

 

Joaquim Falcão toma posse na Academia Brasileira de Letras.

 

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O jurista, educador e intelectual Joaquim Falcão tomou posse na noite de ontem (23) na cadeira 3 da Academia Brasileira de Letras (ABL), em solenidade no Salão Nobre do Petit Trianon. O novo acadêmico foi eleito no dia 19 de abril deste ano, na vaga do escritor e jornalista Carlos Heitor Cony, morto no dia 5 de janeiro.

No discurso de posse, Falcão propôs que a ABL seja considerada um patrimônio cultural e o Estado Democrático de Direito, um patrimônio político. “Cultura é a capacidade de cada um escolher seu melhor futuro. Matéria-prima da democracia, tão importante quanto segurança, emprego, saúde, educação e justiça. Nenhuma economia funciona sem eficiente infraestrutura: rodovias, saneamento, transportes, energia e tanto mais. Assim, também, a democracia. Não funciona sem adequada infraestrutura para a livre circulação de direitos e deveres culturais. Direito é energia. Move igualdades e liberdades. Não pode faltar”, avaliou.

Em outro trecho do discurso, destacou o direito de ler, de leitura e a literatura. Por todos os meios: livro, jornal, laptop, celular, internet, rádio, TV, exposições de arte. “Ler vendo, ler lendo, ler ouvindo, ler acessando. Sou dos que acreditam que mesmo em era visual, nunca se leu tanto no mundo. Apenas, lê-se diferentemente. Sejam grandes romances, instalações, Twitter, Facebook ou WhatsApp”.

Falcão disse que o país venceu o analfabetismo que impedia tecnicamente a leitura. “Não devemos nos entregar à outra escuridão. Aquela onde alguém escolhe por nós o que nós mesmos podemos escolher”.

Jurista, educador, intelectual público, Joaquim Falcão é o sexto ocupante da cadeira 3 da ABL. Ele tem 74 anos, nasceu no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, mas mantém origem e vínculos com Olinda, Pernambuco. Bacharel em Direito pela Universidade Católica do Rio de Janeiro, é mestre em Direito na Harvard Law School, mestre em Planejamento de Educação e doutor pela Universidade de Genebra. Foi Diretor, na década de 70, da Faculdade de Direito da PUC-Rio. Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco e Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fundador e professor titular da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro.

Trabalhou diretamente com a família Marinho e foi convidado a dirigir a Fundação Roberto Marinho, na década de 90. Na época, criou o Telecurso 2000, que chegou a ter mais de 2 milhões de alunos. Criou, também, o pioneiro Globo Ecologia e o Canal Futura.

Na área jurídica, especializou-se no Supremo Tribunal Federal e publicou o livro O Supremo, em 2015. Organizou com colegas os livros Onze Supremos, publicado pela Editora Letramento – Belo Horizonte, em 2017; Impeachment de Dilma Rousseff: entre o Congresso e o Supremo, em 2017, editora Letramento – Belo Horizonte; e em breve sairá o novo livro O Supremo Criminal.Com informações da ABL. Fonte: Agência Brasil. Fotos: Edição: APM Notícias.

Academia de Letras e Artes de São Bernardo, no Maranhão, é instalada.

 

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A Academia Bernardense de Letras e Artes, ABELA, foi instalada na noite desse sábado (17) em solenidade no campus da Universidade Federal do Maranhão em São Bernardo, região do Baixo Parnaíba. Escritores, jornalistas, políticos, familiares e o presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão, João Francisco Batalha.

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No seu discurso, Batalha enalteceu a figura de Bernardo Coelho de Almeida, patrono e inspirador da entidade e considerado como um dos grandes homens que nasceram naquela cidade maranhense. Tomou posse como presidente o médico, poeta, cronista, contista e romancista Antonio de Pádua Silva Santos e mais dezenove membros, escolhidos entre artistas plásticos, compositores e cantores e escritores.

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Uma representação da Academia Parnaibana de Letras composta pelo presidente José Luiz de Carvalho, o secretário geral Antonio Gallas e o bibliotecário Antonio de Pádua Marques Silva esteve no evento. O presidente da academia parnaibana disse na ocasião que a criação de mais uma academia de letras e artes na região do Baixo Parnaíba significa uma democratização da cultura.

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A Academia Parnaibana de Letras fez a entrega de exemplares do Almanaque da Parnaíba para o acervo da Academia Bernardense de Artes e Letras manifestando a intenção de que as duas entidades criem parcerias importantes e duradouras. O escritor e secretário geral Antonio Gallas também fez entrega de exemplares de livros de sua autoria. Fotos: APM Notícias.

 

 

Expedição a Batalha

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Expedição a Batalha

Elmar Carvalho

Na sexta-feira, na caminhada da Raul Lopes, o magistrado inativo Raimundo de Sousa Lima anunciou que no sábado iria a Batalha, sua terra natal, embora desde os dez anos tenha passado a morar na cidade de Piracuruca, com a finalidade de rever o seu pago natal, onde morara em sua infância e meninice. Perguntei-lhe a que horas sairia, tendo ele me respondido que às quatro. Perguntou-me se eu desejava ir. Incontinenti, sem vacilações, disse que sim. Às quatro horas, na forma combinada, ele me pegou no condomínio onde moro, e seguimos viagem, em companhia do médico Andrey Lima, seu filho, que já conheço de outras viagens e conversas.

Antes das oito horas, entramos na cidade de Batalha, onde já nos esperava o Luís Basílio, que nos guiaria. O início do local de nosso destino fica a uns doze quilômetros da zona urbana, nas proximidades da estrada para Piracuruca. Em certo ponto deixamos a estrada asfaltada, e pegamos uma vicinal bem rústica, que apenas em alguns trechos parecia ter sido beneficiada com a colocação de tênue camada de piçarra, mas que, apesar disso, não tinha as armadilhas de atoleiros, ao menos nesta época de seca acentuada.

Até chegarmos ao ponto final de nosso trajeto, passamos por diferentes paisagens ou mesmo pequenos e diversificados ecossistemas, se assim me posso exprimir. O Luís, espontaneamente ou indagado por nós, ia indicando essas diferenças, com as classificações e denominações regionais. Algumas eu identifiquei, sem a sua ajuda de expert, pela minha vivência ou pelo meu escasso conhecimento livresco. O certo é que num percurso de poucos quilômetros, vimos cerrado ou chapada, caatinga ou sertão, este em tudo semelhante ao que é visto nas fotografias do cangaceiro Lampião.

Em determinado ponto, passamos por uma floresta de árvores de grande porte e de vegetação mais fechada. Perto desta, havia uma outra, em que as árvores eram ainda de mais avantajada dimensão e de folhagens mais densas, de modo que, na minha ótica de leigo, me pareceu resquício ou vestígio de uma possível Mata Atlântica, se é que não estou sendo exagerado ou muito imaginativo em minha suposição.

Vimos paisagens planas, povoadas de inúmeras carnaubeiras, quase um perfeito tabuleiro, em que se viam até as corcovas de cupins, como nos descampados de Campo Maior, mas também encontramos morros e serrotes, com vales e abismos, e os socavões de suas encostas. Apontando para um desses brocotós, que muitos diriam cafundó ou sertões dos confins, o Luís disse que nele ainda existiam animais ariscos, como onças, caititus, mocós e cutias.

Adiante, numa de nossas paradas, soubemos que uma dessas onças, parece que uma suçuarana, andava devorando alguns bodes de fazendas da vizinhança. O morador nos explicou que a fera retirava o couro, para, creio, melhor comer a carne. Em face dessa notícia, o Luís Basílio e o Raimundo Lima recordaram que um velho morador da região, conhecido como Manteiga, deficiente de um dos braços, enfrentou um desses jaguares, sem uso de arma de fogo, e conseguiu vencê-lo.

Manteiga fora a uma caçada com seu cachorro, muito eficiente em seu mister. Perto da encruzilhada, o cão começou a acuar algum animal, perto de uma arredondada moita de cocotinha. O caçador foi verificar o que acontecia, quando, de súbito, uma onça, com a velocidade de um raio, deu um salto para atingi-lo. Manteiga tentou esquivar-se, e conseguiu furar o bicho com uma faca do tipo peixeira. Embora ferida, a onça, em seu bote feroz, conseguiu dar-lhe um forte golpe, que lhe fez soltar a faca. Veio para cima do caçador, que fora cair a uma certa distância.

O cão, que era valente e veloz, partiu em defesa de seu dono, e conseguiu morder a garganta do feroz adversário, que veio a morrer, o que comprova a lealdade e brio desse cachorro, cujo nome era Leão. Com efeito, esse mastim, de cor vermelha, muito grande e forte, fazia jus a seu aristocrático nome, posto que era um verdadeiro leão. E Manteiga provou que também era muito destemido, robusto e lutador, e, portanto, não era nenhuma “manteiga derretida”.

O caçador foi buscar um burro para levar a fera morta, como um troféu e para lhe tirar o couro, que tinha muito valor comercial. Cobriu o rosto do muar com um saco de estopa, pois é fato sabido que essa alimária tem muito medo de onça. Contudo, mais adiante, Manteiga resolveu retirar a “careta” do burro. Este, então, olhando para os lados viu a carcaça da onça, assombrou-se e disparou mato adentro, em “desabalada, alada carreira quase voo”, derrubando a carga que conduzia. Só reapareceu, ainda desconfiado, sete dias depois. Embora esse relato pareça estória de caçador, Luís Basílio, como no poema de Gonçalves Dias, garante ser a pura expressão da verdade: “Meninos, eu vi!”.

No percurso dessa viagem saudosista, que por isso mesmo era também uma viagem no tempo, visitamos o chamado olho-d’água de fora. Ora, presumi, se havia o olho-d’água de fora, me era lícito supor que haveria o de dentro; mas não havia, pelo menos não com esse nome. Mas existia um outro, com outro nome, sobre o qual mais adiante falarei.

O Raimundo nos contou que em sua meninice, não sei se também de peraltice, passava perto do dito olho-d’água de fora, em demanda de uma escola, cuja lembrança, com as devidas elaborações imaginativas e fictícias, aproveitou na fábula do Zé Trunfinha, contida no seu livro A menina do Bico de Ouro; a menina do bico de ouro, de nome Beatrice, dita Titice, por sua vez foi inspirada numa neta do Raimundo, filha do doutor Andrey, de inteligência tão admirável quanto precoce.

Olhamos os seus dois principais minadouros ou vertentes, no entorno dos quais se estende uma várzea, com imponentes e belos buritizeiros e graciosas e elegantes plantas aquáticas, muitas das quais trepadeiras, que se encarapitaram nos grossos troncos dessa palmeira. Vimos alguns cachos de buritis. Esse fruto, com as escamas de sua casca cor de bronze, um bronze avermelhado, parece uma escultura minimalista de um esmerado renascentista; de sua popa são produzidos um doce e um suco deliciosos.

Nesse brejo paradisíaco e quase intocado, esquecido nos confins desse quase ermo, em que se ouvem apenas as notas musicais de cigarras e aves canoras, estavam um jumento e uma mulher a recolher água, que só não me fizeram recordar a passagem bíblica da samaritana, com o seu cântaro, à beira de um poço, porque as vasilhas onde a rurícola colocava a água eram de plástico.

Havia um leito de areia, por onde nas grandes chuvas se forma um riacho. Agora, era apenas um rio seco, um rio de areia, um rio exaurido. O Luís nos relatou que outrora os olhos-d’água eram mais potentes, vertiam mais água. Todavia, agora, eram apenas aquele fiapo de líquido, que mal escorria. Talvez vários fatores tenham concorrido para esse esgotamento: seca prolongada, assoreamento dos minadouros, desmatamentos no entorno, perfuração de poços tubulares…

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Dando continuidade ao roteiro de nosso périplo saudosista, sentimental e turístico, fomos à morada do senhor Domingos Antônio da Silva, cujo apelido carinhoso e familiar é Jogó, que precisei anotar, porque às vezes o pronunciava como Bogó, outras, como Bobó; mas bogó é uma vasilha de couro e bobó, um tipo de alimento. E seu Domingos, o nosso Bogó, é um bom velhinho, que encontramos no quintal da casa, quentando sol perto de uma espécie de cabana. No e-mail, em que me foram enviadas as fotografias que documentam o nosso passeio, dele disse o Andrey, que se consagrou como habilidoso fotógrafo de nossa expedição:

“Pudemos ali, como numa viagem ao tempo, ver homens e mulheres vivendo exatamente da mesma maneira como os seus ancestrais, como o Sr. Jogó, viúvo, com 86 anos e um casal de filhos, que se recusaram a deixá-lo para procurarem vida mais amena, longe daquela terra seca pelo sol quente, que para ali persistirem precisaram superar os desafios diários do sertão! Brava gente!”

Noutro trecho do e-mail, disse Andrey sobre seu pai, que em sua meninice percorreu essa paragem bucólica, ainda hoje imersa em solidão e abandono: “Tal cenário de uma vida simples de criança, mas pura, serviram de alicerce para o desenvolvimento da sanidade mental e capacidade de sonhar dessa figura humana única – Raimundo de Sousa Lima”.

Perto de onde a estrada se trifurcava, o Luís nos contou que, muitos anos atrás, próximo a esse local, ele e um companheiro viram, quando o sol já descambava no horizonte, ao longe, o vulto duma pessoa. Quando chegaram ao ponto em que deveriam encontrar esse caminheiro solitário, não mais o viram. Olharam para todos os lados, mas não o localizaram.

Embora procurassem, sequer viram as suas pegadas. De repente, ouviram um pavoroso assobio, muito forte, fino, sibilante e estridente, que jamais pareceria emitido por um ser humano. Contava-se que nesse local de medo e arrepios apareciam assombrações e almas penadas. Nessa encruzilhada, muitos viajantes incautos se confundiam, e escolhiam o caminho errado, um caminho de perdição e incertezas.

Nos arredores desse místico e mítico local, existiu, muitos anos atrás, um barbatão afamado, arisco, veloz e valente, que nenhum vaqueiro, por melhor que fosse, conseguia pegar. Muitos tinham a certeza de que ele fora enfeitiçado por algum mandingueiro da região. Os nativos não tinham dúvida em afirmar que ele era um touro encabojado, que tinha pacto com o capiroto.

Vi os escombros de uma casa de pedra, centenária. Alguns pedaços de parede da velha tapera ainda podiam ser vistos, mostrando as junções das pedras lavradas. Talvez tenha sido construída no tempo do cativeiro, o que mais concorreria para a formação de estórias fantásticas. Não sei se é considerada como mal-assombrada. Nos seus áureos tempos quiçá parecesse impregnada de eternidade, como a casa avoenga de Manuel Bandeira. Contudo, agora é apenas uma tapera, impregnada da fugacidade das coisas frágeis e perecíveis.

Fomos ao outro manancial, que alguns chamam de olho-d’água do Padre. Tendo ficado curioso sobre essa denominação, que é a mesma de uma fonte nas cercanias de Piracuruca, que outrora abastecia essa antiga e histórica urbe, e que ficava num imóvel que pertencera ao padre Máximo Martins Ferreira (mas que atualmente é propriedade de dona Francisca Vidal de Lima, mãe do nosso expedicionário Raimundo Lima), perguntei sobre quem seria esse vigário.

Me foi informado que o “padre” não era padre e sequer fora seminarista. Deram-lhe essa alcunha afetiva e familiar, porque esse homem era calmo, um tanto introspectivo e calado, meio sisudo, como se fora um carmelengo no momento da votação do conclave para a escolha de novo papa. Seu nome é Francisco Ribeiro de Melo, e ele é primo do bravo Raimundo, comandante de nossa aguerrida força expedicionária, e é o dono da Fazenda Expedição.

O manancial pertence a essa velha fazenda, ponto final de nossa incursão turística e saudosista. Era a fonte principal de um grande e verdejante brejo, cheio de enormes árvores frondosas, de exuberante buritizal, de imensas mangueiras, por entre as quais corria o córrego, por cima de pedras esverdeadas e musgosas, a formar pequenas poças ou piscinas. Da sombra refrescante dessas árvores, víamos a encosta ensolarada de um morro, ornada de grandes pedras, que o capricho da natureza ali colocou, para formar uma espécie de Éden, como se fora um paisagismo de Burle Marx.

Quando eu escalava essas pedras e nelas me equilibrava com invulgar talento, uma manga me atingiu o alto da cabeça. Senti o impacto e a dor, que não foi tanta assim e nem me provocou hematoma, graças ao fato de que não era grande, mas um tipo de manguita, que na localidade é conhecida como manga do olho-d’aguinha. Ao olhar para uma jaqueira que havia perto, me consolei, porque fora apenas uma fruta pequena que me acertara, e não uma enorme, caraquenta e pesada jaca, que bem me poderia ter levado a nocaute.

Garantiu-me o jovem Andrey, como se fora uma recompensa ou prêmio, que uma manga, assim como os raios, não cai mais de uma vez na mesma cabeça; e não poderia cair, porquanto já estava no chão. Mesmo assim, como ato de vingança, a comi. E devo dizer que foi a mais deliciosa manga que jamais degustei em toda a minha vida.

A seguir fizemos a viagem de regresso, sem outros incidentes dignos de nota, ao menos no entendimento deste escrivão da armada expedicionária ao pago natal de Raimundo de Sousa Lima, figura ímpar com bem asseverou seu filho.

Comemorações do centenário de Alberto Silva em Parnaíba começam dia 10, sábado.

 

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As comemorações do centenário de Alberto Silva em Parnaíba têm inicio no sábado dia 10 às 9h com a Celebração da Esperança, na catedral de Nossa Senhora da Graça com a presença da família, políticos e admiradores.

No dia 24 o SESC e a família do homenageado abrem no Castelo de Eventos no bairro de Fátima às 19h a exposição “A Memória Afetiva do ilustre filho da Parnaíba, Alberto Tavares Silva”.

Os dois eventos que comemoram o centenário de Alberto Tavares Silva estão sendo organizados pelo SESC, Florisa de Mello Tavares Silva, familiares e a Fundação Alberto Tavares Silva. A exposição no Castelo de Eventos vai até o dia 19 de dezembro.

O Poeta das Gaivotas

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O Poeta das Gaivotas

Elmar Carvalho

Tomei conhecimento da existência do poeta Almeida Galhardo no ano de 2014, através do livro Constelação de Sonhos – lindas e inesquecíveis poesias, que me foi gentilmente presenteado pelo juiz de Direito Édison Rogério Leitão Rodrigues, maranhense de Pedreiras, mas radicado no Piauí, onde exerce a judicatura há muitos anos, do qual tenho a honra de ser amigo.

Trata-se de uma monumental antologia, tanto pelo seu avantajado tamanho (formato 18cm x 25cm) como por suas quase oitocentas páginas, e sobretudo pela escolha de magistrais poemas de grandes poetas do Maranhão, do Brasil, de Portugal e do mundo. A seleta foi organizada por Benedito Lemos e Geraldo Melo. Para mais tornar atraente e valorizado o mimo, o Édison Rogério conseguiu a dedicatória do primeiro autor, datada do ano acima indicado. Em face do meu apreço por Constelação de Sonhos, mandei, para melhor protegê-la, revesti-la de bela capa dura azul, adornada por letras douradas.

Pois foi nesse florilégio poético que encontrei o nome e dois lindos sonetos de o Poeta das Gaivotas, um justamente titulado Gaivotas, de que lhe adveio o epíteto literário, e o outro, Cruz de Ouro. Impossível saber se o vate, se vivo estivesse, gostaria desse cognome; sei que Raimundo Correia, chamado o Poeta das Pombas, detestava tal designação, embora o soneto, que lhe rendeu essa alcunha, seja considerado um dos mais belos do Brasil. No livro, antecedendo os dois poemas, constava apenas o nome Almeida Galhardo e o registro: “P. S. Biografia desconhecida”.

Tendo ficado curioso, por causa de um de seus sobrenomes, que associei ao seresteiro Carlos Galhardo, e pela qualidade dos poemas escolhidos, tratei de ligar ao velho amigo Antônio Gallas Pimentel, jornalista, escritor e poeta, meu confrade na Academia Parnaibana de Letras, em virtude de ser ele um grande conhecedor da literatura maranhense e de haver estudado em São Luís (MA), dita a nova Atenas, mas também hoje conhecida como a Jamaica brasileira, por causa de seus talentosos “regueiros”.

Gallas, entre outras coisas, me disse que o poeta era seu conterrâneo de Tutoia, falecido em um desastre aéreo, ao pilotar uma pequena aeronave, creio que um teco-teco. A minha imaginação voou alto, e começou a fantasiar. Fiquei com a (falsa) impressão de que o poeta fora visitar sua cidade natal e, como as gaivotas de seu soneto, fizera algumas coreografias aeronáuticas, e terminara por colidir contra uma bela e grande duna, que ornaria a orla oceânica de sua então bucólica Tutoia. Mas, assim não foi, conforme mais tarde fiquei sabendo, e adiante explicarei.

Alguns anos depois das informações recebidas (e que repassei ao magistrado Édison Rogério), mais precisamente no dia 09 de outubro deste ano (e sei disso com precisão por causa da dedicatória), o Antônio Gallas me telefonou e me disse que se encontrava em Teresina; que conduzia a obra Almeida Galhardo – o Poeta das Gaivotas, para me ofertar. Combinamos onde nos encontraríamos, e imediatamente fui recebê-la. O livro contém a biografia do poeta e alguns poucos poemas a que o autor teve acesso.

Foi escrito pelo tutoiense José Carlos Ramos, após demorado e cansativo trabalho de investigação e pesquisa, recorrendo a escassas e esconsas fontes documentais e à história oral, em que entrevistou alguns conterrâneos e contemporâneos do poeta, como Antônio José Neves, ex-prefeito de Tutoia, que conheci no final da década de 1970, como empresário em Parnaíba, proprietário da bucólica e aconchegante Churrascaria Cajueiro, que frequentei algumas vezes, inclusive no lançamento de um dos números do jornal literário Querela, dirigido pelo advogado e escritor Fernando Ferraz, de que fui colaborador.

José Carlos Ramos (nascido em 17.12.1949 e falecido em 21.08.2017, em Tutoia), não teve a felicidade de ver a publicação de sua obra, que só foi dada à estampa em 2018. No primeiro prefácio, da lavra de Moisés Abílio, poeta, jornalista e crítico literário, membro fundador da Academia Pedreirense de Letras, encontro a seguinte assertiva:

“A obra de José Carlos é um livro que ousa traçar um real retrato do poeta Almeida Galhardo, que em alguns fugazes instantes se confundem com dados da própria biografia do Maranhão.”

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Nessa importante obra biográfica, consta que Galhardo mergulhou na sombra de injusto esquecimento, consoante é confirmado no exíguo registro de Constelação de Sonhos, que acima transcrevi. Tanto isso é verdade que, no livro Zoomorfismo Literário, João Mendonça Cordeiro, ao chamar Galhardo de “gaivota esquecida”, chega mesmo a dizer que ele “é o mais esquecido” poeta maranhense, que somente é lembrado em Tutoia, onde nasceu, às duas horas da tarde do dia 2 de dezembro de 1922. O seu nome não consta nos compêndios de história da literatura maranhense e nem nas antologias. O livro de José Ramos, portanto, servirá para o reconhecimento e renascimento literário do grande vate esquecido.

Sem uma legítima vocação sacerdotal, aos 14 anos de idade, ingressa no Seminário Santo Antônio, de São Luís, para atender desejo de seus pais. Ainda como seminarista, em suas visitas à terra natal, foi acometido por forte paixão, ao que parece um tanto platônica, por Eloísa, dita Isinha.

Mais ou menos na mesma época, foi visitado por uma nova paixão, desta feita por uma normalista ludovicense, o que parece revelar a sua inapetência para o clero e para os votos definitivos de castidade. Não desejava ele, decerto, seguir o mesmo destino de Junqueira Freire, que, monge e grande poeta, se tornou um amargurado na vida monacal e, talvez, arrependido pelos votos de castidade que fizera, já que perpetrou alguns poemas líricos e mesmo sensuais.

Seja como for, em 1943, aos 21 anos, o poeta abandona o seminário, o que, segundo o seu biógrafo, provocou profundo desgosto em seus pais, que muito o desejavam ver de tonsura e batina, como era usual na época. Passou a ser jornalista e fez curso e treinamento, para seguir sua vocação profissional, no Aeroclube de São Luís. Tornou-se piloto do Estado do Maranhão. No Aeroclube, foi colega, entre outros, de José de Ribamar Galhardo e de Augusto Alberto Fontoura Chaves. Suponho que do primeiro colheu o sobrenome Galhardo, que, juntamente com Almeida, compôs o seu nome literário; o segundo foi seu companheiro no seu último e trágico voo, que ceifou a vida de ambos.

O seu poema Gaivotas parece lhe revelar a vocação de aeronauta e de amante dos voos, seja na poesia, seja nas asas de um avião. Cruz de Ouro, poema lírico, mas com algum timbre de erotismo, como aliás ocorre em outros textos poéticos de sua autoria, é uma prova de que ele não tinha nenhuma vocação para o sacerdócio, e mormente para professar voto de castidade.

José Carlos Ramos transcreve vários versos, em que, no seu entendimento, o vate demonstraria ter uma premonição de sua morte precoce, em virtude de acidente aeronáutico. Nesse ponto ele se assemelha ao grande poeta piauiense, um dos maiores do Brasil, Mário Faustino, que tinha infausto e semelhante vaticínio, e, com efeito, terminou morrendo em trágico acidente aéreo, também jovem como ele, conforme se pode verificar nos seguintes versos claramente premonitórios:

Sinto que o mês presente me assassina,

Corro despido atrás de um cristo preso,

Cavalheiro gentil que me abomina

E atrai-me ao despudor da luz esquerda

Ao beco de agonia onde me espreita

A morte espacial que me ilumina.

Francisco das Chagas de Almeida Soares, seu nome completo, faleceu no dia 8 de agosto, mês considerado aziago, por muitos, do ano de 1948, aos 26 anos incompletos, quando sobrevoava o povoado Forquilha, em companhia do amigo Alberto Augusto Fontoura Chaves. O avião, velho e sem boa manutenção, pertencente ao deputado estadual Januário Figueiredo, veio a cair numa roça. Segundo depreendo do livro de José Carlos, o motivo desse voo baixo era uma espécie de homenagem ao “pai de belas moças que Galhardo e Betinho bem conheciam”, que morava nessa comunidade. Ambos receberam honras fúnebres da Assembleia Legislativa do Maranhão e da Câmara Municipal de São Luís.

Foram velados na casa de Fontoura Chaves, que ficava perto de uma fábrica de velas; quiçá algumas delas tenham iluminado os féretros dos dois amigos. Galhardo foi sepultado no Cemitério do Gavião, cujo voo majestoso, rápido, seguro e certeiro o vate das Gaivotas sem dúvida procurara imitar. Nesse campo santo, tocadas de leve pelo vento, as casuarinas talvez tenham acenado na hora do sepultamento, e, ao pôr do sol, farfalhando, entoaram chorosa nênia.

Poetas e escritores como Lisoca Nunes, Malazarte, Lauro Cardoso e Lago Burnett dedicaram ao poeta morto belas e magoadas elegias e proferiram comoventes palavras. À beira de seu túmulo, em altissonantes apóstrofes, Fernando Lopes o chamou de cigarra, de formiga e de condor. E formiga ele o foi, porque mourejou na imprensa e na aviação; cigarra, cantou seus temas em belos e imortais versos; condor, a grande ave dos andes, poderá haver sido, em alguns momentos da aeronáutica e da poesia, ele que talvez tenha desejado ser apenas uma gaivota – “gaivotas do azul, veleiros do infinito”.

Agora, com a edição desse livro de José Carlos Ramos, Almeida Galhardo deixará de ser a “gaivota esquecida”, “o mais esquecido” poeta do Maranhão, para ganhar as grandes altitudes do reconhecimento público, como na soberba planação de um condor, ou na elegância do voo de uma gaivota, aves que povoam os seus belos e imperecíveis poemas e sonetos.

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DOIS SONETOS DE ALMEIDA GALHARDO (*)

Gaivotas

Gaivotas do azul, veleiros do infinito,

Que possuis o adeus nas asas de alabastros.

Da saudade vós sois os luminosos rastros,

Perdidos na amplidão que extasiado eu fito!

Calmas, singrais os céus entre a espuma dos astros,

Velas pandas de amor – pampeiros do meu grito…

Poesias trazeis como divinos lastros,

Nos rêmiges de luz mais fortes que o granito!

E vós singrais os céus, sem rota e sem destino,

Beduínas vós sois do belo auridivino,

Enchendo a amplidão de versos e de mitos;

Saúdo-vos daqui… da tenda do meu sonho,

Sentindo-me feliz por vos fitar risonho,

Gaivotas do azul, veleiros do infinito!…

Cruz de Ouro

Sobre o rendado ebúrneo do teu seio,

Arfar sentindo o peito alabastrino,

Pendia um crucifixo de puro ouro fino,

E em minha dor eu sem querer fitei-o.

Fatal inveja me feriu, notei-o,

Ao ver o Cristo pequenino,

Roçar esse teu peito, altar divino,

E a ideia de ser Cristo então me veio.

Pequei, bem sei, em desejar ser tanto,

Em ser o Cristo divinal e santo,

Que em teu colo puríssimo se via…

Se nesse Cristo eu me tornar pudesse,

Seria o Nazareno da tua prece,

E minha madalena eu te faria!…

(*) Copiei os dois poemas dos livros Constelação de Sonhos e Almeida Galhardo – o Poeta das Gaivotas. Fiz rápido cotejo entre os dois para tomar uma decisão sobre as várias divergências que encontrei. Ainda me vali de uma versão encontrada no Suplemento Cultural (nº 15) do Diário de São Luís, edição de 12/09/1948, na página em homenagem ao poeta, que encontrei na internet. Entretanto, reconheço, apenas a verificação atenta dos originais poderia solucionar os vários conflitos encontrados.

COINCIDÊNCIAS E INCOINCIDÊNCIAS ENTRE OS CAPITÃES

bolsonaro-lampião

COINCIDÊNCIAS E INCOINCIDÊNCIAS ENTRE OS CAPITÃES

Por : Antônio de Pádua Ribeiro dos Santos – Escritor, poeta e cronista

Não resta dúvida o gosto de ambos pelas armas. O primeiro, o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, recebeu o apelido de Lampião exatamente porque sua capacidade de disparar consecutivamente era impressionante, chegando a iluminar as noites escuras da caatinga; o segundo, nosso Presidente eleito, em seu primeiro pronunciamento depois da eleição, reforçou um dos seus propósitos de campanha que consiste na liberalização das armas de fogo, principalmente aos homens do campo que delas muito necessitam em suas propriedades para defesa contra os sem-terra (aqueles que invadem propriedades alheias, como satisfação dos seus interesses mesquinhos, e nada fazem de proveitoso à nação, cuidam apenas em desmatar sem critérios a nossa terra dadivosa para depois abandoná-la), classe que, segundo afirma com acerto, deve ser tratada como terrorista.

            Em segundo lugar, nosso chefe maior a partir de janeiro do próximo ano, tem o título de Capitão que lhe fora outorgado, de forma regular, pelo brioso Exército Brasileiro patroneado pelo herói Luís Alves de Lima e Silva, o duque de Caxias; o outro, o erroneamente chamado de Robin Hood do Nordeste, não sendo das fileiras militares, mas tendo incomensurável anseio ao posto, recebeu, por sua sagacidade e ousadia sem limites, o mesmo honroso título por concessão de Cícero Romão Batista, o padre Cícero, respeitado religioso brasileiro, em 12 de março de 1926, no Juazeiro do Norte – Ceará, em memorável festa onde fora ovacionado ao lado da família, fotografado e entrevistado, depois de condecorado, recebendo na ocasião grande quantidade de munição para combater a Coluna Prestes, liderada pelo propalado Cavaleiro da Esperança. Combate que jamais aconteceu e que não se exaure numa simples crônica, merecendo um bem pensado livro.

            A despeito destas coincidências que a história nos permite observar, vêm também duas incoincidências. A primeira é que o capitão do Cangaço atuou com sucesso no Nordeste Brasileiro, com exceção do Piauí e do Maranhão, não aparecendo nas outras regiões do país; o capitão vencedor das nossas eleições, a despeito de retumbante vitória, não teve maioria em nenhum estado do Nordeste, ali perdendo para o Bolsa Família e outras estripulias.

            A segunda é que o cangaceiro-capitão patenteado teve como companheira uma Maria que somente tinha de bonita o nome. Como ele, pegava em arma, não tinha qualquer religião, embora temida e respeitada por sua bravura ante o inimigo; o nosso capitão Presidente tem como companheira uma que não é Maria, não provoca pavor nos outros, não pega em armas, mas é religiosa e mesmo não tendo o “bonita” no nome, não se pode ignorar: tratar-se realmente de uma mulher bonita.

Postado por Blog do Poeta Elmar em 05.11.2018.

OS FRUTOS DO CAJUEIRO: Grande Sucesso de Lançamento

                    Um grande público atendeu ao convite do Centro Espírito Caridade e Fé para o lançamento do livro “Os Frutos do Cajueiro” – ações espíritas em Parnaíba, de autoria do paulista Cesar Perri.
                     O evento aconteceu no café-concerto do Sesc Caixeiral e contou com a presença de espíritas, católicos, intelectuais e pessoas gradas da sociedade parnaibana.
                 
    A esposa do autor, Sra. Célia Maria abriu a solenidade fazendo, juntamente com todos os presentes,  a Oração do Pai Nosso. Em seguida a senhora Zilda Aguiar diretora do Centro Espírita Caridade e Fé  fez a saudação e agradecimento  às pessoas que ali se encontravam. Dando continuidade às falas,  usou da palavra o presidente da Federação Espírita Piauiense, José Lucimar de Oliveira que discorreu sobre o livro ora apresentado à sociedade parnaibana. Por fim, usou também da palavra o presidente da União Municipal Espírita de Parnaíba Samuel Aguiar,  que fez eloquente discurso.
                      Na ocasião a atriz espírita Eline Lima apresentou um monólogo do reencontro de Humberto de Campos com o seu cajueiro,  quando de seu regresso a Parnaíba já na idade adulta,  uma vez que aos 13 anos separou-se do mesmo porque tivera que retornar para São Luis do Maranhão, fato narrado em seu livro “Memórias”   publicado em  1933 e considerado pela crítica literária o mais célebre da sua obra.
                         Durante todo o evento a maestrina e pianista parnaibana Izabel Teresa brindou a todos com belíssimas páginas musicais,  clássicas e populares, incluidas no cancioneiro nacional e internacional.
                         O livro versa sobre Humberto de Campos que  é o patrono da cadeira de nº 12 da Academia Parnaibana de Letras – APAL , atualmente ocupada pela escritora Maria do Amparo Coelho dos Santos. O professor Antonio Gallas, secretário Geral,  representou a Academia. O presidente José Luiz de Carvalho encontrava-se ausente da cidade, em viajem para a capital.
Antonio Gallas Secretário Geral da APAL e o escritor
Cesar Perri
Bancário aposentado Marçal Paixão e o autor do livro
Da esquerda para direita: sra. Célia Maria esposa de Cesar Perri, Cesar Perri, José Lucimar (presidente da FEP) e a médica  Carolina Oliveira
                             Para ilustrar, reproduziremos a seguir o trecho dos monólogos que Humberto de Campos trava com o cajueiro (ou seriam diálogos?) antes de seguir viagem para São Luis e quando do seu regresso em visita à Parnaíba, citados no livro “Memórias”:
“Aos treze anos da minha idade, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu. Embarco para o Maranhão, e ele fica. Na hora, porém, de deixar a casa, vou levar-lhe o meu adeus. Abraçando-me ao seu tronco, aperto-o de encontro ao meu peito. A resina transparente e cheirosa corre-lhe do caule ferido. Na ponta dos ramos mais altos abotoam os primeiros cachos de flores miúdas e arroxeadas como pequeninas unhas de crianças com frio.
– Adeus, meu cajueiro! Até à volta!
Ele não diz nada, e eu me vou embora.
Da esquina da rua, olho ainda, por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde agitado em despedida. E estou em S. Luís, homem-menino, lutando pela vida, erijando o corpo no trabalho bruto e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha acompanhando uma carta de minha mãe: “Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju, em calda. São os primeiros cajus do teu cajueiro. São deliciosos, e ele te manda lembranças…”
Há, se bem me lembro, uns versos de Kipling, em que o Oceano, o Vento e a Floresta palestram e blasfemam. E o mais desgraçado dos três é a Floresta, porque, enquanto as ondas e as rajadas percorrem terras e costas, ela, agrilhoada ao solo com as raízes das árvores, braceja, grita, esgrime com os galhos furiosos, e não pode fugir, nem viajar… Recebendo a carta de minha mãe, choro, sozinho. Choro, pela delicadeza da sua idéia. E choro, sobretudo, com inveja do meu cajueiro. Por que não tivera eu, também, raízes como ele, para me não afastar nunca, jamais, da terra em que eu, ignorando que o era, havia sido feliz?
Volto, porém. O meu cajueiro estende, agora, os braços, na ânsia cristã de dar sombra a tudo. A resina corre-lhe do tronco, mas ele se embala, contente, à música dos mesmos ventos amigos. Os seus galhos mais baixos formam cadeiras que oferece às crianças. Tem flores para os insetos faiscantes e frutos de ouro pálido para as pipiras cinzentas. É um cajueiro moço, e robusto. Está em toda a força e em toda a glória ingênua da sua existência vegetal.
Um ano mais, e parto novamente. Outra despedida; outro adeus mais surdo, e mais triste:
-Adeus, meu cajueiro!
O mundo toma-me nos seus braços titânicos, arrepiados de espinhos. Diverte-se comigo como a filha do rei de Brobdingnag com a fragilidade do capitão Guliver. O monstro maltrata-me, fere-me, tortura-me. E eu, quase morto, regresso a Parnaíba, volto a ver minha casa, e a rever o meu amigo.
– Meu cajueiro, aqui estou!
Mas ele não me conhece mais. Eu estou homem; ele está velho. A enfermidade cava-me o rosto, altera-me a fisionomia, modifica-me o tom da voz. Ele está imenso e escuro. Os seus galhos abraçam coqueiros, afogam laranjeiras que noivam, ou ultrapassam a cerca e vão dar sombra, na rua, às cabras cansadas, aos mendigos sem pouso, às galinhas sem dono… Quero abraçá-lo, e já não posso. Em torno ao seu tronco fizeram um cercado estreito. No cercado imundo, mergulhado na lama, ressona um porco… Ao perfume suave da flor, ao cheiro agreste do fruto, sucederam, em baixo, a vasa e a podridão!
– Adeus, meu cajueiro!”
Foto Web 
Texto e fotos:  Antonio  Gallas/ Web

EX-PRESIDENTE DA APAL PARTICIPA DE COLETÂNEA DE CONTOS PREMIADOS

                    O acadêmico e advogado Antonio de Pádua Ribeiro dos Santos, ex-presidente da Academia Parnaibana de Letras,  participou de concurso literário promovido pela Academia Fluminense de Letras- AFL, em julho deste ano, e foi agraciado  com o Diploma de Mérito Literário.
                       O escritor parnaibano concorreu com grandes escritores do Sudeste, na modalidade CRÔNICA,  com o  trabalho denominado PREGAÇÃO AOS CACHORROS  que será publicado em uma coletânea editada pela Academia Fluminense de Letras – AFS, juntamente com os demais trabalhos classificados.
De cada modalidade (Contos, Poesias e Crônicas), uma Comissão Julgadora composta  por 03 (três) membros selecionou  10 (dez) trabalhos  os quais  irão  compor um livro digital intitulado “Textos Literários premiados pela AFL em 2018”.
                           A participação   e a classificação do ex-presidente da Academia Parnaibana de Letras dr. Antonio de Pádua Ribeiro dos Santos nesse importante certame da AFL que tem sede em Niterói – RJ,  não deixa de ser um mérito para nossa cidade e para  nossa academia.
Texto de Antonio Gallas