A história do Caçador Místico.

 

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 *Pedro Holandês.

Havia no delta do Parnaíba um famoso caçador chamado Pedro. Este caçador era um dos melhores em sua arte. Pegava tatu pelo rabo e vivia se questionando se em vereda de paca tatu caminhava dentro. Anos mais tarde depois de observá-lo de perto em suas andanças, caçadas e pescarias, descobri que Pedro além de exímio caçador era também um homem místico, supersticioso e medroso.

Então, por conta desta ultima característica passei a chamá-lo de Pedro Almeiro. Alguns certamente usariam outros adjetivos como, macumbeiro, mentiroso, mijão nas calças ou até mesmo espírita. Mas como ele acabou sendo devorado por mim decidi usar um adjetivo que fizesse jus à sua principal característica: falar com as almas daqueles que já morreram, um verdadeiro canal entre os vivos e os mortos.

Pedro Almeiro era muito supersticioso. Tinha um costume muito estranho ao acordar todos os dias de manhã. Costumava pisar subitamente em um tapete feito com pele de guaxinim, que mantinha guardado debaixo de sua cama.

Além disso usava um tipo de pulseira no pé esquerdo, feita com a calda do guaxinim, que acreditava funcionar como um ótimo repulsivo contra picada de jararaca do rabo seco, serpente muito comum na região, pertencente ao genero Bothrops, e toda sorte de cobra venenosa.

MATA Virgem

E por mais incrível que pareça ele só usava botas por conta dos espinhos e não para se proteger das picadas das cobras. Em geral só andava descalço na mata. Tinha um respeito muito grande pela natureza e um certo temor, pois bem sabia os mistérios da floresta.

Segundo ele a mata tinha dono, assim como os animais selvagens. Jamais entraria em uma floresta de mata virgem para caçar sem levar consigo os seguintes itens; um maço de velas brancas, fumo de corda, uma caneta, um caderno de anotações e um terço de reza no pescoço.

Também costuma se banhar demorado. Além de usar sabonete passava perfume no sovaco, pois o cheiro de sua roupa molhada de suor poderia dar indicação às caças que tinha seres humanos por ali.

Ao entrar na floresta ele sempre pedia permissão, além de espalhar pedaços de fumo por algumas arvores para agradar o Caipora, fato este que lhe faria um caçador de sorte e ele certamente obtinha certas vantagens em relação aos outros caçadores. Depois acendia uma vela, rezava um Pai Nosso e seguia.

Uma voz melancólica rompeu o silencio naquela noite fria.

-Boa noite seu Pedro!

Ao ouvir aquela voz suas pernas começaram a tremer tanto que seus joelhos batiam um no outro, pois ele sabia que se tratar de uma alma. E ele com a voz trêmula, respondeu:

-Boa noite!.

Ele perguntou imediatamente:

-Em que posso ser util?

E a voz lhe respondeu:

-Preciso de sua ajuda seu Pedro!

E ele perguntou:

-Qual o motivo de sua vinda?

E a voz aproveitando a ocasião lhe pediu um pouco de água, pois segundo ela, estava vindo de um lugar muito quente. E Pedro Almeiro perguntou:

-Onde estas que é tão quente assim?

E a voz respondeu:

-Em um lugar de tormento, seu Pedro!

Neste momento ele se deu conta de que não falava com um mero mortal e sim com uma visagem.

Ele puxou lentamente seu burro preto que estava na cintura e mordeu. Pois segundo o que contam os mais antigos, quando se viaja durante a noite nas matas, é sempre importante levar consigo um facão ou faca virgem, pois serve para amenizar o medo e a dormência nas pernas causada pela presença da visagem.

A voz continuou:

-Eu vim aqui lhe pedir para que me reze um terço, acenda uma vela e mande celebrar uma missa pra mim, seu Pedro.

Seu Pedro perguntou:

-Qual é sua graça?

E a voz respondeu:

-Meu nome é Jucá Pereira dos Santos e por Deus fui batizado. Do meu fruto o veado come e minha rama serve pro gado. A casca serve pra remédio e o miolo pra cabra safado. O boi se amarra no engenho, o burro pra sete cangalhas. Quando o homem veste calça, a mulher veste saia. Mas infelizmente morri de caganeira, seu Pedro em 1845!

Pedro Almeiro naquele instante logo tomou posse de seu caderno de notas e a caneta que trazia consigo em seu bolso e anotou tudo!

*Pedro Costa Silva ou Pedro Holandês como é conhecido é guia turístico no Delta do Parnaíba, empresário e poliglota autodidata. Pesquisador da história natural e de serpentes. Está escrevendo um livro sobre as lendas do Delta do Parnaíba. Este fragmento aqui publicado faz parte da obra.pedroholandês

 

 

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