CAMPANHAS ELEITORAIS ACADÊMICAS (*)

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Campanhas Eleitorais Acadêmicas

Elmar Carvalho

Devo dizer, inicialmente, que os oito candidatos às duas vagas da Academia Piauiense de Letras, com relação a mim, se comportaram com muita ética. Nenhum me pediu voto, muito menos com insistência, seja diretamente, seja através de meus parentes e amigos. Submeteram, sim, seus nomes, sua vida, seu currículo e/ou seus livros a meu exame. A situação me é um tanto difícil, porque tenho amizade a vários dos postulantes, e a todos admiro e considero. Entretanto, tenho apenas um voto para cada vaga, assim como também os demais acadêmicos.

No romance Farda, Fardão, Camisola de Dormir, Jorge Amado conta a saga e as peripécias de dois candidatos à imortalidade acadêmica, em que o autor destila certo humor ferino e satírico. Em seus Diários, em vários registros, Josué Montello revela alguns episódios de vários candidatos à Academia Brasileira de Letras, da qual foi ele presidente. Do mesmo modo, Humberto de Campos, que também foi imortal da ABL, em seu Diário Secreto, revela curiosos e pitorescos episódios dos bastidores de algumas campanhas para ingresso no secular sodalício. Alguns poderiam ser considerados hilários ou ridículos, ou até mesmo degradantes.

Pertencendo a mais de uma dúzia de entidades culturais, nove delas academias, creio ter alguma experiência para discorrer sobre o assunto assinalado no título deste texto. Muitas vezes o sucesso de um candidato depende das circunstâncias. Certos candidatos, numa outra disputa, poderiam ser eleitos, mas, ressentidos ou não, não mais concorrem. Alguns, ante o insucesso eleitoral, proferem palavras que lhe inabilitam para uma outra disputa. Já houve mesmo o caso de um candidato, que retirou sua candidatura, e com uma metralhadora giratória saiu atirando contra tudo e contra todos, dizendo que naquela agremiação acadêmica as cartas já estavam marcadas. Naturalmente, sentiu que o “clima” não lhe era propício; entendia, creio eu, que as cartas só não seriam marcadas se os imortais lhe houvessem prometido sufragar o nome.

Numa outra disputa, determinado candidato teve apenas um voto. Esse candidato declarou, em alto e bom som, que esse único voto lhe impedira de cometer suicídio. No meu entendimento, esse sufrágio solitário, embora discrepante dos demais, foi o mais importante, porquanto impediu que um intelectual viesse a óbito por suas próprias mãos. Teve também o caso, em certa academia de algum lugar do Brasil, em que um acadêmico resolveu votar por correspondência, e entregou o seu voto a um confrade. Consta que este imortal substituiu o voto por um outro que sufragava o seu candidato. A notícia se espalhou, de modo que chegou ao conhecimento do votante, que lhe determinou a devolução do voto, sob pena de ir votar pessoalmente, e ainda fazer um escândalo no local da votação, ao denunciar o fato.

Por outro lado as fofocas contam que em algumas academias já teria ocorrido barganha, e que alguns acadêmicos teriam votado em troca de emprego ou de alguma outra benesse. Não sei se isso realmente já aconteceu ou se ainda acontece, em alguma remota academia de nosso país, mas o fato é que existem comentários sobre essa, digamos, prática. Se é verdade, entendo que o eleitor e o candidato reciprocamente se merecem, na mesma intensidade. Prefiro acreditar que isso nunca aconteceu, e muito menos possa ainda acontecer.

Todos sabem que os critérios para uma pessoa se tornar “academiável” são vários, e não exclusivamente o do mérito literário. Como em tudo na vida, a amizade também possui o seu peso. A personalidade de cada candidato é levada em conta. Até mesmo a idade pode ter a sua influência, porquanto, como se diz, um candidato muito jovem “teria a vida inteira pela frente”, enquanto um de idade provecta poderia não ter outra oportunidade. De qualquer sorte, a longevidade pode significar experiência e serviços prestados à cultura.

A situação de acadêmico é vitalícia. Logo, pergunto: quem gostaria de conviver com uma pessoa problemática, de difícil convivência, turbulenta, encrenqueira, irascível, fofoqueira, cheia de arestas e de traumas pelo resto de sua vida? Quem responder afirmativamente a essa indagação, que atire a primeira pedra nas academias e em outros órgãos colegiados, de membros vitalícios. Por outro lado, quem já posou de antiacadêmico, e com sua baladeira estilhaçou as vidraças das academias, em desabrida e furiosa iconoclastia, provavelmente não irá ter a simpatia dos acadêmicos, na hora do voto. Sequer teria condições morais de pleitear ingressar em algo que denegriu com suas palavras mordazes e insultuosas.

Há os que criticam o fato de que uma academia nem sempre tem os melhores escritores de sua circunscrição territorial. Ora, para ter assento em uma associação acadêmica é condição sine qua non que o escritor se candidate a uma vaga. Se os pretensos grandes ficcionistas e poetas não se inscrevem, como poderiam fazer parte do silogeu (palavra repudiada pelos autoproclamados antiacadêmicos)? Soube que determinado medalhão esperou por muitos anos ser aclamado imortal; como isso nunca aconteceu, ele terminou tendo uma crise de humildade e tomou a iniciativa de inscrever-se a uma vaga. Para seu contentamento, terminou sendo eleito, mas não por aclamação, já que essa modalidade eleitoral não existe nos estatutos acadêmicos.

Dizem alguns, com ou sem razão, que no passado, em alguns momentos, predominou o critério do expoente. Ou seja, vencia a eleição o candidato que era famoso ou pelo menos notável em determinada profissão, e não na cultura ou nas letras. Pelo que tenho observado, esse critério, de muitos anos a esta parte, nunca mais foi observado isoladamente. Ao que me consta, os acadêmicos levam em conta vários critérios, como já disse acima. De qualquer sorte, como já tive oportunidade de dizer, o fato de uma pessoa ingressar numa academia não a tornará maior ou menor por causa disso; se era um grande escritor, continuará a sê-lo, mesmo que não seja eleito. E se era medíocre, continuará com a sua mediocridade, mesmo que seja vitorioso.

Atribuem-se a esses critérios determinado “peso” ou valoração, que pode variar de acadêmico para acadêmico, conforme seu ramo de atividade intelectual, seu grau de amizade e relacionamento com o candidato, sua individualidade e idiossincrasias. É feita, de modo subjetivo, uma espécie de média aritmética ponderada das qualidades pessoais e intelectuais de cada candidato. Cabe ao candidato aceitar o veredicto da contenda, porquanto todo postulante sabe que poderia ganhar ou perder a eleição. É como uma causa judicial, sobre a qual sempre pesa a possibilidade do ônus da sucumbência.

11 de abril de 2012

(*) Republiquei esse texto em virtude de que, no momento, se encontram vagas (excepcionalmente) três cadeiras da Academia Piauiense de Letras, que deverão ser preenchidas nos próximos meses, em face do falecimento dos confrades Paulo Freitas, Herculano Moraes e Raimundo Nonato Monteiro de Santana.

Versania vai lançar sua segunda edição na Caixeiral.

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A segunda edição da coletânea poética Versania, organizada pelo professor Claucio Ciarlini e outros poetas do grupo cultural O Piagui, será lançada no dia 05 de setembro às 17h30 no SESC Caixeiral, centro de Parnaíba.

A coletânea poética reúne trabalhos de vinte e um escritores da nova geração e tem o apoio do SESC. Entre estes poetas estão Daltro Paiva, Alexandre César, Carvalho Filho, Marcello Silva e Carlos Pontes. Fonte: O Piagui. Foto: Divulgação.

 

Marcello Silva lança seu novo livro às margens do Porto do Mosquito, Chaval.

 

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O dia 25 de agosto parecia um sábado normal na rotina da nossa cidade, porém não foi. Mar. Vento. Poesia. Foi a combinação perfeita para o lançamento do livro Homo Cactus, do chavalense Marcello Silva.

 

No final da tarde, junto ao por do sol, na barraca Gamboas, no Porto do Mosquito, universitários, adolescentes, crianças, idosos e moradores das cidades circunvizinhas se reuniram para um bate-papo literário sobre as tramas que Marcello desenvolveu em seu livro de contos.

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O bate-papo foi mediado pelo escritor parnaibano Pádua Marques, membro da Academia Parnaibana de Letras. Também marcaram presença os escritores Alexandre César, Carvalho Filho e Antonio José Sales.

Durante o bate-papo, o autor nos contou sobre seu processo criativo e a escolha do título da obra. Segundo Marcello, Homo Cactus representa a força, a resistência do povo nordestino, que mesmo diante de toda dificuldade, consegue criar poesia. Cada conto presente no livro, traz a vivencia do autor quando criança, são estórias ouvidas no alpendre de casa, muitas delas narradas pelos avós.

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Rasga mortalha, imburana, benzedeira, lobisomem, pau-d’arco, curral, casa de taipa. Cada palavra nos leva ao imaginário popular cearense; cada palavra nos leva para dentro do sertão cantado por Luiz Gonzaga e versado por Patativa; cada palavra reafirma a força cultural do sertanejo, que R.E.S.I.S.T.E  como um Homo cactus. Fonte: Neycikele Sotero.

 

APAL PARTICIPA DE HOMENAGEM A MEMBRO DA ACALT

PARTCII

A Academia Parnaibana de Letras, pelo seu presidente José Luiz de Carvalho, o secretário-geral Gallas Pimentel e o bibliotecário Antonio de Pádua Marques, esteve na noite dessa terça-feira (21) na cidade de Tutoia no Estado do Maranhão para as homenagens ao escritor José Carlos Ramos, falecido no ano passado e que era membro da ACALT, Academia de Ciências, Artes e Letras de Tutoia.

Durante missa mandada celebrar na igreja de Nossa Senhora de Nazaré, a que compareceram amigos, confrades, parentes e admiradores de José Carlos Ramos, a representação de Parnaíba prestou sua homenagem em um breve discurso do presidente da APAL, José Luiz de Carvalho.

Na ocasião o padre Cláudio fez um pedido para que a ACALT realize um trabalho de pesquisa e resgate de antigos hinos religiosos cantados naquela igreja e transforme esse material em livro à disposição dos devotos e paroquianos.

A ideia foi aceita e agora as equipes devem dar início aos trabalhos. A recepção aos representantes da Academia de Parnaíba foi feita pelo vice-presidente Heliomar Fonseca Nunes.

Após a celebração eucarística os acadêmicos reuniram-se no Johny Bar e Restaurante para um jantar informal.

PARTCIII

BUCHADA DE BODE NA FAZENDA DO ROCIO

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BUCHADA DE BODE NA FAZENDA DO ROCIO

Elmar Carvalho

No dia do lançamento de meu livro Bernardo de Carvalho – O Fundador de Bitorocara, encontrei-me com o amigo João Luís Queiroz. É ele médico veterinário e dono de uma loja de produtos destinados à agricultura e à pecuária. Fundou, juntamente com Elton Andrade e outros companheiros, a Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Campo Maior – Ascamcco, que funciona na antiga sede da Fazenda Rocio, no Bairro São João, no local onde outrora eram realizadas as exposições agropecuárias.

Em presença do professor Zé Francisco Marques, disse-lhe que minha mãe havia descoberto uma senhora que era uma exímia preparadora de buchada de bode, e que eu iria encomendar essa iguaria por ocasião de minha próxima visita a meus pais. O João Luís ficou interessado e me perguntou a data de minha vinda. Em seguida, disse que ele mesmo iria mandar preparar uma buchada, a ser feita com bode de seu próprio rebanho. Marcamos a data e o local do repasto.

No domingo agendado, nos encontramos na casa grande da extinta Fazenda do Rocio. Ficamos no alpendre que possibilitava a visão de umas árvores frondosas e de uma nesga do tabuleiro campomaiorense, apesar de o imóvel ficar atualmente encravado em área urbana. Fizeram parte do ágape, além do anfitrião, o Zé Francisco, o professor Neto Chuíba, senhor feudal do sítio Carajás, o universitário Guilherme Queiroz, filho do João Luís, e este cronista.

Além do multicitado quitute, vieram outras iguarias, entre as quais um delicioso sarapatel. Tudo foi preparado pela moradora da sede da Acampi, que se esmerou no preparo do repasto, que além de farto foi supimpa. Todos fomos unânimes em reconhecer a qualidade gastronômica dos pratos ofertados, que deglutimos com muito brio e entusiasmo, em meio a alegre e descontraída libação. Sendo João Luís Queiroz um grande apreciador da cultura nordestina, sobretudo das cantorias, dos desafios de repentistas, dos poemas de cordel e do autêntico forró nordestino, nos brindou com belíssima camisa em homenagem a Luiz Gonzaga, o insuperável e eterno Rei do Baião, que passamos a envergar imediatamente. Parecíamos estar em sua fazenda do Exu. Ao final, fomos enquadrados pelo meu irmão Antônio José, que como um legítimo cangaceiro virtual nos colocou sob a mira de uma câmera fotográfica.

Como é de minha praxe, propus que fizéssemos uma rodada do que chamo de discursos-relâmpagos, referentes ao evento. Para dar o exemplo e estimular os demais amigos, iniciei a peroração. Enalteci as qualidades e virtudes de cada um dos presentes. Recordei que quase oito anos atrás, a saudosa mãe do João Luís, a pedido de meu pai, orou por minha saúde, e me enviou um escapulário, que me acompanhou durante muitos anos, em sinal de Fé e de agradecimento pela minha cura. Seus pais, Francisco e Nazaré, foram amigos dos meus. A seguir fiz a louvação da bela paisagem do entorno, ainda um tanto bucólica, o que mais se acentuou com a presença de algumas reses bovinas, que coroaram a festa, dando-lhe um aspecto também pastoril. Alinhavei considerações sobre o histórico da velha fazenda do Rocio, mormente a respeito dos familiares de seus antigos proprietários.

Disse que ela pertencera à família do grande teatrólogo Francisco Pereira da Silva, um dos maiores do Brasil, filho ilustre de Campo Maior, que teve a peça Chapéu de Sebo encenada, durante vários anos, em Berlim, na Alemanha. Falei de minha amizade com os filhos dos saudosos João Capucho do Vale e dona Consolação. Recordei que no início da década de 70, quando eu tinha 16 ou 17 anos de idade, o poeta Odylo Costa, filho, e sua mulher, a pintora campomaiorense Maria de Nazareth (irmã de Chico Pereira), visitaram Campo Maior. Cheguei a ver o casal na casa do senhor João Capucho, situada perto do Centro Operário.

A minha timidez da época e de sempre não me deixou cumprimentar Odylo, e lhe dizer que eu também fazia versos, ainda que tortos ou capengas. De qualquer sorte, pedi emprestado, através do Otaviano Furtado do Vale, o seu livro Cantiga Incompleta, que ele autografara para os seus parentes João Capucho e dona Consolação, pais do meu amigo. O poeta era sabidamente um mestre na arte da convivência, e soube construir e conservar belas amizades, entre as quais as dos bardos Carlos Drummond de Andrade, Ribeiro Couto e Manuel Bandeira, que foram seus padrinhos de casamento. Por sinal, esses vates são de minha admiração, e de todos eles tenho livros em minhas estantes.

A minha retração me impediu de ganhar – quem sabe? – um exemplar de Cantiga Incompleta, autografado pelo autor, mas hoje tenho a sua Poesia Completa, edição organizada por Virgílio Costa, seu filho, em lugar de honra em minha biblioteca, que fui forçado a “enxugar” bastante no ano passado, por falta de espaço físico. Para minha maior satisfação, na oportunidade em que consegui essa obra, adquiri também os três volumes de Teatro Completo de Francisco Pereira da Silva, publicados pela Funarte em 2009, igualmente organizados pelo Virgílio Costa, que é escritor, historiador e pintor.

Na apresentação da obra, que enfeixa 32 peças, o Ministro da Cultura, Juca Ferreira,  diz que o grande dramaturgo “fez da pobreza e da secura do Nordeste sua temática principal e formou, com Ariano Suassuna e Osman Lins, uma tríade de expoentes da dramaturgia regionalista”, mas reconhece a universalidade de FPS quando diz que a sua obra “extrapola os temas regionais e, em muitos casos, se volta para a realidade cultural do país”. Grandes diretores e atores, entre os quais Gianni Ratto, Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Francisco Cuoco, Zilka Salaberry, Maria Gladys, José Wilker e Sérgio Britto, encenaram obras de sua autoria. Uma de suas peças foi transformada em filme. Não obstante tudo isso, Sérgio Mamberti, em nota introdutória, reconhece que Chico Pereira foi um artista extremamente modesto. Sua timidez já me fora relatada pelo ator Tarciso Prado, que foi seu amigo e lhe tinha profunda admiração.

Ele era tio de Olavo Pereira da Silva Filho, arquiteto, um dos mais destacados lutadores da preservação arquitetônica do Piauí, autor de importantes obras sobre os velhos solares do Piauí e do Maranhão, e que arrebatou um dos maiores prêmios nacionais dessa área cultural. Era primo de Abdias Silva, campomaiorense, com quem tive a honra de me corresponder, que foi um dos maiores jornalista do país, e do memorialista Francisco Cardoso da Silva.

A alta qualidade de sua obra, o seu estilo apurado, a sua técnica esmerada, no momento em que o teatro nacional enveredou pelo experimentalismo e em busca de pretensas ou verdadeiras vanguardas, fez com que a sua fatura teatral, embora bem recebida pela crítica, fosse “bastante ignorada pelo público”, segundo foi observado na cronologia, na qual consta que sua dramaturgia fora escrita numa hora errada, ipso facto, além de haver encontrado “certa hostilidade da elite sulista à cultura e ao desnudamento da pobreza nordestina”, de onde o dramaturgo teria extraído sua principal temática.

Ao contemplar a velha sede da Fazenda do Rocio, não pude deixar de me lembrar dos versos em que o poeta H. Dobal disse ali haver tomado banho de leite. E não pude deixar de lamentar que o notável teatrólogo campomaiorense pouco seja lembrado e festejado em sua terra natal, apesar de há muitos anos uma lei estadual ter determinado a criação do Memorial Francisco Pereira da Silva. Até hoje essa lei nunca foi executada. Não sei o que impede a criação desse Memorial, uma vez que o autor já é falecido e é um dos maiores teatrólogos brasileiros.

27 de janeiro de 2013

(*) Crônica republicada como uma homenagem ao professor Neto Chuíba (Antônio José Araújo Silva), falecido em 27/07/2013, em Campo Maior, em sua residência no Sítio Carajás, onde estive várias vezes, acompanhado de nosso amigo comum Zé Francisco Marques, professor e musicista.

Sexta-feira não treze.

 

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* Por Nailton da Silva Rodrigues.

 

Estava eu em um belo, porém macabro dia de sexta, não era 13, mas as ruas bradavam um silêncio sombrio. E em cada passo, me encantava com o viver de uma jovem, que mesmo na condição peculiar e constrangedora em que se encontrava, não deixava esvair-se se o sorriso.

 

Olhando para seu rosto, confesso a você, que não senti um pingo de afeição, pois não havia beleza externa e isso para ela, pouco importava. Percebi a beleza profunda e completa, quando ela, ao ver uma senhora na tentativa de atravessar a rua, correu e, com simples e suave voz perguntou lhe:

 

— Minha senhora, quer ajuda?

 

E sem pensar duas vezes a gentil senhora a respondeu:

 

— Quero sim, minha jovem!

 

Percebi meus olhos “suando” a contemplar tal cena. Como era já de se esperar, fui até a jovem e, ao chegar perguntei:

 

– Como se chama?

 

Ela com desconfiança, respondeu- me dizendo:

 

— Me chamo Clara. Por que queres saber?

 

Rindo, eu a respondi.

 

— És feliz, posso perceber. Mas vive nas ruas. E anda com os mendigos, não tem nada, de nada podes gloriar te a ti mesma, com um sorriso.

 

Me surpreendi com a brutalidade com que se retirou. Com um furor e um tom terrível na voz e com sua palavras a mim, dizendo:

 

— Sou gente, não sou banco, que se enche de bens materiais, como dinheiro e se sacia com a abundância.

 

Tomando na mão, sua Biblia, que estava sob uma pilha de jornais, entrou em sua “casa”, feita de papelão e se despediu de mim com uma última frase.

– “A felicidade está tão próxima de nós, mas o olho que enxerga, nem sempre a vê.”.

 

*Nailton da Silva Rodrigues, estudante do 2º Ano do Ensino Médio, Unidade Escolar Edson da Paz Cunha, em Parnaíba. Finalista e medalhista de prata no gênero Crônica, das Olimpíadas de Língua Portuguesa, Escrevendo o Futuro, 2016.

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Dois momentos felizes de uma bela tarde

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Dois momentos felizes de uma bela tarde

Elmar Carvalho

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Na tarde desta terça-feira, por volta das 16 horas, recebi a visita do vereador Fernando Miranda (Fernando Andrade Sousa), presidente da Câmara Municipal de Campo Maior. Veio me trazer o belo convite para a solenidade comemorativa dos 256 anos de instalação do Poder Legislativo naquela velha urbe, bem como de sua emancipação política, cujo evento acontecerá no próximo dia 8, às 9:30 horas, no plenário de sua sede, onde outrora funcionou o Campo Maior, a cujas festas compareci muitas vezes, com amigos e nossas namoradas.

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O ponto alto da solenidade será o lançamento do livro “Câmara Municipal de Campo Maior: 256 Anos de História”, da autoria do professor e historiador Celson Chaves, que publicou outras obras, inclusive uma sobre a Rua Santo Antônio e seus prostíbulos, na qual, para gáudio meu, sou citado, sobretudo por causa do meu poema A Zona Planetária (antigo nome desse meretrício), que considero uma espécie de épico moderno.

Embora com exiguidade de tempo, em face do horário e de seus múltiplos afazeres e compromissos, Fernando Miranda manteve comigo uma conversa cheia de variados assuntos, mormente do interesse do município de Campo Maior. Observou que o livro ao tratar da História do Poder Legislativo, ao longo de mais de dois séculos e meio, tratava também de relevantes fatos da história geral daquela comunidade.

No decorrer da conversa, lhe informei que o professor Cineas Santos me comunicara haver ficado satisfeito com a reunião realizada no plenário da Câmara Municipal, em que foram discutidas a preservação e proteção dos carnaubais da Lagoa do Bode, à margem da BR, nas cercanias da antiga Fazenda Nacional e do Monumento aos Heróis do Jenipapo, e do ninhal e berçário das garças, nas proximidades do Açude Grande. Ele respondeu que está atento a essas duas questões, e que elas continuam em sua agenda de prioridades.

Aproveitando essa excepcional oportunidade, disse ao dinâmico vereador que já tive oportunidade de sugerir, em matérias publicadas em livros, em jornais impressos, em sítios internéticos e em solenidades culturais, que o Açude Grande bem poderia ser revitalizado e embelezado, com a construção de jardins, com instalação de fontes luminosas e jorrantes; que o Cemitério Velho, em projeto arquitetônico que contivesse caramanchão, alamedas, bancos, esculturas alegóricas e até mesmo construção de um espaço ecumênico (talvez sobre pilotis) poderia ser transformado em Memorial e Museu a céu aberto, que seria o pioneiro no Piauí.

Por fim, demonstrei a Fernando Miranda que a reserva florestal na margem esquerda da barragem do Surubim poderia ser transformada numa espécie de jardim botânico e balneário, sem necessidade de maiores despesas, já que as árvores ainda lá estão. Acrescentei que com a ajuda de poços tubulares poderiam ser construídas bicas, que em projeto arquitetônico pudessem imitar, talvez, pequenas cascatas, sem prejuízo de eventual construção de piscina.

Tudo isso são projetos simples, exequíveis, e que não demandam somas astronômicas. E talvez pudessem ser viabilizados nos ministérios competentes, através de bons projetos, e, quiçá, sem necessidade de participação do erário municipal (ou participação mínima). Os jardins do açude não precisariam ser babilônicos (ou mesmo faraônicos) jardins suspensos, desde que houvesse a participação criativa de um bom arquiteto e paisagista.

Esqueci-me de falar na criação do Parque da Serra Grande (ou Serra de Santo Antônio), que poderia ser uma área de preservação ambiental e turística, com a instalação de pequenos equipamentos de rapel, arborismo, tirolesas, teleférico e um balneário, com a implementação de bicas e piscinas. Mas isso ficará para uma próxima conversa.

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Quando cheguei à sala, para esperar o Fernando Miranda, encontrei uma encomenda postal, enviada pelo grande contista e poeta Edson Guedes de Morais, que é um verdadeiro mecenas da literatura, pois às suas próprias expensas, em sua própria gráfica e editora, situada em Jaboatão dos Guararapes, na grande Recife, tem publicado todos os poetas de sua predileção, tanto os mortos, como os vivos, tantos os nacionais como os de outros países, em diferentes plataformas impressas, seja em livros individuais ou em antologias e coletâneas.

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As edições, conquanto de poucos exemplares, como não poderia deixar de ser, são primorosas, artesanais, verdadeiras obras de arte, impressas em policromia e em papel de alta qualidade. As revisões são bem-feitas e a mancha gráfica é fiel ao aspecto visual/formal delineado pelo autor.

A caixa com esse material, enviada através dos Correios, continha livros, marcadores de textos, cartões, alguns em formato de folhas, folders, e outros mimos, todos com poemas; e em muitos deles estavam impressos vários textos de minha autoria. Havia até uma placa, com suporte, que continha, em policromia, meu poema Egocentrismo e minha fotografia. Essa bela placa agora enfeita o principal móvel de minha sala, em local de destaque, ao lado de minhas várias corujas ornamentais.

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Como fica bem claro, Edson Guedes de Morais, para fazer tudo isso, é um homem humilde e desprovido de inveja, pois exalta e reconhece o mérito dos seus colegas literatos. Por várias vezes, em diferentes oportunidades, ele publicou textos meus, em variados formatos, inclusive em antologia (exclusivamente) com poemas de minha lavra. Num livro luxuoso, artesanal, ilustrado, em papel couchê de grande espessura, publicou o meu poema Noturno de Oeiras, que um dia, quando eu estiver mais velho, pretendo doar a uma biblioteca pública da velhacap.

Tudo isso disse e mostrei ao vereador Fernando Miranda. Fernando, numa demonstração de apreço e valorização do mérito alheio, contemplou a placa e leu em voz alta o poema Egocentrismo. Depois, elogiou o trabalho do Edson Guedes de Morais e o meu poema. Despediu-se e foi cuidar de seus outros afazeres de homem público.