LANÇAMENTO DO LIVRO EIXO DO TEMPO

 

Apesar da forte chuva que caiu no final da tarde e inicio de noite da última sexta feira (23) em Parnaíba, o lançamento do livro “Eixo do Tempo” de autoria do escritor e poeta Alarico da Cunha, reeditado pelo sistema Fecomércio / Sesc/Senac e promovido pela Academia Parnaibana de Letras – APAL revestiu-se de grande sucesso e que foi realizado no teatro do SESC da avenida presidente Vargas, no centro de Parnaíba. O evento foi promovido pela Academia Parnaibana de Letras – APAL.

O Presidente da Academia, jornalista e escritor José Luiz de Carvalho abriu a solenidade destacando o apoio que o Valdeci Cavalcante vem dando à cultura parnaibana e em especial à Academia Parnaibana de Letras. Em seguida passou a palavra ao empresário e intelectual Valdeci Cavalcante para fazer a apresentação do livro. Valdeci Cavalcante é o atual presidente da Academia Maçônica de Letras do Piauí cujo patrono da cadeira que ele ocupa é o poeta e escritor Alarico da Cunha.

Durante sua fala Valdeci destacou os méritos de Alarico da Cunha, evidenciou fatos marcantes da vida do escritor, leu alguns de seus poemas e apresentou slides de obras, empresas e empreendimentos dos quais Alarico da Cunha participou e que com o seu trabalho muito contribuiu para o desenvolvimento de Parnaíba.

Após a explanação de Valdeci Cavalcanti o presidente José Luiz, quebrando o protocolo, concedeu a palavra ao acadêmico e prefeito de Parnaíba Francisco de Assis de Moraes Souza o Mão Santa que destacou o trabalho de Valdeci Cavalcante dizendo que “Valdeci Cavalcante é hoje o parnaibano vivo mais influente   do Piauí”.

Estiveram presentes autoridades, intelectuais, membros da academia, maçons, membros de clubes sociais de serviços e pessoas gradas da sociedade parnaibana.

São Sebastião, a imponência das colunas e dos arcos. Pádua Marques.

 

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Pouca gente presta atenção quando entra na nave central da igreja de São Sebastião. Poucos são realmente aqueles que se detêm e se emocionam com a rica arquitetura nesse maior templo católico do bairro Campos em Parnaíba, construído com a doação do povo através de leilões, bingos e rifas e o terreno, pelos endinheirados da época e famílias ilustres.

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Mas todo este trabalho, que demorou quinze anos para ser concluído e servir de casa de orações e penitências, é mostrado na rica e imponente arquitetura com imitação gótica nos dezessete arcos, dez colunas redondas e duas quadradas, ladrilho hidráulico com suas linhas geométricas e os oito pares de vitrais, o que lhe conferem uma iluminação solene e ao mesmo tempo convidativa ao recolhimento.

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A igreja de São Sebastião, vista da avenida quase em nada chama a atenção. Exceto pelos três enormes relógios numa torre coberta de telhas em formato de escamas. Mas é dentro do templo que o expectador pode observar toda a sua riqueza e imponência. Diferente da matriz da Graça no centro da cidade, aqui as imagens sacras são em tamanho menor. Talvez aí esteja esta fascinação e beleza.

O observador pode ficar mais perto de suas colunas com desenhos que imitam o mármore e ver os belíssimos candelabros de cristais. Chama a atenção seu piso em ladrilho hidráulico. Até recentemente boa parte das casas comerciais do centro de Parnaíba eram dessa variedade, muitas com o nome da empresa, data de fundação, ramo de negócio e o nome da família.

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As igrejas católicas piauienses bem que poderiam ser mais estudadas e conservadas pela variedade de estilos. Suas torres, naves, vitrais, colunas e arcos são para a arquitetura moderna um desafio e motivo de pesquisa. A igreja da avenida do mesmo nome é um exemplo da audácia de um homem, o padre Roberto Lopes.

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Sua construção, segundo os historiadores, foi resultado de muita luta e convencimento do padre Roberto Lopes Ribeiro. Sua pedra fundamental foi lançada no dia 12 de junho de 1925. Foi inaugurada no dia 20 de janeiro de 1940. O padre conseguiu o terreno de dez mil metros quadrados com as famílias Joaquim e Samuel Santos, Arêa Leão e Mirócles Veras.

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Relatos da época dão para o dia da inauguração e a bênção solene com a assistência de dezesseis sacerdotes, a presença do bispo de Teresina, dom Severino Vieira de Melo e uma multidão incalculável de fiéis. Hoje aos setenta e oito anos a igreja de São Sebastião com suas colunas, arcos, candelabros e o piso ainda emociona muita gente, de dentro e de fora da Parnaíba. Fonte: Pádua Marques. Fotos: Pádua Marques. Edição: APM Notícias.

Teatro Saraiva é inaugurado depois de mais de dez anos em construção.

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Depois de mais de dez anos em construção e enfrentando todo tipo de dificuldades, incluindo um apagão de última hora na quarta-feira, o Teatro Saraiva, na avenida Nossa Senhora de Fátima, na zona norte em Parnaíba, foi finalmente inaugurado na quinta-feira 22 de março. Sua construção teve início em 2009, pelo ator, diretor, jornalista, professor e radialista aposentado Joaquim Lopes Saraiva, natural de Floriano.

Desde o início e empregando todos os recursos de que dispunha, Saraiva alimentou um sonho, ter seu próprio teatro e onde pudesse transmitir às gerações atuais e as futuras toda a experiência nas artes cênicas. Agora e com a ajuda da Secretaria de Cultura do Piauí, o teatro recebeu obras no piso do hall, elevador de acessibilidade, forro de gesso, repintura, luz, som, 300 poltronas, mais 50 extras e outros equipamentos.

Projeto Seis e Meia. Quando em atividade, o Centro Cultural Multiuso Teatro Saraiva vai oferecer cursos e oficinas de teatro, música, dança, pintura, saraus poéticos e se destinar a seminários, lançamento de livros, vernissage e outros eventos. O investimento da Secretaria Estadual de Cultura, segundo o diretor, foi de um milhão de reais numa parceria público-privada por cinco anos.

“O teatro ganha com esta conclusão e a cidade ganha mais espaço. É uma extensão do Teatro 4 de Setembro”, diz satisfeito Joaquim Lopes Saraiva, em meio a operários, técnicos, visitantes e clientes retardatários à procura de ingressos. Os trezentos lugares foram vendidos em poucas horas tão logo foi anunciada a atração principal, que de e ter ainda na sua programação shows de humor e apresentação de balé.

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O teatro, que vai com essa parceria manter funcionários da Secretaria de Cultura, todos os impostos serão pagos por ela e o retorno financeiro para o centro cultural será de 30% de toda a bilheteria. Saraiva se mostra satisfeito com a iniciativa e elogia a sensibilidade do secretário Fábio Novo e da vereadora Fátima Carmino (PT), que na gestão do prefeito Florentino Neto foi secretária de Cultura.

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A atração principal foi o cantor Paulo Ricardo, líder e vocalista da banda RPM na década de 1980 e intérprete de sucessos como Alvorada Voraz, A Cruz e a Espada, Rádio Pirata e A Um Passo da Eternidade. A apresentação de Paulo Ricardo faz parte da do Projeto Seis e Meia. Parnaíba passa a fazer parte do circuito deste projeto que deve ainda ter atrações de dois em dois meses como Alcione, Zeca Baleiro, Maria Gadu, Alceu Valença, Frejat, Agnaldo Timóteo, Amelinha, Elba Ramalho e Joana. Fonte: APAL. Fotos: web/APM Notícias. Edição: APM Notícias.

Histórias de Évora

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Histórias de Évora é um romance de formação, e conta histórias da vida de Marcos Azevedo, o protagonista, desde a sua adolescência, ocorrida na primeira metade dos anos 1970, e de sua juventude até o início de sua maturidade, com a narrativa em terceira pessoa.

Mas também conta outras histórias de outras personagens, através de um narrador, no caso Marcos, em primeira pessoa.

Não se trata da Évora portuguesa, mas de uma cidade fictícia, misto de Parnaíba e Campo Maior dos anos 60, 70 e 80 do século passado.

Como pano de fundo, é contado um pouco da História do Piauí, sobretudo a decadência do extrativismo econômico e a derrocada dos velhos cabarés.

Histórias de Évora se encontra à venda nos seguintes pontos comerciais:

Em Teresina: nas livrarias Entrelivros, Universitária, Anchieta e Leitura.

Em Parnaíba: livraria Harmonia e Banca do Louro (na Praça da Graça).

Dois livros sobre o Piauí

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Dois livros sobre o Piauí

Elmar Carvalho

Recebi, ofertados por seus autores, os livros Engenharia Piauiense e História do Piauí: passageiro do passado.

O primeiro, da autoria de Cid de Castro Dias, engenheiro e membro da Academia Piauiense de Letras, discorre sobre as principais obras da engenharia civil em nosso estado, sobretudo as estruturantes e públicas; traça o perfil biográfico dos governadores e dos prefeitos de Teresina que mais construíram, entre os quais Saraiva, Antonino Freire, Landry Sales, Leônidas de Castro Melo, Chagas Rodrigues, Alberto Silva, Dirceu Arcoverde e Freitas Neto (governadores); Joel Ribeiro, Wall Ferraz, Jesus Tajra, Francisco Gerardo da Silva, Firmino Filho e Sílvio Mendes (prefeitos de Teresina). O livro é quase um álbum e traz inúmeras fotografias das obras referidas. Traça o perfil biográfico dos notáveis engenheiros piauienses: Antônio Alves de Noronha, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, Cícero Ferraz de Sousa Martins e Luiz Francisco do Rego Monteiro.

Nascido na cidade de São Raimundo Nonato (PI), portanto no semiárido piauiense, talvez por isso mesmo, por bem compreender a importância de um manancial, se tornou uma espécie de El Cid do rio Parnaíba, proferindo palestras e escrevendo livro em defesa de nosso mais importante patrimônio natural, inclusive preconizando a conclusão das eclusas da Barragem de Boa Esperança e o retorno de sua navegabilidade, razão pela qual publicou a notável obra Os caminhos do Parnaíba.

Tendo exercido importantes cargos no Governo do Estado, no setor de obras públicas sobretudo, publicou ainda Piauí – Projetos Estruturantes, livro que enfoca as grandes obras, tais como UFPI, metrô de Teresina, Barragem de Boa Esperança, Albertão. Não bastasse tudo isso escreveu o livro Piauhy – das origens à nova capital, que abarca o período que se estende desde o desbravamento e colonização até a fundação de Teresina por José Antônio Saraiva. Essa obra traz a transcrição de importantes documentos, desde a época do Piauí colonial até a consolidação da transferência da capital. Com isso, se consagrou como um dos grandes divulgadores da historiografia piauiense.

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O segundo, escrito por Homero Castelo Branco, escritor, economista, membro da APL e deputado estadual em várias legislaturas, traz a saga da família Alencar, com as figuras emblemáticas da matriarca Bárbara Pereira de Alencar e Joaquim Antão de Carvalho. Além de biografias e histórias interessantes, a obra apresenta a genealogia dessa ilustre estirpe, que se ramificou pelos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí.

Bárbara de Alencar, heroína e protagonista do livro, faz parte do panteão nacional. Seu nome foi inscrito no livro dos Heróis da Pátria, através da Lei nº 13.053, de 22 de dezembro de 2014. Dela disse Oscar Araripe, em texto preambular do livro, mas originalmente publicado no Diário do Nordeste, edição de 11/02/2015: “Dona Bárbara de Alencar. Dona Bárbara de Alencar do Crato. A brava do Cariri. Oráculo de Santa Bárbara. Diana de Açu. A Iansã do Araripe. Santa de Fortaleza. Heroína do Ceará. Mãe da Independência e da República Brasileira. Minha adorada hexavó, rainha esplendorosa dos álamos do Brasil.”

Homero, seguindo as pegadas de seu homérico e grego homônimo, é um exímio contador de histórias e “causos”, pelo que o considero um dos melhores causeurs que já conheci. Sendo também um talentoso escritor, algumas dessas narrativas já foram divulgadas em alguns de seus livros ou em textos avulsos, mas de forma algo diluídas em contexto maior.

Contudo, e isso tenho lhe repetido em diferentes oportunidades, ele bem poderia reunir essas interessantes, anedóticas, jocosas ou mesmo picantes histórias, delas com alguma dose de ironia ou até mesmo sarcasmo, em um belo livro, que certamente poderia conter alguns traços de memorialismo e autobiografia.

Nele desfilariam personalidades ilustres da política e da cultura, assim como figuras populares e engraçadas. Sua habilidade literária transformaria essas histórias e estórias em atraente e saborosa leitura. Sem dúvida ele teria a necessária inteligência para não denegrir personalidades, nem magoar pessoas, omitindo ou mudando o nome verdadeiro, quando imprescindível.

Engenharia Piauiense e História do Piauí: passageiro do passado são duas obras notáveis, que agora enriquecem as prateleiras de minha biblioteca física ou impressa, posto que hoje também possuo uma biblioteca virtual, principalmente contida em meu aparelho Kindle.

Academia Piauiense de Letras relança obra de Luíza Amélia de Queiroz Brandão.

 

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Dentro da programação da Coleção 100 Anos, a Academia Piauiense de Letras lança neste sábado, dia 17 às 10h, no auditório Wilson de Andrade Brandão, a Antologia da Academia Piauiense de Letras, de Wilson Carvalho Gonçalves e Academia Piauiense de Letras: um pouco da história- um pouco das ideias, de autoria de Celso Barros Coelho. A apresentação desta obra será feita por Celso Barros Coelho Neto.

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Na mesma ocasião serão lançados, Georgina e outros escritos inéditos, de Luiz Amélia de Queiroz Brandão e a Revista da Academia de Letras, nº 74 – Ano XCLIX, 2016. Luiza Amélia de Queiroz Brandão é patrona da cadeira 24 da Academia Parnaíbana de Letras. Esta obra tem a participação de pesquisa do parnaibano Daniel C. B. Ciarlini. Fonte: APL. Fotos: web. Edição: APM Notícias.

 

Academia Parnaibana de Letras vai à escola no Dia da Poesia.

 

 

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A convite do professor Francisco Muniz, diretor do Colégio Apoio Criança, em Parnaíba, o escritor Antonio de Pádua Marques Silva, representando a Academia Parnaibana de Letras proferiu uma palestra para alunos do quarto e do quinto ano do ensino fundamental sobre o Dia da Poesia.

Na ocasião os alunos mostraram trabalhos feitos em cordel e recitaram poesias de suas autorias:

Minha vida é uma roseira

Que um vento mau desfolhou.

Nada me resta dos sonhos

Neste espinho que hoje sou…

(Silveira Bueno e Ágatha Meneses Borges, 5º Ano Manhã)

 

Amizade.

 

São em grandes momentos

Que se fazem grandes amizades

E que são pequenos sentimentos.

Mas que duram eternidades.

São os amigos que enchem a vida

De carinho, de amor.

 E da amizade mais sentida

Até nos momentos de dor.

(Maysa Veras Carvalho, 5º Ano Manhã)

 

Esteve também representando os poetas parnaibanos da nova geração o professor Leonardo Silva, pertencente ao movimento cultural opiaguivirtual que no ano passado produziu e publicou a coletânea Versania.

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Os dois escritores receberam dos alunos grande demonstração de carinho e em retribuição a biblioteca da escola recebeu um exemplar da mais recente edição do Almanaque da Parnaíba, quatro exemplares do livro Gato Ladrão de Sebo e um exemplar da coletânea Versania. Fonte: APAL. Fotos: Colégio Apoio Criança. Edição: APM Notícias.

 

O rio de Humberto Guimarães

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O rio de Humberto Guimarães

Elmar Carvalho

Após o término da solenidade de sábado passado, dia 10, no auditório da Academia Piauiense de Letras, em que foram lançados os livros O prestígio do Diabo, de Assis Brasil, Modernismo & Vanguarda, 2ª série, do professor M. Paulo Nunes, e a Revista da APL, nº 74, e inaugurado o Museu da Cultura Literária Piauiense, de nossa Academia, recebi recado de que o acadêmico Humberto Guimarães me esperava no recinto do Museu para me entregar um livro de sua autoria.

Tratava-se da edição impressa de Rio – caminho que anda (2016), já publicado virtualmente pela Amazon. Transcrevo a amável dedicatória que ele me fez: “Para o confrade Elmar Carvalho – resultado do debate por você incentivado sobre o nosso Rio Parnaíba”. Acrescentou a palavra cordialmente, a assinatura e a data, 10.3.2018. O autógrafo se referia ao seminário “Encontro em Defesa do Rio Parnaíba”, por mim idealizado, que teve o indispensável apoio de Nelson Nery Costa, presidente de nossa APL, e que também contou com a colaboração da AMAPI – Associação dos Magistrados Piauienses e do GOB/PI – Grande Oriente do Brasil/Piauí.

Nesse seminário, proferi a palestra “Rio Parnaíba – problemas e soluções”, que no meu entendimento, infelizmente, permanece mais atual do que nunca, ou como sempre. Humberto Guimarães, com muito discernimento e propriedade, discorreu sobre “O rio Parnaíba na Literatura Piauiense”, enquanto o deputado federal José Francisco Paes Landim fez a conferência “Em defesa do rio Parnaíba”, em que teve a oportunidade de se referir à sua luta parlamentar em favor de nosso mais importante patrimônio natural.

Como se depreende da dedicatória, o livro de Humberto Guimarães foi resultado de sua conferência no “Encontro em Defesa do Rio Parnaíba”, que só por isso valeu a pena ser realizado, além de ter chamado a atenção para a imensa degradação em que se encontra o nosso mais notável curso d’ água, que nunca mereceu os cuidados de nossos governantes, seja na esfera federal ou estadual. No livro em comento consta que ele corta 21 municípios. Promove o abastecimento d’ água (além da irrigação de plantações) de inúmeros povoados e cidades, entre as quais cito: Ribeiro Gonçalves (torrão natal do autor), Uruçuí, Floriano, Teresina, União, Luzilândia e Parnaíba.

Desde que ingressei na APL, observo o comportamento de Humberto Guimarães. Chega cedo às nossas reuniões, quase sempre portando um livro. Geralmente se concentra na secretaria, para ler ou para conversar com algum confrade. Sua palestra é agradável, por vezes erudita, mas sem empáfia ou ostentação. Sempre tem um “causo” interessante ou anedótico a contar, a que não falta o condimento de saudável bom-humor.

Pude lhe perceber o acendrado amor aos livros, pelo modo como os segura, como os folheia, como os manuseia, quase a afagá-los. Também pelas palavras com que a eles se refere. Em verdade é um bibliófilo em vários sentidos; tanto porque de fato os ama, como também porque é amante inveterado da boa leitura; porque os preserva e porque tem gasto uma boa soma de dinheiro na aquisição de obras raras ou quase esgotadas.

Nas reuniões é sempre comedido ao falar, e quando o faz é quase monossilábico.  Pouco pede a palavra, mas eu bem sei que assuntos importantes não lhe faltariam, assim como tenho ciência de que, quando fala, o faz com propriedade e fluência, como se fora experimentado tribuno. Creio seja isso uma postura natural sua, já que não é por timidez nem por falta de eloquência.

No dia 14.11.04, na cidade de Ribeiro Gonçalves, onde fui juiz por quatro anos, por ocasião da solenidade de instalação da Fundação Leôncio Medeiros, criada pelo amigo Adovaldo Medeiros, em que tomei posse do cargo de membro honorário dessa entidade educativa, cultural e de promoção social, lancei o opúsculo “Tempos ribeirenses”, que enfeixava a minha palestra. Foi nessa oportunidade, em que também foi inaugurada a Biblioteca William Palha Dias, dessa Fundação, que presenciei o nosso Humberto Guimarães pronunciar admirável discurso de improviso, em voz pausada e firme, de perfeita dicção. O seu teor era denso e bem articulado, sem titubeios e vacilações, e se fosse convertido em peça retórica escrita creio não necessitaria de revisão, pois me pareceu irretocável no conteúdo e na correção gramatical.

Este livro e a obra Abyssus bem demonstram a sua invejável erudição e capacidade de pesquisa, reflexão e poder argumentativo. Em Abyssus aborda grandes temas e biografias da literatura, entrando em pormenores instigantes que somente um grande e erudito leitor enfrentaria, e ainda mais com perspicácia e pertinência. Além de comentar a obra de célebres escritores, por ser competente psiquiatra, também lhes analisa aspectos da personalidade e do perfil biográfico, por vezes encontrando justificativas para suas idiossincrasias e eventuais extravagâncias.

Em Rio – caminha que anda aborda os mais variados aspectos de um curso d’ água. Refere-se, com mais ou menos palavras, aos mais importantes rios do mundo. De alguns descreve os dados corográficos mais peculiares ou relevantes e episódios históricos ou do povoamento de que foram cenários. O poeta H. Dobal, num de seus textos, dizia que um rio é tão importante que tem nome próprio. Humberto cita as denominações dos mais célebres “caminhos que andam” do planeta. Reporta-se a escritores e poetas famosos que lhes louvaram a beleza e a importância. Transcreve apropriados e elucidativos trechos de alguns desses autores. Em suas 226 páginas sintetizou o que havia de essencial a dizer.

Dedicou uma parte ao Rio Parnaíba. Descreve os seus principais aspectos corográficos. Cita-lhe os afluentes, dedicando preciosas linhas a alguns de seus principais tributários. Dedica um bom espaço às nascentes, transcrevendo esclarecedores trechos de estudiosos de nosso mais importante curso d’ água. Traz preciosas informações históricas, em que trata dos primeiros povos que perlongaram suas margens, dos primeiros ocupantes de suas ribeiras e das povoações que lhe ficam perto. Cita, por vezes transcrevendo-os, os poetas e escritores que o tiveram por tema. E, como não poderia deixar de ser, estuda as suas principais mazelas e as causas de sua ostensiva degradação, de que as coroas de areia, a fina lâmina d’ água e a largura excessiva são o sintoma mais perceptível e evidente.

Em seu estilo de contornos artísticos bem próprios, mas sempre de denso conteúdo, já tratou do Velho Monge (para usar a famosa imagem dacostiana que lhe serve de epíteto), em vários outros textos, inclusive no romance Nas pegadas do rio. Por sua grande extensão, por contornar diferentes acidentes geográficos, por ter passagens estreitas, por formar corredeiras e remansos, por formar o lago da Boa Esperança, por atravessar diferentes florestas, e no final se abrir, como a cauda de um pavão, nas várias bocas do Delta, que lhe serve de encantador arremate, é referto das mais diferentes formas de beleza paisagística.

Assim também a prosa de Humberto Guimarães às vezes é caudalosa e torrencial como um grande e vigoroso rio, às vezes é contida como um rio de planície, com remansos e lagos, outras vezes é calma e mansa como um discreto riacho, e outras vezes é impetuosa e turbilhonante como uma corredeira, mas sempre com muita substância, pertinência e correção vernacular. Porque assim é a vida, inclusive a vida de um rio.

QUIROMANCIA

Alarico da Cunha (*)

Quero essa mão angelical, mimosa,

Mão que se aquece no maior dos medos,

Quero beijar as formas cor de rosa

Dos teus mimosos comprimidos dedos.

 

 

Quero essa mão macia e  preciosa

Para contar-te  os  mágicos  segredos

De tua vida calma  e maviosa,

Com  seus  pecados veniais  e  ledos…

 

 

Depois  de examinar linha por  linha,

Dessa inocente e  cândida mãozinha,

 Esbelta, pura e  perfumosa e quente,

 

Quero pousá-la em  cima  do  meu  peito,

Para que  saibas  que  por teu respeito,

Vive  sofrendo  o  coração  da  gente.

 

 

(*)  Soneto extraído da pag. 23  do livro Eixo do Tempo que será lançado em noite festiva no auditório do SESC da avenida Presidente Vargas em 23.03.20018 às 19h30min.

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Postado por Antonio Gallas.

 

 

A saga de uma longa caminhada

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A saga de uma longa caminhada

Elmar Carvalho

Na última reunião da Academia Piauiense de Letras, o confrade Celso Barros Coelho repetiu o que já me havia dito sobre o meu romance Histórias de Évora: a importância de um bom título. Com efeito, a escolha de um título feliz pode despertar a curiosidade do leitor em potencial e, assim, atraí-lo para a leitura do texto. Mas, no presente caso, o título não foi apenas um recurso ou armadilha para prender a atenção de meu possível leitor, porém uma concretíssima realidade fática, se não estou a laborar em alguma redundância, já que exagero não seria.

De fato o autor de Três séculos de caminhada, Vicente Miranda, cometeu quase verdadeiras estripulias e pulutricas, dignas de um ginasta ou atleta, para escrever o seu livro. Na época, ainda jovem, fez várias e cansativas viagens em busca de informações em lugares ermos, remotos e de difícil acesso, nos quais entrevistou idosos parentes. Pesquisou nos cartórios de longínquas comarcas do Piauí e do Ceará. Subiu em escadas, para consultar antigos processos, amontoados em verdadeiros e quase inacessíveis sótãos. Foram dezoito anos de pesquisa em fontes documentais, e não de meras suposições, ilações, hipóteses e consultas a livros já publicados.

Decifrou carcomidos e borrados calhamaços, documentos e processos. Desvendou quase apagadas lápides de cemitérios urbanos e rurais. Não sei se nestes últimos chegou a conversar com fantasmas de avoengos, que lhe possam ter relatado fatos esconsos e já esquecidos. Compulsou livros registrais de sacristias e delegacias policiais. As dificuldades eram de diversas ordens, entre as quais nomes grafados de forma errada, homonímias e divergência entre o nome do registro e o da tradição oral dos familiares.

Em suma, em alguns casos não seria exagero afirmar que ele foi quase um Indiana Jones em suas aventuras e incursões historiográficas e arqueológicas, em diferentes rincões e fazendas a que teve de ir. Todos os percalços e dificuldades que enfrentou foi para cumprir um desejo de seu saudoso pai, Pedro Mapurunga de Miranda, que almejava ver a história e a genealogia da família preservadas. Seu pai guardava algumas anotações que lhe serviram de pistas iniciais ou ponto de partida para novas e mais aprofundadas investigações.

Entre as velhas e tradicionais famílias ligadas à Ibiapaba podem ser citadas (e são as que mais foram enfocadas em seu estudo): Fontenele, Araújo, Mapurunga, Damasceno, Machado, Magalhães, Miranda, Cerqueira, muitas estabelecidas em Viçosa, sua terra natal, e Piracuruca, uma de suas terras afetivas, à qual também sou vinculado por laços de sangue. Portanto, na genealogia delineada se percebe um forte entrelaçamento entre famílias cearenses e piauienses. Algumas das famílias referidas adotaram outro apelido, por causa de avoengos insatisfeitos ou amuados em decorrência de eventual interesse contrariado.

Como um legítimo Hercule Poirot farejou em arquivos públicos, seguindo pistas, intuições e suposições, e mesmo à procura de novas informações. Num desses cartórios, teve que ficar espremido entre o forro e as telhas do teto, já que os mofentos autos de processos, talvez por desleixo ou irresponsabilidade do notário, ali estavam “largados”. Nessa árdua escaramuça em busca da história de seus parentes e ancestrais gastou muita pecúnia, labuta e tempo. Jamais direi que ele perdeu tempo; antes diria ganhou. E ganhamos todos, pois ele escreveu um lídimo monumento literário, historiográfico e genealógico.

Quando recebi um segundo exemplar desse livro, em 23 de fevereiro de 2006, conforme data do amável autógrafo (a dedicatória do primeiro é datada de Parnaíba, 13/10/2001), comecei a ler e reler algumas de suas partes, que mais me despertaram a atenção. Depois, sinto-me no dever de confessar, por outros deveres laborais e outros interesses momentâneos, suspendi a sua leitura. Algum tempo depois meu irmão Antônio José me disse que o havia lido, e que gostara imensamente de seu conteúdo. Comentou, de forma breve, algumas de suas deliciosas narrativas.

Essa mesma opinião me foi expressada pela escritora, historiadora e professora Teresinha Queiroz, que me disse reler, amiúde, muitas de suas partes, alertando-me para a sua importância historiográfica, genealógica e literária. Ao contrário desses dois enfáticos e sinceros elogios, um leitor preguiçoso, não afeito a profundas e mais alentadas páginas, teria dito de forma jocosa, do alto de sua ignorância e preguiça mental: “Mas são muitos os rios e os séculos que a gente tem de atravessar… Eu só consegui ler alguns anos e poucos riachos…”

Foi, então, que decidi lê-lo de capa a capa, com mais atenção e eventuais anotações. Pude constatar que é uma obra bem escrita e que contém histórias interessantes, algumas jocosas, irônicas, apimentadas; outras, dramáticas ou até mesmo trágicas. Vicente Miranda teve a coragem e a sinceridade de contar certos feitos (e até malfeitos) de seus parentes e avoengos, que muitos jamais revelariam, mormente em livro, não para ferir ou afrontar suscetibilidades, mas apenas porque todas as famílias, exatamente por causa do fator humano, têm os seus pecados e crimes que se tentam ocultar.

Algumas de suas passagens são histórias de amor e morte, de sangue e traição, quando a obra adquire um aspecto de conto ou mesmo de romance, dada a habilidade como o autor encadeou e urdiu certos entrechos. Sabemos que a dita vida real é às vezes mais surpreendente que a ficção. Vejamos, como simples amostra ou tira-gosto, este enxerto: “São inúmeros os exemplos de sacerdotes que tombaram no exercício do dever, a começar pelo primeiro daqueles que pisaram o chão da Ibiapaba – Francisco Pinto – conforme já narrado. // Padre José Monteiro de Sá Palácio, operoso vigário da Vila de Piracuruca por muitos anos, ele próprio vítima da bestialidade humana, quando perdeu a mãe assassinada com 35 facadas (…)”. Notável é também o episódio da “índia corredeira”, assim como tantos outros. Deixo ao leitor a curiosidade, para ir lê-los no livro em comento.

É uma obra volumosa, que, além da ênfase genealógica, trata também da corografia da Ibiapaba e adjacências, descrevendo as escarpas da Serra Grande, os vales de seus principais rios e afluentes e os seus mais notáveis acidentes geográficos. Narra o seu povoamento e a formação de seus primeiros aglomerados urbanos. As figuras ilustres dessas cidades e municípios desfilam em suas páginas. Descreve as trilhas, que mais ou menos seguiam os cursos d’água, por onde as antigas povoações se formaram.

Parece até que Vicente Miranda, ao percorrer o espinhaço da Ibiapaba, ao lhe devassar as íngremes encostas, ao lhe contornar os sopés, seguiu as pegadas do genial Luiz Gonzaga: “Lá no meu pé de serra / Deixei ficar meu coração / Ai, que saudades tenho / Eu vou voltar pro meu sertão”. Algumas de suas descrições são de profunda beleza literária e bucólica, e se revestem na verdade de excelente prosa poética, como nesta passagem: “De lá de cima, (…) descortina-se uma vista maravilhosa de todo o vale do rio São Gonçalo e Lambedouro. Oportunidade rara para o pesquisador (…) vingar-se do morro do Caburé que, visto da base, é arrogante e desafiador. Agora, humilhado, fica lá em baixo com o cocuruto cinzento e arrepiado”.

Por ter entrelaçamento familiar com as mais antigas famílias da Ibiapaba, sobretudo as da imperial Viçosa do Ceará, terra do general Tibúrcio, que lutou em várias batalhas, e do jurista Clóvis Beviláqua, filho do padre Beviláqua, um dos pró-homem de sua terra, casado com a piauiense Amélia de Freitas Beviláqua, jornalista, poetisa, contista, cronista e romancista. Reza a lenda que, certa feita, uma das estátuas do general caiu. Mas caiu de pé, afiançam os viçosenses.

Sobre a vetusta urbe, de ameno clima e serrana e florida beleza, fincada no espinhaço da Ibiapaba, tive a oportunidade de dizer, em minha crônica Viçosa, sempre viçosa e cheia de graça, que se encontra publicada na internet:

(…) fui à Praça da Matriz, onde fotografei a vetusta igreja de Nossa Senhora da Assunção, de coloniais linhas sóbrias, austeras, exceto no frontispício, de discreta sinuosidade. Sua inauguração data de 15 de agosto de 1700, porém o povoamento de Viçosa do Ceará começou bem antes, remontando a 1590, quando franceses provenientes do Maranhão tiveram contato com os índios da região, até sua expulsão em 1604 por Pero Coelho de Sousa. Segundo o padre Ascenso Gago, superior dos missionários ibiapabenses, a data de fundação da urbe seria 1695. O fato é que nesse período existia a missão dos padres jesuítas, que tentavam catequizar os índios Tabajaras, dando origem à Aldeia da Ibiapaba.

Nos meus primeiros contatos com Vicente Miranda, mais de década atrás, logo lhe notei acentuada semelhança com o grande poeta, cantor e compositor Belchior. Não pude deixar de lhe indagar a esse respeito, tendo ele me respondido que eram parentes. Nessa época Miranda ostentava um vasto e denso bigode, assim como seu célebre primo. Tempos depois, ao revê-lo, de imediato percebi que ele havia se despojado da bigodeira. Jocosamente, revelando o seu senso de humor, que eu já conhecia, disse que rapara o bigode para não ser confundido com o parente famoso, que se envolvera em dívidas e andava um tanto sumido.

Todavia, por ter elaborado essa monumental obra, monumental tanto pelo tamanho como pela qualidade, não posso dizer que Vicente Miranda seja “(…) apenas um rapaz / Latino-Americano / Sem dinheiro no banco / Sem parentes importantes”. É um historiador de muito valor, um empresário bem-sucedido em seu campo de atuação e teve e tem parentes importantes, entre os quais o próprio e saudoso Belchior, autor dos antológicos versos acima.