LUTO

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Texto de Antonio Gallas

        O Brasil está de luto! Morreu, na última sexta feira (05) no Rio de Janeiro, o intelectual e membro da Academia Brasileira de Letra Carlos Heitor Cony com 91 anos de idade. Radialista, jornalista, cronista, escritor premiado e considerado um dos maiores do Brasil, autor de 17 romances, entre eles “O ventre” (1958), “A verdade de Cada Dia”, “Tijolo de Segurança” e “Pilatos” (1973), considerado pela crítica como uma de suas obras-primas. Depois deste último, passou mais de 20 anos sem publicar nenhum outro romance, quando lançou “Quase Memória” (1995), obra que vendeu mais 400 mil exemplares e lhe rendeu o Prêmio Jabuti que é considerado o mais importante prêmio literário do nosso país.

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Carlos Heitor Cony

         Com uma longa carreira e experiência jornalística iniciada ainda nos anos 1950, e atuação nos principais jornais e revistas do país ao longo das últimas décadas, Cony certamente deixará uma lacuna na literatura brasileira.

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Louzeiro: autor de Lúcio Flávio – O Passageiro da Agonia.

         Morreu também, no Rio de Janeiro dia 29 do mês de dezembro passado, o escritor maranhense José Louzeiro, autor de mais de 51 livros nos seguimentos infanto-juvenil, biografias e romances-reportagens em cujo gênero é o pioneiro no Brasil.  O Brasil está de luto, não apenas pelo falecimento de Carlos Heitor Cony, e de José Louzeiro. O Brasil está de luto principalmente pelo comportamento da maioria dos políticos brasileiros, verdadeiros enganadores do povo, usurpadores da boa vontade da nossa gente . O Brasil está de luto também Pela forma com que as autoridades tratam o patrimônio histórico cultural das nossas cidades.

          Aqui em Parnaíba temos um exemplo vivo desse descaso. O Patrimônio Histórico Cultural de Parnaíba (Porto das Barcas) está se acabando. E ninguém faz nada. As edificações em ruinas, ameaçando cair em cima das pessoas, dos carros… Algumas ruas desse Centro Histórico são pontos de drogados. Muitas pessoas evitam trafegar à noite por essas ruas com medo de serem abordados por usuários de drogas que por lá ficam tanto durante o dia como à noite. E o tal Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)? Apenas figura decorativa.

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        Infelizmente Parnaíba não é a única cidade no Brasil a sofrer esse menoscabo. Outras e muitas outras também.

        Há pouco menos de um mês estive em São Luis, capital do Maranhão, cujo centro histórico foi declarado pela UNESCO Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1997 e fiquei estarrecido com o que presenciei. A Praça do Panteon onde fica a Biblioteca Benedito Leite (A Biblioteca Pública do Estado), totalmente destruída – levaram as estátuas, os bustos as hermas. Estão fazendo uma reforma, dizem que tudo voltará ao seu lugar. Mas pelo tempo e andar da carruagem, assim como O Porto de Luis Correia, a orla da Avenida Beira Rio aqui em Parnaíba, o Rodoanel em Teresina e a duplicação da BR 135 em São Luis, só serão concluídas com as calendas gregas, com o tear de Penélope ou num dizer mais brasileiro no “dia de São Nunca”! A Praça Deodoro, contígua à Praça do Panteão está servindo de abrigo para drogados, moradores de ruas etc… E olhem que São Luis num passado, pela intelectualidade, pela cultura de seus habitantes e pelo mito de que se falava o melhor português do Brasil, recebeu o epíteto de Athenas Brasileira – hoje é apenas brasileira.

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        Pensando em ver algo que me confortasse para esquecer o descalabro encontrado nas praças Deodoro e Panteon bem como reconfortar meu âmago (afinal morei, namorei, estudei, trabalhei em São Luis), dirigi-me à Praça João Lisboa – outrora cartão postal de São Luis. Minha decepção foi tão grande que resolvi voltar para o hotel. A praça totalmente devastada. A estátua do imortal João Lisboa, coberta de pombos e das fezes dessas aves Columbidae. Os abrigos onde lanchávamos à noite após as aulas e o retorno para pernoitar no Centro Guaxenduba pareciam que tinham sido devastados por uma guerra. O banco onde à noite se reuniam os intelectuais Amaral Raposo (acompanho de seu inseparável violão), professor Kalil Mohana, magistrado Ives Miguel Azar e muitos, não mais existe.

        Aí vem a pergunta: o que a Prefeitura de São Luis ou o governo do estado poderiam fazer para recuperar o que já foi um belo cartão postal, ponto de encontro de intelectuais, de casais enamorados da bela cidade ludovicense?

        Este preâmbulo todo tem uma razão de ser: no primeiro dia do ano de 2018 aconteceu em São Luis o centenário da aposição da estátua do escritor João Lisboa. Como acompanho diariamente através dos jornais, dos blogs e televisão as notícias do Maranhão, não vi nenhuma manifestação por parte das autoridades sobre a data, nem da Academia Maranhense de Letras que já o homenageou por ocasião do seu bicentenário em 2012.

            Apenas o presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Euges Lima,  meu conterrâneo de Tutóia, fez referência  com a divulgação da notícia no site do IHGM, no Jornal Extra e em uma entrevista na TV Mirante.

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