Via Sacra no Centro Histórico de Parnaíba

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Via Sacra no Centro Histórico de Parnaíba

Elmar Carvalho

No final de dezembro, véspera de Ano Novo, fui com Fátima ao centro comercial e histórico de Parnaíba. Ela ia comprar uns utensílios domésticos. Como iria demorar mais de uma hora, resolvi revisitar alguns pontos históricos, turísticos e arquitetônicos, que conheço desde 1975, quando minha família foi morar em Parnaíba, portanto, no final de minha adolescência.

Comecei pela Praça da Graça, onde moramos, no apartamento dos Correios. A praça ainda era a mais velha e mais bela. O Cassino já não existia. Por essa época, ainda funcionavam os cines Éden e Gazeta, e a AABB nela ficava situada. As belas moças em flor ainda desfilavam sua beleza na velha praça. Tornei-me, desde essa época, amigo do Louro da Banca, que nunca foi de botar banca com ninguém, e que foi depois, juntamente como o patrimônio arquitetônico, “tombado” pelo IPHAN.

Recordo que, no Éden, assisti a um filme de Drácula, com castelo e carruagem entre nevoentas paisagens, estrelado por Christopher Lee. Apesar da maldade, o velho conde se mostrava de forma aristocrática e hierática, sem a violência ostensiva e exagerada dos filmes de hoje. No final da década, na gestão do prefeito Batista Silva, acompanhei a demolição desse belo logradouro, com o consequente desaparecimento da pérgola, do coreto, dos velhos bancos e postes de iluminação.

Os escombros foram escondidos por um tapume de madeira, que foram derrubados e queimados pela população, na histórica noite de 31 de agosto de 1979. Morando na praça, não poderia deixar de assistir a tudo isso. Testemunhei sua reconstrução, mas ficou para sempre em minha memória a nostalgia da paisagem arquitetônica perdida. Caminhando em seus passeios e alamedas, costumava contemplar a suntuosidade ostensiva da Catedral e a discreta e singela beleza da Igreja do Rosário. No seu entorno, ficavam os principais bancos e repartições públicas.

No final dos anos 1970, houve um comício gigante nessa praça, em homenagem ao retorno do ex-governador Chagas Rodrigues à política partidária, com a presença de próceres do MDB nacional, entre os quais Ulisses Guimarães, Almino Afonso, Miguel Arraes, além de destacados caciques estaduais. Discursei nesse evento, na qualidade de presidente do Diretório Acadêmico 3 de Março, representando o corpo discente do Campus Ministro Reis Velloso – UFPI. Em plena ditadura militar, vociferei contra a falta de liberdade democrática e a minguada verba destinada à Educação. Para alimento de minha vaidade juvenil, muitos oradores fizeram referência à minha fala. Infelizmente, na época não havia selfie e nem as facilidades fotográficas de hoje, de modo que não guardei nenhuma foto desse grande comício.

Saindo do velho logradouro, passei pela praça da Mulher do Pote (Praça Constantino Correia). Grande e pesada, foi um presente dado ao ministro do Planejamento, o parnaibano João Paulo dos Reis Velloso. Considerando-se o trabalho e a despesa para o seu transporte para Parnaíba, muitos poderiam achar que foi uma espécie de “presente de grego” ou mesmo algo como uma vitória de Pirro, tal o esforço e dispêndio para sua fixação final. Passadas essas décadas, podemos dizer que valeu a pena todos os esforços e todas as despesas. E a escultura continua impávida, a sustentar o pote, peso que lhe cabe carregar pelo resto de sua (quase eterna) vida de pedra bruta e sólida.

A Santa Casa de Misericórdia foi a minha seguinte estação. Grande e belo e velho prédio que revi tantas vezes, na minha juventude e na minha idade atual. Nela foram internadas duas de minhas irmãs, vítimas de um acidente de carro, em que morreu Josélia, nossa outra irmã. Durante alguns anos, meus pais moraram perto desse nosocômio. Revi os grandes oitizeiros da praça que lhe fica defronte. Ali perto, no cruzamento da Capitão Claro com a Álvaro Mendes, ficava a agência e “parada” principal da antiga empresa Marimbá, que fazia a linha Parnaíba – Teresina. Em seus ônibus azuis viajei muitas vezes, até sua venda para o grupo Claudino.

Quando me dirigia para a Praça Santo Antônio, encontrei, perto do antigo Cascatinha, o amigo Paulo Afonso Ribeiro de Brito, casado com a Gardênia, filha da professora Miriam Castelo Branco. Nos cumprimentamos, e segui meu desiderato, não sem antes dar uma boa olhada no velho mercado central e seus pés de oitis e na praça contígua que foi restaurada e exposta ao público. Lembrei-me dos velhos comércios; muitos dos quais já não existem. Existia até bem pouco tempo a casa Siqueira, que pertenceu ao saudoso amigo José João Siqueira, que resistiu bravamente na venda de tecido, e não apenas de confecções como manda a moda de nossos tempos atuais. Zé João foi um competente professor universitário e escreveu um importante trabalho sobre o extrativismo da carnaúba.

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Eis-me, enfim, na Praça Santo Antônio, onde estive tantas vezes, ao longo de minha vida. Nela pontificavam e desfilavam as mais belas moças de Parnaíba dos dourados anos 70 de minha evocação saudosista. Deixei-me inebriar de saudade, enquanto me envolvia na sombra e na penumbra das lembranças e dos frondosos pés de oitis. Foi o meu primeiro alumbramento de Parnaíba, quando, antes de nossa mudança familiar e residencial, vim visitar meu pai, no começo de 1975, aproveitando uma carona.

Papai, a pretexto de visitarmos seu primo Joaquim Furtado de Carvalho, fluente no inglês e numa boa conversa, professor da Caixeiral, me levou até essa bela praça, onde vi seus monumentais oitizeiros. Nosso parente morava na pensão de dona Judite, onde moravam outras pessoas que depois se tornaram meus amigos, entre os quais o jornalista e escritor Antônio Gallas Pimentel. Meu parente, meses depois, me recomendou fizesse amizade com o Gallas. Segui-lhe o conselho, e essa antiga amizade se mantém sem abalo e sem solução de continuidade.

Na Praça Santo Antônio (assim como nas avenidas Chagas Rodrigues e Presidente Getúlio Vargas) residiam as figuras mais proeminentes e conhecidas de Parnaíba. Nela moravam Vicente Correia, grande ativista da igreja católica, Cândido de Almeida Athayde, político, empresário, médico renomado e meu professor na faculdade de Administração de Empresas, Assis Cajubá de Brito, advogado atuante e eloquente, também meu professor em disciplina sobre Economia, com quem aprendi os mistérios das aziendas e as virtudes e mazelas das relações empresariais, Carlos Alberto Teixeira, guardião zeloso do Patrimônio da União, procurador da Fazenda Nacional, e que também foi meu mestre na universidade, bom na retórica e na disciplina que lecionava.

Quando voltava para a Praça da Graça, para esperar minha mulher, encontrei novamente o Paulo Afonso, que retornava à casa de sua sogra. Não sei se foi mera coincidência; hoje já não sei se o acaso existe, se tudo não tem um propósito. O Paulo me pediu que entrasse, para cumprimentar a professora Miriam Castelo Branco, mestra respeitada do vernáculo. Revi seus filhos Zé Filho, Verbena e Gardênia, esposa do Paulo. Recordamos nossos amigos comuns. Ela se lembrava de quando eu ainda era um garoto, recém-chegado a Parnaíba, nos idos de junho de 75 do século passado. Falamos de literatura e arte, e evocamos os velhos e inesquecíveis professores, entre os quais Benedito Jonas Correia (pai de meu compadre e amigo Canindé), Lauro Correia, José Rodrigues, Maria da Penha e Lima Couto, este pai dos amigos Régis, Vítor e Paulo, tradutor de poemas, e que, certamente por bondade, aplaudia as coisas que eu então publicava.

Voltei à Praça da Graça, ponto de partida e de chegada. Cumprimentei o Louro, e embarquei no túnel de um outro tempo, onde o tempo não existe, ou existe confundido no destempo de um tempo absoluto, sem passado, sem presente, sem futuro. Tempo total, indiviso, tecido de eternidade. Ó lembranças, ó tempos que tento recapturar nas teias frágeis e diáfanas da memória.

Escritor João Rolim lança livro no SESC Caixeiral.

 

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O médico e escritor baiano João Rolim, radicado em Parnaíba, lançou na noite dessa segunda-feira 22 de janeiro no SESC Caixeiral o livro “Causos e Cousas, o sobejo do verso”.

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A diretoria da Academia Parnaibana de Letras e alguns membros estiveram prestigiando o evento. A apresentação da obra de João Rolim foi feita pela escritora e acadêmica Maria Dilma Ponte de Brito.

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O presidente José Luiz de Carvalho disse na ocasião que a academia ao prestigiar eventos como o lançamento do livro de João Rolim está cumprindo seu papel de incentivadora da cultura e promovendo uma maior abertura.

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João Rolim, médico com especialidade em cardiologia e cardiologia intervencionista, é baiano de Salvador. Foi criado em Fortaleza e região do Cariri, no Ceará. Tem o título de cidadão parnaibano. Fonte: APAL. Fotos: APAL. Edição: APM Notícias.

CENAS DO COTIDIANO

AMOR AO TRABALHO OU JÁ NÃO SE FAZEM MAIS CAVALHEIROS COMO ANTIGAMENTE

Antonio Gallas

            Ao ler Gentileza e cavalheirismo não podem estar com os dias contados de autoria do auditor fiscal Antonio Francisco Sousa, publicado no Blog do poeta Elmar Carvalho, em 10/01/2017, veio-me à mente, que hoje em dia, essas coisas do bem tratar, de se ser gentil, da boa educação, estão ficando démodé. E por duas razões: uma, por esse torvelinho da vida da gente no corre-corre pelos afazeres diários; outra, pelo medo da má interpretação do interlocutor, como foi o caso citado no diálogo que ilustra a crônica acima citada. O que seria uma gentileza da parte masculina, poderia ser interpretada como um assédio pela parte feminina. Todavia nem uma das duas razões justifica que não se possa ser gentil com outrem.

            Após ler a crônica supracitada quedei-me a refletir sobre um diálogo que tive com uma desconhecida que transitava nas proximidades da praça da graça em Parnaíba e que por sua beleza chamava a atenção de todos quantos com ela cruzavam, tamanha sua beleza e elegância. Eu, admirado por sua beleza fiquei a observá-lo por um bom tempo. Ao perceber que eu a estava observando-a, ela iniciou um diálogo, nada amistoso fazendo-me a seguinte indagação: – Você nunca viu uma mulher na sua vida? De pronto respondi: – muitas. Mas com a sua beleza são poucas. Então ela retrucou: – Você me respeite! Do mesmo modo respondi-lhe: – Não estou lhe faltando com respeito. Pelo contrário, estou lhe fazendo um elogio. Novamente ela retrucou: – Você é muito audacioso, seu insolente! Vou dizer pro meu marido. Eu não me fiz de rogado e respondi na mesma pisada, em cima das buchas: – Pode dizer, mas tenho certeza que ele vai concordar comigo.

            Esse diálogo que me inspirou a escrever uma crônica qual inclusive foi publicada no Blog do Poeta Elmar com o título de “Uma linda Mulher”, poderia ter me custado caro se ela entendesse que eu a estava assediando ou mesmo sendo debochado ou insolente para com ela.

            Mas, como dizia meu pai, o comandante Moysés Pimentel, uma coisa puxa outra, lembrei-me também de que no serviço público, quer seja federal, estadual ou municipal, muitos funcionários não fazem um bom atendimento, não são gentis com as pessoas ou mesmo sequer se dedicam à função que exercem. É claro que existem as exceções. Há funcionários dedicados, gentis, que desempenham suas tarefas com amor e dedicação ao trabalho que fazem, enquanto que muitos comparecem à repartição onde são lotados, apenas para cumprir o horário e garantir o salário integral no contracheque ao final do mês.

            Essas observações vêm a propósito de algo que presenciei, ou melhor, vivenciei na companhia do poeta Elmar Carvalho, aqui mesmo nesta “parnaibinha” (não há pejorativo no termo, apenas a forma carinhosa de tratarmos a cidade) abençoada por Nossa Senhora da Graça.

            Poucos dias após o início deste ano, recebo telefonema do poeta e romancista Elmar Carvalho, que também é juiz aposentado, para que eu o acompanhasse a bibliotecas da cidade onde ele iria fazer doações de livros de sua autoria, entre os quais o romance “Histórias de Évora”.

            Aproveitei a oportunidade para levar exemplares da última edição do Almanaque da Parnaíba- revista da Academia Parnaibana de Letras – e também de levar outros livros que eu já havia prometido que iria doar. E assim fizemos.

            Na Biblioteca Municipal fomos muito bem atendidos pela professora Christiane Lins, bibliotecária e chefe de uma equipe de funcionários bastante atenciosos. A professora Christiane fez questão de nos mostrar todas as dependências da nova biblioteca pública de Parnaíba e ficou a escutar nossas conversas por mais de uma hora inclusive depois da chegada do professor Carvalho, um bom proseador que atualmente reside em São Luis capital do Maranhão.

            Após as despedidas de praxe, fui com o dr. Elmar a uma outra biblioteca. Desta feita de uma instituição pública de ensino. A pessoa a quem ele havia prometido que levaria os livros não se encontrava no momento, entretanto a funcionária que lá estava atendeu-nos de forma adversa ao atendimento que tivemos na Biblioteca Municipal de Parnaíba, hoje denominada Biblioteca Municipal Senador Alberto Silva.

            Diante dessas duas situações vem a reflexão: o tempo e as leis fazem com que se perpetue o refrão de que “já não se fazem mais cavalheiros como antigamente” e com relação ao trabalho sabemos que a dedicação e o amor o tornam mais produtivo, compensador e nunca fatigante. E pelo que pude observar, o trabalho que está sendo desenvolvido na biblioteca municipal enquadra-se perfeitamente com o pensamento do célebre escritor e pensador libanês Khalil Gibran quando diz:

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Padre Sampaio – da Ininga para a Corte

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Padre Sampaio – da Ininga para a Corte

Elmar Carvalho

No dia 10 passado, no hall da Academia Piauiense de Letras, enquanto aguardava a posse da nova diretoria, da qual faço parte, fiquei a conversar com o historiador Reginaldo Miranda e com o professor Osvaldo Assunção, curador de artes plásticas, que estava a prestar serviços à entidade, com vista à instalação de sua pinacoteca. Vendo o Osvaldo com a escala métrica em punho, no cumprimento de seu mister, brinquei com o confrade Reginaldo, parafraseando Cristo, enquanto apontava o instrumento de medições: “Não julgueis para não serdes julgado; com a mesma medida com que medirdes, sereis medido.”

Osvaldo parou por alguns instantes o que fazia, e, conhecedor de minha ligação afetiva com a sua terra natal, José de Freitas, me perguntou se eu sabia do episódio (um tanto anedótico) que possibilitou a amizade palaciana do notável padre Sampaio. Respondi que não, passando ele a nos contar o segue abaixo, em resumo.

Estava o padre Sampaio a orar na igreja da Glória, quando ouviu rumores de acólitos do séquito palaciano. Soube, então, que a família da princesa Isabel viera para a missa de costume, mas que o vigário se atrasara e a sua celebração não poderia acontecer.

Joaquim Sampaio Castelo Branco (era esse o seu nome completo), do alto de sua baixa estatura física, mas sem embargo de sua alta erudição e preparo teológico, informou que era sacerdote e poderia celebrar o culto católico. Causou certo impasse entre os circunstantes, que não o conheciam, até que um ministro do império disse que ele poderia fazer a celebração, mas, se ele não fosse efetivamente do clero, poderia responder por isso.

O padre Sampaio, no momento de iniciar a homilia, solicitou a um dos presentes (não sei se ao ministro imperial ou se à própria princesa), que lhe desse a palavra inicial, tendo a pessoa sugerido a palavra “não”. Sampaio usou a advertência crística do “não julgueis”, e esta foi o motivo de a minha blague ter feito Osvaldo Assunção se lembrar desse fato. Creio que tenha feito um belo sermão, tendo em vista que ele se tornou um grande orador sacro. Osvaldo Assunção acrescentou que esse episódio se encontra narrado no livro de Pastora Lima Lopes de Carvalho, que por muitos foi superintendente do Complexo Escolar de José de Freitas.

Segundo ainda o professor Osvaldo, quando Joaquim Sampaio foi ordenado padre, sua mãe e matriarca da família, senhora de muitos cabedais, disse que ele, na qualidade de sacerdote, seria o dono de todo o patrimônio familiar. Ele, ante essa prodigalidade, recomendou a libertação de todos os escravos. Esse pleito foi negado. Ele, então, pediu que ao menos fosse alforriada a escrava que fora sua mãe de leite, cuja reivindicação foi atendida.

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Quando eu era um garoto de 13/14 anos, no período em que morei em José de Freitas, várias vezes passei em frente ao Grupo Escolar que leva o nome do Padre Sampaio, quando ia em demanda do açude Pitombeira, belo e aprazível balneário, rodeado de colinas e criulis. Procurei saber quem ele havia sido, mas não encontrei nenhuma pessoa que me desse uma boa resposta.

Somente muitos anos depois, no Dicionário Enciclopédico Piauiense Ilustrado, de Wilson Carvalho Gonçalves, meu confrade e amigo, e no Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Piauí, do saudoso Cláudio Bastos, que tive a honra de contribuir para sua publicação, quando fui presidente do Conselho Editorial da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, encontrei a resposta que buscara em minha meninice.

Em tributo a esse grande piauiense, irmão do famoso engenheiro Sampaio, construtor da célebre fábrica de laticínios, ambos nascidos na Fazenda Ininga, que foi restaurada e é preservada pelo professor Paulo Libório, encerro este breve relato com o seguinte trecho do verbete inserto na obra de Wilson Gonçalves, acima referida, que merece todos os encômios:

BRANCO, Padre Joaquim Sampaio Castelo. (Vila do Livramento, José de Freitas – PI, 1860 – Rio de Janeiro, 1892). Sacerdote, professor e escritor. Grande orador sacro, ilustrou, pela sua cultura e cintilante inteligência, o clero brasileiro. Foi presbítero na Diocese do Maranhão. Professor catedrático de francês no “Liceu Maranhense”. Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Santo Apolinário, de Roma (Itália). Bacharelou-se em Teologia pela Universidade Católica de Paris (França). Foi confessor da princesa Isabel. Jornalista vibrante e vigoroso. Diretor-proprietário do jornal O Mensageiro de São Luís do Maranhão, destacando-se como apologista da Abolição da Escravatura. (…) Elegeu-se deputado-geral pelo Piauí para o biênio 1889 – 1890, todavia, não tomou posse, em virtude da dissolução do Congresso Nacional (Decreto de 17-08-1889).

Minha ressurreição.  

 

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Oh! Que saudades que tenho
das águas turquesas
das praias do Piauí.

Ah, a serena brutalidade do mar,
sem sangue, sem rasgos, sem dor,
na fúria azul e salgada
da claridade solar.

Sentado na areia de pedras,
de conchas, de algas…
Eu via a alma do sol
a gritar.

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Eram berros de silêncio
e de vento perdendo-se
nos olhos tristonhos
da minha face de costa,
a sussurrar as ondas,
à beira da música
divina,
das cracas
a tocar.

Evocavam outras tardes,
na rotatória da usina dos sonhos. Gaivotas passavam desiguais,
cantando presságios,
preservando as quebras
marítimas
da beleza,
nas velas derrubadas
dos barcos
a calhar.

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Do outro lado não havia ilha.
Havia distância.
Havia céu.
Havia Deus.
Havia o eu,
melancólico,
lendo Casimiro
de Abreu.

Do outro lado
havia a infância
reclamando as saudades
da terra interior e
oculta
a avistar esperanças.

Oh! Carnaúbas, cajueiros, mangueiras…
O coração do tempo
é um desesperado
exilado.

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Oh! Que saudades que tenho
das águas turquesas
das praias do Piauí.
Que dores! Que amores!
Que loucos ais,
a esperar as aves noturnas
depois de todos os pardais.

Poema de Diego Mendes Sousa.

 

O amor é uma paisagem.  

 

*Ivaldo Freitas Cardozo.

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A paixão se trata apenas de um amor de vagão.

São muitas paisagens, mas um só coração.

Descobri que era amor quando me contentei.

Não tomei mais nenhum rumo.

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Daquele momento em diante parei.

Queria ficar num só canto

Pelo resto dos anos.

 

E agora o que vejo…

A paisagem que formamos

No dado momento que nos esbarramos.

Aquela paisagem que coloriu meu coração.

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E não deixou espaço pra nenhuma outra paisagem.

Perdi o gosto em outras viagens e rumos

Pois o amor é uma paisagem eternizada

Pela vida na qual habitava.

 

 Na fila do pão.

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Quem sou eu na fila do pão?

Sou aquele menino simpático

De mãos dadas com a avó.

Tão velhinha e marcante

De sorriso cativante

E ao mesmo tempo tão cheio de vida

Num inocente carisma.

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A caneta era minha distração

Pra recitar o que via

Mesmo que na padaria

Onde muito se discutia

Na partilha dos versos

Em meio à correria

De atitudes nada poéticas.

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Consciente de seus passos errantes.

Vovó seguia neste instante

Pensativa como antes

No dia que me contou

Como por vovô se apaixonou.

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*Ivaldo Freitas Cardozo, poeta e estudante do ensino médio no Instituto Federal do Piauí, campus de Parnaíba.

 

 

VICISSITUDES DA VIDA

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VICISSITUDES DA VIDA

Elmar Carvalho

Recebi, nesta manhã, telefonema de meu pai, que noticiava o falecimento do poeta Cunha Neto, ocorrido em Campo Maior, de madrugada. Meu pai havia ido ao velório. Não pude ir ao sepultamento do bardo. Tenho recordações antigas dele. Quando eu tinha por volta de nove anos de idade, vi um folheto de sua autoria, que o meu pai recebera na missa matinal de domingo, a que tinha ido assistir na matriz, hoje catedral. O cordel falava sobre o festejo de Santo Antônio do Surubim, padroeiro da cidade. Cantava as proezas e a coragem dos vaqueiros, que são homenageados na festa religiosa, com um dia a eles dedicado. Senti orgulho do conterrâneo, e – por que não confessar? – uma certa inveja. Imaginei o meu nome estampado em um livro. Mas só fui despertar de verdade para a literatura um pouco mais tarde.

Tempos depois, vi outros livretos do poeta, com poemas que falavam da lagoa do Corró, da saudade, e das belezas arquitetônicas e naturais de Campo Maior. Zé Cunha Neto era um autêntico cordelista, também chamado de poeta de gabinete, porque manejava a palavra escrita, mas não era um repentista, cuja principal característica é improvisar, acompanhando-se por uma viola. Foi meu amigo e amigo de meu pai. Quando tomei posse de minha cadeira na Academia do Vale do Longá, Zé Cunha me prestou uma enternecedora homenagem, declamando um poema de sua autoria sobre a minha pessoa. Não precisaria acrescentar que fiquei deveras comovido. Isso significa que o poeta era despojado da mesquinha inveja e sabia reconhecer as qualidades de outra pessoa, de outro poeta.

Era um cidadão de bem e do bem. Sua mulher, dona Ana, foi uma boa e sábia companheira, que soube amparar e compreender o grande poeta popular. Nos últimos anos, vinha amargando forte depressão, que torturava seu espírito, tornando-o quase recluso, retraído, quando outrora fora alegre, expansivo e sociável. Lembrando-me dos seguintes versos de Antero de Quental: “Na mão de Deus, na sua mão direita, / Descansou afinal meu coração”, tenho a certeza de que o coração bondoso e tão sofrido do poeta Cunha Neto encontrou abrigo, amparo e lenitivo na destra do Senhor.

                                                                                              *  *  *

À tarde, quando eu voltava de um passeio a um balneário de Timon, vi, na avenida Joaquim Ribeiro, um rapaz tentando entrar num casebre, batendo vigorosa e insistentemente na porta, que permaneceu fechada. Não sei se alguém respondeu às insistentes batidas, com alguma negativa. Sei que o rapaz afastou-se e foi sentar em uma soleira de porta, próximo. Começou a sorrir, aparentemente sem nenhuma razão. Talvez risse de si mesmo ou da possível negativa, que recebera. Seus cabelos eram esquálidos, maltratados; as roupas, velhas e manchadas, e o seu aspecto geral era de sujeira, como se ele não cuidasse de si mesmo. Os que estávamos no carro, achamos que ele parecia estar drogado.

Por tudo que tenho visto, lido e ouvido, considero que a droga foi o grande flagelo do final do século passado, e parece que continuará a ser o mal deste século XXI. Traz grandes malefícios ao viciado, que termina sendo um tormento, inicialmente, para a sua família, ao exigir dinheiro para o sustento do vício, e depois para a sociedade, quando começa a furtar e a roubar, para poder adquiri-la. Segundo os estudos e as observações, o crack vicia logo na primeira ou segunda vez em que é fumado, prejudica o cérebro e a saúde do dependente e muitas vezes o leva à morte.

Na ansiedade e na compulsão pela droga, o usuário é capaz até mesmo de assaltar e matar, e nesses momentos a sua consciência e freios inibitórios morais ficam completamente desativados. Às vezes, o crime hediondo é cometido contra parentes próximos e pessoas que o dependente amava. E a sociedade se queda perplexa, impotente, diante da brutalidade e da barbárie que se instaura, sem nenhum sentido e de forma avassaladora.

7 de fevereiro de 2010

Inscrições abertas para Prêmio Sesc de Literatura

 

 

Em sua 15ª edição, concurso já revelou 25 autores ao mercado literário

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Começaram nesta segunda-feira (8) e vão até o dia 16 de fevereiro, as inscrições para o Prêmio Sesc de Literatura 2018. O concurso nacional é aberto a autores inéditos, nas categorias conto e romance, tendo como premiação a publicação e distribuição dos livros vencedores pela Editora Record.  Interessados devem acessar o site www.sesc.com.br/premiosesc, onde estão disponíveis o edital e o formulário de inscrição.

 

O Prêmio Sesc de Literatura está na sua 15ª edição e já revelou ao mercado literário 25 novos autores. Os vencedores têm o livro publicado e participam de diversos eventos do Sesc como cafés literários no Sesc Paraty durante a Flip e bate-papos entre autores pelo projeto Arte da Palavra, que circula por todo o país. O concurso cumpre um importante papel na área cultural, proporcionando uma renovação no panorama literário brasileiro.

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Para participar, o candidato deve acessar a internet para preenchimento do formulário de inscrição e inserção de sua obra digitalizada. O autor pode concorrer nas duas categorias – conto e romance –  desde que tenha obras nunca publicadas em ambas, inclusive em plataforma online. Neste caso, as inscrições são realizadas separadamente.

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Todos os trabalhos são submetidos à avaliação das comissões julgadoras, compostas por escritores, especialistas em literatura, jornalistas e críticos literários definidos pelo Sesc. Os vencedores serão anunciados em junho de 2018. Informações adicionais podem ser obtidas junto à organização do Prêmio pelo e-mail literatura@sesc.com.br.

 

Inscrições abertas para Prêmio Sesc de Literatura

 

 

 

Em sua 15ª edição, concurso já revelou 25 autores ao mercado literário

SESC3

Começaram nesta segunda-feira (8) e vão até o dia 16 de fevereiro, as inscrições para o Prêmio Sesc de Literatura 2018. O concurso nacional é aberto a autores inéditos, nas categorias conto e romance, tendo como premiação a publicação e distribuição dos livros vencedores pela Editora Record.  Interessados devem acessar o site www.sesc.com.br/premiosesc, onde estão disponíveis o edital e o formulário de inscrição.

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O Prêmio Sesc de Literatura está na sua 15ª edição e já revelou ao mercado literário 25 novos autores. Os vencedores têm o livro publicado e participam de diversos eventos do Sesc como cafés literários no Sesc Paraty durante a Flip e bate-papos entre autores pelo projeto Arte da Palavra, que circula por todo o país. O concurso cumpre um importante papel na área cultural, proporcionando uma renovação no panorama literário brasileiro.

 

Para participar, o candidato deve acessar a internet para preenchimento do formulário de inscrição e inserção de sua obra digitalizada. O autor pode concorrer nas duas categorias – conto e romance –  desde que tenha obras nunca publicadas em ambas, inclusive em plataforma online. Neste caso, as inscrições são realizadas separadamente.

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Todos os trabalhos são submetidos à avaliação das comissões julgadoras, compostas por escritores, especialistas em literatura, jornalistas e críticos literários definidos pelo Sesc. Os vencedores serão anunciados em junho de 2018. Informações adicionais podem ser obtidas junto à organização do Prêmio pelo e-mail literatura@sesc.com.br.

 

LUTO

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Texto de Antonio Gallas

        O Brasil está de luto! Morreu, na última sexta feira (05) no Rio de Janeiro, o intelectual e membro da Academia Brasileira de Letra Carlos Heitor Cony com 91 anos de idade. Radialista, jornalista, cronista, escritor premiado e considerado um dos maiores do Brasil, autor de 17 romances, entre eles “O ventre” (1958), “A verdade de Cada Dia”, “Tijolo de Segurança” e “Pilatos” (1973), considerado pela crítica como uma de suas obras-primas. Depois deste último, passou mais de 20 anos sem publicar nenhum outro romance, quando lançou “Quase Memória” (1995), obra que vendeu mais 400 mil exemplares e lhe rendeu o Prêmio Jabuti que é considerado o mais importante prêmio literário do nosso país.

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Carlos Heitor Cony

         Com uma longa carreira e experiência jornalística iniciada ainda nos anos 1950, e atuação nos principais jornais e revistas do país ao longo das últimas décadas, Cony certamente deixará uma lacuna na literatura brasileira.

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Louzeiro: autor de Lúcio Flávio – O Passageiro da Agonia.

         Morreu também, no Rio de Janeiro dia 29 do mês de dezembro passado, o escritor maranhense José Louzeiro, autor de mais de 51 livros nos seguimentos infanto-juvenil, biografias e romances-reportagens em cujo gênero é o pioneiro no Brasil.  O Brasil está de luto, não apenas pelo falecimento de Carlos Heitor Cony, e de José Louzeiro. O Brasil está de luto principalmente pelo comportamento da maioria dos políticos brasileiros, verdadeiros enganadores do povo, usurpadores da boa vontade da nossa gente . O Brasil está de luto também Pela forma com que as autoridades tratam o patrimônio histórico cultural das nossas cidades.

          Aqui em Parnaíba temos um exemplo vivo desse descaso. O Patrimônio Histórico Cultural de Parnaíba (Porto das Barcas) está se acabando. E ninguém faz nada. As edificações em ruinas, ameaçando cair em cima das pessoas, dos carros… Algumas ruas desse Centro Histórico são pontos de drogados. Muitas pessoas evitam trafegar à noite por essas ruas com medo de serem abordados por usuários de drogas que por lá ficam tanto durante o dia como à noite. E o tal Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)? Apenas figura decorativa.

porto das barcas

        Infelizmente Parnaíba não é a única cidade no Brasil a sofrer esse menoscabo. Outras e muitas outras também.

        Há pouco menos de um mês estive em São Luis, capital do Maranhão, cujo centro histórico foi declarado pela UNESCO Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1997 e fiquei estarrecido com o que presenciei. A Praça do Panteon onde fica a Biblioteca Benedito Leite (A Biblioteca Pública do Estado), totalmente destruída – levaram as estátuas, os bustos as hermas. Estão fazendo uma reforma, dizem que tudo voltará ao seu lugar. Mas pelo tempo e andar da carruagem, assim como O Porto de Luis Correia, a orla da Avenida Beira Rio aqui em Parnaíba, o Rodoanel em Teresina e a duplicação da BR 135 em São Luis, só serão concluídas com as calendas gregas, com o tear de Penélope ou num dizer mais brasileiro no “dia de São Nunca”! A Praça Deodoro, contígua à Praça do Panteão está servindo de abrigo para drogados, moradores de ruas etc… E olhem que São Luis num passado, pela intelectualidade, pela cultura de seus habitantes e pelo mito de que se falava o melhor português do Brasil, recebeu o epíteto de Athenas Brasileira – hoje é apenas brasileira.

ruas

        Pensando em ver algo que me confortasse para esquecer o descalabro encontrado nas praças Deodoro e Panteon bem como reconfortar meu âmago (afinal morei, namorei, estudei, trabalhei em São Luis), dirigi-me à Praça João Lisboa – outrora cartão postal de São Luis. Minha decepção foi tão grande que resolvi voltar para o hotel. A praça totalmente devastada. A estátua do imortal João Lisboa, coberta de pombos e das fezes dessas aves Columbidae. Os abrigos onde lanchávamos à noite após as aulas e o retorno para pernoitar no Centro Guaxenduba pareciam que tinham sido devastados por uma guerra. O banco onde à noite se reuniam os intelectuais Amaral Raposo (acompanho de seu inseparável violão), professor Kalil Mohana, magistrado Ives Miguel Azar e muitos, não mais existe.

        Aí vem a pergunta: o que a Prefeitura de São Luis ou o governo do estado poderiam fazer para recuperar o que já foi um belo cartão postal, ponto de encontro de intelectuais, de casais enamorados da bela cidade ludovicense?

        Este preâmbulo todo tem uma razão de ser: no primeiro dia do ano de 2018 aconteceu em São Luis o centenário da aposição da estátua do escritor João Lisboa. Como acompanho diariamente através dos jornais, dos blogs e televisão as notícias do Maranhão, não vi nenhuma manifestação por parte das autoridades sobre a data, nem da Academia Maranhense de Letras que já o homenageou por ocasião do seu bicentenário em 2012.

            Apenas o presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Euges Lima,  meu conterrâneo de Tutóia, fez referência  com a divulgação da notícia no site do IHGM, no Jornal Extra e em uma entrevista na TV Mirante.

pombos