Outras Histórias de Évora

Outras Histórias de Évora (*)

Elmar Carvalho            

Ao completar 62 anos de idade, Marcos Azevedo publicou o livro Outras Histórias de Évora. Eram textos curtos, densos, que a crítica e os doutos não souberam classificar ao certo se seriam crônicas memorialísticas, contos ou apenas simples “causos” anedóticos. Segue, abaixo, uma pequena amostra desses artefatos literários.

            Marechal

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            Vi-o muitas vezes a percorrer as ruas e praças de Évora. Metido em velhas fardas que lhe davam, algumas vezes esfarrapadas e amarrotadas, não andava, marchava. Com um velho quepe na cabeça, parecia participar de um desfile na caserna. Certa feita, em meados de 1980, entrou em minha repartição. Os colegas mais brincalhões foram logo tirando lorotas com ele, chamando-o de soldado, que para ele tinha uma conotação pejorativa e de menoscabo. Vendo que eu não sorria, veio até onde eu estava e disse baixinho: “Eles não sabem quem eu sou… Sou alta autoridade do planalto”. Pedi-lhe, então, que os perdoasse, tendo ele assentido. Perdi-o de vista; achei que tivesse ido para outra cidade. Muito anos depois soube que passara a morar no abrigo para idosos. Fui visitá-lo. Recebi a informação de que fugira, dois dias antes. Como certos animais que voltam para morrer no lugar em que nasceram, o velho Marechal fora morrer em seu pago, no meio dos seus.

            Roberto Carlos

            Seu nome era Raimundo, mas desde que enlouquecera, dizem que por causa de uma paixão não correspondida, adotara o “nome artístico” de Roberto Carlos. Um dia, em minha adolescência, vi-o nas calçadas altas da Zona Planetária, bem na esquina de Júpiter, o principal “planeta”. Fazia mímicas para ninguém ou talvez para o vento ou para espíritos que só ele via. Simulava segurar um microfone; acenava para a turma do gargarejo e para “ouvintes” do fundo da inexistente plateia. Fazia meneios, trejeitos e requebros dignos de um pop star.

Julguei fosse mais feliz do que eu, imerso na ilusão de sua loucura. Muitos anos depois perguntei ao acadêmico e psiquiatra Humberto Guimarães se o Raimundo, o nosso popular Roberto Carlos, não seria mais feliz do que qualquer um de nós, porquanto ele viveria na melhor realidade que imaginara para si. Humberto disse-me que não, pois quando um louco melhora de sua doença e volta a piorar, e sente que vai perder a consciência de si mesmo, sofre muito. Em minhas palavras e interpretação: é como se ele sentisse o aniquilamento de seu mais profundo eu; é como se fosse a morte da consciência de seu verdadeiro eu.

Tobago

A primeira vez que o vi, ele se encontrava no Bar Carnaúba. Fazia gestos e esgares. Acenava e fazia reverências, como se estivesse cumprimentando alguma pessoa no recinto. Não o conhecia e jamais ouvira falar dele. De repente, olhou em minha direção, e acenou. Respondi-lhe, mas notei que ele não me via. Com efeito, seus olhos vagos fitavam o vazio, talvez o infinito de algum ponto imaginário. Informei-me a seu respeito, e soube que, de segunda a sexta-feira, era um funcionário exemplar do Banco do Brasil, rigorosamente pontual e que nunca faltava, sempre monossilábico, introvertido, ensimesmado. Mas no final de semana se transformava naquele excêntrico e sociável boêmio, a cumprimentar espíritos ou, talvez, os fantasmas de si mesmo. Ou talvez fosse apenas um esquizofrênico dos finais de semana, a evadir-se da rotina e do tédio.

Paru

Quando o ricaço Roland Jacob se deslocava para a capital ou de lá retornava, estacionava seu Land Rover na frente de sua filial da velha urbe. Paru, então, doido manso, ia limpar o carro. Quando indagado a respeito, invariável e laconicamente respondia: “Estou lavando meu carro.” Tinha o sonho de ser o prefeito da cidade. A principal meta de sua plataforma eleitoral consistia em levar o riacho Pintadas para Parnaíba e em recompensa trazer o “mar da Parnaíba”, como ele dizia com ênfase, a abarcar o mundo com os braços bem abertos. Sem se despedir de ninguém, desapareceu da cidade, como por encanto. Filho da estrada e do vento, nunca se soube de onde vi/era, nunca se soube para onde foi. Ou talvez tenha ficado – encantado.

Ester

Hoje bem sei quanto é triste a loucura. Mas em minha infância, sem a devida consciência dessa enfermidade, achava alegre quando a Ester estava “atacada”. Nos surtos mais severos de sua doença, ela parecia a encarnação da própria primavera, pois se cobria de ramos e flores, e saía a dançar, a cantar e a pular pelas ruas de Évora. Ela era a alegoria viva da flora – das folhas, das flores e das ramadas. Um séquito de moleques a seguia. Alguns, mais extrovertidos, dançavam com ela. Às vezes, no paroxismo de sua loucura, tirava a roupa, e mostrava os seus “recantos mais secretos, mais seletos”. Sem dúvida, muitos adolescentes se “vingavam”, na prática do vício solitário. Hoje, tenho arrependimento de ter sentido alegria dos seus “ataques”, que nunca soube se ocorriam apenas na época de plenilúnio. Hoje sei o quanto a loucura é triste.

Vangogue

Lindalva fazia jus a seu nome: era linda e alva. Além de alva e linda, era loura e simpática. Sempre que passava pelo seu vizinho Ribamar, doente mental, chamava-o de “meu noivo”, a cujo cumprimento ele correspondia com paixão. Sucede que um dia Lindalva noivou de verdade, com seu primo Clemilton, médico e guapo rapaz, com quem veio a se casar. Riba, quando soube da notícia, surtou, e num impulso trágico, como se fosse um novo e diferente Van Gogh, cortou o próprio pênis, cerce, rente à base, como se dissesse em seu gesto tresloucado que se “ele” não fora de Lindalva não seria de nenhuma outra mulher. Medicado a tempo, a hemorragia foi estancada e ele escapou. O rábula Possidônio Vogado, quando soube do acontecido, exclamou em admirável arroubo retórico: “O Riba vai continuar tendo desejo, porém como um direito fulminado pela prescrição ou como um revólver municiado, mas sem gatilho. Como no dizer do poeta, será um fósforo que não dará luz”.

Mudinha

Certo dia em que eu estava no Isabelão, ouvi, vindo de uma das espeluncas, um forte alarido, uns gritos que se assemelhavam a um bodejar. Um tanto apreensivo sobre o que poderia estar acontecendo, perguntei a uma das mulheres o que significavam aqueles sons desconexos e guturais, que sequer pareciam humanos. Obtive a seguinte e concisa resposta: “É a muda gozando. Quando ela goza parece que ela ou o mundo vai se acabar. Toda vez é essa latomia!”

Dourado

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Além de boêmio, era compositor, carnavalesco, humorista e exímio churrasqueiro. Em cada período momesco, ele se caracterizava como um personagem nacional, que estivesse em evidência. Certa feita, encarnou PC Farias. Ficou tal e qual. Era múltiplo. Era plural. Dourado era ele próprio e seus “heterodoxos heterônimos pessoanos”.

Romualdo

Era um triste “rapaz alegre”. Patético e passional, era condecorado por inúmeras cicatrizes ao longo dos braços, feitas por ele próprio. Eram as marcas visíveis e concretas das cicatrizes que lhe feriam a alma, a cada amor desfeito ou não correspondido. Pelo que se via estampado na pele, foram inumeráveis as suas decepções amorosas. Viveu intensamente, creio, e cedo morreu.

Hermes e Afrodite

Em minha juventude, sempre que eu e meu amigo Raimundo íamos para o povoado Cantagalo, passávamos pela casa de uma sua tia, onde morava uma moça muita feia e triste, sua prima. Era mais do que feia; na verdade, era uma verdadeira assombração. E o que era pior, tinha um buço, que lhe realçava a fealdade. Seu corpo magro era linheiro como uma estaca, e não tinha nada que pudesse atrair um homem, nem mesmo o vestígio dos seios, que parecia não ter. Fui morar em outra cidade e a esqueci. Três décadas depois, ao reencontrar o meu amigo, perguntei-lhe por sua prima feiosa. Ele foi curto e grosso: “Minha prima se tornou primo, e com certeza já comeu mais mulheres do que nós dois juntos”. Creio esse rapaz fosse hermafrodita. E depois, com cirurgia ou não, se tornou Hermes, libertando-se da Afrodite em que seus pais tentaram transformá-lo.

Mistério

Era a mais bela rapariga do lugar. Contudo, era um enigma; os homens só ficavam com ela uma única vez. E nunca nenhum dos fregueses revelava o que acontecera na alcova. Alguns anos depois, um desses clientes frustrados contou o segredo dessa linda mulher. Apesar de sua enorme beleza e de sua anatomia perfeita e completamente feminina, com curvas acentuadas e belos seios, tinha um avantajado clitóris, que provocava a repulsa da clientela. Terminou se casando, alguns anos depois, com um freguês que lhe apreciou o “defeito”.

Pompoarismo

Quando não se conhecia essa palavra e muito menos se sabia existir o que ela significava, apareceu na cidadezinha uma rapariga que arrebanhou enorme clientela. É que ela tinha uma importante novidade; tinha o que passaram a designar como sendo “bezerro”. E era um bezerro famélico, tal a voracidade e vigor como ele sugava e espremia o membro masculino. Comentava-se que era um verdadeiro torniquete. Quando Possidônio Vogado explicou que a mulher podia ser treinada na arte do pompoarismo, um seu assíduo e ardoroso cliente explicou que o dela era natural, e acontecia quando ela ficava excitada, e ela era muito fogosa. Vogado fez então magistral trocadilho: “Ela não se excitava; se exercitava”.

Engate

Romildo passou a frequentar a casa de Dolores, sua namorada. Muito formal e sisudo, ganhou a confiança dos irmãos e pais da moça. Certo dia em que ambos ficaram sozinhos na casa, o namoro, que se não era casto era pelo menos cauto, avançou muito, e os dois terminaram indo às vias de fato, com uma completa conjunção carnal. Quando eles estavam no bem bom, já no segundo ou terceiro round, os pais da moça entraram, de súbito, na sala. Com o susto, Dolores teve uma rigorosa contração vaginal, e ensarilhou o sexo do namorado. Não houve maneira de apartá-los, de sorte que foram levados ao hospital da cidade, numa maca, cobertos por um lençol, onde foi providenciado o desengate. O fato apressou o casamento dos jovens, para que a moça não ficasse mal falada.

A papa-anjo

Cremilda era uma “moça velha”, como se dizia na cidade. Não casara e nem tinha amantes. Ganhava a vida ensinando deveres de casa aos pequenos alunos da redondeza. Comentava-se que tinha os seus favoritos, que ela aliciava aos poucos, para os seus propósitos libidinosos.  Só se interessava por menores de doze anos, com medo de engravidar. Fazia o garoto jurar pela salvação de sua alma e pela vida de sua mãe que não revelaria o que se passasse entre eles. Na primeira vez, masturbava-o, para ter certeza de que ainda não tinha líquido seminal. Só após se certificar disso, permitia que o infante a penetrasse, e só até o ponto em que não lhe tirasse o cabaço. Ainda tinha o sonho de se casar virgem, de branco, e com véu e grinalda.

Morcego

Foi o maior e melhor goleiro de Évora. Era uma espécie de Higuita antes de Higuita. Em suas “voadas” espetaculares e espetaculosas, parecia planar ou até mesmo levitar. Daí dizer que somente ele, helicóptero e beija-flor paravam no ar. Mais louco que Higuita, inventou o chute jornada nas estrelas, ao chutar a bola vertical e vertiginosamente para cima, com o bico da chuteira. Num desses chutes, a bola venceu a barreira da gravidade, e ganhou o espaço sideral; hoje, orbita a Lua, como satélite de nosso satélite. Às vezes, deixava sua meta e ia para o campo adversário jogar de atacante, chegando ao ponto de driblar e fazer gols.

Nas ocasiões propícias, simulava deixar a bola passar, quando então saltava para trás para executar a defesa, o que deixava os torcedores assustados e com os nervos em frangalhos. Vez ou outra, com a bola encaixada nas mãos ou ao peito, fazia verdadeiras acrobacias, inclusive dando saltos mortais e outras cambalhotas. Seu curioso apelido se devia ao fato de que, não raras vezes, ao saltar para fazer uma defesa, conseguia ficar dependurado no travessão, à imagem e semelhança de um morcego.

(*) Estes textos fazem parte do anexo ao meu romance Histórias de Évora, e sua autoria foi atribuída ao protagonista Marcos Azevedo, poeta e escritor.

 

Discurso de Posse do Acadêmico Breno Ponte de Brito

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      Ilustríssimo presidente da Academia Parnaibana de Letras, Sr. Antônio de Pádua Ribeiro dos Santos, confrades, confreiras, autoridades presentes, meus familiares, amigos, minhas senhoras e meus senhores, boa noite.

      Chego nesta notável solenidade ciente da minha responsabilidade como educador – Mestre em Letras pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), publicitário – graduado em Comunicação Social pelo CEUT, servidor público do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE-PI) e, agora, membro da Academia Parnaibana de Letras. É com muita honra que ocupo a Cadeira de número 5, cujo patrono é o ilustre Alarico José da Cunha.

           Alarico José da Cunha nasceu em São José das Cajazeiras, arredores da atual cidade de Timon, no Maranhão, em 31 de dezembro de 1883. Estudou no Liceu Piauiense e, em 1903, veio para Parnaíba. Com inteligência de alto nível e muita leitura, Alarico José da Cunha logo se destacou na sociedade parnaibana como uma referência intelectual de alta grandeza e conhecimento voltado para muitas áreas. Trabalhou como comerciário, despachante aduaneiro e marítimo. Foi funcionário de companhias estrangeiras com escritório em Parnaíba. Fluente na língua inglesa e alemã, ia pessoalmente à Tutóia comandar o embarque de carga em grandes navios.

       Em 1918, Alarico juntou-se aos caixeiros que fundaram a União Caixeiral, tornando-se um dos sócios mais empenhados para a construção do prédio e para a instalação da escola que ali passaria a funcionar. Foi jornalista, pensador, poeta. Serviu-se da imprensa para difundir ensinamentos de sapiência. Colaborou com jornais locais e de outras cidades escrevendo artigos, crônicas, ensaios, poemas. Durante os anos 40 e 50, foi redator-chefe da Aljava, jornal de Benedito dos Santos Lima.

        Narrador primoroso, escrevia com graça, elegância e correção. Deixou uma ilustrada bagagem literária, integrada de conferências, poesias, narrativas, folclore, memórias, estudos filosóficos, sociológicos e teológicos. Publicou, entre outros, os seguintes trabalhos: “Discurso Maçônico”, “Ode à Mendiga”, “Cinema falado”, “Exaltação à Beleza”, “Nostalgia do Céu” e “Panegírico de um justo”. Pela transcendência das ideias, pelo equilíbrio harmonioso da cultura e pela consistência substancial, a sua obra representa uma forte e gloriosa expressão de inteligência. Alarico também foi um profundo conhecedor da doutrina espírita, o que lhe rendeu uma grande sensibilidade para enxergar e retratar a vida humana e o universo. Alarico José da Cunha exerceu ainda a função de vice-cônsul de Portugal e o cargo de presidente do Centro Espírita Perseverança do Bem. Faleceu em 29 de setembro de 1965, deixando um legado rico em conhecimento, sabedoria e honradez.

     Agora, passo a falar dos meus antecessores: inicialmente de Raimundo Fonseca Mendes (23/07/1918 – 11/08/1996), primeiro ocupante da cadeira de nº 5. Natural de São Luís (MA), Raimundo Fonseca foi poeta, radialista e jornalista. Também atuou como locutor da Rádio Educadora de Parnaíba e colaborou em várias áreas do serviço público e privado de nossa cidade.

        Por conseguinte apresento a escritora Aldenora Mendes Moreira que, com denodo e dignidade, ocupou a cadeira de nº 5 até setembro de 2012, quando da sua morte material, pois suas obras ficarão eternizadas na cultura parnaibana. Dentre sua produção literária destacam-se as publicações “Cartilha Sapoti”, “Conhecendo a História & Geografia do Piauí”, em parceria com Diderot Mavignier, e “Personalidades Atuantes da História da Parnaíba – ontem e hoje”, onde cita meu avô José Osmildo Ponte. Natural de Pedro II (PI), Aldenora formou-se em História, atuou como professora e era uma amante e conhecedora do folclore piauiense. São a esses Imortais que tenho a honra de suceder nesta nobre Academia.

     Entretanto, gostaria de destacar aqui a figura de dois outros acadêmicos cujas trajetórias tiveram uma importante influência na minha vida. Renato Castelo Branco, por sua brilhante carreira como publicitário, é um deles. Passou por esta academia sendo o primeiro ocupante da cadeira nº 15, que tem como Patrono Simplício Dias da Silva. Parnaibano de nascença, Renato Castelo Branco é considerado um dos mais importantes publicitários brasileiros de todos os tempos. Durante sua trajetória passou por renomadas agências de publicidade, participou da criação da atual Associação dos Profissionais de Propaganda (APP) e da Associação Brasileira de Agências de Publicidade (ABAP). Em 1951, participou ainda da criação da Escola de Propaganda do Museu de Arte de São Paulo, atual Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a primeira instituição voltada à formação de profissionais no campo da propaganda. Nesta instituição foi diretor, professor e conselheiro, dando atualmente nome ao “Prêmio Renato Castelo Branco de Responsabilidade Social na Propaganda”. Como escritor, deixou várias obras publicadas. Renato Castelo Branco foi, sem dúvida, como pessoa, como escritor e como publicitário, um dos parnaibanos mais notáveis da história.

        Também se torna inevitável falar da acadêmica Maria Dilma Ponte de Brito, afinal ela é a razão de eu estar aqui. Primeiro porque vim ao mundo gerado pelo seu ventre. Segundo porque devo a ela tudo o que sou, toda a formação que tive como homem e como escritor que me tornei. Maria Dilma, dispensa minha apresentação como acadêmica e escritora, por isso, venho apresentá-la aqui como mãe. Uma mãe que nunca hesitou em desprender esforços para investir na formação cultural, intelectual, social e humana de seus herdeiros. Com o mesmo esmero em que ela se dedica aos seus contos e crônicas ela se dedicou a educar seus dois filhos. Soube transmitir a mim e ao meu irmão os maiores valores e ensinamentos: a ética, a honradez, a coragem, a perseverança, o amor. Com ela aprendi as primeiras palavras e adquiri a paixão pelos livros. E se agora estou aqui, é essencialmente por causa dela. Tenho certeza que hoje ela está orgulhosa das sementes que plantou e floresceram, um filho imortal da Academia Parnaibana de Letras e o outro filho imortal da Academia de Ciências do Piauí. Portanto, para mim, torna-se uma honra maior ainda fazer parte desta Casa de João Cândido e dividir com ela agora dois lares.

     Meus senhores e minhas senhoras. Adentro à Academia Parnaibana de Letras conduzido primordialmente em decorrência da minha paixão pela leitura, pela escrita, pela comunicação e pelas ciências da linguagem. Desde jovem estudante, sempre tive predileção pelas disciplinas de línguas, português, gramática, literatura, redação. E ao ingressar na faculdade, almejei por um curso no qual tudo isso fosse presente. Aliar a paixão pela escrita com uma carreira profissional era um desejo. Confúcio já dizia: “Encontre um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um dia sequer em sua vida”.

     Graduei-me em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda. O publicitário deve ser por natureza um amante das artes, das palavras e da escrita. Não foi à toa que nos primórdios da atividade publicitária, os criadores de anúncios eram consagrados escritores literatos como Fernando Pessoa, em Portugal, e, no Brasil, nomes como Casimiro de Abreu, Olavo Bilac e Monteiro Lobato são considerados os primeiros publicitários do país.

       Posteriormente ingressei no Mestrado Acadêmico em Letras da UFPI. Durante o curso tive a oportunidade de me aprofundar nas ciências da linguagem, apreendendo o ensinamento de célebres linguistas como Saussure, Chomsky, Jakobson, dentre outros. A compreensão dos mecanismos de produção do discurso e da importância da linguagem na sociedade contribuíram especialmente para o meu entendimento enquanto escritor.

      Como publicitário atuei como redator por vários anos. Compreendo que o publi-citário é, antes de tudo, um contador de histórias. Os anúncios publicitários nada mais são do que histórias, fictícias ou inspiradas em fatos reais. Quando alguém lê um anúncio, está inerentemente lendo uma história. E os artifícios que o redator publicitário aplica na escrita de um anúncio não diferem muito, por exemplo, dos utilizados por um contista em sua obra. O que ambos desejam é que o leitor mergulhe no seu enredo e se convença de sua história.

         Há de se ressaltar também que a publicidade é uma seara que emprega artifícios das mais variadas formas de arte, do cinema, da fotografia, da música, da literatura. Lembro-me que em um de meus primeiros trabalhos como publicitário, fui encarregado de criar uma campanha para o Dia Internacional da Mulher de uma conhecida loja de departamentos. Eis o texto da campanha veiculada em jornal e televisão:

O tempo passa e o mundo muda.
Mudam as pessoas, muda a sociedade.
O conceito de mulher também mudou.
Antes pura, frágil, submissa,
hoje é forte, audaz, competente.

Competência que se desdobra no lar e no trabalho.
Ela consegue ser mãe e profissional,
ser dócil e enérgica,
ser forte e sensível.

Quando uma mulher sorri,
tudo ao seu redor torna-se iluminado.
É um mistério próprio desse ser
que manifesta o belo com sua sensibilidade,
inspira poetas e dá melodia à canções.

O tempo passa,
a sociedade progride,
as pessoas evoluem,
a mulher se transforma.

Muita coisa muda,
mas uma coisa não mudou
e não é certo que mude.
A mulher sempre será a luz da fertilidade,
que gera alegria, que gera amor, que gera vida!

       Uma propaganda em forma de poema, ou seria um poema em forma de propaganda? O gênero publicitário é um gênero essencialmente híbrido. Mistura-se a outros gêneros, como o literário, o lírico, o jornalístico. Um anúncio se transfigura às vezes de poema, noutras vezes de fábula ou crônica e até de reportagem. De modo que o jogo intertextual é inerente a atividade propagandística e o redator publicitário pode ser ao mesmo tempo um poeta, um contista, um compositor e um jornalista. Ah, e também professor.

     Há 14 anos comecei a lecionar, atuando em um dos mais nobres ofícios do ser humano: educar. Ser professor é compartilhar conhecimento, propagar a informação, abrir mentes para novos horizontes e, também, aprender e reaprender. Outrossim, é papel do professor estimular a leitura. Como professor no curso de Publicidade e Propaganda, sempre recomendo aos meus alunos leituras além dos livros didáticos da área. Indico livros de literatura, história, sociologia, filosofia, enfim, todo tipo de leitura. Considero fundamental para qualquer estudante que deseja ser publicitário conhecer obras clássicas de Machado de Assis, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Érico Veríssimo, Jorge Amado e Gilberto Freyre, só para citar alguns.

      Como dito anteriormente, a publicidade bebe de várias fontes e o publicitário precisa ter conhecimento nas mais diversas áreas. Costumo dizer que a matéria-prima do trabalho publicitário é a informação. Ou seja, para criar anúncios, comerciais e propagandas, é preciso uma bagagem repleta de conhecimento e cultura. Afinal, só somos capazes de criar algo a partir do que possuímos de informação memorizada em nosso cérebro. Sem leitura, sem pesquisa, sem aprendizado não há informação, e sem informação o publicitário não é capaz de criar.

      Por isso, estimulo meus alunos a estarem constantemente adquirindo informação e cultura, que bebam das mais diversas fontes do conhecimento e que permaneçam sempre antenados e atualizados sobre o que se passa no mundo.

    Mundo este que parece girar cada vez mais rápido e evoluir em progressão geométrica. Ante a isso, não há como deixarmos de refletir sobre a transformação pela qual o universo da comunicação, da escrita e da leitura, vem passando com o advento das novas tecnologias e da internet. Cada meio de comunicação que surge gera mudanças na forma pela qual nos comunicamos e produzimos discursos. Foi assim com o surgimento do jornal, do rádio, da TV.

        Agora, com a internet, a comunicação passou a ser mais instantânea. O Twitter, uma plataforma de rede social lançada no ano de 2007, introduziu uma nova forma de comunicação através de textos curtos de, no máximo, 140 caracteres. Esse formato de linguagem prosperou de tal forma que já existem livros escolares de ensino fundamental sendo editados nesse estilo, passando as informações em pequenas doses, através de várias caixas de textos curtos em vez de um enorme bloco de texto corrido. O intuito é adequar-se as novas formas de linguagem dos jovens e fazê-los absorver a informação da maneira que lhes é mais comum no seu universo. Quando se fala na leitura de um livro ou artigo, a substituição da celulose do papel pela sílica da tela dos tablets e smartphones é uma realidade para essa geração. As crianças nascidas nesta década já crescem familiarizadas com os aparelhos celulares, com as publicações digitais e com a linguagem em forma de hipertexto.

        A sociedade atual está cada vez mais conectada e os jovens da “geração Z” possuem outro olhar sobre a linguagem e os seus mecanismos de produção e absorção. No meu tempo ginasial as adolescentes costumavam escrever os acontecimentos do dia e de sua vida em diários. Atualmente os jovens continuam a escrever sobre os seus pensamentos e acontecimentos do seu cotidiano, porém trocaram a agendinha datada e pautada pelos blogs e redes sociais. A diferença é que antigamente os adolescentes guardavam seus pensamentos para si próprios, os diários eram íntimos e pessoais. Hoje, os jovens sentem vontade de compartilhar o que pensam, o que fazem e o que acontece em suas vidas. As redes sociais são diários virtuais abertos para o mundo todo ler. Pode mudar a plataforma, pode mudar a superfície, pode mudar a condição de produção, mas a essência lá do diário de papel continua a mesma: expressar pensamentos e relatar fatos pessoais acontecidos no dia a dia.

        Isso nos obriga a uma reflexão sobre o nosso papel enquanto acadêmicos, operantes da língua, e também nos leva ao questionamento do quão preparados estamos para nos adaptarmos a esta nova era da comunicação digital. Temos como dever fomentar a leitura, a cultura e o conhecimento através da língua, seja qual for o suporte utilizado e independentemente se em forma de uma poesia de 8 estrofes, ou um conto de uma lauda, ou um livro de 400 páginas ou um “tweet” de 140 caracteres. Se novos meios surgem e possibilitam a promoção da leitura e do conhecimento, devemos aproveitá-los para perpetuarmos o que é essência da Academia: a valorização da nossa língua, a conscientização da importância da literatura para a cidadania, o reconhecimento dos nossos escritores, a produção literária que expõe sentimentos, que reflete um momento histórico da sociedade, que contribui culturalmente com a humanidade, seja proporcionando um momento de deleite para o leitor que aprecia uma poesia, seja proporcionando conhecimento através de uma obra biográfica ou de um livro técnico. Como disse o imortal da Academia Brasileira de Letras Merval Pereira em seu discurso de posse: “Não é o papel ou os chipes que importam, mas o mundo que os livros trazem consigo, seja em celulose ou em bytes.”

        É inegável que a tecnologia e as novas formas de interação têm mudado a nossa vida, a nossa rotina, a nossa forma de comunicação, a nossa forma de leitura. O simples ato de pedir um táxi que antes era feito através de um chamado telefônico para a central da cooperativa, hoje pode ser feito através de um aplicativo de celular. Noutra época para assistir a um filme em casa era necessário locar uma fita na locadora. Hoje podemos assistir a milhares de filmes através de sites na internet. Em tempos passados para se enviar uma correspondência à alguém de outra cidade era necessário postar uma carta nos Correios, que demorava dias para chegar ao destinatário. Atualmente podemos fazer isso sem sair de casa através de um e-mail, que chega ao destinatário em fração de segundos. Até poucos anos para realizar uma transferência de valores era preciso se deslocar até uma agência bancária. Hoje temos um banco na palma da mão através do celular. Antigamente para ter acesso a um livro teríamos que ir a uma livraria ou uma a biblioteca. Hoje podemos ter acesso a livros no formato digital em diversas bibliotecas virtuais. A comunicação interpessoal deixou de lado as ligações telefônicas para serem feitas através de chats no Whatsapp.

         Isso não quer dizer que sejamos reféns da tecnologia. Pelo contrário, ela sempre nos foi uma grande aliada. Afinal a literatura se desenvolveu com a evolução das pedras de argila para o papel, com a evolução das canetas tinteiro para as canetas esferográficas, com a evolução das máquinas de escrever para os teclados de computador, com a criação da imprensa por Gutemberg e posteriormente com a evolução para os atuais sistemas de impressão em offset, e, atualmente, tem se desenvolvido com as novas plataformas digitais de comunicação. Todos esses processos impulsionaram a produção da literatura, promovendo a facilidade na escrita, a reprodução em maior escala de publicações e elevando o alcance da leitura a muito mais pessoas.

        Essa (r)evolução pela qual estamos passando faz parte do progresso da humani-dade. E o homem é um ser adaptável, consegue ajustar-se prontamente a novas situações. Assim também é a nossa língua. Marcos Vilaça, ilustre membro e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, uma vez disse “A língua é um ser vivo. A língua não pode ser imobilizada. Ela está em permanente processo de mutação. (…) devemos aceitar a língua no seu processo de evolução.”

       Lembrando que evoluir não significa deixar o passado para trás. Não significa deixar morrer a nossa essência. Não significa abandonar as nossas tradições, e sim adaptá-las e posicioná-las frente aos novos tempos. Por que não transformar livros em blogs ou blogs em livros? Desta forma, conclamo todos nós acadêmicos a juntos desbravarmos as (não) fronteiras desse universo digital e levarmos a nossa estimada Academia aos mais longínquos rincões cibernéticos.

        Para finalizar, agradeço pela oportunidade de congregar junto deste ilustre e seleto corpo acadêmico, e reafirmo a honra que sinto em fazer parte desta Augusta Academia da minha Parnaíba. Ingresso hoje e inicio minha caminhada aqui como um humilde aprendiz. Mas acredito que estamos sempre aprendendo ao longo da vida e que a sabedoria vem com o tempo. Chego como o caçula da turma, mas sei que como os anos passam de forma acelerada, aproveitarei o máximo de convivência com as senhoras confreiras e senhores confrades, enquanto amadureço. Recorro a Guimarães Rosa, um bom guia quando se trata de caminhadas, para entender que, tal e qual nas caminhadas pelas veredas do grande sertão, o real não está na saída nem na chegada; ele se dispõe para a gente é no meio do caminho.

Obrigado!

A revolta do cachorro

Texto de Antonio Gallas

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Ao longo da história deste nosso querido Brasil, hoje tão maltratado pela classe política, há registro de fatos que narram revoltas em diversas partes de seu imenso território, acontecidas por diferentes motivos ou causas.
No Maranhão, por exemplo, a Revolta de Bequimão foi uma rebelião nativista ocorrida na cidade de São Luís em 1684, devido a grande insatisfação dos comerciantes, dos proprietários rurais e da população em geral, com a Companhia de Comércio do Maranhão, instituída pela coroa portuguesa em 1682, e que tinha por objetivo fornecer crédito para a exportação de algodão e açúcar e o transporte de produtores e escravos.

             Os comerciantes reclamavam do monopólio da Companhia; os proprietários rurais contestavam os preços pelos quais a Companhia pagava por seus produtos; já a população, estava insatisfeita com a baixa qualidade e altos preços cobrados pelos produtos manufaturados e comercializados por essa Companhia, na região. Foi então que na noite de 24 de fevereiro de 1684, os irmãos Manuel e Tomás Beckman, dois proprietários rurais da região, com o apoio de comerciantes, invadiram e saquearam um depósito da Companhia de Comércio do Maranhão. Os revoltosos também expulsaram os jesuítas da região e tiraram do poder o governador.

               No Piauí, um cabo do 25º Batalhão de Caçadores, do Exército Brasileiro, de nome Amador Vieira de Carvalho, no madrugada do dia 3 de junho de 1931, comandou uma revolta contra os desmandos impostos pelo comandante do Batalhão, o coronel Sebastião Rebêlo Leite. O cabo Amador, juntamente com outros cabos e soldados, invadiu o Palácio de Karnak, depôs e manteve prisioneiro o interventor Landri Sales e se fez governador do estado por um período de aproximadamente 24 horas. Assim conta a História…

            Para não criar um texto muito longo e cansativo (os leitores não gostam) vou fazer menção apenas a três revoltas que aconteceram no Rio de Janeiro, duas delas quando ainda a mundialmente Cidade Maravilhosa era a capital do Brasil: a Revolta da Chibata e A Revolta da Vacina e por último a Revolta dos Marinheiros liderada pelo “famoso” cabo Anselmo que deu início à série de eventos que culminariam na derrubada do presidente eleito João Goulart pelo golpe militar de 1964.

               Mas o fato que vou lhes narrar, a “Revolta do Cachorro”, não está inserido ainda em nenhum livro de história. Foi presenciado por mim mesmo, com esses olhos e ouvidos que a terra há de comer, e foi aqui, nesta Parnaíba de Nossa Senhora da Graça que ele aconteceu. Também não pensem, senhores leitores, que o Cachorro aqui revoltado faz parte daquele bando de “vadios “cabíris”, vagabundos vira-latas, famélicos ladrejantes e cansados farejadores dos becos de nossa urbe”, como foram chamados pelo dr. Antonio de Pádua Ribeiro dos Santos em sua “Pregação aos Cachorros” publicado nos blogs da cidade, quando o acadêmico presidente da APL apela aos caninos para que ajudem a sensibilizar os políticos parnaibanos no sentido de formalizarem um convênio para que a Academia possa, pelo menos, pagar um vigia, a fim de evitar que mais roubos sejam feitos naquele sodalício e tentar estancar a dilapidação de seu patrimônio.

              Era uma manhã ensolarada quase ao meio dia, fazia muito calor. Um cidadão em pé, na calçada, bastante suado, a dizer impropérios contra a funcionária de um cartório que se recusou a fazer o Registro do seu filho. Fiquei a pensar cá com meus botões que certamente ele queria colocar no filho um daqueles nomes esquisitos ou estrambóticos que no futuro a criança poderia se tornar alvo de galhofas, hoje chamado de bullyng. Sim, porque vejam só, já foram registradas pessoas com nomes tais como: Um dois três de Oliveira Quatro( o mais famoso de todos), Flávio Cavalcante Rei da Televisão Brasileira, Oceano Atlântico da Silveira e Souza, Olinda Barba de Jesus, Necrotério Pereira da Silva, Nostradamus Brasileiro do Acre, Newton Marimbondo Vinagre, Jacinto Pinto no Rego e muitos outros nomes que são verdadeiras aberrações.

             Por conta disso uma lei criada em 1973 dá aos funcionários dos cartórios o direito de negarem o registro de crianças com nomes que possam causar constrangimentos no decorrer da vida. Mesmo assim, alguns acabam sendo registrados por insistência dos pais. E acho que foi isso que tinha acontecido.
Para matar minha curiosidade aproximei-me do tal cidadão para indagar o que o estava deixando com aquela revolta toda. E ele resmungando: – ela só faz isso comigo porque sou pobre. Se eu fosse rico teria registrado o meu filho. Mas ela vai me pagar! Vai me pagar! Ora se vai!…

         E dirigindo-se pra mim falou: – imagine o senhor, aí já registraram pessoas com nomes de Raimundo Passarinho, João Coelho, José Cabrinha, Batista Leão, Cristina Bezerra, Luiz Carneiro, Bernardo Lobo, Maria Rola, José Maria Pinto, Raimundo Veado, Mário Boi, José Pavão, Antonio Lobão, Francisco Pato, Roberto Barata, José Aranha, e por que ela não quer registrar meu filho?

            Indaguei ao cidadão que nome ele queria colocar no rebento, ao que prontamente ele respondeu: – ora, José Cachorro Leitão Filho, porque meu nome mesmo é José de Arimatéia Leitão, mas sou conhecido por todos como José Cachorro e por isso quero registrar meu filho com o nome de José Cachorro Leitão Filho.

 

Concursos Literários

A Academia Parnaibana de Letras destaca alguns dos principais concursos literários disponíveis no Brasil e no exterior para que você concorra e exponha seu talento!

Concursos Nacionais

2º Prêmio Malê de Literatura
inscrições até 25 de maio

Circuitos Nacionais

5ª edição do Festival Literário de Iguape (FLI)
De 25 a 27 de maio

Concursos Internacionais

Concurso Lusófono da Trofa – Prémio Matilde Rosa Araújo
inscrições até 31 de maio

Concursos Nacionais

4º CONCURSO LITERÁRIO: BIG TIME EDITORA
inscrições até 31 de outubro maio

Concursos Internacionais

Primer Concurso Nacional de Poesía EMR (Argentina)
inscrições até 31 de maio

Concursos Nacionais

6º Concurso Literário Pague Menos
Inscrições até 31 de Maio

Concursos Internacionais

PRÉMIO INCM/EUGÉNIO LISBOA
Inscrições até 31 de maio

Concursos Internacionais

XVIII Concurso de Poesia Agostinho Gomes
inscrições até 31 de maio

Concursos Internacionais

Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís
inscrições até 31 de maio

Concursos Internacionais

Prémio Literário Fernando Namora
inscrições até 31 de maio

Concursos Nacionais

8º Concurso de Contos (Curitiba)
Inscrições até 31 de Maio

Concursos Nacionais

3º Prêmio Escriba de Crônicas 2017
inscrições até 05 de junho

Concursos Nacionais

XL Concurso Literário Felippe D\’Oliveira
inscrições até 31 de outubro 09 de junho

Concursos Nacionais

Concurso Literário Cidade Sombria
inscrições até 12 de junho

Concursos Nacionais

Prêmio Cataratas
inscrições até 12 de junho

Concursos Nacionais

Prêmio Cidade de Belo Horizonte
inscrições até 14 de junho

Concursos Nacionais

IV Concurso Literário UNIBAVE
inscrições até 15 de junho

Concursos Internacionais

Prémio Literário Orlando Gonçalves
inscrições até 16 de junho

Concursos Internacionais

II Festival de Poesia de Lisboa
inscrições até 17 de junho

Concursos Nacionais

XXV Concurso da Academia de Letras de São João da Boa Vista
inscrições até 20 de junho

Concursos Nacionais

1º Concurso Novos Talentos da Literatura ”José Endoença Martins”
inscrições até 31 de junho

Concursos Nacionais

e-Antologia – Contos da Taverna
inscrições até 30 de junho

Concursos Nacionais

Prêmio ABEU (2017)
inscrições até 30 de junho

Concursos Nacionais

14º Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães
inscrições até 10 de julho

Concursos Nacionais

59º Prêmio Jabuti
inscrições até 18 de julho

Concursos Nacionais

Antologia Mitografias Vol. I
inscrições até 30 de julho

Concursos Nacionais

I PRÊMIO NACIONAL DE POESIA SPA
inscrições até 18 de agosto

Concursos Internacionais

Prémio Literário Santos Stockler
inscrições até 31 de agosto

Concursos Nacionais

Antologia – 200 Trovas sobre Rapariga
inscrições até 15 de setembro

Concursos Nacionais

Antologia – \”Civilização e Barbárie\”
inscrições até 30 de abril
* Esse é um espaço de divulgação. A Academia Parnaibana de Letras não se responsabiliza pelas informações, nem pelo conteúdo apresentado pelos respectivos sites/concursos.

Memórias do vaqueiro Beca Amaro

         manelao Tive a sorte e a felicidade de conhecer e de ter perto de mim um dos homens mais extraordinários desta região, desde que cheguei ao Piauí no final de 1993. Digo isso hoje aos seus familiares pra que sirva de consolo e homenagem pelo fato de Manoel Antonio Araújo, o Beca Amaro, não estar mais vivo. Mas se tornou imortal, como fala esse pessoal de academias de letras, porque antes de morrer deixou gravado um CD e publicado um livro de memórias.

         Conheci “seu” Manel, como era tratado pelos filhos e os poucos amigos, na casa de uma filha em Buriti dos Lopes, no Piauí. Era sogro de meu grande amigo e companheiro de jornal, José Luiz de Carvalho. Pai de Liz Paula, Patrícia, Renata, Amaro, Erika e Renato, hoje todos adultos e donos de suas ventas, o vaqueiro nascido na região de Chaval, no Ceará em 1931, deixou pras gerações futuras um legado difícil de equiparar em conhecimentos de vida e de sua profissão.

         Este livro, Memórias do Vaqueiro Manoel Antonio, o Beca Amaro, que tive a satisfação de fazer a revisão ortográfica me foi presenteado e autografado por sua filha, a professora Renata Machado, atualmente trabalhando na 1ª Regional de Educação. Falar de como foi feito este livro, que bem merece nossa reverência, merece uma explicação. Manoel Antonio era analfabeto. Com a ajuda das filhas gravou suas memórias, que depois foram redigidas, corrigidas e finalmente publicadas.

           Não se espere quem ler Memórias do Vaqueiro Manoel Antonio, o Beca Amaro, uma linguagem rebuscada e pra quem entende de literatura, longe da realidade. O autor trata a vida que teve conforme ela o tratou, com muita crueza. Sobre determinadas passagens bem que merece aquela da sala de aula quando aos onze anos, junto com os irmãos Francisco, Zé e Ana, quando diz: “… o seu Martins inventou uma escola à noite. Eu fui alguns dias. Num desses dias, quando ele fez uma pergunta e eu não respondi direito, todos mangaram de mim. Cheguei em casa falei do acontecido pro papai e que não ia mais. Escola não era mais pra mim”.

Manoel Antonio Araújo, o Beca Amaro, teve uma infância difícil e a de adulto também. Órfão de mãe aos treze anos, analfabeto, sendo criado por um e por outro, passou por muitas e muitas dificuldades, mesmo casado e pai de filhos. Viveu como vaqueiro, capataz de fazenda, salineiro. Noutro trecho, ao lembrar muitas e muitas coisas, já aposentado e vivendo na companhia de uma filha casada, diz que gosta de gente, mas morou muito só durante muitos anos. “Hoje moro numa casa cheia de gente, mas vivo a maior parte do tempo só, pois ninguém para em casa.”

           De certa forma o livro de Manoel Beca Amaro é de uma singeleza de linguagem e ao mesmo tempo cruel, duro com as narrativas. Porque a vida que ele recebeu pra tocar foi muito dura com ele. Porque a vida de homens e mulheres, principalmente quando crianças, daquele início de século XX, principalmente os pobres, era um rosário de sofrimento. No pequeno livro de setenta e duas páginas, mandado publicar pelos seus filhos, há uma grandeza difícil de explicar numa página de jornal. Há uma riqueza antropológica e sociológica que precisa ser pesquisada com muito cuidado. Quantos outros homens iguais a Manoel Antonio, o Beca Amaro, existem ou existiram e nós deixamos escapar? Quantas histórias deixaram de ser contadas por homens e mulheres experientes porque nós, arvorados como donos das ciências não deixamos que eles se mostrassem?

           E é sobre esse tipo de obra que ora me debruço que acho que deve ser focada a atenção dos estudiosos. Uma literatura de raiz, feita a partir de elementos e situações rudimentares. Somente dessa forma as gerações futuras vão entender como nasce e como se solidifica uma cultura de costumes. Precisamos dar mais valor às coisas simples. Aquelas pessoas e situações que estão próximas de nós. É o conjunto dessas expressões que faz com que nossa cultura permaneça mais viva. Ainda tenho muito que falar desse homem extraordinário, de seu CD de cantorias do Pavão Misterioso. Fica pra depois.

padua* Por Antônio de Pádua Marques – ocupante da cadeira nº 24 da Academia Parnaibana de Letras

Histórias de Évora lançado em Teresina

                   Na manhã deste sábado, 20 de maio, no auditório Wilson de Andrade Brandão, na sede da Academia Piauiense de Letras, em Teresina, houve lançamento de várias obras de autores piauienses, dentre as quais o romance HISTÓRIAS DE ÉVORA de autoria do juiz aposentado, poeta, escritor e acadêmico Elmar Carvalho.

                   As outras publicações lançadas nesta data foram: Contos de Viagem , de Nelson Nery Costa, que é atual presidente da APL; Mediquês – “O falar Nordestino, na consulta mèdica”, de Gisleno Feitosa; Cordéis Gonzaguianos e A festa da Asa Branca – Uma História com pássaros cantados por Luís Gonzaga, de Wilson Seraine.

                O romance Histórias de Évora, que já foi publicado capítulo por capítulo no “Blog do Poeta Elmar” e reproduzido no Blog do Professor Gallas, será lançado também em Parnaíba em data a ser confirmada pelo autor.

Discurso de Posse do Acadêmico Antônio de Pádua Marques

Minhas senhoras e meus senhores.

        discurso-paduaHá trinta e três anos incompletos, no dia 28 de julho de 1984 esta Academia Parnaibana de Letras estava comemorando seu primeiro ano de existência quando numa cerimônia igual a esta deu posse a quatro novos membros a professora Edimée Rego Pires de Castro, Fernando Basto Ferraz, Renato Araribóia de Brito Bacellar e Antonio de Pádua Franco Ramos.

        Essa cerimônia foi realizada no solar Nova Mocha, casa de morada de José Pinheiro de Carvalho e onde nasceu a academia. Naquela ocasião estava sendo presidida pelo escritor João Nonon Fontes Ibiapina. Por uma dessas coincidências, nesta noite, aqui e agora estão sendo empossados quatro acadêmicos entre eles, este que vos fala e que vai ocupar a cadeira de número vinte e quatro, da professora e poetisa Edimée Rego Pires de Castro.

            A Academia Parnaibana de Letras estava como fazem as crianças de um ano de idade, estava iniciando sua vida, se levantando e começava a dar os primeiros passos. Haveria de ao longo dessas mais de três décadas ir muito longe e sendo renovada. Por ela passaram grandes vultos da cultura e das letras do Piauí. Ela ainda é neste início de século, a Meca de muitos e muitos escritores.

          Neste maio, mês das mães, reverencio duas mulheres que tiveram influência, brilho e participação nesta casa de letras. Digo mais, que até hoje causam admiração. Dada a limitação do tempo vou privar a todos nesta ocasião das longas biografias domésticas de minha patrona e de minha antecessora. Vou deixar aqui nesta cerimônia pública, registrada minha opinião sobre as suas obras. Creio que isso basta.

          Dessa forma, faço um breve passeio pela vida intelectual de Luiza Amélia de Queiroz Brandão e de Edimée Rego Pires de Castro, a parte de suas vidas que as imortalizaram. São nos seus livros de poemas, romances ou outros gêneros que os escritores se materializam depois de mortos. É a forma de nos tornarmos presentes na vida e no tempo das pessoas.

           A primeira, Luiza Amélia de Queiroz Brandão, patrona da cadeira 24, poetisa, uma das mais extraordinárias mulheres do seu tempo, tão bem pesquisada na obra A Face oculta da Literatura Piauiense, de Daniel Castelo Branco Ciarlini, obra que tive a honra de comentar na quarta capa, nasceu em Piracuruca em 26 de dezembro de 1838 e faleceu em Parnaíba em 12 de novembro de 1898. Em 1875 escreveu seu primeiro livro, Flores Incultas e o mais que interessante Georgina ou os Efeitos do Amor, de 1893.

           Sobre este último trabalho de Luiza Amélia de Queiroz Brandão, de novo vou buscar no excelente livro de Daniel Castelo Branco Ciarlini material para alimentar este discurso sobre a poetisa filha de Piracuruca e parnaibana de coração. Não houve na história da literatura piauiense até a presente data nenhuma obra que se prolongasse tanto em versos românticos e árcades quanto a lira de Luiza Amélia de Queiroz Brandão. Três mil seiscentos e trinta e cinco versos! Numa época em que a sociedade brasileira assistia ao surgimento das primeiras correntes feministas e as mulheres pouco ou quase nenhum acesso tinham às letras!

           Agora falo de Edimée Rego Pires de Castro, tão bem aqui representada por sua filha dona Maria e seu genro, doutor Emídio a quem agradeço muito a presença. Fontes Ibiapina, na apresentação do livro Poetizando, disse dela: ora romântica, ora lírica, sempre transborda uma inspiração com muita propriedade arquitetônica em seu pensamento numa formação ético-espiritual. Para mim, dona Edimée a cada minuto de mergulho em sua obra, encontro surpresas. Tem escritos os seguintes livros: Poetizando, 1986; A trova e o espaço piauiense, 1988; Primavera, de 1992;

         Dona Edimée Rego Pires de Castro, como era carinhosamente tratada pelos amigos, conhecidos e admiradores, escreveu crônicas, poemas, artigos e até antecipou na literatura da Parnaíba o maravilhoso e exótico haikai ou tanka, o poema japonês. Sem esquecer que usou a poesia para mostrar preocupação com os mais humildes, os desvalidos, as calamidades, o avanço das ciências e a educação. Soube pela poesia, nas crônicas e artigos de opinião demonstrar um amor imenso pela nossa terra.

            Soube amar a família e dar a ela destaque em vários trabalhos de sua lavra as homenagens aos netos Ricardo Augusto e Georgina como está no livro Primavera, de 1992. Participante da Organização Aparício Fernandes, escritores do Brasil, entre 1984 e 1986; Poetas do Brasil, 1986; Brasil Trovador, de Laís Costa Velho, 1986. Nasceu em Parnaíba a 13 de fevereiro de 1915 e aqui também faleceu em 09 de novembro de 2011. Sua figura humana, sua obra literária e seu exemplo de mãe, funcionária da Câmara Municipal e de professora a credenciam a ter assento privilegiado no registro da história da Parnaíba.

Minhas senhoras e meus senhores!

           Sobre nossa literatura, digo que é uma das mais ricas deste Piauí. A literatura parnaibana, a atual, assim como foi a de Edimée Rego Pires de Castro e Luiza Amélia de Queiroz Brandão, está no seu melhor momento. Pela abertura de oportunidades a todos e a todos os temas e gêneros, presente em livros, revistas e outros meios. Mais importante ainda é que está vindo das camadas sociais mais distantes, da juventude, onde até pouco tempo não se imaginava.

           Nossa literatura deve atingir e defender as necessidades do nosso povo. Tem de ser uma peça de comunicação entre esse povo e seus governantes através de elementos alimentadores do debate saudável e civilizado para que a convivência entre todos seja a mais democrática possível. Nossa literatura está nos artigos de opinião, poesias, letras de música, artesanato, textos para o teatro e até nas obras de artes plásticas.

            Nossa literatura não pode e nem deve se encastelar no encantamento das nossas belezas naturais ou as do patrimônio arquitetônico de pedra e cal. Nossa literatura, principalmente aquela saída da forja da imprensa agora livre, pode e deve se preocupar com o nosso acervo histórico, o destino, resgate e o registro, mudanças e finalidades. Nossa literatura pode e deve se preocupar com o casamento entre o passado e o presente, presente nas obras de arte, monumentos, praças, repartições públicas, rios, lagoas e outros tantos equipamentos que são ao nosso povo destinado.

           A minha geração, a nossa geração, está neste momento ultrapassando a faixa dos sessenta anos de idade. Somos protagonistas e testemunhas de grandes acontecimentos. No mundo, o pós-guerra, no Brasil, do sonho exagerado de Kubistcheck com sua Brasília e mais lá na frente, a ditadura militar.

         Em nossa Parnaíba uma geração que teve de ver a decadência de nossa economia, a saída dos jovens em idade de crescimento profissional, a fuga de inteligências para outras regiões mais adiantadas porque aqui não havia de onde se tirar sustento. Hoje os tempos são outros.  Nossa geração, senhor presidente, minhas senhoras e meus senhores, não pode se furtar, se esconder e ignorar a difícil realidade do passado e a realidade do presente.

         Há necessidade que se façam adaptações de comportamentos, individuais ou coletivos, para que continuemos ativos, ora conduzindo, ora conduzidos. O importante é a participação com a juventude das aspirações e das conquistas. Não podemos pelo isolamento, pela falsa impressão de que sabemos tudo, pela acomodação da idade e da experiência nos afastemos do cotidiano, dos insistentes e necessários palcos da modernidade.

           Devemos ser contrários a toda ideia daqueles que dizem que não podemos mais fazer isso ou aquilo. Nós podemos e devemos fazer. E se não podemos nós mesmos fazer deixemos que outros o façam. Vamos seguir em frente! Mesmo que não sejamos mais os líderes, aqueles que puxam o cortejo ou a procissão. Mas vamos seguir caminhando, ao lado da juventude, de mãos dadas e com os mesmos propósitos de horizonte e de porvir que devem ser muito maiores que nossos medos!

Senhor presidente, minhas senhoras e meus senhores.

           Estou aqui nesta noite junto a meus amigos. Estou feliz e agradecido. Agradecido pela acolhida do voto daqueles que permitiram minha eleição para esta Academia Parnaibana de Letras. Agradecido pela presença dos que atenderam meu convite para dividirmos esta alegria e felicidade. Chego a esta casa de cultura, cheio de propósitos. Os mesmos que serviram para a criação desta academia em 28 de julho de 1983. Chego a esta casa certo de que a convivência com meus confrades será de muita harmonia, trabalho e busca de resultados. Trabalho semelhante ao das abelhas. Na colmeia todas trabalham. Todas participam.

      Que esse nosso trabalho, fecundo, harmonioso e constante seja de uma profundidade muito grande para que as gerações que nos sucederem possam se orgulhar do nosso tempo. Já se passam dezessete anos do século XXI. As mudanças sociais nos empurram pra frente. Nossa idade, na nossa idade, quando muitos acreditam e apregoam não terem mais o que aprender ou ensinar, eu continuo acreditando que se pararmos e não procurarmos seguir e manter o passo haveremos de em pouco tempo sermos colocados à margem.

         No jardim da nossa obra, sejam a poesia, a crônica, o conto ou o romance há necessidade de que sejam arrancadas as ervas daninhas da afetação, subserviência, inveja e da cobiça. Há necessidade de se adubar esse jardim com a riqueza mineral da sensibilidade e finalmente regado com a verdade e a clareza, elementos exigidos certamente pelas futuras gerações.

        Sinto causar decepção a muitos dos senhores e senhoras por não ter neste pronunciamento ido buscar nos gregos, latinos, nos clássicos da literatura e da filosofia, aquelas citações próprias dos discursos cerimoniosos. Poderia se quisesse citar aqui com afetação e soberba, medalhões do quilate de Baudelaire, Chateaubriand, Cervantes, Vitor Hugo, Fernando Pessoa, Dickens, Camões ou Tolstoi.

           Mas fico do lado de cá, entre os nossos e tão próximos e, satisfeito por ter como referências Suassuna, Gilberto Freire, Ledo Ivo, Da Costa e Silva, Silvio Romero, Nabuco, meu amigo de mocidade e orgulho da literatura de Camocim, Raimundo Bento Sotero, Oton Lustosa, Magalhães da Costa, Patativa do Assaré, Firmino Teixeira do Amaral e o nosso genial repentista Pedro Costa. A ciência humana se engrandece mais toda vez que o homem conhece mais suas raízes.

            Sou jornalista de vocação e por formação. O que me motiva, o que me credencia estar hoje aqui nas vossas presenças é o povo e é dele que tenho tirado inspiração para tudo aquilo que escrevo. É e sempre foi meu propósito dar ao homem da rua, ao assalariado, ao leitor casual, a mocinha no banco da praça, ao estudante inquieto, ao aposentado, à recepcionista do escritório do doutor fulano de tal, uma leitura suave e o tanto quanto possível tendo relação com a realidade.

         Recordo com muita emoção dois colegas, dois radialistas, Cícero Evandro dos Santos, nosso Evander Hollifield, e Jaime Lins. Se vivos fossem estariam aqui nesta primeira fila prontos para apertar a minha mão. Por isso estou aqui, nesta noite inesquecível e entre os amigos, parentes de minha antecessora Edimée Rego Pires de Castro, meus familiares e meus colegas de profissão, aos quais fico profundamente agradecido.

          Sou um de vocês, apenas estou mais velho. Estou aqui entre os cardeais da cultura e da literatura parnaibana pedindo licença para entrar nesta casa e consciente de que em me deixando entrar terão os senhores um dedicado e fiel companheiro. Porque todos aqui têm um propósito muito maior, assim como teve minha antecessora Edimée Rego Pires de Castro, servir à cultura e a grandeza da nossa terra, a Parnaíba.

Muito obrigado.

Discurso de Posse do Acadêmico Roberto Cajubá

discurso cajubaIlmo. Senhor Antônio de Pádua Ribeiro dos Santos, D.D. Presidente da Academia Parnaíba de Letras.
Ilmo. Senhor, Elmar Carvalho, que tão brilhantemente fez a saudação aos neoacadêmicos.
Ilustres membros da mesa e demais autoridades presentes,

Preclaros acadêmicos e acadêmicas,
Caros amigos escritores que também estão tomando posse nesta Casa da Cultura.

Meus familiares, demais convidados, senhoras e senhores.

              Rangel de Oliveira, no livro “As mais belas Parábolas de todos os tempos”, conta que:

“Certa vez um homem muito maldoso resolveu pregar uma peça em um mestre, famoso por sua sabedoria. Preparou uma armadilha infalível, como somente os maus podem conceber. Tomou um pássaro e o segurou entre as mãos, imaginando que iria até o idoso e experiente mestre, formulando lhe a seguinte pergunta:

– Mestre, o passarinho que trago às mãos está vivo ou morto?

Naturalmente, se o mestre respondesse que estava vivo, ele o esmagaria com as mãos, mostrando o pequeno cadáver. Se a resposta fosse que o pássaro estava morto, ele abriria as mãos, libertando-o e permitindo que voasse, ganhando as alturas. Qualquer que fosse a resposta, ele incorreria em erro aos olhos de todos que assistissem à cena.

Assim pensou. Assim fez.

Quando vários discípulos se encontravam ao redor do venerando senhor, ele se aproximou e formulou a pergunta fatal. O sábio olhou profundamente o homem nos olhos. Parecia desejar examinar o mais escondido de sua alma, depois respondeu calmo e seguro: o destino deste pássaro, meu filho, está em suas mãos”

              Senhoras e Senhores acadêmicos, em todo tempo da minha vida busquei seguir a lição extraída desta parábola, e sempre considerei que as oportunidades, os aprendizados e as experiências estão ao alcance de todos, e nossos destinos estão em nossas mãos!

              O destino, portanto, é traçado por nossas aspirações e ideais, por isso desde quando iniciei meus estudos em 1973, no antigo primário (hoje ensino fundamental), nunca me afastei da sala de aula, seja como aluno, seja como professor, e após ter concluído o curso de Direito em 1990 nunca me afastei da advocacia.

              Advocacia e magistério foram as duas profissões que escolhi para traçar o meu destino, por entender que exercendo-as eu poderia contribuir para a Justiça Social e formação de novas gerações.

              Guardo desde criança a vocação pela advocacia, e sou grato aos estudantes de Direito da UESPI por terem me convidado, em 1997, para exercer o magistério naquela instituição, ajudando a revelar-me outra vocação.

              Ao exercer estas duas profissões, advocacia e magistério, por força do destino por mim traçado e sem sofrer influência direta, segui o legado de meu pai, que também as exerceu com os mesmos ideais e com muita maestria.

              Da sala de aula surgiu minha primeira participação em livro, ao escrever em coautoria com juristas e colegas de Mestrado, em 2003, “Tópicos Polêmicos e Atuais em Direito”, editora Segrajus, o qual reunia artigos de conteúdo filosófico e Jurídico. Da advocacia surgiu minha segunda participação em livro, ao escrever, em 2003, “Petições”, editora Premius, em coautoria com meu pai e dois irmãos, colegas de escritório.

              Depois disso, mantenho a coluna “Amplo Direito” no Jornal Norte do Piauí e Portal Costa Norte, escrevi artigos em revistas do grupo da editora Consulex, participei de alguns projetos de pesquisa e publiquei os livros “A Processualização do Ato Administrativo como contribuição para a Democracia” e “Amplo Direito”, ambos na editora Premius, em Fortaleza.

              Enfim, no limite de minha capacidade, mas com esforço, vou procurando traçar o meu destino, seguindo sempre avante, porque “cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz”, como dizem os compositores Almir Sater e Renato Teixeira, na música “Tocando em Frente”.

              E como o destino é traçado por nossa determinação, decidi candidatar-me à Academia Parnaíba de Letras e assim o fiz convicto de que aquele era o melhor momento, sobretudo diante da admiração que sempre nutri pelo Prof. Francisco Iweltman Vasconcelos Mendes, meu amigo, de quem fui aluno e a quem eu poderia suceder.

              Agradeço, imensamente, a maneira como os ilustres acadêmicos acolheram o meu nome para integrar este sodalício, possibilitando-me conviver mais de perto com o que há de mais expressivo na cultura parnaibana, e ressalto a minha grata satisfação de ser saudado nesta solenidade pelo ilustre acadêmico José Elmar de Melo Carvalho, também operador do Direito, que, na qualidade de magistrado, buscou sempre, e incessantemente, promover a Justiça, fazendo jus à sua condição de poeta sensível às causas sociais.

            É um privilégio ocupar a cadeira n. 15 desta Academia, com tantos antecessores ilustres, cujo Patrono é a “figura exponencial” de Simplício Dias da Silva, “honra e glória da Parnaíba e do Piauí”, como bem expressou Caio Passos, e tendo como antecessores os admiráveis e ilustríssimos acadêmicos, Renato Castelo Branco e Francisco Iweltman Vasconcelos Mendes.

            No livro “Parnaíba, Cada Rua, Sua História”, Caio Passos[1] fez ecoar o sentimento de respeito e admiração à figura de Simplício Dias da Silva ao considerá-lo “o maior vulto da história parnaibana” e complementa:

“ […] tudo em Parnaíba girava em torno de sua fidalguia, de seu alto poder econômico e da sua grande força política […]

              O Coronel Simplício, como homem público, pelo seu caráter sem jaça, pelo dinamismo de sua ação, notabilizou-se pelos relevantes serviços que prestou à Parnaíba e ao Piauí, principalmente no glorioso período das lutas emancipacionistas da província”. (PASSOS, 1982, p. 326-327).

            Simplício Dias da Silva é um ícone, que traz consigo a marca e a representação da coragem, pioneirismo e autenticidade do povo parnaibano. Exemplo de bravura e dinamismo notabilizou-se como líder emancipacionista, cuja luta culminou com a proclamação da independência do Brasil, na Vila da Parnaíba, aos 19 de outubro de 1822.

            Do ofício expedido pela Junta de Governo temporário da Província do Piauí, datado de 27 de outubro de 1823, pode-se constatar a importância da participação de Simplício Dias da Silva no movimento emancipacionista e de seu esforço na defesa e conservação da Vila da Parnaíba, tanto que dele consta:

“O coronel-comandante do regimento n. 2 de cavalaria de milícias da vila da Parnaíba desta província, é um cidadão benemérito e honrado; tem feito naquela vila, a bem de sua defesa e costa, muitos e importantes serviços, com despesas não pequenas de sua própria fazenda. Comanda em chefe e há muitos anos aquele principal ponto da província, e os seus serviços hão sempre merecido os melhores elogios. Cheio de zelo e patriotismo pela causa do Brasil, cooperou e coadjuvou a adesão dos povos da dita vila à independência no dia 19 de outubro do ano próximo passado […]; tem feito muitos sacrifícios a bem da causa pública; tem concorrido para o bom aperfeiçoamento das obras que constituíram para a defesa da vila, e com elas despendeu de sua fazenda; vestiu e tem pago à sua custa o soldo a doze soldados artilheiros para a guarnição do porto da vila; dirigiu o ataque contra os inimigos no porto das Carnaubeiras, que muito dano e receio causava a Parnaíba; tem empregado os maiores esforços para a conservação da guarnição da vila e finalmente desempenhou os muitos importantes deveres do pesado encargo que lhe fora confiado com plena satisfação desta mesma junta de governo; peque se faz recomendável e digno da alta consideração de Sua Majestade Imperial” (COSTA, 1984, apud MAVIGNIER, 2015, p. 298)[2]

            Em face de seu pioneirismo e acendrado esforço para a “construção da liberdade”[3], Simplício Dias da Silva “mereceu ter o seu nome em placa, como um dos próceres da Independência do Brasil, no Museu do Ipiranga, na cidade de São Paulo”.[4] (MAVIGNIER, 2015, p. 308) e recebeu de D. Pedro I a Comenda da ordem do Cruzeiro.

            Tem, pois, Simplício Dias da Silva, o nome transmitido em perpetuidade na memória do povo parnaibano, sobretudo por ter agido com liderança e excepcional dedicação, nesta que foi “uma das mais importantes páginas de heroísmo escritas com o suor e sangue de uma raça forte, inteligente e destemida: o piauiense do norte” (SANTANA, 1982, p. 43)

            Além de promissor homem de negócio, escolhido como o Patrono da Indústria Piauiense, Simplício Dias da Silva tinha grande influência política e exerceu diversos cargos, dentre eles o de comandante em chefe das forças da sua guarnição, no qual destacou-se por sua luta em defesa da Vila e do litoral. Foi nomeado, por Carta Imperial, o primeiro presidente da Província do Piauí, mas declinou do cargo por “não querer deixar Parnaíba, sua terra natal” (MOREIRA, p. 21), “pois não tinha a ambição do mando, mas uma ideologia” (MAVIGNIER, 2015, p. 303).

            Simplício Dias era uma pessoa “hábil, inteligente e ativa”[5], como reconheceu o Governador Carlos César Bulamarqui em ofício datado de 22 de outubro de 1804, ao confiar-lhe a missão de investigar os portos com o objetivo de fomentar o comércio e a indústria. Em cumprimento a este encargo “organizou um mapa do rio Parnaíba, seus braços, ilhas, e bahias, formadas desde os Poções, até as diferentes Barras por onde sai ao Mar e da Costa desde a Barra do Igaraçu na primeira foz, até a última que é a Barra da Tutória” (SANTANA, 1982, p. 37)

           Homem “forjado na Europa, imbuído de ideias liberais, buscadas nos sentimentos do bravo povo francês” (PASSOS, 1982, p. 328), Simplício Dias da Silva contribuiu decisivamente com ações para a formação do patrimônio histórico do Piauí e da Parnaíba, a exemplo da construção da Catedral de Parnaíba (Igreja de Nossa Senhora da Graça), por ele concluída. Foi responsável pelo avanço das comunicações no início do século XIX ao pugnar por uma agência dos Correios para Parnaíba e montou uma banca de música composta de escravos que executava peças de Lisboa e Rio de Janeiro.

         Este é o brevíssimo resumo de parte da biografia de Simplício Dias da Silva, patrono, com muita Justiça, da Cadeira n. 15 da Academia Parnaibana de Letras.

            O primeiro ocupante da cadeira n. 15 da Academia Parnaibana de Letras, foi o parnaibano Renato Castelo Branco, advogado, escritor, publicitário e professor.

            Influenciado pelo tio, José Pires de Lima Rebelo, dono de vasta biblioteca e pelos encontros e rodas literárias com intelectuais e poetas no Rio de Janeiro, Renato Castelo Branco despertou cedo sua vocação literária. Aos 20 anos escreveu seu primeiro livro, intitulado “Armazém 15”, embora não o tenha publicado.

            Com 21 anos de idade e apenas dois anos residindo no Rio de Janeiro, para onde mudou-se em 1933, Renato Castelo Branco já se destacava e era apresentado aos cariocas como “um grande poeta, um gênio velado pelo ineditismo”, conforme palavras expressadas por Joaquim Ribeiro, em palestra proferida na rádio Sociedade do Rio de janeiro, nos seguintes termos: (BORGES, 2017)

“Todos nós nascemos para contemplar a belleza, o que é, na verdade, uma finalidade sutil, deliciosa e superior. O verdadeiro sábio é justamente o homem que sabe ver aquilo que os outros não veem. A intuição é sempre uma percepção artística e instintiva das coisas, dos homens e das multidões, que nos cercam. Nenhuma outra vaidade tenho se não a de ser homem de boa intuição . Justamente por isso eu às vezes passo por adivinhador de verdades, porque amo a hipótese e a conjectura, que são maneiras de fugir a asserções categóricas. Até hoje não tenho tido a prova de meus erros, e essa imunidade me coloca a cavaleiro de receios infundados. Assim é que não receio anunciar que se encontra, entre nós, homens da cidade, um grande poeta: Renato Castello Branco. Ninguém sabe quem ele é, porque é moço ainda e ainda não publicou os seus poemas. É um gênio velado pelo ineditismo, mas é indiscutivelmente um gênio. […] O sentido social de sua poesia não deriva de uma “pose” moderna, vem, ao contrário, espontaneamente, das profundezas do ser como uma revelação atávica inesperada. A poesia de Renato Castello Branco é uma síntese do esteio coletivo e, justamente, em virtude dessa significação revela, através de todas as imperfeições, um temperamento genial. (JULGAMENTO…, 1935)”

            Em 1938 Renato Castelo Branco publicava o seu primeiro livro, “A Chímica das Raças”, o qual foi muito bem aceito pela crítica em vários estados brasileiros, inclusive no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ali começava a fazer sucesso como escritor reconhecido nacionalmente e muito bem aceito pela crítica literária em todos os recantos do país.

            O Livro “A Civilização do Couro”, de 1942, no qual ele faz um estudo histórico-social do Piauí, recebeu de Monteiro Lobato o seguinte elogio: (SOCORRO, 2017)

“se todos os estados do Brasil tivessem uma monografia sintética à altura desta, o Brasil seria, como um todo, o país mais bem fotografado do mundo” – Monteiro Lobato.

            O Livro de memórias, “Tomei um Ita no Norte”, publicado em 1981, recebeu de Jorge Amado, seu amigo, a seguinte análise: (SOCORRO, 2017)

“Li seu livro com grande prazer, aumentado pela beleza dos poemas, que dão ainda maior força aos fatos narrados. Essas suas memórias são ricas de acontecimentos e emoções”.

            Renato Castelo Branco escreveu 23 livros, de diversos estilos e gêneros como romance, poesia, ficção, tratando de cultura, política, sociologia, história, dentre outros importantes assuntos, “mas se tivéssemos que apontar um tema mais presente nos oitenta anos durante os quais escreveu romances, poemas e ensaios, este tema seria o Piauí e o povo piauiense” (BORGES, 2017)

            Publicitário de renome internacional, Renato Castelo Branco é considerado, merecidamente, como um dos “Founding Fathers” da Publicidade Brasileira, tendo trabalhado na tradicional empresa J. W. Thompson, responsável pelo atendimento das principais marcas do mercado no mundo, na qual exerceu o cargo de Presidente no Brasil e vice-presidente nos Estados Unidos. Posteriormente constituiu sua própria agência de publicidade (CBBA – Castelo Branco Borges & Associados), que se tornou uma das maiores do país.

                Foi um dos principais incentivadores da publicidade responsável, tanto que a ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing, com instalações em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, premia anualmente, desde 2005, anunciantes e agências que demonstrem preocupação com uma comunicação consciente, cujo prêmio leva o nome de Renato Castelo Branco “representando a importância e a necessidade da ética e da responsabilidade socioambiental na profissão”.

            O meu antecessor nesta cadeira n. 15 foi, porém, o Professor Prof. Francisco Iweltman Vasconcelos Mendes, admirável pessoa humana de quem tive a honra de ser aluno no curso de Economia da UFPI, colega de magistério na Uespi e Faculdade Piauiense mas, sobretudo, amigo.

            É um privilégio suceder a Francisco Iweltman Vasconcelos Mendes. Homem culto, inteligente, de personalidade forte, mas, acima de tudo, humilde, espirituoso, solidário e sempre alegre, inclusive no ambiente de trabalho, pois “era aquele professor engraçado e sensível, que nos fazia rir com piadas bem encaixadas e com poesia, sempre ao final das aulas” (CIARLINI, Claucio, 2013).

            O professor Francisco Nascimento, em artigo publicado no Jornal “O Bembém”, intitulado “Um educador na Parnaíba”, considerou Iweltman Mendes como “um dos maiores docentes que protagonizaram a educação parnaibana” e afirmou: (NASCIMENTO, 2013)

“Iweltman Mendes era empirista por formação, cercado por muitas fontes documentais, oratória rebuscada, reconhecido pelos alunos e colegas de docência por seu profundo conhecimento, pelo dinamismo de suas aulas, pelas brincadeiras, pelo lúdico, pelos exemplos claros, pelas contribuições aos novos pesquisadores, pela humildade”.

            O escritor Daniel C. B. Ciarlini, que também foi aluno de Iweltman Mendes, no artigo “Adeus, Mestre!”, traduz o sentimento de recordação de todos os alunos de Iweltman Mendes, ao assim se expressar: (CIARLINI, Daniel, 2013)

“Velho amigo professor de História, de tão rica sapiência, eu guardo na lembrança a forma com a qual tu conduzias o ensino de tão esplendorosa disciplina. A alegria, o bom senso, a empolgação e a brincadeira faziam das tuas aulas as mais compensatórias”.

            Iweltman Mendes nasceu em Sobral-Ce, mas assim como a família moderna transcende o aspecto meramente biológico, a cidadania também caminha para uma construção socioafetiva, não importando, muitas vezes, o local do nascimento. Por isso, pode-se afirmar que Iweltman Mendes foi sempre nosso conterrâneo, e sobre ser parnaibano disse ele certa vez, em artigo publicado na imprensa, depois de 10 anos residindo em nossa cidade:

“já o sou e considero-me assim, desde que aqui ministrei minha primeira aula; desde quando ajudo  a reconstruir sua história através de minhas pesquisas e publicações de meus trabalhos; desde quando ingressei na Academia Parnaibana de Letras; desde quando ingressei e presidi o mais antigo Club de Rotary da cidade; desde quando frequentei a augusta Loja Fraternidade Parnaibana(…); desde quando entreguei ao solo desta cidade meu amor maior e mais sagrado bem, minha filha Ianne”.

              Graduou-se em Licenciatura Plena em História (1988) e Licenciatura Plena em Estudos Sociais (1988) ambas pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, especializou-se em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Federal do Ceará (1989), concluiu mestrado em Educação pela Universidade Federal do Piauí (1999) e doutorado em Educação pela Universidad de La Empresa (2011)

            A sua capacidade intelectual e a dedicação nas diversas atividades que exerceu trouxeram enormes benefícios para a Parnaíba, sobretudo na área da educação, tendo realizado inúmeros projetos científicos e trabalhos de pesquisas e extensão em benefício da população de nossa cidade.

            Lecionou em vários Colégios de Parnaíba (Visão, Visão Mirim, Diocesano, etc.) e Faculdades (Uespi, FAP, UFPI, Faculdade Internacional do Delta, etc.), exerceu o cargo de Secretário Municipal da Educação em Parnaíba (2001-2004), foi Presidente da UNDIME/PI – União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-PI (2002-2003), vereador de Parnaíba (2005-2008) e Superintendente de Ciência e Tecnologia do Estado do Piauí (2010).

            Como vereador elaborou inúmeros projetos de cunho social, muitos deles relacionados à cultura e educação, como, por exemplos, aqueles que previam a implantação de uma Escola municipal de trânsito, a criação do Pró-teatro, visando o incremento do teatro amador nas escolas municipais, a obrigatoriedade de brinquedotecas em todas as escolas de educação infantil e ensino fundamental no âmbito do município de Parnaíba, dentre outros, além disso, em respeito à população, publicava informativo intitulado “Ações Legislativas”, prestando contas de sua atuação.

            Como escritor e historiador, Iweltman Mendes publicou vários livros sobre a cidade de Parnaíba, dentre os quais podemos enumerar: Anuário Parnaibano (1991-1992 -1993-1994-1995-1996), Parnaíba em Estudos Sociais, Associação Comercial de Parnaíba – Lutas e Conquistas (duas edições), Parnaíba Colonial e Imperial, Parnaíba Educação e Sociedade (duas edições), Parnaíba História e Geografia – Didático.

            Outros livros, de diversos gêneros, foram publicados por Iweltman Mendes, dentre eles: Anuário sobralense 1991; Ubajara: Uma História, uma herança; Anos trinta: Síntese da História política do Ceará; Ideias íntimas; Paixões – Lembranças poéticas; Educação e Legislação Básica; Porto de Luís Correia Histórico de um sonho; Financiamento da educação básica no Piauí: História e Legislação (tese de doutorado).

            Recorro mais uma vez às palavras do Professor Francisco Nascimento, para reafirmar que Iweltman Mendes: (NASCIMENTO, 2013)

“como um grande educador, deixa centelhas que iluminam e norteiam as vidas de muitas pessoas e instituições, sua trajetória de vida e seu legado acadêmico são como um farol que continuam a guiar os jovens pesquisadores em seus percursos formativos, formação de saberes, valores, motivando na construção de suas identidades profissionais e vivências da cidadania”. 

              Eu, como ex-aluno, para expressar a saudade do amigo professor, faço minhas as palavras do próprio Iweltman Mendes, no poema “Aula de História”, publicado em seu livro “Paixões Lembranças Poéticas”, com apenas uma pequena adaptação (o acréscimo de seu nome), e digo: (MENDES, 2003)

“ Uma aula de História sem você, Iweltman Mendes,
É como se Hitler houvesse triunfado,
A América por Colombo, não houvesse sido encontrada,
E nenhum sonho de amor Shakespeare pudesse ter”.

              Amparado, ainda, no aludido poema, afirmo que a história da Parnaíba sem Iweltman Mendes não tem sentido, e seu legado jamais será esquecido.

              Tenho, pois, orgulho de meus antecessores e espero honrar a memória de cada um deles, assim como agradeço a Deus por ter sido tão bem acolhido e integrar este sodalício na companhia de tão valorosos acadêmicos, inclusive de meu pai, que ocupa honrosamente a Cadeira n. 02, a quem não posso deixar de agradecer, nesta oportunidade, pelo incentivo à minha candidatura para ingressar neste sodalício.

              Congratulo-me com os novos confrades que hoje estão tomando assento nesta Casa da Cultura e que, certamente, contribuirão para a sua grandeza, e agradeço a todos os que compareceram para prestigiar esta solenidade de posse, especialmente aos meus amigos e familiares, que me apoiam e estão sempre presentes em todos os momentos de minha vida.

              Obrigado ao todos.

REFERÊNCIAS

– BORGES. João Carlos de Freitas. O Fazer-se do escritor: Renato Castelo Branco e sua inserção no campo literário brasileiro (1928-1938). Disponível em: <(http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364408229_ARQUIVO_ARTIGOANPUH2013-JOAOCARLOSDEFREITASBORGES.pdf>. Acesso em: 8 mai. 2017
– CIARLINI. Claucio. O professor, o poeta e o amigo. O Piagui Culturalista. Fev. 2013.
– CIARLINI. Daniel C.B. Adeus, Mestre!. O Piagui Culturalista. Fev. 2013.
– JULGAMENTO honroso a respeito de um jovem poeta piauiense. O Tempo, Rio de Janeiro, 11 mai. 1935, in BORGES. João Carlos de Freitas. O Fazer-se do escritor: Renato Castelo Branco e sua inserção no campo literário brasileiro (1928-1938). Disponível em: >(http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364408229_ARQUIVO_ARTIGOANPUH2013-JOAOCARLOSDEFREITASBORGES.pdf>. Acesso em: 8 mai. 2017.
– PASSOS. Caio. Cada Rua, sua História. Imprensa Oficial do Ceará. p. 326-327, 1982.
– MAVIGNIER. Diderot. A Maçonaria e a história da independência no Piauhy, Parnaíba: Gráfica e editora Sieart, 2015.
– MENDES. Francisco Iweltman Vasconcelos.
– MOREIRA. Aldenora Mendes. Personalidades atuantes na História de Parnaíba Ontem e Hoje, edição própria da autora, p. 21.
– NASCIMENTO. Francisco. Um educador na Parnaíba. Jornal O Bembém. Fev. 2013.
– RANGEL. Alexandre. As mais belas parábolas de todos os tempos. Editora Leitura. 2002.
– SANTANA. Judith Alves. Parnaíba. Comepi. p. 43
– SOCORRO. Francisco. O Legado de Renato Castelo Branco. Disponível em: <http://www.portalentretextos.com.br/especiais/o-legado-de-renato-castelo-branco,14.html>. Acesso em: 8 mai. 2017

[1] Passos. Caio. Cada Rua, sua História. Imprensa Oficial do Ceará. p. 326-327, 1982.
[2] In MAVIGNIER. Diderot. A Maçonaria e a história da independência no Piauhy, Parnaíba: Gráfica e editora Sieart, p. 298, 2015.
[3] Expressão utilizada por Diderot Mavignier, no livro A Maçonaria e a história da independência no Piauhy.
[4] MAVIGNIER. Diderot. Op. Cit. p. 308.
[5] Expressões extraídas do Ofício datado de 22.10.1804 escrito pelo Governador Carlos César Bulamarqui. Ver livro “Parnaíba”, de Judith Santana, p. 37.

Discurso de Posse do Acadêmico Antonio Gallas

Senhor Presidente, Distintas autoridades, Senhoras e Senhores,

discurso-gallas
Acadêmico Antonio Gallas discursa na sua posse

O poeta e escritor brasileiro Mário Quintana disse certa vez que “viver é acalentar sonhos e esperanças, fazendo da fé a inspiração maior. É buscar nas pequenas coisas um grande momento para ser feliz”.  Já o médico e psicanalista Sigmund Freud, de nacionalidade austríaca, afirmou que “o sonho representa a realização de um desejo” enquanto que o imortal Walt Disney disse que “todos os nossos sonhos podem se tornar realidade se tivermos a coragem de segui-los”. Muitos sonhos se realizam; alguns não.

                 Senhor Presidente,
O que estamos vivenciando agora, nesta seção solene, é a realização de um sonho acalentado por muito tempo: o de um dia transpor o adro (ou átrio) da Academia Parnaibana de Letras, tomar assento em uma de suas cadeiras e galgar a Glória da Imortalidade.

                Na língua inglesa há uma afirmação mundialmente conhecida que diz: “never give up  your dreams” que em português significa “nunca desista de seus sonhos”. Andei perto de desistir, porém, como tudo em nossa vida só acontece por inspiração do Pai Celeste, e no momento certo, graças ao apoio e incentivo de alguns amigos e acadêmicos, hoje  estou realizando o antigo sonho.

               Senhoras e Senhores,
De início desejo agradecer a Deus por ter me proporcionado vivenciar este momento ímpar em minha vida, marcado pela emoção, pela alegria, e principalmente, por muita felicidade, pois a cadeira que vou assumir a de número 35 tem como patrono o segundo Bispo de Parnaíba e o primeiro piauiense a ser ordenado bispo, Dom Paulo Hipólito de Sousa Libório e como primeiro e último ocupante, o meu conterrâneo, maranhense de Tutóia, e por que não dizer, o meu benfeitor nesta cidade de Parnaíba, o jornalista Rubem da Páscoa Freitas.  Também quero agradecer aos acadêmicos que depuseram confiança em minha pessoa para que eu pudesse ingressar nesta instituição. E aqui, solenemente, comprometo-me honrar e dignificar esta confiança que a mim foi dada, e podem ter certeza senhores acadêmicos, que tudo farei para zelar e elevar cada vez mais o nome deste sodalício.

           Senhoras e Senhores
É praxe em solenidades como esta, nas Academias, tecer-se comentários, mesmo que de forma sucinta, ao patrono da cadeira, e também ao seu último ocupante. Como o tempo é exíguo, a biografia destas duas ilustres personalidades será publicada na edição deste ano do Almanaque da Parnaíba, que é hoje a Revista da Academia, e num livreto que será distribuído ao final da solenidade de posse, durante o coquetel. Entretanto vou falar resumidamente sobre os dois, e um pouco, de como foi minha vinda à Parnaíba.

O MEU PATRONO

         Dom Paulo Hipólito de Sousa Libório (1913-1981), uma pessoa simples, sem vaidades e que tive o prazer de conhecê-lo. Era meu fã, segundo ele, pois escutava atentamente o comentário “Crônica da Cidade”, por mim escrito e levado ao ar de segunda a sábado, ao meio dia, através da Rádio Educadora de Parnaíba dentro do noticiário Rádio Repórter Educadora sob a responsabilidade e coordenação do jornalista Batista Leão, de saudosa memória.

            Dom Paulo era piauiense. Nasceu em Picos no dia 10 de outubro de 1913. Faleceu em Teresina aos 68 anos no dia 31 de março de 1981. De família católica, sobrinho do monsenhor João Hipólito (que deu o nome ao município piauiense de Monsenhor Hipólito).   Foi ordenado sacerdote em Roma.

RUBEM FREITAS
O Comunicador Social do Piauí

            Como enfatizei no início desta oração, foi um convite do Jornalista Rubem Freitas que me motivou vir residir em Parnaíba. Eu não o conhecia pessoalmente. Só de nome. Conhecia o seu irmão, o pintor, o boêmio, o poeta, o menestrel Nonato Freitas, autor de “Aquarela de Tutóia” uma belíssima canção que exalta a beleza do lugar e sempre é cantada ou executada nas solenidades cívicas daquela cidade maranhense.

           Foi após o baile comemorativo da inauguração do prédio da agência da Capitania dos Portos em Tutóia que fui apresentado ao Rubem.].

              Foi Rubem que me apresentou à sociedade parnaibana, ajudou-me a conseguir emprego como professor de inglês, o que serei eternamente grato, a ele e aos seus familiares. Uma das características deste cidadão que me antecedeu nesta cadeira era: ajudar e ajudar as pessoas, ou em outras palavras “fazer o bem sem olhar a quem”…

          A história de vida de Rubem Freitas é muito rica e extensa. Difícil até de ser contada nas poucas linhas de um discurso. Pretendo futuramente editar um livro contando sua vida, seu trabalho, sua obra no jornalismo da Parnaíba e do Piauí.

EU E PARNAÍBA

          Como já ressaltei, vim a Parnaíba atendendo convite do Jornalista Rubem Freitas. A partir daquela data criei o amor e a estima por esta cidade e pelo seu povo cuja característica principal é a boa acolhida a todos aqueles oriundos de outras plagas que aqui chegam como foi o meu caso.        Tornei-me cidadão parnaibano, não por força de título de cidadania, sim por opção própria, porque escolhi esta cidade para residir, constituir família… e assim foi feito. Aqui nasceram meus filhos, estão nascendo netos, nascerão bisnetos, trinetos, tetranetos que comumente chamamos tataranetos e assim por diante, a prole se estenderá até a última geração.

          Portanto senhoras e senhores, o momento agora é para se agradecer. Agradecer a Deus, como já fiz no início. Agradecer aos acadêmicos pelo apoio.  Agradecer aos familiares do Rubem pelo respeito, pela amizade e pela consideração que têm para com a minha pessoa. Agradecer à minha família por todos os momentos de nossas vidas, à minha esposa Maria da graça (a Cisa) pela compreensão e paciência comigo, aos meus filhos Anselmo e Andrezza que estão aqui presentes, ao Pedro Henrique meu neto de apenas sete meses, às netas Crisális, à Maria Julia que reside em Teresina e à Zaira Maria, minha neta escritora, que com apenas sete anos de idade já escreve crônicas.

     Finalmente, senhores acadêmicos, agradecer ao povo parnaibano, aqui representado pelas autoridades presentes e pelas pessoas que lotam este auditório. Muito obrigado! Muito obrigado mesmo, pela acolhida que a mim foi dada a partir daquele dia 31 de outubro de 1971e permanece até hoje.  Termino com esta quadra de minha autoria:

Sou filho do Maranhão
Vivo em terras piauienses
Não sei as que mais amar
Se as de L’a Ravardièrie
Ou se as terras de Mafrense.